A Aposta escrita por Ana Kin


Capítulo 2
Rose




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Rose

A rua estava estupidamente gelada. Eu não entendia como a temperatura podia ter caído tanto em tão pouco tempo. Celine colocou as mãos nos bolsos do casaco de camurça e fechou os olhos contra o vento. A Celine é tão estilosa. Tipo, não do jeito convencional, como as meninas ricas que gastam fortunas nas lojas para ficarem parecidas com alguma musa trouxa qualquer. Ela é autêntica, do tipo que você quer olhar duas vezes. O cabelo dela é curtinho, acima das orelhas, pintado de azul, e ela tem um piercing no nariz. O batom vermelho que ela usa nunca fica deslocado, em nenhuma situação mesmo, e ela usa roupas de brechó, como esta combinação maravilhosa de casaco preto, camisa cinza desbotada, meia-calça rasgada e botas de motoqueiro. Eu, por outro lado, pareço uma escoteira estúpida, com a minha touca branca e casaco cor-de-rosa.

O fato da mãe da Linn ser liberal contribui, claro. A tia Angie deixa a Celine ir aonde quiser, com quem quiser, e não reclamou quando ela cortou o cabelo ou disse que era bissexual. A minha mãe, entretanto, passou meses falando que a Celine queria mesmo era chamar atenção e ficava o tempo todo em cima de mim, achando que eu iria ser influenciada.

É obvio que eu fui influenciada. Eu, Rose Weasley, tenho 15 anos e nunca beijei ninguém. Tudo o que eu faço é ser boa e gentil, ajudando pessoas burras nas minhas férias, tendo boas notas e sendo a melhor aluna da escola. Eu sou toda chata. As pessoas nunca me chamam para as festas por que eu tenho a fama de chamar o monitor e de ser a queridinha dos professores. Eu nunca fiquei bêbada. A coisa mais errada que eu já fiz em toda a minha vida foi assistir Azul é A Cor Mais Quente escondida dos meus pais. Eu não tenho estilo, nem personalidade, nem sequer sou bonita, e é fácil se sentir mal com as primas que eu tenho.

Tem a Celine, que é descolada e popular, além de ser um gênio do quadribol e ter atingido as notas máximas no exame passado. Tem a Helene, que é filha do meu tio Gui com a Fleur Delacour. Eu nem preciso dizer que ela é cara da mãe dela – uma veela - , que é magra, alta, linda e loira, e ela é tão meiga e gentil que é tipo impossível não gostar dela. E tem a Lily, a filha do meu tio Harry, que é tipo a filha do Harry Potter. Ela está no segundo ano, e todo mundo acha ela a coisinha mais engraçadinha.

E como eu, outra Weasley, poderia me destacar de alguma forma?

Ando pensando muito nisso ultimamente. No verão, Celine passou algumas noites na minha casa e dividimos alguns segredos, entre eles o fato de que a Celine tinha transado com três caras diferentes do sétimo ano, no semestre passado. Disse que não se arrependia de nada e estava muito empolgada de ter tido seu primeiro orgasmo.

A Helene namora o Teddy Lupin, que é o filho do Remo Lupin com a Tonks, ambos mortos na Batalha de Hogwarts. Minha avó Molly cuida dele. Helene confessou que os dois transam regularmente.

Ambas começaram recentemente o sétimo ano, e, para mim, elas parecem tão adultas e bem resolvidas, e não meninas sabe-tudo tentando impressionar a mãe.

Quando o ano letivo começou, eu estava considerando a hipótese de conhecer alguém, quem sabe finalmente sair da minha zona de conforto e ser tão legal quanto as minhas primas. Pensei no Ian Jordan; ele é filho do Lino Jordan, muito amigo do meu pai. Ele até que é bonitinho, mas aí eu fiquei pensando que talvez eu acabasse me cansando dele, já que ele é burro.

Fui riscando vários nomes da minha lista. Todos os meninos que eu cogitei tinham algum defeito questionável.

Até uma tarde em especial, no Salão Principal, em que eu estava lendo na mesa da Grifinória, e, quando levantei os olhos, meu coração falhou uma batida. O Scorpio Malfoy estava olhando para mim, como se finalmente tivesse me notado. Os outros amigos dele, o Lestrange e o Thomas, estavam olhando também, e eu me vi forçada a desviar os olhos quando ele sorriu de canto.

Eu não sou idiota.

O Scorpio Malfoy representa tudo o que eu odeio na face da terra. Ela objetifica as mulheres; ele é grosso; ele é relaxado; ele se acha; ele é arrogante; ele tem uma ideia superestimada de si mesmo; ele despreza as regras.

Mas Deus sabe que ele é gostoso. Puta que pariu.

Ele é tão, tão filha da puta de lindo que eu mal consigo acreditar. Ele é loiro, e usa os cabelos meio jogados para o lado, meio displicente; e os olhos dele são lindos, cinza escuro. Ultimamente ele tem deixado a barba crescer. E nossa, os anos jogando quadribol ajudam mesmo no físico. Ele tem uns braços longos, e o corpo todo definido. Quando ele passa por mim no corredor (geralmente me ignorando), eu sinto um revertério no baixo ventre que só pode ser classificado como excitação. E as garotas falam dele. De como ele não é egoísta (seja lá o que isso signifique), de como ele é gostoso e parece saber exatamente o que está fazendo.

Ele tem estado na minha imaginação há tempos, e, depois do dia em que ele sorriu para mim, tenho notado seus olhos me seguindo para todo lugar. Ele é do sétimo ano, e eu do quinto, e parece que ele sempre arruma um jeito de estar onde estou. Ele chegou a falar comigo e pedir ajuda para uma matéria.

Eu o ameacei, dizendo estar ciente da fama dele, e concordei, para logo depois não comparecer ao nosso encontro. Eu ia jogar o jogo dele e eu ia deixar o Malfoy maluco, antes de ele me dar o que eu queria.

**

Depois de Hogsmead, a Celine anda implicando com cada passo que o Malfoy dá, então eu decido facilitar as coisas para ele.

Tenho que esperar apenas alguns minutos antes que ele apareça na biblioteca, com aquele cheiro filha da puta que ele tem. Balanço a cabeça e me faço de indiferente.

—Malfoy. A que devo a honra?

—A minha chance, Weasley. Você me deve uma chance.

Ergo a sobrancelha.

—Eu te devo... o quê?

—Qual é. Não tem aquele lance de pedra rachada e você sabe disso. Eu quero mesmo... aprender história.

Dou uma risada.

—O que você quer que eu faça?

Ao olhar ele nos olhos, sinto que ele fica desconcertado.

—Vamos. Qualquer lugar. Você escolhe.

Tiro um livro da prateleira.

—Aqui.

Ele franze o cenho.

—O quê... aqui?

—Você disse que eu podia escolher o lugar.

—Tá, mais... Weasley... Aqui tem muita gente.

—E você precisa que a gente fique sozinho porque...?

Ele engasga.

—Não é isso.

—Você quer aprender história. Eu vou ensinar você. Aqui. Se você estiver mesmo interessado.

Scorpio pisca algumas vezes.

—Como você quiser, Weasley.

Indico uma cadeira e ele se senta, parecendo contrariado. Abro o livro.

—Então. Por onde você quer começar?

Ele pondera.

—Bem... que tal a Revolta dos Duendes?

—Isso é matéria do quarto ano, Malfoy.

—Eu sou atrasado. – Ele coloca a mão no queixo e olha para minha boca – Isso pode levar um tempo.

Ofego um pouco, e espero que ele não tenha percebido.

—Tudo bem. Revolta dos Duendes então.

Passamos as duas horas seguintes estudando o tema, passando por causa, duração, consequências. Ao final, faço algumas perguntas a ele e fico contente ao perceber que ele sabe responder todas. Quase me esqueço que estou tentando perder minha virgindade com ele.

—Muito bem. – Declaro. – Você foi ótimo.

—Obrigada, Weasley. – Ele diz, como se já soubesse daquilo. – Ele se remexe na cadeira. – Quando vamos fazer de novo?

Reprimo uma risada.

—Quando você estiver a fim.

Ele sorri de canto.

—Amanhã? Depois do almoço eu tenho um tempo livre. Não estou fazendo as aulas de Adivinhação esse semestre.

—Amanhã eu tenho... – Balanço a cabeça. Que tipo de pessoa eu era se não considerava matar uma aula idiota de Poções? – Nada. Também estou livre.

—Até amanhã então. – Ele pega suas coisas e me olha – E obrigada.

Balanço a cabeça sem olhar para ele e começo a recolher minhas coisas. Ele deixa a biblioteca, e, neste momento, acho que minha pressão baixou.


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