Who stalk the stalkers? escrita por HellFromHeaven


Capítulo 12
Ghost




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713301/chapter/12

Levamos nossos reféns e nossa convidada até o condomínio de Leather, todas amordaçadas, sedadas e com capuzes pretos em suas cabeças. Eram quatro capangas ao todo e elas foram completamente revistadas e deixadas cada uma em uma sala completamente trancada e isolada acusticamente. Explorar melhor a estrutura do condomínio me fez recuperar parte do medo que sentia de Petúnia, mas logo tentei uma nova perspectiva e me senti aliviado por ela ser uma aliada e não uma inimiga. A fantasma teve tratamento especial, depois de uma revista minuciosa, a garota foi levada até uma sala grande, com uma mesa retangular de madeira escura com sete cadeiras da mesma madeira, posicionada próxima à frente da porta do local. Cada stalker ocupou um lugar nesta mesa e à sua frente havia uma poltrona de couro preto aparentemente muito confortável, ocupada por nosso alvo. Juan de la Montana ou qualquer que fosse seu nome verdadeiro ainda estava sedada, usando uma camiseta rosa claro com estampa de gatinhos e uma saia preta, ambas roupas da Leather. Suas mãos e suas pernas estavam algemadas por medidas de segurança.

Assim que todos estávamos prontos, Petúnia foi até a fantasma e aplicou uma seringa com uma substância incolor, capaz de neutralizar o efeito dos sedativos e logo retornou à mesa. Levou cerca de cinco minutos até que a substância surtisse efeito e a garota acordasse. Ela estava muito confusa à princípio, mas assim que tentou limpar seus olhos com suas mãos, notou as algemas e despertou de vez. Ela se assustou, mas se manteve em silêncio e começou a analisar cada centímetro do cômodo, fitando seus olhos pelas paredes lisas de cor lilás, pelo teto de gesso, o lustre simples de vidro e prata e, por último, pelos stalkers que a encaravam em frente da única saída visível daquela situação.

Em seu lugar, eu teria entrado em desespero. Minhas paranóias ameaçaram fazer um protesto só de pensar em passar por uma situação parecida. Entretanto, a garota relaxou o corpo e se aconchegou na poltrona, com olhos sérios e frios que se esforçavam para gravar cada feição de seus raptores para uma possível vingança. Ficamos todos jogando o jogo do silêncio por dez minutos, até que nossa boa e jovem Hiperatividade resolveu ser ela mesma:

— Nossa gente, que climão né? A gente aqui na expectativa de a garota surtar e pá e ela lá, só fuzilando todos com os olhos. Não sei vocês, mas eu estou agradecendo a Deus por ela não ter visão de calor.

— Acho que a senhorita de la Montana não está no clima para conversas. - disse Sherlock.

— É uma pena, porque ela vai falar sim. - disse Leather. - Menina, sua única chance de ver a luz do Sol novamente é entrando no nosso jogo. Aposto que você já foi em muitos rodeios para entender isso.

O olhar da garota se intensificou e era possível enxergar mil sóis queimando em fúria em suas íris, voltadas exclusivamente para a dona do condomínio. Ela, então, suspirou profundamente e tomou uma postura ereta na poltrona.

— Desculpem meu silêncio, mas eu só estava buscando em minhas memórias quem diabos são vocês. - disse a garota. - Infelizmente não consigo me recordar. Se fossem da polícia, eu não estaria em uma poltrona tão confortável. Se fossem concorrentes diretos, eu estaria morta. Se fossem concorrentes indiretos, não teriam a audácia de me algemar. Então eu confesso que estou muito intrigada com esta situação surreal.

— Você tem ótimos pontos, pequerrucha. - disse S.H. - E todas as suas suposições estão corretíssimas, uma vez que não fazemos parte de nenhum destes grupos. Nós somos stalkers.

— Aquele povo estranho que cria obsessões e chamam de amor, fazendo bizarrices e fotografando os amados nus e coisa do tipo?

— Isso é o que chamamos de esteriótipo, menina. - disse Dark Rose. - Olha que eu te processo por preconceito social.

— Todos vocês são palhaços sem narizes vermelhos ou alguém desta sala consegue conversar com seriedade? - indagou a fantasma, puta da vida.

— Relaxe, Juanita. - disse Leather. - Cadê seu senso de humor?

— Assassinei quando tinha sete anos.

— Cuidado gente, temos uma fodona aqui! - ironizou, Petúnia. - É engraçado te deixar puta, mas vamos direto ao ponto. Como minha amiga Dark Rose estava tentando explicar antes de ser interrompida por você, pequena criatura irritada… Nós somos stalkers, informantes, pessoas que vivem da troca e venda de informações extremamente sigilosas, como a sua identidade.

— Nós recebemos uma proposta muito generosa para vender sua identidade em nossa rede privada. - complementou Sherlock. - Mas nosso amigo Skull Guy teve a brilhante ideia de poupar você e oferecer uma proposta quase irrecusável. Junte-se a nós e venderemos todas as nossas informações a seu respeito por um valor simbólico.

— O que me impede de fingir que aceitei, sair daqui e caçar cada um de vocês e seus familiares, um por um e mostrar como o inferno pode ser um local agradável?

— Nada a impede de tentar. - disse o aspirante a detetive. - Mas nós somos sete nesta sala. Você sequer sabia de nossa existência antes de a trazermos para cá. O que significa que você não teria a menor ideia por onde procurar.

— E caso procure e nos ache, o que garante a você que somos apenas sete? - disse Hiperatividade. - Podemos muito bem estar usando fantoches, assim como você.

— Não adianta tentar mentir para si mesma, garota. - disse Daisy. - Sei que você está acostumada ter o controle absoluto de tudo o que faz, mas sabe… Pessoas que estão no topo sempre tem a tendência de cometer um erro terrível: vocês não olham para cima. E sempre há alguém acima de você em algum momento de sua vida.

— Nos cace, nos mate, nos dê de comer aos seus cães. - disse Deadman. - Assim que um de nós cair, os outros venderão as informações que reunimos para todos os seus concorrentes. Podemos até mesmo lhes entregar de graça, aceitando como pagamento a garantia que você não teria uma única noite tranquila de sono.

— E só para encerrar. - disse. - Somos todos paranoicos, uns mais do que os outros. Estamos na sua cola há meses e você sequer notou. Já nós, estamos sempre suspeitando que há alguém em nossa cola, então acha mesmo que vai ser tão fácil nos encontrar?

O olhar sério e confiante da garota foi lentamente se desfazendo e pequenas gotículas de suor começaram a escorrer por sua face. Demos alguns minutos para que ela digerisse todos os nossos argumentos, o que não devia ser uma tarefa fácil. Sério mesmo, eu teria surtado totalmente se estivesse naquela poltrona. Confesso que fiquei com um pouco de pena da garota, que permaneceu cabisbaixa durante o tempo de descanso. Daisy saiu da sala e voltou depois de uns cinco minutos, trazendo uma garrafa térmica vermelha, uma azul e uma verde, assim como oito canecas. Ela me serviu com a azul em uma caneca preta e serviu o restante do grupo com a verde, com exceção dela mesma que despejou o líquido da vermelha em sua caneca. As duas primeiras continham café e a última, chá de camomila. A garçonete ofereceu as bebidas para a fantasma, que aceitou o café forte. Por precaução, ela usou uma caneca de plástico e após alguns goles daquele néctar glorioso, voltou a falar:

— Eu tenho que dar os meus parabéns a todos vocês… Eu tenho alguma escolha, por acaso?

— Claro que tem, senhorita. - disse Sherlock. - Na verdade, você tem três escolhas. A primeira é se juntar a nós, a segunda é comprar as informações por um valor superior ao que nos foi oferecido e a última é pagar para ver.

— Já desisti da última opção. Sou orgulhosa, mas sei quando fui derrotada. E só por curiosidade, qual foi o valor oferecido?

— Dois milhões de créditos. - respondeu o detetive, triunfante.

— Então é a falência ou a organização de vocês… Sabe, eu tenho que admitir que estou surpresa, algo que não acontece há muitos anos. Estou muito curiosa para descobrir como vocês me deixaram tão desamparada. Vocês venceram, onde eu assino?

Nos entreolhamos, vitoriosos. Obviamente, meras palavras não eram provas suficientes para calar minhas inúmeras paranoias, tampouco as de meus colegas stalkers. Então trouxemos um notebook para que ela pudesse realizar a transação do valor simbólico que posteriormente seria dividido entre os membros de nosso grupo. Sherlock ficou conversando com a garota para acertar algumas coisas relacionadas a sua entrada no Eye, Petúnia e Lance se encarregaram de devolver as capangas à casa de madeira da fantasma e o restante do grupo foi liberado.

Sendo o mais paranoico de todos os meus colegas stalkers, fui incumbido da importante missão de preparar medidas de segurança para não acabarmos desmembrados no fundo de um pântano qualquer. Então, como um paranóico profissional, pedi para que Sherlock obrigasse a nossa possível aliada a utilizar um rastreador até nosso próximo encontro. Implantamos rastreadores nas capagandas para ter proteção extra. Mantivemos uma vigilância preventiva a uma distância segura e mesmo assim nenhuma ação suspeita foi notada. A garota prosseguiu com seus negócios normalmente, assim como suas capangas. E assim, uma semana se passou.

Assim como combinado, todos nos encontramos na mesma lanchonete onde eu conheci o Eye, o que parece ser uma tradição dentro deste grupo. Minhas paranoias tinham tudo o que precisavam para ter certeza de que aquele local era suspeito. Decidi investigar em um outro dia. O encontro seria às três da tarde e eu acabei dormindo demais porque fiquei acordado até tarde tentando convencer minhas paranoias de que eu não seria assassinado pela fantasma. Acordei uma da tarde e pulei da cama contando apenas com minha adrenalina como aliada na batalha por chegar a tempo. Troquei meus pijamas por uma camiseta branca sem estampas e uma calça preta e decidi ignorar o café da manhã. Sai correndo do apartamento e apenas me dei o luxo de gastar um tempo a mais tendo certeza de que ele estava muito bem lacrado. Voei pelas ruas movimentadas e comprei um cachorro quente no meio do caminho, sem tempo nem ao menos para colocar catchup. Engoli o pão seco e a salsicha morna em questão de segundos e corri para o ponto, a tempo de garantir meu transporte. Com toda esta luta, fui capaz de chegar dez minutos adiantado.

Entrei pela porta, acionando o pequeno sino de metal e olhei diretamente para a última mesa, onde estavam Leather e Sherlock. Nosso bom e jovem detetive usava uma camiseta vermelha sem estampas e sua fiel boina, ainda apontada para a esquerda. A garota sadomasoquista usava uma camiseta branca solta sem mangas e uma saia preta. Acenei para os dois e caminhei rapidamente até lá, onde sentei-me e pude finalmente relaxar. Ficamos conversando por dez minutos, até que Hiperatividade adentrasse o local com uma peruca lilás até metade das costas, uma jaqueta jeans e calças jeans pretas acompanhadas de um par de botas negras de couro. Ela se juntou a nós, sentando ao meu lado e conversamos por mais dez minutos.

Passado esse tempo de espera, o sino metálico anunciou a chegada da ilustre Juanita de la Montana. A garota usava uma camiseta rosa claro com estampa de corações e uma saia preta, com o cabelo arrumado estrategicamente para esconder suas queimaduras. Ela carregava uma pequena bolsa cor de rosa em suas mãos e olhou por toda a lanchonete até que finalmente nos notasse. Caminhou lentamente até nós e parou em frente à mesa olhando para os dois bancos por alguns segundos até decidir se sentar ao lado de S.H. Juanita colocou sua bolsa sobre a mesa e retirou um pequeno espelho circular que usou para ajeitar sua franja e ter certeza de que suas cicatrizes não estavam aparentes. A encaramos enquanto realizava seu pequeno ritual e, ao perceber isso, ela rapidamente guardou o espelho e assumiu uma feição séria.

— Boa tarde, senhores e senhoritas. - disse a fantasma. - Como pode ver, nenhum de nós está morto, o que significa que nossas palavras tem algum valor.

— Exatamente. - disse Sherlock. - Eu cumpro fervorosamente minhas promessas, ainda mais as que faço como profissional. Acertamos tudo naquele dia, então só estava faltando mesmo este pequeno teste de confiança.

— Ainda acho desnecessário isso. - disse Juanita. - Minhas garotas até tentaram me convencer a matar todos de formas dolorosas e lentas, mas mesmo que eu quisesse seria impossível. Aceitei minha derrota naquela mesma noite. Agora que faço parte oficialmente do Eye?

— Claro, Juanita! - disse Ana.

— Parem de me chamar assim, por favor. Meu nome é Dalila e eu tenho assuntos a tratar com vocês.

— Somos todos ouvidos. - disse Petúnia.

— Eu era uma das escravas do verdadeiro Juan de la Montana, um homem horrível de trinta e tantos anos, barrigudo e espanhol desde meus seis anos de idade. Ele fez coisas horríveis comigo por vários anos, o que me levou a tentar cometer suicídio ateando fogo em meu corpo. Sobrevivi, mas cerca de 70% do meu corpo está coberto de cicatrizes e ainda sinto a dor o tempo todo. Eu poderia resolver isso com remédios, mas eu prefiro tê-la comigo. Ela me faz lembrar do meu objetivo. Passei a acompanhar os negócios de Juan atentamente, já que ele tinha um apreço especial por mim e aprendi como tudo funcionava. Me livrei dele e de qualquer um que o tivesse visto pessoalmente e passei a comandar o negócio. Meu objetivo é simples: vingança. Eu percebi matar Juan não era o suficiente e que eu precisava ser a maior do ramo para poder me livrar de todos os outros. E é aí que vocês entram. Existe apenas um grande concorrente meu e o restante são peixes médios e pequenos. Tenho informações sobre quase todos, exceto esse meu grande concorrente. Então gostaria de trocar as minhas informações sobre o submundo do crime por uma oportunidade de queimar todos estes infelizes um por um.

— Menina, que doidera. - disse S.H. - Muito legal mesmo saber disso tudo, mas a gente nem pode te chamar de Dalila aqui. A partir de agora seu nome de stalker é Ghost.

— Espera, então por que ninguém me interrompeu?

— Somos stalkers, nunca dizemos não a novas informações. - respondi.

— Droga, isso é meio óbvio. - disse Dalila. - Enfim, é isso. Tem só mais duas coisas que quero esclarecer. Eu tenho vinte anos, só sou baixinha porque não tive nutrientes nem condições saudáveis na minha infância para poder crescer. E eu simplesmente tenho nojo de homens, então prefiro que vocês não me toquem.

— Opa, mas eu posso, não posso? - disse Petúnia com um olhar malicioso.

Ghost se espantou a princípio, mas logo se recompôs e analisou meticulosamente a stalker tarada. Depois sorriu e respondeu:

— Claro que pode, querida.

— Meu Deus, a Leather jogou verde e deu certo! - exclamou Hiperatividade. - Deve ser uma das trombetas do Apocalipse.

— Fica na sua e não atrapalha, menina. - disse Petúnia. - Passa lá em casa qualquer dia desses, Ghost… Nem deu pra te mostrar meu quarto naquele dia.

— É um convite realmente tentador. - disse Ghost.

— Meninas, deixem essa conversa para um momento mais privado. - disse Sherlock. - Agora, quanto ao seu caso, podemos sim ajudar. Como nosso amigo Skull Guy disse: não desperdiçamos uma chance sequer de obter novas informações.

— Muito bem, fico feliz em poder trabalhar com vocês, stalkers. - concluiu Dalila.

Conversamos casualmente por meia hora e aproveitamos a oportunidade para explicar as regras do Eye e o funcionamento do A.S.E. Depois disso, cada um tomou seu rumo na vida e eu pude chegar em casa sem problemas. Abri a porta do apartamento e a fechei rapidamente atrás de mim, trancando-a novamente. Caminhei até meu fiel computador, sem pressa, e o liguei por puro hábito. Enquanto esperava a máquina se aquecer e preparar seus componentes eletrônicos para trabalhar, repassei os acontecimentos da reunião em minha mente e sorri. Levantei e fui até a cozinha, onde preparei uma garrafa de café. Nosso pequeno e eficiente grupo de stalkers sobreviveu depois de ameaçar uma traficante de humanos, conseguiu um novo membro e tudo indicava que Leather tinha encontrado outra pessoa para provocar com sua mente maliciosa e nada inocente. Foi um dia cheio de vitórias e eu senti orgulho por fazer parte disso e poder dividir estes momentos com meus companheiros. Entretanto, o orgulho foi logo substituído por um sentimento mais forte ainda, um impulso primitivo que me fez levar a garrafa de café e minha amada caneca negra até a mesa do computador. Esse impulso, meus caros, é o que move stalkers como eu, é o que me fez começar a pesquisar sobre tráfico humano e todas as atividades criminosas ligadas a isso. O nome disso é curiosidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Demorou, mas saiu
Aehooooooooo
Cabou um arco e vai começar outro. Dá-lhe stalkers!
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Who stalk the stalkers?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.