Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 12
Lost in goodness


Notas iniciais do capítulo

mais uma vez desculpa a demora, espero ter compensado com essa maratona...Para aquelas que sao #TeamArthur tudo começa agora. Boa leitura!



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Pov Merlin
    Olho para Gaius mais uma vez. Provavelmente é a quinta vez que faço isso no minuto, mas ele só me olha bravo o que me faz ficar quieto novamente, para no segundo seguinte fazer a mesma coisa. Arthur não acorda, e mesmo tendo o tirado do lago e ter impedido o príncipe de se afogar, eu simplesmente não consigo me livrar dessa sensação de que minha vida, ou a de todos, seria muito mais simples se ele não existisse, mas não é como se eu realmente fosse deixá-lo morrer. Estamos sentados na beira de sua cama, onde ele deita inconsciente, por horas, esperando pelo momento em que ele finalmente acorde, na esperança de que ele não se lembre de nada do que aconteceu nas últimas horas.
     _Ah. - ouço a grunhido. Olho para Gaius novamente, mas ele não diz nada.
     _Arthur?-pergunto.
     _O que aconteceu?- pergunta ainda sem abrir os olhos. -Onde estou?- Gaius e eu nos entreolhamos, se ele realmente não sabe onde está, significa que não se lembra o que aconteceu. Me inclino mais para perto da cama.
     _Se lembra de alguma coisa?
     _Ah. Ah, minha cabeça. - levanto os olhos e vejo o herdeiro se sentar na cama, com as mãos na cabeça e resmungando de dor e cansaço. -Tinha uma garota. - ele se assusta pelo motivo- Sophia. Pedi alguma coisa ao meu pai por ela. -responde tentando se lembrar dos detalhes. - O pedi...-gagueja tentando se lembrar, e assim que parece entender o motivo de tudo aquilo, seus olhos se arregalam e ele salta da cama assustado.- Onde estava com a cabeça?-grita.
     _Bem, ficamos imaginando... Principalmente quando você fugiu com ela ontem a noite. - o respondo tentando conter o riso.
     _Eu fiz o que?-esbraveja.
     _Merlin teve que trazê-lo de volta para Camelot. - o médico complementa. Admito que esperava por um obrigada, ou algo do tipo, pelo menos um sorriso de agradecimento, mas ele só me olha confuso, como se a ideia de que eu possa salva-lo seja mais do que absurda.
     _Eu não me lembro disso!
     _Deve ter sido um golpe e tanto. - Gaius suspira e o olho sem entender, mas seus olhos dizem “entra na história”, então continuo.
      _Que golpe?
      _Bem, quando lhe alcancei, não consegui fazê-lo voltar, você não estava pensando direito. Então tive que obrigá-lo.
      _Você conseguiu me nocautear? Me nocautear?
      _Sim, com um pedaço de madeira. - sorrio com a boca fechada, o que só o deixa mais irritado.
      _Ele só fez isso para trazê-lo de volta a salvo. - Gaius intervém.
      _Ninguém pode saber disso!- Seu dedo cruza minha visão e não sai até que eu prometa. -Nada disso!- se vira para Gaius, que recua assustado. -Isso ficou entendido?- assentimos rapidamente e ele se joga na cama, em suspiros.
      _Porque você simplesmente não agradece que salvei sua vida?
      
       Estamos no campo de treinamento, o que quer dizer que Arthur treina e eu sou o seu saco de pancadas. Eu seria, pelo menos, mas gosto do meu rosto do jeito que é, então não me julguem por fugir de suas investidas.
        _Qual o seu problema, Merlin? Eu preciso treinar!- grita girando a espada em minha direção, mas consigo me jogar no chão a tempo de a ponta passar raspando pelo escudo que seguro. Ouço risadas ao redor, afinal o campo é aberto a qualquer um. Olho para o lado e vejo Morgana e America rindo da situação. Abro um sorriso também, porque risos parecem fazê-lo ficar mais irritado do que já é.
        _E eu preciso sobreviver!- Grito ainda no chão. -Mas se agradecer por ter salvo sua vida, posso começar a pegar leve com você.- me levanto e digo sarcástico.
        _Eu não estava em perigo para ser salvo. Você precisa é pedir desculpas por ter batido no seu príncipe!
     _Nunca.
     _Então agradeça por estar acordado. Porque ninguém é tão estúpido de tomar veneno, além de você é claro. - ele ataca novamente, me pegando desprevenido. Não consigo me esquivar, então a força de seu golpe me joga longe. Soluço, tentando recuperar a força e esquecer a dor.
      _O veneno era para você! Agora não tem como mentir sobre eu ter salvo a sua vida.- cambaleio de volta para a área.
      _Quem desobedeceu ao rei e foi parar em uma caverna encantada para achar uma florzinha para a senhorita morrendo foi eu, e isso quase custou a minha vida.
      Bom, resumindo tudo o que aconteceu antes de todos os acontecimentos do sonho de Morgana, um cálice envenenado destinado a Arthur chegou em minhas mãos e como o servo leal que sou, bebi o líquido, afinal não poderia deixar meu futuro rei morrer. No fim acabei permanecendo inconsciente por mais tempo do que gostaria e Arthur foi atrás da cura, conseguindo me acordar no fim de tudo. Mas claro que ele não me agradeceu por isso.
      _Homens... Porque não aceitam ajuda?-Morgana suspira desapontada e deixa o campo. Gwen sorri, me incentivando a continuar a luta, mas já estou dolorido demais. Não tinha ideia de como conseguiria continuar resistindo, mas não precisei.
      _Está escurecendo. Amanhã terminamos. - respiro aliviado e me deixo cair no chão. - Não se esqueça de polir minha armadura, limpar o estábulo e preparar meu cavalo para a tarde. - fecho os olhos exausto e permaneço na grama até que não haja mais ninguém.

      POV America
 
     Desde o incidente de Sophia, as coisas pareceram se acalmar por aqui. Morgana praticamente esqueceu qualquer resquício sobre a magia, ou pelo menos finge ter esquecido. Tentei falar com Merlin e Gaius sobre isso, mas para os dois é necessário que minha amiga fique cega a tudo o que envolve feitiçaria. Consegui viver o máximo possível de uma vida normal nos últimos dias. Passava as manhãs ao lado de Morgana, a ajudando de todo modo possível, durante a tarde passeávamos pela cidadela e ela me apresentava para todo mundo. Mesmo sendo a protegida do rei e uma das mulheres, se não a mais nobre mulher do reino, ela conhece mais sobre os cidadãos do que qualquer um, uma característica que admiro profundamente. E depois acompanhávamos aos treinamentos dos cavaleiros, isso incluiu impedir Arthur de matar Merlin, o que provavelmente já teria acontecido de não estivéssemos lá. Por fim passva o resto da noite ao lado de Gaius, folheando livro por livro a procura de uma solução para o meu problema, mas nada ainda.
      _Droga! Porque não existe nada? Porque tudo de ruim tem que acontecer comigo?- grito aborrecida e jogo os livros na parede. Me jogo no chão e deixo que as lágrimas rolarem.- Porque não posso voltar para casa?- respiro fundo e me acalmo. Abro os olhos e vejo os dois me observando, preocupados.
      _Eu tenho certeza que é só procurar direito e...- o velho cambaleia em minha direção e segura minhas mãos calmamente
      _Isso é inútil!- jogo as mãos para o ar. - Eu cansei.- bato os pés e piso fundo para fora da sala.- Eu só preciso tomar um ar.- digo exausta quando Merlin tenta me seguir.
       Me encaminho para o lugar onde geralmente vou quando estou com saudades de casa. É um quarto onde Morgana e eu entramos quando ela precisava de um novo vestido, ele não fica trancado, mas nunca vi ninguém entrar nele. Fica no topo da torre sudoeste, o lugar onde a sacada dá vista para além do horizonte. Além do ótimo campo de visão, a arquitetura e a decoração do quarto me lembram do meu em Angeles, durante o período da seleção. Geralmente quando me sinto mal, me encosto na grade e passo horas comparando as estrelas dos dois tempos, imaginando tudo o que está acontecendo daqui a 1000 anos.
        Me escondo nas sombras e abro a porta sem fazer qualquer barulho. Atravesso o quarto escuro até as cortinas de seda que mostram a porta da sacada, mas uma rajada de vento a faz flutuar e vejo, do outro lado do pano, a figura inconfundível de Arthur, me encarando, tentando ver se eu sou realmente eu. Ele não diz nada, simplesmente se vira e volta a se amparar na grade de pedra, observando a floresta. Tomo isso como um sinal de que não estou encrencada, então me aproximo. Me posiciono ao seu lado e olho para a movimentação na cidadela.
     _O que faz aqui?- me pergunta ainda sem mover o olhar.
     _Me desculpe, eu não sabia que havia alguém aqui. Eu só precisava tomar um ar. Esse lugar me acalma. - respondo sincera. Ele permanece em silêncio.
     _Era o quarto dela. Da minha mãe. Não me assusta ser um lugar agradável para pensar, visto que nós dois viemos aqui para fazer a mesma coisa. - suspira triste e fico sem saber o que falar. - Eu nunca a conheci, mas pelo o que me falam, ela ficaria feliz por conseguir ajudar qualquer um a resolver os problemas, mesmo que desse jeito.- assinto
      Nos últimos meses conheci diversas faces de Arthur, o herói, o amigo, o valentão, o brigão, o arrogante e egocêntrico, o príncipe e o galante. Sua imagem para mim já estava tão bem formada em minha mente que não imaginava que ele pudesse fazer algo que me surpreendesse. Para mim suas atitudes já eram esperadas e previstas, ele salvaria a garota, faria uma piada, seria mal educado com algum funcionário e não agradeceria Merlin por nada, mas ao ver aquela única gosta escorrer por suas bochechas grandes para depois se depositar no chão, percebi que uma pessoa, mesmo quando você acha que já a conhece muito bem, ainda tem bastante para mostrar. Eu vi a vulnerabilidade, a tristeza pela perda da mãe e a solidão por estar sozinho no mundo, eu entendi suas atitudes e parei de culpá-lo por tudo o que acontece.
      Me inclino para abraçá-lo, mas ele recua. Ele limpa a goa solitária que foge de seus olhos azuis e estufa o peito, mantendo a pose de durão.
      _Eu vou indo, está tarde. - começa a se desculpar e a se afastar.
      _Porque faz isso?- ele me olha sem entender. - Porque se afasta de todo mundo? Porque cria barreiras?
      _Eu não faço isso. - retruca.
      _Você faz. - volto a me apoiar na pedra do muro. -Você empurra Merlin o mais longe possível, o trata com o mínimo de consideração possível, zomba Morgana e se faz de arrogante. Eu só não consigo entender. Somo seus amigos, não precisa se esconder de nós. - ele parece pensar por um momento, se deveria voltar para a sacada e me escutar, ou me condenar à forca por ter dito qualquer coisa. Ele escolhe a primeira opção e volta para o seu lugar de antes.
      _Eu nasci para ser um guerreiro, para mandar nos outros, para me sentir superior, não para ter emoções. Eu cresci com a única influência do meu pai e dos outros conselheiros, eu não sei o que é ter amigos, é claro que já beijei muitas garotas, mas não sei o que é amar. Como posso conhecer qualquer coisa quando a única com que já tive conhecimento foi à frieza e a superioridade do meu pai? Eu sei que não se lembra da sua casa, mas aqui nós somos criados para não se importar com os empregados, somos ensinados de que as mulheres devem ficar em casa, nos dizem que chorar é sinal de fraqueza e.. E eu amo o meu povo mais do que tudo. Não posso suportar os decepcionar. Eles querem um rei forte, alguém que formará alianças e liderará tropas para expulsar os saxões, alguém que combaterá a magia e finalmente trará paz para esse reino. Essa é a minha criação e não acho que seja possível mudá-la.
      _Você pode acreditar que seu povo quer sua pose de seriedade e rigidez, mas nem sempre o que é diferente é ruim, Arthur. Você pode até acreditar que Merlin é seu amigo, pode amar Morgana e pode até se importar comigo, mas não pode negar seu carinho e amor pelo seu povo.
      _Eu me importo com vocês, de verdade. Merlin é tão irritante que eu simplesmente gostaria que ele sumisse, mas não conseguiria imaginar como seria se isso realmente acontecesse. - solto uma risada e ele se junta a mim. - Nasci para dar minha vida para a população e é exatamente o que pretendo fazer.
       _Isso não é motivo para se envergonhar, Arthur. Não são todos que estão dispostos a trocar sua vida pelos bem de seu povo. Eu sei que não acredita que existam reis de modos diferentes, mas você é Arthur Pendragon, você pode ser o rei que quiser, porque você não é o seu pai, nem nenhum outro príncipe dos cinco reinos. Momentos urgentes pedem atos urgentes. Você diz que quer paz. A paz não chega através de guerras, como o seu pai acredita, existem outros meios.  E não, ela não vai mudar, você vai ser sempre o idiota arrogante e sabe tudo, mas talvez haja mais coisas escondidas entre essas. Uma pessoa é muito mais do que dizem sobre ela. Você salvou minha vida e a de Merlin mais vezes do que eu poderia contar, agiu contra as ordens do seu pai e fez o que achava ser certo, isso mostra que você já a alguém diferente, alguém para se orgulhar.
      _Como sabe tanto?-me pergunta surpreso.
      _Namorei um príncipe antes. - arregala os olhos.
      _Achei que você estivesse sem memória. - diz desconfiado.
      _Eu estava, recuperei ela ao longo do tempo. - minto tentando consertar minha burrada. Ele parece não acreditar, mas se não acreditou mesmo, deixou de lado e assentiu.
      _O que aconteceu com ele?
      _O pai dele não aprovava o nosso casamento, uma plebéia e um nobre. Ele fez tudo o que pode para se livrar de mim e assim vim para aqui em Camelot. Você não conhece o lugar, é chamado Illéa, bem depois do fim do último dos cinco reinos, atravessando o oceano. - digo pensativa.
      _Não vou dizer nada para o rei, se estiver preocupada com isso. - assinto agradecida. - E me desculpe por ele, mas acredito que o amor sobreviva a tudo, ao tempo e a distância, espero que tudo fique bem entre vocês. -completa.
      _Obrigada.
      _Posso pedir uma coisa?- balanço a cabeça positivamente. - Sei que acha besteira a maioria das coisas que faço e falo, sei que não compreende o motivo pelo qual escondo o melhor de mim, mas peço que por favor não conte a ninguém sobre o que falamos aqui. Graças a você agora sei que não preciso ficar preso as amarras do meu pai, mas enquanto você possui um jeito de mostrar para as pessoas o quanto se importa com elas, eu tenho o meu. E mesmo sendo estranho e defeituoso, é o meu jeito de ser, minha personalidade. Eu sou egocêntrico, arrogante e sabe tudo, como você claramente disse, mas é o jeito que encontrei para que todos entendam que me importo.
     Abro o maior dos sorrisos, surpresa pelo mesmo homem que prendeu Merlin nas masmorras e o fez ser atacado por comidas oito vezes desde que cheguei e que acreditava não ter capacidade nenhuma para sentimentos, na verdade possuir um dos maiores corações existentes, ser o homem que me traria esperança e lutaria por seus ideais até seu último suspiro, ser o homem que naquele momento me mostrou que não podemos mudar quem nós somos, mas sempre podemos evoluir. E, mesmo continuando se escondendo por trás de uma máscara de prepotência, me fez, aos poucos, perceber que essa máscara era na verdade a sua pele, era parte de quem ele é, e isso só o faz uma pessoa melhor. Abraçar as qualidades é fácil quando se é aclamado por todos, mas admitir os defeitos e aceita-los como uma parte do seu se é mais complicado. Continuamos conversando por horas, e consegui encontrar uma coisa que nunca esperei ver em Arthur Pendragon: bondade.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! O que acharam desse outro lado do gato?



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