Regina agarrou meu braço enquanto Geraldo pegava minha irmã, eles nos levaram para a casa enquanto Mauricio ficava no carro encarregado de levar o resto das coisas. O interior daquela casa era quase tao assustador quanto o exterior, a pouca iluminação dava o toque final de castelo do Drácula naquele lugar e os corredores escuros me fizeram tremer, aquilo não acabaria bem. Fomos levadas para o segundo andar praticamente empurradas pelos irmãos, Manuela observava a casa com atenção, mas sempre quieta, enquanto eu pensava em uma forma de nos tirar dessa encrenca. Paramos em frente a uma das portas que eu imaginei que seria um quarto e Regina retirou uma chave do bolso da calça que usava.

—Esse aqui será o quarto de vocês duas – abriu a porta revelando um quarto idêntico ao que tínhamos no Vilarejo dos Sonhos, até a decoração era a mesma – Eu decorei cada parte para minhas filhinhas queridas.

—Onde você pretende chegar com isso Regina? – eu a encarei e ela desfez o sorriso – Você sabe que mais cedo ou mais tarde nós vamos fugir daqui.

—Vocês só sairão daqui quando eu consegui tudo o que eu quero – ela parecia ainda mais maníaca – Quando eu recuperar tudo o que vocês duas, suas pestes, me tiraram – ela nos encarou com ódio – E ninguém vai encontrar vocês aqui nesse fim de mundo.

—Você enlouqueceu de vez – eu estava assustada, mas nunca admitiria – Você não pode nos manter prisioneiras aqui, nossa família vai nos procurar até encontrar.

—Nós não vamos ficar aqui por muito tempo filhota – ela disse recuperando a pose – Apenas até esquecerem que eu estou viva e que eu tenho as duas em minhas mãos e nem pensem em me dar trabalho!

—Eles vão te achar mais cedo ou mais tarde – eu a encarei – E aí você vai apodrecer na cadeia que é o seu lugar.

—Você vai apodrecer na cadeia – ela debochou – Acorda garota, quem manda aqui sou eu, meu plano não vai falhar dessa vez.

—Claro que vai -  eu provoquei sorrindo – Você não é a pessoa mais inteligente que eu conheço, logo vai meter os pés pelas mãos e acabar com tudo sozinha – ela me encarava com ódio aumentando ainda mais a minha vontade de provoca-la – O seu ego é o seu pior inimigo Regina.

Mal eu terminei de falar e ela me pegou pelos braços como sempre fazia, as unhas dela perfuraram minha pele me causando dor e o seus olhos estavam vermelhos.

—Escuta aqui garota – ela me olhava nos olhos e sua voz era carregada de raiva – Eu mando aqui entendeu? E se você não quer que nada de mau aconteça com a sua irmãzinha acho me....

—Ela não se importa – Manuela interrompeu a ruiva – Ela nunca se importou Regina.

—Olha só – Regina recobrou a pose e bateu palmas – Você atua muito bem Manuela, mas eu não caio nessa – a ruiva se aproximou de minha irmã – Vocês duas matam e morrem uma pela outra, não tente me enganar.

—Sinceramente Regina você acha mesmo que a Isabela se importa com alguém além dela? – Manuela parecia outra pessoa enquanto falava – Você criou essa garota desde que nasceu e deveria conhecer a personalidade dela melhor do que ninguém e saber que a minha irmãzinha consegue ser totalmente egoísta – eu não reconhecia a minha irmã – Se ela tiver a chance de fugir e de me deixar pra tras ela vai fazer, ela gosta de me magoar.

—Manuela você enlouqueceu? – eu gritei sem paciência devido a tudo que eu tinha escutado – Como você pode falar isso?

—Porque é a verdade Isabela – o olhar de Manuela me feria mais do que suas palavras – Você é uma péssima irmã e eu tô cansada de sempre fazer tudo por você, eu é quem queria que você não tivesse nascido – ela me olhou com desdém – Você só estragou a minha vida desde o dia em que entrou nela.

Eu perdi a voz diante das palavras de minha irmã, lágrimas se formaram em meus olhos e eu as impedi de rolar, eu não daria a Regina o gosto de me ver tao ferida, tão magoada. Nem em meus piores pesadelos eu imaginava escutar aquelas coisas vindas da pessoa que eu tinha um dos laços mais fortes da minha vida, ela sempre cuidou de mim e me ofereceu carinho, mas agora parecia que tudo tinha acabado, Manuela não me amava mais, eu havia perdido o amor da minha irmã.

—Você sempre disse que eu era a melhor coisa que te aconteceu – eu disse baixo olhando nos olhos de minha irmã – Que ter uma irmã era tudo o que você queria.

—Eu queria uma irmã que me amasse, que cuidasse de mim Isabela – ela disse sem se abalar com minhas palavras – Mas você, você me rejeitou desde o dia em que soube que erámos irmãs, nunca teve paciência comigo e sempre fez tudo para me ferir, sinceramente Isabela você nasceu para ser sozinha.

Regina sorria diante do nosso embate e eu queria estapeá-la, assim como queria dar uns tapas em Manuela para minha irmã recobrar a sanidade e deixar de ser aquela garota fria. Ainda nos encarávamos quando a porta do quarto foi aberta e Geraldo entrou por ela.

—Esta quase tudo pronto – Regina sorriu diante das palavras do irmão – Só falta os passaportes.

—Ótimo, me espere lá fora que eu preciso acabar um assunto – o homem saiu e ela virou-se para minha irmã – Parece que a Isabela não é a gêmea má, você consegue ser ainda mais fria e sem sentimentos que ela – a ruiva sorriu – Eu quero você trabalhando comigo.

—Eu sei o jeito certo de conseguir o dinheiro que você sempre quis – Manuela disse fria – E eu quero uma parte, afinal eu tenho que ganhar algo com essa situação toda.

—E você terá – minha irmã sorriu e seguiu para porta – A nossa diversão está só começando.

—Manuela – eu chamei tentando pela ultima vez trazer a minha irmã de volta – Você tem certeza que vai fazer isso?

Ela não virou-se, apenas deu de ombros enquanto eu encarava as suas costas.

—Eu nunca tive tanta certeza de algo em minha vida – ela disse friamente – Adeus irmãzinha.

A porta se fechou e eu desabei no meio do quarto, eu não podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Manuela havia me traído depois de eu arriscar a minha vida para salvá-la, aquele ódio todo presente em seu olhar me feriu mais do que qualquer coisa que me aconteceu nesses últimos tempos. As lagrimas já tinham umedecido meus olhos por completo, mas pareciam não terminar, eu precisava jogar toda aquela dor que eu sentia para fora senão enlouqueceria. E na minha cabeça a única coisa que vinha era que a culpa era minha, eu tinha plantado tudo aquilo na minha irmã e agora colhia os frutos podres do meu egoísmo, eu feri Manuela e ela me feriu de volta. Porém o que minha irmã nunca imaginaria era que, na verdade, os ferimentos por ela causados fizeram mais danos no meu coração do que qualquer outra coisa.