Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 17
Lost in mourning


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Pov Merlin

      _Arthur! Arthur, vamos! Acorde!    - grito repetidas vezes, as lágrimas embaçando minha vista completamente. - Não...- sussurro e ouço os passos chegando em meu encontro.- Por favor, me deixe ir no lugar dele. Por favor...- me rastejo até os pés de Anhora e imploro.
       _Esse foi o teste de Arthur, não o seu.
       _Você o matou!- a tristeza dá lugar a outra coisa, a raiva. -Meu destino é protegê-lo!
       _Ele não está morto, garoto tolo. Ele só tomou uma poção para dormir. Irá acordar em alguns minutos.
       Eu poderia ter pensado em muitas coisas elaboradas para dizer, mas essa foi a única coisa que conseguiu sair da minha boca.
      _O quê?- o ancião suspira, cansado.
      _O unicórnio tem sangue puro, se você mata um, tem que reparar o erro provando que também é puro de coração. Arthur estava disposto a sacrificar a vida pela sua.
       _Ahã...- balanço a cabeça em concordância, minha boca ainda aberta em um perfeito “O”.- Acho que é justo.- dou de ombros e me sento no banco novamente esperando que o bobo acorde de seu sono. Olho ao redor esperando encontrar Anhora e agradecer por, você sabe, não ter matado Arthur, mas já não o encontro.
       Tento encontrar coisas para me entreter nesse meio tempo e finjo que todo o drama e todo o lance “eu morreria por você, meu grande amigo” nunca aconteceu. Logo Arthur tosse no chão e ruge de dor.
       _O que aconteceu?-resmunga com a mão na cabeça enquanto tenta se levantar.
       _Antes ou depois que você morreu?- pergunto inocente.
       _Sabe, Merlin, se eu realmente tivesse morrido, eu juro que eu voltava para te matar também. - ele se recompõe e começa sua caminhada de volta para o labirinto.
       _Sério? Nem na morte você conseguiria ficar sem mim?- o provoco e ele me empurra.
       _Retiro o que disse. Vou fazer o máximo que eu posso para te deixar o mais longe possível de mim. - sorrio grato pelo não elogio.

Pov America

      O sol está em seu ápice, mas mesmo assim não sinto calor. Pensava que mesmo depois de milênios desde o começo da raça humana, as pessoas teriam mudado. Eu acreditava que, com todo o desenvolvimento de tecnologias, medicina, que nossas ações mudariam com o tempo, as atitudes e o modo de viver consequentemente, mas desde que cheguei em Camelot, as coisas não conseguem parecer diferentes do modo como vivia em Carolina. A mesma corrida desesperada por um meio de sobreviver, a mesma arrogância, o mesmo jeito de pendurar as roupas sujas no varal, que é exatamente o que eu estou fazendo isso nesse momento.
      _Tenho uma surpresa para você. - Tom, o homem que me acolheu e o qual me considera como filha, aparece entre as toalhas com uma caixinha nas mãos.
      Sorrio intrigada e a pego. Abro os panos e vejo o botão em forma de flor, feito de ferro.
      _Obrigado. É adorável.
      _Caso você precise de um reserva. - é sua desculpa. - Você sabe... para isso.- ele estende o vestido na minha frente.
       _É lindo!- o tomo em minhas mãos e admiro o trabalho. Claro que não chega nem menos aos pés dos vestidos que minhas criadas costumavam criar para mim em Angeles, mas é muito mais bonito dos que acostumei a usar por aqui e muito mais do que ele poderia pagar.
      _Você é uma moça linda, Gwen. Merece coisas lindas.
      _Mas deve ter sido muito caro!- exclamo e tento devolver o presente, mas ele segura minhas mãos e me faz olhar em seus olhos fraternos, e acabado me dando por vencida.
      _Está tudo bem. Confie em mim. - o abraço forte.
      _Você não precisava. - lindo a solitária lágrima.
      _ Eu sei, mas nunca tive uma filha para dar nada e Elyan está sozinho em algum lugar aí fora, e eu nem ao menos sei se ele está vivo ou não. Você é tão boa para mim, que não acreditava poder encontrar um anjo nessa época da minha vida. Você trouxe luz para uma alma velha e solitária, então no que eu puder lhe agradar, eu farei sem ao menos piscar. - ele seca minhas outras lágrimas e me dá outro abraço.
     _Obrigada. Pai. - completo e ele sorri.
     _Acho que posso me acostumar com isso.

     Tropeço no vestido várias vezes enquanto corro pelos corredores do palácio até Gaius. Empurro todos que passam por mim, sem nem ao menos checar se isso me trará problemas, mas nesse momento, não me importo. Depois do último tropeço, xingo alto, recebendo diversos olhares, então simplesmente corto a saia do vestido, um pouco mais curta do que eu estava planejando, mas mesmo assim muito mais eficiente do que no momento anterior. Antes que pudesse voltar a correr, ouço o som do metal caindo no chão e dos cochichos ao redor. Alterno os olhares ao redor, entre todos que me observam, e noto que talvez eles não estejam acostumados a ver a perna de uma mulher. Dou de ombros e recomeço minha jornada, agora muito mais rápida.
     Escancaro a porta e vejo Merlin, ainda de pijama, parado no meio da sala, seus olhos exalam preocupação. Afinal, quem não se preocuparia com minha entrada esbaforida.
      _Tom foi preso. - consigo dizer entre respirações curtas.
      _Preso? Pelo o que?- ele me pergunta.
      Não deixo de notar a falta de criatividade de Uther. Parece que tudo de ruim que acontece comigo, com alguém que conheço ou até pelo mais distante estranho, é devido sua louca obsessão por magia e feitiçaria. É sempre a mesma coisa: alguém é injustamente acusado de usar magia, ele a condena a morte, e Merlin é o herói no fim do dia, mesmo que ninguém saiba. E eu já não suporto mais essa rotina.
       _Disseram que ele fazia armas para um feitiçeiro. - o que até faz um pouco de sentido, já que ele é um ferreiro. - O acusaram de traição!
       _Arthur sabe sobre isso?- Gaius me abraça com suas pequenas mãos enrugadas.
       _Sim. Ele e Morgana estão conversando com Uther, mas dessa vez não acho que seja possível evitar.
       _Não perca a fé, Gwen. - Gaius me faz deitar na cama de Merlin.
       _Você é muito bem-vinda para dormir essa noite aqui. Não queremos que fique sozinha.- Merlin se senta em uma canto da cama.
        _Obrigada. - comenta e sinto meus olhos ficarem pesados.

        _Gwen. Gwen. Acorda, Guinevere. - ouço sua voz melodiosa ao longe e sinto suas mãos em meus ombros. - Acorde!
         Abro meus olhos e a primeira coisa que vejo são seus olhos azuis. Fico estática por um momento, sem saber o motivo pelo qual o príncipe está desesperado tentando me acordar, mas ele também não parece muito interessado em me dizer o que está acontecendo. Pelo contrário, seu olhar se alterna entre a bainha rasgada do meu vestido, que tinha praticamente esquecido, e a parte despida.
       _O que é isso?- ele pergunta ainda confuso e não consigo deixar de rir de sua expressão.
       _Isso- mexo meus pés- são pernas. Nunca viu uma?
       _Claro que já vi. Afinal, também tenho duas. - responde ofendido.
       _O que está fazendo aqui mesmo, Arthur?- pergunto direta, mas ele parece nem me ouvir.
       _O que disse?- pergunta sem tirar os olhos e bufo.
       _Vou colocar uma calça e já volto para que você diga o que veio fazer aqui. - me levanto.
       _Calça? Você vai colocar uma calça? Vai se parecer com um homem!- rio internamente. Não achei que fosse possível rir de uma desgraça como essas, mas acho que posso aproveitar esse momento mais vezes.
       _Só me diga o que veio fazer aqui. - cruzo os braços e consigo notar a tensão que emana do príncipe.
       _Não queria que fosse eu a te contar isso, mas Tom foi pego durante a noite tentando fugir. Me desculpe, mas meu pai o executou na mesma hora, antes que eu e Morgana pudéssemos saber para impedir. Eu sei que, mesmo não sendo sua família real, ele era importante...- não consigo ouvir o que mais ele diz, me perco dentro de mim mesma, novamente. Quando acho que já perdi todas as pessoas possíveis, quando acho que as coisas não podem piorar, a vida me surpreende. Sinto minhas pernas fraquejarem e desabo no chão, inconsolável.
     Sinto o corpo de Arthur junto ao meu, em um abraço desajeitado.
     _Vai embora, por favor. - sussurro fraca, caída na parede.
     _Eu só quero...
     _Vai embora!- urro. Estou ocupada demais para notar se magoei seus sentimentos. Enterro meu rosto nas mãos e permaneço em posição fetal, ouvindo o lento som de seus passos na distância. Quando não ouço mais nada, me deixo deitar no chão, em luto, olhando as estrelas pela única janela do quarto, imaginando se Tom agora é uma delas, se por obra do destino ele encontrou meu pai, e não consigo parar de imaginar o quanto eles se gostariam caso se conhecessem.
       Não notei quando dormi. Não sabia nem mesmo se as cenas que se desenrolariam eram verdadeiras ou não, se era um sonho ou uma alucinação. Mas senti os braços fortes me elevando do chão em direção da minha cama temporária. Arthur me deposita no colchão, com cuidado, e por um momento realmente acreditei que eu fosse um vaso que pudesse quebrar a qualquer momento. Sinto a brisa nas minhas pernas, a noite gélida, mas estava adormecida demais para pensar em me cobrir. Embora Arthur tenha notado e feito exatamente como minha mãe costumava fazer quando eu e meus irmãos éramos pequenos, ele não apagou a luz ao me deixar para dormir, até porque não existe energia elétrica, ele apagou as velas na cabeceira e sumiu na escuridão, me deixando com meu subconsciente atormentado.
      _Você é forte, vai ficar bem.

        _Foi o sonho mais estranho que já tive. Eu me lembro de adormecer no chão, mas quando acordei estava na cama. - comento enquanto arrumo sua cama.
      Morgana tentou de todas as formas possíveis me convencer de não trabalhar hoje, mas eu não conseguiria, preciso de algo para manter minha mente ocupada para que eu não desabe.
      _E eu nem sei se isso aconteceu de verdade. - termino e ela me olha surpresa.
      _Então você sonhou com Arthur? Porque eu sou sua amiga mesmo, Gwen?- ela me pergunta legitimamente curiosa. Coro, envergonhada.
      _Você não sonhou comigo, aquilo realmente aconteceu. - deixo o vaso de flores que estava em minha mão se despedaçar no chão e observo a figura de Arthur encostada na porta, nos encarando.
      _Eu não sabia que tinha sentimentos. - Morgana comenta cínica.
      _Pois é. Eu também não. - não sei por que, mas sorrio. - Pelo menos sabemos agora qual de nós tem um coração.
       _Estúpido. - ela se irrita e joga uma almofada em sua direção, só o fazendo rir mais.
       _Viu o quão sem coração você é minha querida irmã. A senhoria aqui. - ele se posta ao meu lado- está tendo o trabalho de arrumar sua cama, que a propósito você não consegue arrumar sozinha, e ainda assim você a atrapalha? Que coração de gelo!- suspira.
      _Você não consegue parar de ser chato não? Eu tenho pena de Merlin por ter que te aturar todos os dias. - ela se levanta e começa a empurrar, ou pelo menos tentar, Arthur, que não para de tirar sarro da situação, para fora do quarto.
      _Só estou feliz que não sonhou com ele. - comenta exausta assim que consegue trancar a porta. Ela cata as almofadas do chão e deita-se novamente na cama. - Mas como você está? Em relação a Tom?
      Eu achei que estivesse forte, achei que depois de toda a tragédia e miséria que me assolaram, eu conseguiria aguentar mais alguma coisa, mas assim que raciocinei suas palavras, todos os sentimentos que segurei até esse momento pareceram fluir para fora de mim. Sem me importar com todos os costumes e etiquetas, arrumo um lugar para mim e me deito no colo de Morgana em busco de consolo.
      _Ele não pode nem ao menos se despedir do filho! Como vou dizer para Elyan o que aconteceu? Eu prometi para ele antes de ir que cuidaria de seu pai até que ele voltasse. Ele foi tão bom para mim, sabe? Eu perdi meu pai pouco tempo atrás e nem sei se minha família ainda está viva! Eu estou perdida aqui sem ter a mínima chance de voltar para casa e o que mais quero é voltar. Eu sinto saudades o tempo todo, eu não sei quanto tempo ainda vou aguentar.
      _Sei que não serve de consolo, mas você também possui uma família aqui. Podemos não ser de sangue, ou tão bons quanto a sua antiga família, mas estamos aqui para você e eu prometo que vou mandar os melhores cavalheiros de Camelot até sua terra natal com uma única ordem: não voltar sem sua família. - ela tenta me consolar, me ajudar, mas fico ainda pior. Como posso dizer para ela que é impossível que eles venham para cá? Como dizer que ela pode procurar e procurar mas nunca o encontrará? Como dizer que menti esse tempo inteiro e que na verdade vim de um outro século? Como continuar com uma mentira insustentável?


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Notas finais do capítulo

Até outro dia



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