Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 11
Lost in visions




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 A água estava turva. Era quase impossível ver qualquer coisa. Sabia que estava debaixo da água, mas não me sentia molhada, era como se houvesse uma camada de ar ao meu redor. Olho para o alto e consigo ver o azul do céu, desbotado pelo marrom do rio. Sinto um enorme impulso de respirar, a necessidade incansável de sobreviver, então começo a me mexer, balançar os braços em desespero para subir, mas a água parecia não acabar. Nadava e nadava, mas era como se eu não saísse do lugar. Me desespero. Bolhas saem da minha boca e balanço a cabeça a procura de algo que possa me ajudar, alguém para me socorrer, mas encontro meu pior pesadelo.
     A prata brilha na água escura e é impossível não olhar. O corpo afunda, lentamente, e seu rosto pálido me faz estremecer. Ainda está vivo? A capa vermelha flutua na água, fazendo com que a demorada viagem até o fundo, demore mais. Os olhos de Arthur não se abrem, completamente inertes. Ele não respira. Me desespero. Olho para o alto novamente, em busca de ajuda, e a claridade parece iluminar um canto da margem, uma garota, de cabelos ruivos claro, ou seria loiro? Seu rosto é pálido e se não fosse por sua expressão fria e determinada, poderia jurar que via um anjo. O capuz sobre a cabeça só a dá um ar mais misterioso, seus olhos brilham, do mesmo jeito que havia visto várias vezes em minha vida quando um feiticeiro diz algo, e sua mão estendida em minha direção simplesmente confirma minha intuição de que a garota é razão de tudo isso.
     Nado em direção de Arthur, sinto meus pulmões arderem, gritando por oxigênio, mexo meu corpo e luto contra qualquer coisa que impeça que eu o alcance. Quando finalmente toco sua bochecha sem vida, acordo.
     Inspiro profundamente. Recuperando todo o ar e o susto do terrível pesadelo. Meu coração bate mais rápido do que posso acompanhar, meus sentidos estão ampliados, meus olhos arregalados e suo frio.
     _Arthur.

      _Meu nome é Alfric, herdeiro de Tirmawr. Essa é minha filha, Sophia. - o homem se apresenta, assim como a bela garota ao lado.
      _Você está bem longe de casa. - Uther constata, a curiosidade visível em seus olhos. -O que o traz à Camelot?
      _Nossa casa foi saqueada por assaltantes. Mal conseguimos escapar, somente com alguns bens que conseguimos carregar. - o velho explica. A filha sorri, doce, esperando que o rosto sereno consigo convencer o rei de que não há nada a temer, enquanto o príncipe a observa de perto, tentando compreender a história da dama que havia acabado de salvar, como muitas outras vezes antes.
    _O que vai fazer?
    _Viajamos para o oeste, para Caerleon onde nossa família mora, onde espero construir uma nova vida
    _Deve ficar aqui, descansar da viagem, uma família nobre como a sua é sempre bem vinda à Camelot. - Uther diz a palavra final e Arthur comemora em silêncio. A família faz uma reverência e se retira do salão.

     _Quem é aquela?-atravesso o corredor, com a certeza de que havia acabado de ver um fantasma.
     _Sophia Timawr. - Merlin responde como se o nome não fosse nada demais. - Nós a resgatamos na floresta. Bom, foi o Arthur que fez quase tudo.
     _Ela não pode ficar aqui. -ignoro tudo o que ele disse.
     _Bem, o rei disse que ela e o pai são bem-vindos em Camelot. Está tudo bem?- a observo sumir no fim do corredor e tento entender o que acabou de acontecer.
     _Sim. - minto e sorrio, tentando o convencer. -Obrigada. - vou embora antes que mais perguntas apareçam.
     Corro pelos corredores atrás da única pessoa que pode me ajudar. Passo o trajeto pensando nas possibilidades, se estou louca ou se realmente acabei de ver o que vi. Gaius está em sua mesa, mexendo poções, como sempre. Ele se assusta ao me ver, mas logo abre um sorriso alegre.
    _Desculpe, não quis interrompe-lo.
    _Não se preocupe, minha filha, minha paciente preferida é sempre bem-vinda. - abre os braços e aceito seu abraço reconfortante.
    _O que a traz a este cantinho escuro?- me debato, com a incerteza se contar realmente é a coisa certa a se fazer.
    _Tive outro sonho. - nos últimos anos quase não consigo dormir. Sempre sou assombrada por lembranças ou simples imagens que nunca parecem ter nada a ver com nada. Gaius prepara poções, para me ajudar a passar por meus pesadelos. Ele me olha com expectativa, esperando que eu conte o que for que tenha visto. - Eu vi Arthur deitado de baixo da água, se afogando. E tinha essa mulher em cima dele, o vendo morrer, e ela está aqui em Camelot.
     _A nossa mente nos engana. - me interrompe. - Pega fotos de todos os dias e os transforma em fantasia.
     _Mas eu tive esse sonho antes de ela vir para Camelot!- tento argumentar.
     _Deve estar enganada- persiste.
     _Eu sei o que vi. Foi tão real, tão vívido. Eu o vi morrer, Gaius. Ela vai matá-lo.
     _São apenas sonhos, Morgana, nada mais. - suas mãos em meu ombro tentar me acalmar, mas a cada palavra que sair de sua boca, mais determinada fico a provar de que não sou louca. Sophia está mentindo e mesmo que ninguém acredite em mim, eu preciso descobrir a verdade. - Está tomando o sonífero que fiz para você?
    _Não adianta em nada. - ele se afasta e pego um fraco verde na mesa. - Experimente esse, induzirá um sono mais profundo. - tomo o jarro em minhas mãos e saio do cômodo sem dizer mais nada.


    _Tem certeza que é ela?- Gwen me pergunta enquanto observamos, da janela, Sophia e Arthur partirem pela entrada dos fundos, montados em seus devidos cavalos.
     _Eu nunca esqueço um rosto.
     _Deve falar com o rei. - diz imediatamente, mas consigo sentir que nem ela mesma acredita que isso é o certo a se fazer.
     _E dizer o que? Que consigo prever o futuro?
     _Se acha que a vida de Arthur está em perigo...
     _Você sabe como ele reagiria. - volto minha atenção para o vidro, que produz a imagens dos dois se afastando no meio da floresta.
     _Você é sua protegida! Ele não lhe faria mal.
     _Mas ele odeia magia mais do que gosta de mim.
     _Isso não é verdade!
     _Estaria disposta a botar tudo em um teste? -desafio e ela engole em seco.
     _O que vai fazer?
     _Eu mesmo terei que tentar impedi-la.


     _De novo não, Merlin, certamente. - Gaius exclama ao ver o amigo entrar pela porta da ala hospitalar, coberto de frutas pela terceira vez em dois dias.
     _Era de se esperar que o entusiasmo de se tacar fruta na mesma pessoa perderia a graça depois de certo tempo, mas não. - reclama impressionado e anda em direção do barril de água que parecia feito especialmente para ele.
      _Soube que Arthur não compareceu na cerimônia dos cavaleiros. - o mais velho comenta desconfiado. Depois da visita de Morgana, resolveu ficar de olhos abertos na família que havia acabado de chegar e as coisas não poderia estar mais estranhas.
      _É, ele queria passar o mais tempo possível com Sophia. - há um sorriso brincalhão no rosto do mago, que não consegue acreditar que alguém possa ser idiota o bastante para se apaixonar pelo príncipe.
      _Então você o ajudou.
     _Sou seu servo. Eu tenho que ajudá-lo. - replica.
     _Não devia ter feito isso, Merlin. - se recosta na cadeira e olha para o menino que considera como o filho que nunca teve. - Temo que Sophia possa não ser quem aparenta. - o garoto olha para o mestre sem entender.
     _Por quê?- desiste de se lavar e presta total atenção no que o médico diz.
     _O que você sabe de videntes?
     _Não muito. - responde sem entender a relevância do assunto. - Eles supostamente conseguem ver o futuro como profetas.
     _Dizem que é uma aptidão inata. Os que a têm nasceram com ela. Alguns nem tem consciência de que vêem o futuro, isso lhes vêm através de sonhos.
     _O que isso tem a ver com Sophia?
     _À noite antes de ela e Alfruic virem para Camelot, Morgana teve um sonho. Sophia estava nele. -explica.
      _Antes de ela chegar a Camelot?- se assusta.
      _Tenho observado Morgana desde que ela era bem pequena. E embora tenha tentado convencer-me de que não era nada, percebi que algumas das coisas com quais ela diz ter sonhado aconteceram. - Merlin caminha boquiaberto e se senta ao lado de Gaius, esperando saber mais. -Mantendo segredo, não deixo Uther saber, é claro, o dom da profecia é muito parecido com o trabalho de magia.
     _Você acha que Morgana é vidente?
     _Eu não acho que seja verdade. Eu temo que seja verdade. - responde pensativo. O médico já viu muitos mágicos entrarem no caminho do rei, bons ou ruins, todos eles terminaram do mesmo jeito. Mortos. E não deseja isso para o jovem mago sentado ao seu lado, nem para a protegida do rei. - Morgana diz ter sonhado com Sophia matando Arthur


     _Eles vão sacrificar Arthur e nem sabemos ainda o que eles são!- Merlin gesticula desesperadamente. Na noite anterior seguiu Sophia e o pai pela floresta até um lago no fim das montanhas. Discrição não é seu forte, então quando conseguiu atrapalhar qualquer tipo de cerimônia que eles faziam, obviamente foi pego. Conseguiu fugir, mas não é como se alguém fosse acreditar nele e no que viu.
     _Agora sabemos. - Gaius o dá as costas e caminha até um livro extremamente grande em cima da mesa. Folheia algumas páginas e logo para em uma com uma língua que nem mesmo Merlin conhecia. “Ter a vida e a morte nas mãos.”- lê o escrito. - Estamos lidando com Sidhes.
     _Não parece coisa boa. - Merlin não faz ideia do que aquilo seja.
     _São mestres da feitiçaria. - explica.
     _Acha que Arthur está enfeitiçado?- não é necessário a resposta para que ele saiba a verdade.
     _Temo que o sonho de Morgana esteja virando realidade. - diz pensativo para si mesmo.

     _Solicitei essa audiência, pai, para discutir uma questão de muita importância. - Arthur olha para o pai que não presta atenção, que folheia alguns documentos, sentado em seu trono, dando pouco caso do filho.
     Arthur permanece parado em frente ao trono, ao lado de Sophia e de seu pai. Todos estavam na sala, curiosos para saber qual a urgência para qual foram solicitados. Morgana, sentada ao lado do rei, torce para que a cerimônia não seja o que ela imagina, assim como Merlin e Gaius.
     _Não pode ter deixado de perceber que eu e a Lady Shophia Tirmawr nos tornamos muito próximos.
     _Não próximos demais, espero. - o rei diz.
     _Estamos apaixonados, - Uther olha para a protegida em busca de ajuda, mas ela só o olha consternada. - por isso estou aqui perante o senhor para pedir que permita-nos casarmos. - o silêncio se instala no cômodo por um tempo. A tensão palpável, mas ela logo se esvai quando a gargalhada do rei toma conta do salão.
    _É claro que está brincando.
    _Não. Vou me casar com ela. - Arthur o enfrenta.
    _Mas vocês só se conhecem há dois dias.
    _Estamos apaixonados. - diz ríspido.
    _Não sabíamos que era tão romântico, não é, Morgana?- o pai tira sarro.
    _Não, ele é cheio de surpresas. - a garota diz sem sorrir.
    _Tem uma vida inteira pela frente. - Uther se levanta e caminha até o filho. - Sophia é seu primeiro amor, mas com certeza não será o único. Aproveite enquanto pode. - Dá de costas para o filho e volta para seu trabalho, dando a deixa para que Arthur saia com sua amada.

     Eu não conseguia dormir. Não quando sabia que algo estava para acontecer e não há nada que eu possa fazer. Já não durmo normalmente, mas rolo na cama sem sono. Resolvo olhar para o céu, ele sempre me acalma, mas desisto ao olhar para o pátio central e observar a figura inconfundível de Arthur, sob a luz da lua, fugindo ao lado de Sophia e o pai. Os três se escondem nas sombras, correndo da luz como ratos.
     Corro pelos corredores do castelo até a ala hospitalar. Já é madrugada e não há muitas pessoas circulando, mas guardas me perguntam o que acontece cada vez que passo por eles, mas não respondo. Preciso encontrá-los, alguém precisa encontrá-los antes que meu sonho finalmente se realize. Arthur não pode morrer.
     _Ele foi embora! Arthur foi embora com ela!- grito alarmada abrindo a porta da enfermaria. - Ela o levou!
     _Se acalme. - Gaius respira fundo e sigo seu exemplo, tentando me controlar.
     _Sei que não acredita em mim, mas tenho certeza de que algo acontecer. - aperto seus braços e olho fundo em seus olhos, tentando transmitir todo o meu medo e desespero, para que ele finalmente entenda a urgência. -Meu sonho se tornará realidade.
     _Eu acredito em você- responde calmo.
     _Preciso contar para Uther.- o solto prestes a correr para o quarto do rei, mas ele me segura antes.
     _Não pode.
     _Tenho que fazer algo. Se não fizer, Arthur morrerá!
     _Não pode falar para Uther do sonho. Se ele achar que você pode ter o poder da vidência ele a acusará de bruxaria.
     _Não tenho escolha. Eu não aguentaria o remorso em deixá-lo morrer.
     _Espere. Nos conhecemos há muito tempo. Confia em mim, não confia?- afirmo com a cabeça rapidamente. - Então confie em mim agora. Fique aqui e não diga para ninguém sobre isso.
     _Mas Arthur...
     _Vou dar um jeito nisso. - me interrompe.
     Ele solta minhas mãos e se dirige para a porta.
     _Aonde vai?
     _Encontrar alguém que pode ajudar. - diz e fecha a porta atrás de si, me deixando sozinha com a certeza de que acabei de que sentenciei o homem que amo, minha família, à morte.


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