Psicose escrita por Amara Sloan


Capítulo 6
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Quem acompanha Psicose sabe que demoro para postar os capítulos, mas não se preocupem, esse quadro irá mudar. Por enquanto é só. Aproveitem a história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712979/chapter/6

Eu era uma sonhadora mulher, que nunca casou, orfã e absolutamente solitária tendo apenas como fuga de realidade seus pitorescos livros de romance. O bom humor, e a educação faziam de mim adorada por onde quer que eu fosse embora isso geralmente ficasse escondida pela minha timidez.

Timidez.

Eu tenho que ser tímida. Era o plano mais absurdo que eu já tinha criado e com absoluta certeza não conseguiria seguir tudo aquilo a risca. O apartamento que Rose tinha me entregue era bastante confortável, com uma decoração de muito bom gosto por sinal, estava tudo devidamente arrumado e parecia que alguém realmente morava ali.

Segurei com força o meu currículo falso em frente ao Hospital Saint Peace. Romeo tinha se assegurado de deixar transparecer que Juliet realmente existia, naquele momento um arrepio começou a subir pelo meu corpo. 

Era o nervosismo e a adrenalina do momento. 

Como planejado Rose me esperava na entrada do hospital sorrindo para mim. Ela parecia a mesma com os longos cabelos loiros, os belos ― e invejados ― olhos azuis, e aquela alegria irritantemente contagiante que me fez por um segundo retribuir também.

Juliet saberia perdoar.

Mas Ashara tem muita dificuldade nisso.

― Oi. ― Falou quando me aproximei um pouco mais dela.

― Oi. ― Murmurei de volta, instintivamente levei minhas mãos na altura da cintura, mas eu usava um maldito vestido e não minha calça jeans que podia colocar as mãos em seus bolsos. ― Vamos começar o nosso trabalho?

―  Fico feliz em estar melhor que antes...

Crispei os lábios para evitar soltar um comentário mordaz. Sim estava melhor que antes, mas ainda continuava tendo recaídas bem fortes. E o pior de tudo, sentia falta dela.

― Eu também.  ― Disse simplesmente. ― Então Senhorita Martinez, vamos ao que interessa?

― Sim. ― Ela olhou para os lados e gesticulou para que eu a acompanhasse. ― Vamos para a minha sala.

Aquele cheiro de desinfetante, álcool e de doentes me reviravam o estomago, eu sabia lidar em ajudar as pessoas a terem segurança, tinha vidas nas minhas mãos...mas daquela maneira era responsabilidade demais. Vários enfermeiros passavam com pessoas deitadas em macas,e mais a distância alguns familiares de preocupavam com alguém que estaria fazendo uma cirurgia de risco. Rose olhava tudo bastante acostumada com a situação, tinha dor em seus olhos e uma resignação de anos de trabalho.

Nos conhecemos na sexta série, ficamos inseparáveis até o primeiro ano de ensino médio quando foi embora e em todos os momentos ela tinha uma inteligência admirável, a responsabilidade dela foi adquirida com o tempo. Ela tinha mudado e eu também.

Mudanças bem vindas aliás.

Depois de uma curta caminhada ela parou em frente ao seu consultório, com uma plaquinha indicando que ela era sub-diretora do hospital. 

 ― Subiu rápido na vida Rose, parabéns. ― Sussurrei para que apenas ela ouvisse, com as minhas sinceras congratulações. 

É sério.

Não sou tão sem coração assim.

 ― Obrigada A... Juliet.  ―  Corrigiu-se rapidamente. ― Isso vai ser um problema.

Entramos na sala, e me sentei na cadeira de frente a sua mesa. Ela deu a volta e se acomodou em sua poltrona abrindo algumas gavetas com arquivos e os colocando na minha frente, e demorou a fazer isso em tempo suficiente para ver dois portas retratos em sua mesa. Meu Deus! Em um dos porta retratos estava eu e ela em uma viajem que tínhamos feito juntas para o sítio dos seus pais fazendo caretas com eles no fundo sorrindo. 

 ―  Por que nunca me ligou antes? ― Inqueri sem deixar a voz embargada.

Ela suspirou e seus olhos azuis nublaram.

― Eu estava magoada com você.

― Comigo? Magoada? Que merda é essa Rose? ― Quase berrei incrédula.

A minha ex-melhor amiga pareceu estranhar minha reação. Eu já não estava entendendo mais nada.

― Você falou para os meus pais que eu matava aula todas as sextas feiras.

Ergui uma das sobrancelhas. 

― Nem eu sabia disso. ― Retruquei deixando bem claro que eu não sabia do que ela estava falando. ― Não é possível que eu tivesse feito uma coisa dessas.

Em um segundo suas feições mudaram, seu olhar ficou arrependido e pulou da cadeira correndo para me dar um abraço. Mas que melodrama. Falei para mim mesma revirando os olhos, mas no fundo bem no fundinho eu aproveitei cada segundo daquele abraço. 

― Sinto muito, muito mesmo. ― Falou choramingando. ― Eu fui péssima, não devia ter desconfiado de você.

― Sim foi péssima mesmo.

Ao invés de se horrorizar, Rose apenas riu por entre as lágrimas.

― Mas agora eu fiquei intrigada. ― Falei me soltando do seu abraço. ― Quem falou isso?

― Meus pais receberam uma mensagem sua. Disse que estava preocupada com meu comportamento. 

Mais uma vez eu revirei os olhos.

― Esqueceu que meu celular é desbloqueado pra qualquer um olhar? ― Pensei em quem poderia fazer uma maldade dessas e a resposta veio na hora. ― 

Deve ter sido a minha prima, ela nunca gostou de você mesmo.

― Aquela demônia. ― Rose resmungou lembrando-se de Katherine McWood, a minha prima do mal.

Eu ia dar uma boa lição nela. Sorri maquiavélica. Algo que a fizesse querer correr de medo. 

― O que você vai aprontar? 

― Eu? ― Fiz-me de inoscente. ― Vou sequestrar minha prima.

― Sim. ― Rose concordou. ― Ela vai pagar por ter me dedurado pros meus pais.

Pronto e assim toda a minha mágoa começou a se dissipar e as lembranças que eu tinha contido voltaram em minha mente. Embora ainda estivesse muito chateada pela falta de credibilidade de Rose.

― Lembra que adorávamos resolver mistérios? ― Comentei distante. ― E sempre conseguíamos uma solução? Seria emocionante anos atrás, se não fosse um assunto tão sério agora. ― De súbito lembrei do por que estar ali.

― Ashara? ― Rose chamou.

― Me mostre os documentos. ― Pedi decidida. Infelizmente a força do hábito faziam meus pedido parecerem uma ordem.

Rose colocou uma caderneta com as folhas emplastificadas, de uns três dedos de largura. Eram muitas mortes. 

― Não me diga...

Ela acenou com a cabeça.

― São todas as minhas suspeitas.

Vasculhei a segunda ficha. Jason Robin Allen. Idade: 54 anos. Diagnóstico: Câncer no Cérebro. Morte dia: 09/ 04/ 2015. Obs: aumento excessivo da atividade elétrica em determinadas áreas cerebrais.

― E o exame toxicológico?

― Não deu em nada.

― Existem muitas substâncias que passam pelo sistema, até mesmo o cigarro dependendo de quando você fumou. 

― Eu sei. 

Existe um termo muito utilizado nessa prática médica, chamado de “janela de detecção”, isso que dizer o período pelo qual o exame é capaz de detectar o consumo de drogas. Em menos de três dias pode-se detectar outras drogas (cocaína, crack, ecstasy e anfetaminas).

― Precisaríamos de um perito, não posso usar o laboratório daqui. ― Rose falou.

― Por sorte, eu sou muito boa em química. ― Admiti sem falsa modéstia. ― Vou levar isso pra casa.

― Apontei para a caderneta.

― É todo seu.

― Tem suspeitas de alguém?

― Sinceramente. ― Falou séria. ― Poderia ser qualquer um que tem acesso a ala cirúrgica, o que dá em média 34 médicos e uns 50 enfermeiros. 

Assobiei. 

― Meu Deus. ― Esfreguei a minha testa pensativa. ― Quando isso começou a acontecer?

Rose pegou uma agenda que continham asteriscos nos cantos das páginas. Estávamos em 13 de julho de 2016, e pelas páginas a coisa era antiga.

― Começou em 27 de fevereiro de 2015. A princípio achei que fosse acidental, a paciente tinha tentado o suicido outras vezes, mas depois de um mês outra aconteceu  e mais outra e outra. Só que bem distribuídas ao longo do ano. Uma morte por mês. Sempre nos mesmos dias.

Franzi o cenho.

― Aqui tem bem mais que 17 mortes.

Rose assentiu.

― Mas também são interligadas suponho eu. Essas mortes foram de pacientes com doenças degenerativas, mas o prazo da morte deles não era esse. ― Ela parou por um instante. ― Mas talvez seja coisa da minha cabeça.

― Estamos lidando com um Anjo da Morte. ― Suspirei. ― Na melhor das hipóteses é só uma pessoa com traumas psicológicos.

― E na pior?

Ergui meus olhos dos papéis. 

― Um serial killer bem perigoso.

― Qual a natureza das mortes?

Rose estremeceu e esfregou os braços nervosa.

― Era uma paciente minha, um doce de mulher a Grace. Estava exatamente nesse consultório quando o meu enfermeiro entrou aqui aos berros pedindo minha ajuda. A mulher derrubava tudo ao redor, mas parecia estar em estado de sonambulismo por que tateava em busca de alguma coisa, no final ela jogou a cabeça contra a parede e quebrou o pescoço.

Pisquei atônita.

E em seguida deu um sorriso melancólico.

― Do que está rindo? ― Bradou.

― Bem. ― Começei contendo o risinho. ― Tem ideia do absurdo que acabou de me falar? Jogou a cabeça contra a parede? 

― Estou falando sério. Essa foi a primeira. O segundo caiu da cama, ele tinha atrofia muscular, foi a deixa para uma morte. O terceiro sofreu convulsões seguida de uma parada cardíaca segundo o laudo e o resto da mesma maneira. 

― Muitas doenças tem esse efeito.

Ou o provável assassino encontrou um padrão que lhe agrade.

― Eles estavam saudáveis. ― Afirmou. ― Não era uma melhora súbita antes da morte como na leucemia.

― Esses pacientes eram todos seus?

― Não. A maioria nem são meus. Mas sou a sub-diretora tudo passa por mim e por William .

― William é o diretor?

― Exato.

― E ele sabe das suas suspeitas?

― Na verdade, ele que está me ajudando no caso. É um homem muito influente me deu carta branca para contratar um detetive para me ajudar.

― Eu? ― Murmurei confusa.

― Sim.

― E as câmeras? ― Voltei a perguntar.

― Conferi fita por fita e também não mostra nada demais. William está para ficar louco. O hospital está perdendo credibilidade e por sorte o FBI não sabe disso. Ou viraria uma algazarra.

Concordo.

― Dentre os enfermeiros...quais os primeiros da lista?

― Thalia Gomez e Yong Pym.  

Levantei-me do assento calmamente e assenti, pronta para a próxima etapa. 

― Vou fazer amigos agora. ― Sorri maliciosa. ― Com licença, senhorita Rose Martinez.

Ao sair da sala fui recebida por uma senhora chamada Francesca que me entregou prontamente um uniforme de limpeza. E enquanto eu o vestia pensava em um padrão específico entre as mortes. Uma luz para indicar um suspeito a altura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Psicose" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.