Who stalk the stalkers? escrita por HellFromHeaven


Capítulo 13
As duas stalkers




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Como de costume, passei horas investigando a fundo notícias sobre essa prática criminosa extremamente desagradável, invadi servidores policiais, explorei a parte obscura da internet, mas não consegui muitas informações. Minhas esperanças eram baixas, uma vez que tive esta mesma decepção quando pesquisei sobre a pequena fantasma. Aceitei meus limites e resolvi dormir, mesmo depois de perceber pequenos raios de Sol entrando por debaixo da porta do apartamento. Me recusei a verificar o horário em uma tentativa inocente de convencer meu organismo de que minha rotina de sono era saudável. Troquei rapidamente minhas roupas por meu famoso pijama e apaguei assim que minha face tocou o travesseiro.

Acordei dois dias depois do encontro na lanchonete, às seis da manhã com o corpo pesado e sem a menor noção de quanto tempo eu tinha dormido. Levantei-me lentamente e percebi que tinha esquecido meu computador ligado com o A.S.E. aberto. Joguei meu corpo da cama e me arrastei até a cadeira, usando a pouca força de meus braços para me erguer e sentar na cadeira. Cocei meus olhos e movi o mouse lentamente para fechar o programa, mas uma notificação de mensagem logo me chamou a atenção. Rapidamente abortei minha missão e abri a notificação, revelando uma mensagem da boa e velha Hiperatividade me convidando para um chá da tarde em sua casa. Repassei rapidamente minha agenda de afazeres em minha mente e encontrei belíssimos nadas marcados para aquele dia, então calculei o total de zero motivos para recusar a oferta.

Movi meu corpo moribundo até o banheiro e tomei um banho de meia hora para acordar meus músculos e lembrar meu corpo que ele ainda estava vivo. Vesti uma camiseta vermelha com linhas pretas dispostas aleatoriamente como estampa, calças pretas e sapatos também pretos. Finalmente me lembrei de levar o ursinho que ganhei no parque de diversões para a pequena irmã da S.H. e o coloquei em uma sacola preta. Petúnia ficaria irritada comigo se visse aquele bicho de pelúcia juntando poeira na prateleira na parede ao lado de minha cama, junto a um porta retrato sem foto e minha antiga caneca preta que quebrou anos atrás. Sim, eu deveria ter me livrado de seus restos mortais, mas a coloquei à mostra como enfeite em uma brincadeira com minhas paranoias e acabei me acostumando com ela ali. Enfim, desliguei meu amado computador e sai de casa, trancando a porta atrás de mim.

Fui até uma padaria nova no bairro, apenas a três prédios de distância de meu apartamento, para avaliar a qualidade do café e dos pães. Conclui meu julgamento em quinze minutos, para não deixar minha colega stalker esperando muito. A nota? Em uma escala de zero a dez, o café recebeu cinco e os pães, sete. Paguei a atendente baixinha e gordinha de cabelos negros presos em um rabo de cavalo, com um sorriso carismático em seu rosto e fui embora. O atendimento ganhou nota oito e meio.

O ônibus atrasou um pouco, mas como não havia um horário definido para nosso chá, consegui acalmar minhas paranoias. Sentei-me na cadeira logo atrás do motorista, já que era para apenas uma pessoa e eu não corria o risco de ter alguém do meu lado pronto para roubar minhas preciosas informações. Enquanto o trânsito seguia em um fluxo tão veloz quanto uma corrida de caracóis, aproveitei a oportunidade para observar as pessoas que transitavam pelas calçadas. A grande maioria das pessoas estava com pressa de sair de um lugar para chegar a outro, praticamente nem olhando para os lados, imersos em suas próprias existências e lutando para não se afogarem em suas rotinas monótonas. Enquanto tentava poetizar um assunto banal, sorri por ter a certeza de que minha rotina estava longe de ser monótona ou repetitiva e fixei meus olhos em um trio de estudantes assim que o ônibus começou a andar. Mal pude capturar as feições dos adolescentes, mas era notável que estavam saindo para se divertir após a aula. Voltei-me para a minha frente e me peguei novamente refletindo sobre minha relação com os outros stalkers. Parte de minha estava feliz por poder compartilhar momentos divertidos com pessoas loucas sem ser julgado por minhas bizarrices, mas uma multidão de paranoias dentro do meu ser tramava um motim, com o intuito de soldar em minha mente a ideia de que toda essa intimidade acabaria me levando à ruína. Há algumas semanas atrás, eu lideraria este motim e mataria qualquer neurônio que discordasse, mas por algum motivo desconhecido eu decidi simplesmente ignorar tudo isso e curtir o momento.

Depois de uma viagem com inúmeras reflexões filosóficas sobre banalidades, finalmente cheguei ao bairro de S.H. Apressei o passo para tentar compensar a lerdeza do ônibus, obviamente sem necessidade alguma além de calar minhas paranóias pontuais cheguei à casa da stalker em dez minutos. Bati na porta e fui atendido em cinco minutos por Luna, cujo sorriso largo e inocente ao me ver iluminou o mundo. A garotinha abraçou minhas pernas e logo notou minha sacola. Retirei o bichinho e entreguei à pequena, que o abraçou com força, dando dois girinhos. Foi tão fofo que senti a diabetes invadindo meu organismo. Ela me guiou para dentro da casa, onde Hiperatividade me esperava no sofá da sala. A stalker estava sem peruca ou lentes e usava um vestido azul claro com pequenas flores dispostas de forma aleatória como estampa. Luna correu para sua irmã louca e ergueu seu novo presente com as duas mãos, como um lutador profissional erguendo um cinturão.

— Mana, olha só o que o tio Bob me deu!

— Que gracinha, só espero que não seja propina.

— Mas olha só a audácia da garota. - disse. - Acha mesmo que eu tentaria comprar informações de uma criança? Porque se acha, está certíssima.

— Você não vale nada, senhor Bob.

— Olha quem fala, senhorita Ana.

Sentei-me no sofá e Lana sentou-se entre mim e minha colega stalker. Olhei ao redor e não avistei nenhuma xícara ou bule com chá, nem uma mísera garrafa de café. Isso confirmou minhas desconfianças de que o papo de “chá da tarde” era apenas a forma daquela doida me dizer que queria conversar. Com isso em mente, resolvi quebrar o silêncio momentâneo:

— E então, há algum motivo especial por trás desse seu convite ou você só queria conversar?

— Teria algum problema caso eu só quisesse bater papo?

— Claro que não.

— Mas olha só, esperava que você diria algo como “pelo amor do Watcher, não me faça perder meu precioso tempo com assuntos tão triviais, tenho infinitas paranoias para alimentar”.

— Não sei se acho engraçado ou triste essa sua visão da minha pessoa.

— Você tem que relaxar mais, S.G., senão vai acabar dando pane.

— Juro pra você que eu tento, mas é difícil com centenas de paranoias apontando armas imaginárias para minha cabeça.

— Deve ser um caos frenético dentro dessa cabecinha surtada.

— Você não tem nem ideias. Mas e aí, o que me trouxe aqui.

— Eu estava pensando sobre esse contrato com a fantasminha. E parece que a investigação será além de nossas fronteiras.

— Outra cidade é? Uma das poucas informações que consegui em minha várias horas de pesquisa foi a área de atuação de atuação desse pessoal, que abrange essa cidade e Campo dos Sussurros, nosso município vizinho.

— Olha só, parece que alguém fez o dever de casa! Enfim, é isso mesmo, pelo que a fantasminha disse, precisamos migrar um pouco, a fim de resolver estas tretas e eu tenho bons contatos lá. Daí decidi te apresentar a elas. Sabe, pra você se acostumar com a presença desse povo pra não surtar lá para a frente.

— Olha aqui, você acha mesmo que eu sou o tipo de pessoa que surtaria ao primeiro contato com stalkers desconhecidos? Porque está corretíssima.

— É fácil de ler suas paranoias, Bob.

— Você que pensa, vocês leem minhas paranoias superficiais. Existem inúmeras camadas entre minha pele e minha alma.

— Credo, você é muito esquisito.

— E essa nem é minha forma final.

— Vai se ferrar, Senhor Paranoia.

Entramos em uma série de assuntos triviais demais para serem narrados por uma hora, mais ou menos. Luna ficou nos observando em silêncio durante toda a conversa, com seu sorriso inocente no rosto. Foi divertido, não tem como negar. Enfim, finalmente a chegada dos contatos da S.H. foi anunciada por quatro batidas na porta. Minhas paranóias entraram em alerta, mesmo com o aviso prévio de minha colega. A pequena caçula atendeu à porta e conduziu as stalkers até a sala. Eram duas garotas na casa dos vinte e três anos, de estatura mediana. A ligeiramente mais alta tinha cabelos negros e lisos até metade de suas costas, com uma franja cobrindo seu olho esquerdo. Seus olhos também eram negros e sua pele era extremamente pálida, como se nunca tivesse sentido a luz do Sol. Ela usava um vestido preto com mangas compridas e sua face se voltou rapidamente para o chão assim que me viu, segurando seu braço esquerdo com sua mão direita, em um sinal de timidez. Sua companheira parecia ser estrangeira por seu tom de pele mais bronzeado, tinha olhos e cabelos negros, cacheados até metade de suas costas. Vestia uma camisa sem mangas rosa claro e jeans azuis escuros.Ela, em contraste com a “vampira”, exibia um largo e carismático sorriso em seu rosto. Ao notar minha presença, ela logo se aproximou e estendeu sua mão direita. Eu me levantei por educação e a cumprimentei:

— Prazer, contato da Dark Rose, eu sou o Skull Guy.

— O prazer é meu, caveirudo! Não sabia que iríamos usar nossos codinomes, mas nesse caso pode me chamar de Doppelganger.

Ela largou minha mão e se afastou para a esquerda, revelando que sua companheira se escondia em suas costas. Ela parecia ser uma pessoa extremamente tímida, mas decidi quebrar o gelo ainda assim. Me aproximei dela e estendi minha mão. Ela relutou um pouco, mas correspondeu ao meu cumprimento.

— Prazer, me chamam de Heretic.

Soltei rapidamente a mão da garota por impulso e dei dois passos para trás. Eu não sabia qual era a relação da garota à seu apelido, mas minhas paranoias se lembraram da Leather e eu achei melhor entrar na defensiva. Tentei disfarçar minha reação e sentei-me novamente, ao som das tentativas falhas de Ana para abafar suas risadas. Luna deixou o cômodo e Victoria sentou-se ao meu lado. A vampira optou por se isolar e sentou-se na poltrona de couro preto. Após alguns segundos de silêncio, a anfitriã se levantou e resolveu anunciar o início da reunião informal:

— Boa tarde meninas e menino! Devem estar se perguntando o motivo de eu tê-los reunido aqui, ou não né, já que eu expliquei mais cedo. Enfim, meninas, esse é o Bob, Bob, essas são Jeanne e Victoria.

— Poxa, estou mais aliviada agora. - disse Victoria. - O cara me veio com codinomes e eu já estava entrando em “modo profissional”.

— Foi mal, é a força do hábito. - disse. - Aliás, sei seus nomes, mas não sei quem é quem.

— Verdade! - exclamou Victoria. - Ana, que tipo de anfitriã é você?

— Do tipo que gosta de ver o mundo queimar. - respondeu S.H.

— Fala como se fosse uma pessoa má, mas não mata nem mosquito. - disse.

— Mas você me respeita hein senhorzinho. Tá na minha casa e acha que pode questionar minha maldade?

— Não só acho, como o fiz.

— Olha a audácia o filho da puta! Enfim, zueiras à parte, eu queria que ele adivinhasse. Nem é tão difícil.

— Eu chutaria que a Heretic é a Jeanne. - disse.

— Acertou miserável! - exclamou Victoria. - O nome e o codinome estão relacionados, mas tem também as tatuagens.

— Tatuagens? - perguntei.

Minha curiosidade moveu meus lábios, mas logo me arrependi. Os olhos da garota se voltaram para a frente, com um brilho assustador e ela sorriu, erguendo as mangas de seu vestindo e revelando várias tatuagens com versões diferentes do olho de hórus. Rapidamente conectei as imagens ao Eye e me lembrei de meus colegas stalkers comentarem sobre fanáticos com tatuagens em homenagem à organização. A garota estava empolgada e parecia ansiosa por meu veredito. Analisei rapidamente os desenhos e eram muito bem-feitos, então não tinha motivos para dizer que estavam ruins. É claro que eu achava assustador e passaria a tomar cuidado com ela, mas isso podia ficar guardado para minhas paranoias.

— O traço é bom, são olhos por causa do Eye, certo?

A garota sorriu como uma criança que achou um amiguinho novo e sua timidez pareceu se dissipar.

— Sim! - exclamou ela. - Eu sou extremamente devota ao Watcher e apaixonada por nossa organização! Aliás, fui eu mesma quem as fez! Ganhei meu apelido por causa dessa devoção.

— Entendi…

— Ela não é muito boa em interação social, mas é uma hacker melhor do que você, Senhor Paranoia.

A afirmação de Ana chamou minha atenção e me virei para ela instantaneamente. Sua expressão não parecia indicar uma brincadeira e como eu não costumo subestimar ninguém, logo tomei aquilo como verdade. Dentro do nosso pequeno grupo, eu era o melhor hacker e por isso ficava tranquilo quanto à segurança de minhas informações digitais, mas a presença de alguém superior alertava todas a minhas paranóias. Depois de meu pequeno transe, voltei meu rosto novamente para a garota estranha e pálida, que parecia orgulhosa de suas habilidades.

— Vou me lembrar de manter meus aparelhos eletrônicos longe de você, então.

— Calma rapaz, ainda não tenho motivos para roubar suas preciosas informações.

— É esse “ainda” que me preocupa.

— Você é bem complexado, cara. - disse Victoria.

— Você não tem nem ideia, menina! - confirmou Ana. - Aliás, essa menina linda aqui faz jus ao seu apelido. Ela consegue superar até mesmo o Sherlock quando o assunto é disfarces.

— Isso é realmente impressionante. - disse. - Vocês são uma dupla com habilidades surpreendentes.

— Somos lindas, eu sei. - disse Victoria. - Mas… Bem, eu sou uma negação em tecnologia, só sei navegar no A.S.E. e na internet normal. Então só funcionamos bem juntas. Ouvi dizer que o pessoal daqui é bem mais versátil.

— Isso é verdade. Enfim, vamos aos negócios. - disse.

— Meu colega aqui tem razão. - complementou S.H. - Precisamos de seus serviços. Estamos atrás de um pessoal da pesada da sua área, clientes de Juan de la Montana.

— Está aí um nome que tenho visto bastante no A.S.E. - disse Victoria. - Aliás, temos algumas informações sobre essa gente sim. Juan é desses lados e como não gostamos de nos mover muito, estávamos reunindo o que podíamos lá para lucrar um pouco com o pessoal do Eye.

— Sabia que podia contar com vocês, lindas! - exclamou Hiperatividade. - Vamos marcar uma reunião formal com o nosso pessoal e vocês no Campo dos Sussurros. Podem escolher o local, data e horário, já que conhecem a cidade. Temos uma nova integrante que vai se interessar muito por essas informações, quem sabe podemos até fazer uma parceria momentânea.

— Seria muito bom! - exclamou Victoria. - É sempre bom ter uns créditos a mais na conta bancária. O local já é certo, só vamos checar direitinho nossa agenda pra ver a data. Te aviso ainda hoje.

— É sempre bom fazer negócio com vocês, meninas.

— Digo o mesmo, Aninha.

Com a confirmação de nossa próxima reunião, as garotas se despediram e saíram da casa, voltando a cuidar de suas vidas. Eram seis e meia da tarde e eu já estava pronto para seguir meu rumo e pesquisar sobre as stalkers no A.S.E., mas acabei entrando em mais uma série de assuntos triviais com Hiperatividade. O tempo passou sem eu perceber e Lisa chegou em casa. Ela me cumprimentou com desgosto, como de costume, mas logo sorriu e sentou-se na poltrona e entrando na conversa. Luna rapidamente se juntou a nós e eu acabei jantando lá. Pedimos três pizzas de sabores variados. Foi um dia agradável e eu saí de lá por volta das nove horas da noite, chegando em meu apartamento por volta das dez e meia.


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Notas finais do capítulo

EU VOLTEI CARAAAAAAI
Perdoem meu sumiço e não desistam de mim ;w;
Aconteceram inúmeras coisas, crises existencialistas, serviço acumulado, bads e bloqueios criativos, mas finalmente voltei!
Aw yeah!
Não sei como vai ficar a frequência das postagens, mas vou tentar fazer pelo menos um capítulo por semana.
Enfim, agradeço a quem não desistiu e a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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