Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 8
Lost with the truth revealed




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—Tudo bem, agora fale!- demando.
    A comemoração já havia acabado e tive que ficar no pé de Merlin a noite inteira atrás de respostas, mas ele só respondia que eu teria de esperar estarmos sozinhas. Como se eu fosse conseguir esperar isso tudo. Ele olha para o lado de fora de seu quarto para ter a certeza de que ninguém está ouvindo, ao se certificar de que estamos sozinhos, ele fecha a porta e se vira para mim.
      _Você realmente devia arrumar o seu quarto. - digo de braços cruzados. “Ele sorri, em uma mistura de vergonha e de quem diz, olha só o que vou fazer". Bom, eu olhei, e não poderia ter ficado mais fascinada com o que vi.
    Depois de pronunciar palavras totalmente sem sentidos e de alguma forma trocar a cor de seu olho novamente, os objetos jogados no chão simplesmente começaram a flutuar pelo ar. A cama, totalmente abarrotada, começa a se arrumar sozinha e toda a roupa espalhada magicamente se dobre e é guardada nos armários. Uma vassoura, que não sei de onde surgiu, começa a varrer a poeira do chão e, em pouco tempo, se encosta na parede. Não sei quando minha boca se abriu, mas tenho dificuldade em fechá-la. Começo a rodar no mesmo lugar, tendo absorver tudo o que está acontecendo ao meu redor.
      _Bonito, não?- Merlin rompe o silêncio e se senta na cama.
      _Muito. - respondo ainda atordoada. -Arthur sabe?
      _Arthur?-repete como se fosse difícil acreditar que eu fosse perguntar algo como isso. - É claro que não. Eu seria condenado a morte.
    _Para com isso Merlin. Você, assim como eu sabemos que ele nunca faria isso.
    _Talvez. Mas é melhor prevenir do que remediar.- responde ríspido e sei que está na hora de mudar de assunto.
    _Então... Você pode me ensinar? - a esperança é visível em minhas palavras
    _Me desculpe, mas magia não é algo que se pode ser ensinado.- há um pesar sincero em seus olhos.
    _Não custava tentar.- me sento ao seu lado.- Como você faz isso?
    _Eu não sei. - dá de ombros. - Simplesmente faço.
    _Por acaso tem algo a ver com povos celtas? Deuses pagãos, druidas?
    _Sim. - responde duvidoso. - Como você sabe disso?
    _Mitologia é difícil de encontrar na minha época, mas meu pai tinha uns livros. Se importa em me explicar?- ele se libera do choque e consente.
    _Os druidas são parte da comunidade dos vários povos, que como você disse, seguem a religião celta, a antiga religião como a chamamos atualmente. E eles até tinham um deus produtor de cerveja! Goibiniu se não me engano. Eles eram muito abundantes dezenas de anos atrás, mas com toda a perseguição de Uther e a expansão do cristianismo, eles se tornaram foragidos. Se andar pelos lugares certos dos bosques ao redor de Camelot, encontrará muitos de seus altares, os Nemetons.
      _Eu acho que vi alguma coisa quando cheguei aqui. - tento me lembrar, mas estava tão desesperada e tudo passou tão rápido que não consigo me lembrar direito.
      _Então é sortuda. Os Druidas restantes são bem restritos, não aparecem muito.
      _Porque Uther os condenará, você sabe, por magia. - ele me olha incrédulo.
      _Não são todos eles que possuem magia, America. Eles uma vez já foram juízes, poetas, tutores e curandeiros. Eles tinham uma vida normal. Uther consegue ser pior que os romanos. - noto o rancor em sua voz e mesmo que todos os meus músculos digam que não devo dizer isso, eu faço.
      _Não se preocupe. Eles vão cair, ou já caíram eu acho. Vai depender se estamos no começo ou no fim do século. -dou de ombros, como se não tivesse tanta relevância assim, mas ele continua com a boca aberta.
     _Fim. - murmura.
     _Então o fim do Império Romano do Ocidente já aconteceu.
     _Como você sabe disso, afinal? Você age como se viesse do futuro? Como se soubesse tudo o que vai acontecer conosco.
    Sei que magia e ciência são completos opostos, sei que provavelmente nunca vou voltar para casa, já tinha praticamente aceitado a ideia de ficar presa nessa época para sempre, mas depois desses acontecimentos, dessa descoberta, não posso deixar de ter a esperança de um futuro em casa. Quem sabe Merlin possa encontrar um jeito de me fazer voltar para Illéa.
    _Merlin- ele, que esteve quieto por alguns minutos, se vira para mim. - eu preciso te contar uma coisa. Acreditaria se eu dissesse que eu não perdi a memória?- pergunto receosa e ele solta uma gargalhada.
    _Com certeza acreditaria. Você é uma péssima mentirosa.
    _Então você sabia! Sabia e ainda me ajudou? 
    _Você parecia estar precisando de ajuda. - dá de ombros e o abraços, sussurrando um obrigado.
    _Se você finalmente admitiu que se lembra, o que aconteceu antes de ser salva?- ele me pergunta assim que me larga.
    _ Eu acreditei quando você me disse de magia, então, por favor, acredite em mim. - peço.
    _Você não acreditou mim. - constata e o olho de cara feia. 
    _Só escuta. - então conto minha história. Não do começo, porque já é enrolação demais. Mas explico sobre o futuro, sobre meu país e Maxon, sobre a viagem do tempo, Mikail e o acidente. Ele simplesmente faz caras e bocas, solta alguns xiados, mas não me atrapalha em nenhum momento.
    _ Eu morro?- é a única coisa que ele me pergunta quando termino de falar.
    _O que?
    _Eu vou morrer? - repete
    _Depois de tudo o que disse é isso que você quer saber? - ele esbugalha os olhos e balança em um sinal de "é obvio"- Não sei. A história de vocês é um mito, ninguém sabe se vocês realmente viveram, quem dirá se morreram.
    _Não me contento com essa resposta, mas respeito. - ele parece meio ofendido por tê-lo chamado de mito e não real.
      _Então?Vai me ajudar?
      _Ajudar com o que?
      _A voltar para casa.


      Perdi a noção de quantos dias se passaram desde que cheguei com muita facilidade, se encontrasse um calendário em algum lugar, as coisas ficariam mais fáceis, mas a contagem dos dias parece diferente aqui. E mesmo que eu resolvesse criar um eu mesma, não saberia dizer em que mês ou dia estou, então simplesmente vivo torcendo para que a sorte me arranje um jeito de voltar para casa, no caso Merlin, que passou os últimos dias ao meu lado procurando em livros e conversando com antigos amigos de Gaius na esperança da descoberta de algo, mas não conseguimos encontrar nada. Só conseguimos bagunçar toda a enfermaria, botar fogo em alguns livros da biblioteca e deixar Gaius mais desconfiado do que antes.
       Penso em Maxon e na minha família a todo momento, qualquer coisa que veja ou faça tenho vontade de correr e contar para alguém, mas me lembro de que eles estão aqui e não sabem o que aconteceu comigo. A essa hora Clarkson já deve saber que entrei na máquina e que estou desaparecida, morta ou não sei mais o que. Não acredito que eles tenham a fé de que a máquina realmente tenha funcionado, mas também acho que eles não acreditam que simplesmente evaporei no ar. Só espero que eles não desistam de mim, porque eu nunca desistirei de voltar para eles.
      O que é certo é que não tenho ideia do que faço na maioria das vezes. O mundo em que vivia é completamente diferente do agora, meu papel como mulher, meus afazeres são completamente diferentes, então simplesmente sigo as vizinhas e faço exatamente o que elas fazem, na esperança de que ninguém repare que não sou daqui. Se elas vão para a vila, eu me junto, se elas passam na feira, corro atrás, se arrumam a casa, saem para trabalhar ou o que for, eu imito.
   Nesse momento caminho pela cidadela, carregando um balde de madeira vazio e sigo as outras garotas até a fonte para buscar mais água. Sei que foi tolice acreditar que algum dia poderia tomar um banho de banheira novamente, o que é estranho, já que atualmente as pessoas se banham com baldes mesmo.
    Praticamente já me acostumei em acordar antes do sol nascer. Como serva de Morgana, devo estar em seu quarto antes que ela acorde para caso ela precise de alguma coisa. São poucos os momentos que teria para sair do seu lado, mas ela me libera grande parte do dia, o que é uma enorme gentileza de sua parte. Eu aceitaria a folga de bom grado, mas é que sem o trabalho não tenho mais nada para fazer mesmo.
    _Ai deus! Arthur está treinando!- ouço cochichos e vozes das garotas ao redor, o que me surpreende, já que mesmo ao lado de suas mães, elas não deixam de babar pelo príncipe.
    Olho para o lado a tempo de ver Arthur derrubar um homem no chão e fazer com que as pessoas ao redor vibrassem. Ele está sem camisa e a espada em punhos, não é toa que todas as garotas enlouqueceram, é o sonho de todas elas se casar com o lendário príncipe que poderá mudar suas vidas completamente. Eu até sugeriria uma seleção para ele, mas Uther nunca aprovaria, a lei diz claramente que um nobre só pode se casar com o outro nobre.
    _Ei! America!- ouço Merlin e o vejo correr em minha direção. Então percebo que estava encarando Arthur e trato de disfarçar.
    _Não me chame de America. - o corrijo e ele pede desculpas. -Achei que estivesse no treino. -comento e vejo o resto das mulheres seguirem sem mim.
    _Estou. Felizmente assistindo Arthur enquanto ele treina. 
    _Fico feliz que você não seja o saco de pancadas hoje.
    _Não de ideias para ele, por favor. - implora.
    _Merlin!!- uma voz grita do outro lado campo, claramente impaciente.
    _O dever chama. - então ele corre de volta para Arthur e os dois somem de vista.
      Procuro pelas outras garotas, por alguém para me ajudar, mas não encontro. Começo a andar pela cidadela a procura da fonte e com bastante ajuda, consigo pegar um pouco e a levo de volta para casa, onde o homem que me acolheu espera.
      _Como foi dessa vez?- ele vem até mim e toma o balde de minhas mãos, aliviando o peso. Agradeço.
      _Me perdi. - sorrio e vou para a cozinha preparar alguma coisa para o almoço. 
      A casa não é muito grande nem nada demais, realmente me lembra o modo de vida com que eu vivia em Carolina antes de toda essa confusão.
    _Tem alguma notícia de Elyan?- vejo seu rosto se contorcer e seus olhos se abaixam, claramente tristes. 
      Elyan é seu filho. Pouco tempo antes de eu começar a morar com os dois, ele foi embora do reino, dizendo procurar por algo da vida além de ser o filho do ferreiro e não tivemos notícia dele desde então.
    _Tenho certeza de que está bem. Ele sabe como se cuidar sozinho. - tento acalmá-lo. O assunto é difícil para ele, mas tento ajudar do melhor jeito que posso, depois de tudo o que ele fez por mim, o mínimo que posso fazer para retribuir é isso. Pego um copo de água recém traga e lhe entrego.
    _Obrigada Gwen.

    Estava na entrada da cidadela, me encaminhando para o quarto de Morgana, quando vejo Gaius e Merlin carregando uma carroça, ou pelo menos é o que acho que era. O que quer que fosse que os dois carregavam estava tampado por um cobertor, o que só aumentou minha curiosidade ainda mais.
     _O que você está fazendo?- chego mais perto e os dois param para falar comigo, claramente nervosos e ansiosos. Merlin trata logo de se por entre mim e o objeto escondido, me impedindo de ver qualquer coisa.
     _Só movendo algo. - ele gagueja e tenta se explicar.
     _Parece pesado. - procuro por uma brecha, mas não vejo nada.
     _Não é nada. Alguém te deu flores?- ele tenta mudar de assunto e só então reparo as flores em minha mão.
     _Ah não. Quer uma?- retiro a pequena flor do buquê e lhe dou. Ele sorri nervoso e bota atrás da orelha. Vejo Gaius impaciente do outro lado e sei que está na hora de ir embora.
     _Te vejo mais tarde. - ele se despede e sigo meu caminho.
     Abro a porta do quarto e Morgana vêm em minha direção com um sorriso no rosto.
     _Você parece feliz- ela comenta. Eu pareço? Não devia estar feliz. Estou presa no tempo, com saudades da minha família e longe de tudo com que estou acostumada. Porque então eu estou feliz?
     _Eu colhi essas para você. - lhe entrego as flores e elas as pega grata.
     _Que gracinha.
     _Algo para te animar. Sei que não está dormindo bem. - tento me explicar, mas não é necessário.
     _Você me anima. - sorrio grata pela atenção. Não deixo de imaginar o quão parecida comigo eu sou, ou o quão parecida eu sou em relação a ela.
     _Gostaria que as colocassem na água?- interrompo o momento constrangedor e saio dali.
     _Gwen? Está sabendo da praga?- interrompo o que estou fazendo e a ouço atentamente. - Gaius e Merlin encontraram dois corpos no castelo, eles estavam azuis, algo assim. - então era isso que eles estavam escondendo aquela hora.
     _Mas como isso aconteceu?
     _Ninguém sabe. Só.. só se cuida, tudo bem?- ela pede e assinto.
  
     Voltei para casa pouco tempo depois, admito que com medo dessa doença que só se espalha pela cidade É difícil se prevenir de algo quando você nem mesmo sabe o que está acontecendo. Dormi pensando no que aconteceria com o meu do futuro caso eu morra aqui. Porque se eu morrer no passado, isso quer dizer que na verdade eu nunca nascerei e se eu nunca nasci eu nunca voltei no passado, e se nunca fui para o passado eu nunca morri? A dor de cabeça me atinge em cheio e sou levada pela escuridão.
     Acordo no dia seguinte com uma sensação estranha, chamo por meu pai, mas ele não me responde. Então me desespero.
     _ Está na hora de se levantar. - caminho em direção de sua cama, onde ele está deitado de costas para mim.
     _Tom?- chego mais perto e empurro seu corpo para minha direção. Isso tudo para ver seu rosto azul e cansado.
     _Gwen. - ele murmurra doente. Abro a boca de terror e saio correndo pela vila a procura de Gaius. Bato em todas as pessoas no caminho, derrubo barris e ouço todos os xingamentos possíveis, mas não me importo, continuo correndo.
     _Gwen? Gwen?- reconheço a voz de Merlin, mas continuo correndo. Abro a porta com força e grito por Gaius, que estava na minha frente.
     _Você tem a doença?- ele parece entender meu desespero.
     _Tom. Por favor, Gaius, ele é a única coisa que tenho aqui. - imploro enquanto as lágrimas descem por minhas bochechas.
     _Eu não tenho a cura.
     _Eu estou te implorando.
     _Eu queria poder fazer alguma coisa. - sei que ele diz a verdade e que não quer que nada aconteça a ele, mas nesse momento não tenho cabeça para pensar nisso, o que importa é que não há ajuda.-Mas até então eu não tenho como fazer nada.- ele segura minha mão e me abraça, tentando me consolar.- Me desculpe, Gwen.
     Não aguento a possibilidade de perder uma figura paterna novamente, simplesmente não consigo. Saio correndo novamente, deixando Gaius e Merlin para trás. Volto para casa e vejo que ele ainda está deitado na cama, praticamente inconsciente. Me sento no chão e encosto minha cabeça na lateral da cama, ao seu lado e choro. Não sei quando parei de chorar por ele, quando comecei a lamentar pela saudade, ou quando me entristeci com tudo o que aconteceu em minha vida nas últimas semanas.


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