A Aposta escrita por Ana Kin


Capítulo 1
Capítulo 1 - Scorpio




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Scorpio

—Vai, fica mais um pouco! – Ela suplicou, com a voz melosa. – O que pode ser mais importante?

—Isso não é nem remotamente da sua conta, Alicia – Eu resmunguei, me levantando da cama e jogando uma toalha para que ela se limpasse.

Vesti uma cueca limpa e passei um pouco de desodorante enquanto a garota esfregava a toalha no corpo e suspirava.

A verdade é que essa Alicia Ruiz era muito gostosa. Ela é a única latina da escola, e Deus sabe o que eu pensava quando ela passava com as amigas no corredor, com a saia mais levantada que a das outras meninas, rindo e falando um espanhol rápido e afrodisíaco.

Agora, depois de ter satisfeito as minhas necessidades básicas, ela não parecia tão interessante. Ela gemia demais, gritava demais, e as minhas costas parecem uma teia de aranha. Ela literalmente me arranhou até que eu sangrasse.

A garota terminou de calçar os sapatos e deixou um beijo meio amuado no meu rosto, sussurrando um “Hasta luego” baixo. Quando eu contar essa para o Louis, ele não vai acreditar.

Coloco um jeans e visto um suéter qualquer, esperando que o visual mauricinho excite a Weasley. Depois, tiro e visto uma jaqueta de couro, e coloco um maço de cigarros no bolso. Aposto que os mauricinhos vivem tentando comer ela. O visual só ia servir para deixa-la entediada, e eu quero mesmo ganhar essa aposta.

Espirro um perfume trouxa e saio para o frescor do salão comunal, deserto se não fosse pela presença do Louis e do Alex. A título de curiosidade, Louis Thomas e Alex Lestrange são meus melhores amigos. Thomas é filho do locutor de quadribol Dino Thomas; ele é negro e musculoso, e o pai dele é uma espécie de celebridade. Alex é meu amigo mais antigo. O pai dele, Rodolfo Lestrange, se casou com uma trouxa depois da Guerra. Alex tem o cabelo comprido e várias tatuagens.

Tem também o Tiago Potter. Ele meio que dispensa apresentações pois é filho do grande Harry Potter, o herói do mundo bruxo. Quando entrei em Hogwarts, eu meio que impliquei com ele por que nossos pais eram rivais. Ele entrou na Sonserina, virou capitão do time de quadribol em questão de meses, e eu finalmente percebi que não precisava ser igual ao meu pai em tudo. Porém, diferente do resto de nós, o Tiago é todo certinho. Ele é monitor chefe. O melhor aluno do sexto ano. Ele se apaixonou pela prima no segundo ano e nunca superou ela ter terminado com ele. Desde então, as meninas praticamente se jogam no colo dele, mas ele está pouco se fodendo. Não que a prima dele não seja gostosa; aliás, eu mesmo tentei alguma coisa. Mas a garota é dura, e até hoje ninguém sabe o motivo da separação dos dois.

Quando eu e os caras saímos para beber, fumar e pegar garotas, nem chamamos o Tiago. Ele é chato ( e vive nos chamando de machistas). E nesse caso, era melhor mesmo ele não vir. No começo do ano letivo, os caras me desafiaram a pegar a outra prima do Tiago, Rose Weasley. Ela é filha do Rony Weasley e da Hermione Granger e ela é exatamente igual a mãe dela, segundo meu pai. Ela vive com a cara enfiada nos livros, é a melhor aluna do quinto ano e o boato que corre é que ela é virgem, e nem sequer beijou alguém. Ela afasta qualquer menino que ouse se aproximar (e meninas também). Uma vez azarou um cara que passou a mão na bunda dela. Particularmente, acho um desperdício. Ela é bem gostosinha. Louis acha que é um puta desafio fazer a Weasley liberar, e o Alex acha que, se alguém tem essa capacidade, esse alguém sou eu. Apostamos 50 galeões. E cá estou eu, depois de persuadir a Weasley a me dar aulas particulares na Floresta Proibida (o quão ingênua essa menina pode ser?), contando vantagem antes da hora, indo para o local de encontro com meus amigos.

—E aí, o que você vai fazer com o dinheiro da aposta, Alex? – O Louis provocou.  – Eu estava pensando em levar a Jessica em Hogsmead.

—Eu vou é comprar um monte baseado com aquela lésbica da Durmstrang que se transferiu pra cá. – Alex riu.

—Eu sei bem o que você quer com a lésbica da Rússia – Louis gargalhou e acendeu um cigarro. Já estávamos dentro da Floresta.

—Vocês são dois cuzões – Eu disse, sem ligar pra eles. Fiquei pensando se a Weasley ia gostar do cheiro do cigarro. Achei melhor não acender. – E sabem que eu vou conseguir.

—Eu quero muito ver isso – O Alex riu. – Eu ainda tenho a marca do soco que ela me deu quando chamei ela de gostosa. – Alex passou a mão no pequeno corte acima da bochecha.

—E você ainda deu sorte. Se o Alvo descobrisse, você ia ter uma marca um pouco maior.

Parei de andar e olhei em volta.

—Aqui está bom. Eu vou esperar ela aparecer.

—Está meio cedo, Scorpio. – Disse Louis.

—A menina deve estar ansiosa – Eu debochei. – Precisavam ver a cara de espanto dela quando eu pedi ajuda. Ela derrubou uns cem livros.

—Ela deve ter se assustado com a sua cara de azedo – O Alex disse. Ele sacou a varinha do bolso e conjurou uma rosa.

—Que porra é essa? – Eu disse, quando ele me entregou a flor.

—Dá a flor pra ela.

Desdenhei.

—Você acha que isso é sensato? Ela só veio me dar aula...

—Boa sorte, Scorpio – O Alex disse, me dando as costas. O Louis fez a mesma coisa.

Esperei por mais um quarto de hora e nada da Weasley. Olhei em volta; fui até a entrada da Floresta. Acendi um cigarro. Nada.

Por fim, depois de uma hora e meia, decidi que estava com raiva demais para esperar mais um minuto sequer e voltei para o castelo. A Weasley ia ter que dar algumas explicações.

**

Não encontro a filha da puta em lugar nenhum. Ela não está – pasmem – na biblioteca, nem nos jardins, nos corredores, nem no salão principal.

Depois de aguentar Louis e Alex zombando de mim por umas três horas seguidas, vou para cama. Estou com tanto ódio que declino das cantadas da Angela Raine, e olha que eu estou a fim dessa menina há meses.

No dia seguinte (um domingo muito ensolarado e odiável), tomo café da manhã e vejo a Weasley na mesa da Grifinória, toda sorridente, rindo de algo que sua prima Celine tinha dito. Penso em ir até lá e perguntar que porra ela pensa que é para me dar um bolo, mas sei que o Alvo Potter (outro primo dela. Hogwarts tem uma população incansável de Weasleys e Potters) vai querer saber o que estou querendo com a prima dele e não quero apanhar dele outra vez.

Tiago nos chama para treinar quadribol, e eu vou, em partes para descontar meu ódio com muitos gols, e em partes por que a lésbica da Rússia, Natasha não sei o que, vai fazer teste para goleira, e eu não posso perder a oportunidade de ver essa beldade escandinava mais de perto.

O treino corre bem; Natasha é muito talentosa e tem um sotaque gostoso, e Tiago acaba passando ela para a próxima fase. Porém, eu ainda estou com raiva, e resolvo ir para Hogsmead. Olhar a bunda das meninas do quarto ano na vitrine das lojas de roupas é o que eu preciso.

Coloco o suéter da pilha suja mesmo e vou para Hogsmead, pensando se tem alguma coisa errada comigo ou se eu não sou bom o suficiente pra Weasley.

Resolvo entrar no Três Vassouras e qual não é minha surpresa quando dou de cara com ela, a Rose Weasley. Ela está sozinha, bebendo Hidromel no balcão e conversando com a Madame Rosmerta. Me sento ao lado dela e ela demora menos de um segundo para se virar para mim.

—O lugar está ocupado – Ela diz, me olhando nos olhos.

Tudo o que eu consegui pensar na hora foi “Caralho!”. Não sei se era por que a expressão dela estava fechada, ou se era a cor ambiente, ou se eu nunca tinha realmente olhado para ela, mas, que olhos eram aqueles? Eram tão verdes que doíam. Os meus eram cinza, mortos; os dela eram vivos, brilhantes, e tinham uma ferocidade que me tiravam a concentração. Precisei de um tempo.

—Eu falei com você, Malfoy! – Ela repetiu, e naquele momento eu me peguei olhando tudo, o furinho no queixo, o nariz pequeno, as sardas(milhares, milhares de sardas), os cílios longos, a boca um pouco ressecada. Engoli em seco.

—É... o que?

Ela suspira. As narinas dela se abrem um pouquinho.

—A minha prima está sentada aí, Malfoy! Quer achar outro lugar?

Balanço a cabeça.

—Por que você está tão brava comigo? Eu é que fiquei te esperando na Floresta por várias horas.

Ela dá um gole na sua bebida.

—Você se lembra exatamente o que me disse na biblioteca?

—É claro que eu lembro. Pedi que você me encontrasse clareira da Floresta...

—E eu fui pra maldita clareira da Floresta e fiquei esperando que você aparecesse – Aqui, ela levantou a saia longa e preta que usava e eu tive um rápido vislumbre das suas pernas e de um machucado no joelho – me machucando no processo, por que eu nunca tinha ido lá antes, e você não apareceu! Foi o que você me disse. E você me pergunta por que eu estou brava?

—Weasley, eu me lembro claramente de ter dito a clareira da pedra manchada. Eu te esperei lá.

—Você disse pedra rachada. Eu te esperei lá.

—Eu tenho certeza que...

Ela suspira.

—Você pode só... sair daqui? – Ela me olha nos olhos, e eu recuo. – Nem sei por que achei que você fosse levar algo a sério.

Rolo os olhos.

—Se você conseguir me ensinar algo, consegue ensinar qualquer um! Não é você que quer o Ministério da Educação? Vai precisar ser professora antes disso, não vai?

—Que argumento mais idiota...

—Weasley, me dá mais uma chance. Por favor.

Weasley abre a boca para falar, no minuto em que sua prima Celine aparece, ajeitando os cabelos curtos. Celine é a ex-namorada do Tiago. Ela é uma beldade morena; o pai dela, Fred Weasley, se casou com a Angelina Jonhson, hoje artilheira dos Chudley Cannons. Ela é alta e estupidamente forte, e herdara o talento do pai e da mãe para o esporte. De longe, ela é a jogadora mais talentosa do time da Grifinória.

—Ele está perturbando você, Ro? – Ela pergunta, com os olhos faiscando. Celine é meio feminista e, basicamente, me odeia.

Weasley suspira, sem olhar para mim.

—Nem se ele quisesse.

Celine Weasley fica me olhando.

—Foi bom ver você, Weasley.

Saio do banco e vou para um canto, e não demora até a tal Alicia aparecer com suas amigas e dar indiretas para que eu pague bebidas para elas. Meu corpo está no meio dessas meninas, mas eu só consigo olhar para a Weasley, bebendo no balcão, despreocupada. Acho que acabo de arrumar uma nova obsessão.


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