Psicose escrita por Amara Sloan


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos com mais um capítulo da policial mais doida das investigações criminais. Nesse particularmente mais doida.



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Se a sua pretensão é ser furtivo, nunca use roupas de policiais. Nunca. E também não use um moletom com capuz achando que é a Capa de Invisibilidade do Harry Potter, porque no mínimo estará sendo ridículo.

Então foi por isso que tirei minha jaqueta, abaixei a blusa uns bons palmos, homens quando vêem um decote tomam atitudes mais idiotas que adolescentes na puberdade, baguncei os cabelos e fiz minha melhor cara de " sou barra pesada ", para complementar o meu look delinquente coloquei a minha melhor amiga escondida dentro da calça jeans.

Minha melhor amiga era a minha pistola Beretta M975 9 uma arma semi-automática, que tinha um dispositivo que diminuia o solavanco da arma durante o disparo, e com alto poder de impacto em disparos de 150 a 200 metros. Perfeita se a situação complicasse e o melhor de tudo, era uma arma sem registro.

Nem me pergunte como eu consegui isso.

E ali estava eu descendo do carro olhando para um galpão minúsculo no meio de The Bronx o único distrito de que fica no continente, sendo todos os outros são ilhas. Um dos bairros mais perigosos de Nova York.

Atravessei a rua e aparentemente aquele lugar estava abandonado, algumas pessoas passavam por ali e nem mesmo olhavam para aquele cantinho. A parede era um remendo de tijolos e cimento, com uma pequena porta presa por um arame enferrujado enrolado. Tomei cuidado para não me cortar, não queria ser morta por um tiro muito menos por tétano. Ao abrir a porta vi um cubículo quadrado bem maior do que o lado de fora deixava acreditar, com caixas empilhadas e também aparentemente abandonado. No entanto com um olhar mais perspicaz vi que aquele lugar estava limpo e organizado demais. Aguçei os sentidos e ouvi algo caindo perto de mim, fazendo um estalido ecoar por todo o ambiente. Dei um pulo e respirei fundo tentando me acalmar.

Madição.

Foi o meu braço que tinha esbarrado em uma das caixas e fez uma lata de tinta cair no chão.

― Julieta. ― Aquela voz arrastada familiar brincou com o apelido em algum canto do galpão...só não sabia de onde.

― Romeo. ― Murmurei de volta. ― Onde você está?

Não, eu não estava encenando Shakespeare.

― Veio me vizitar como autoridade? ― Questionou mais uma vez. ― Seria uma pena machucar você meu anjo.

Mais uma vez ele não falou por tempo suficiente para distinguir de onde vinha a voz, mas como o galpão produzia eco, ele provavelmente estaria mais a distância, o lado leste estava desocupado, já no oeste...Oriente, eu estava no oriente, logo ele deveria estar no ocidente, oeste. A mania de poesia idiota do Tubarão podia ser sua maior falha. Caminhei até os entalhes de madeira jogados e vi uma silhueta conhecida ali. Alta, masculina encostada em uma porta de madeira meio apodrecida.

― Pelas roupas. ― Começou com um sorriso malicioso. ― Veio como amiga.

Olhei para o decote e o ajustei, subindo a blusa fazendo o sorriso dele aumentar.

― Vim como cliente.

A surpresa perpassou pelo seu rosto elegante demais para alguém como ele, e permaneceu ali.

― O que?

― Pensei que fosse mais inteligente Romeo Lucien Maximus. ― Ele ligou as luzes do galpão como se quisesse se certificar que eu não era uma miragem.

― Não achei que fosse precisar dos meus serviços.

― Também achei, mas a oportunidade surgiu. ― Dei de ombros. ― Estou de férias e meu papai não sabe as coisas que planejo fazer.

Tubarão era um falsificador de qualquer documentos que puder imaginar, infelizmente ele gostava da vida clandestina que levava, o que era uma pena já que ele seria muito útil para a Polícia. Eu tinha o visto em um beco de Manhattan com a blusa em papada de sangue, entre a vida e a morte, fiz de tudo para salvá-lo e em seguida trabalhei arduamente para diminuírem sua pena, quando soube quem era. Romeo era uma boa pessoa, mas a criminalidade era a única forma de vida que conhecia. Em um dos dias de transferência de prisão ele conseguiu fugir, apunhalando os três policiais que estavam com ele, ainda algemado. Quando soube da notícia corri até o local e encontrei dentro da viatura um papel com uma caligrafia elegante e os seguintes dizeres:

Mas qual luz abre a sombra deste balcão? Eis o oriente é Julieta, e o sol! Oh e a minha mulher e meu amor.

Ele costumava me chamar de Julieta e todos acreditaram que ela uma despedida pra mim, mas ele sempre dizia que estava em dívida comigo, e se ele tinha fugido não poderia mais encontra-lo a menos que aquele bilhete significasse mais alguma coisa.

Pesquisei muito e descobri que se tratava do Ato II, Cena II de Romeu e Julieta, só dois dígitos. Mas a maioria dos CEP's de Nova York iniciava com 100, logo seria 10022. Cruzei um banco de dados e ali estava um galpão no meio de The Bronx. Guardei a informação na minha mente para quando precisasse e ali estava eu, no oriente. Bem ao pé da letra, como no bilhete. E a mulher e amor...era um trocadilho, uma piada para os meus modos nada convencionais.

― Fico feliz que tenha me encontrado. ― Disse se aproximando de mim e me cercando com um abraço. Tubarão era um homem muito bonito, com uma pele clara e uma barba bem cuidada, era bem mais alto que eu e cheirava a cigarro. A quebra de todo o encanto.

― Está fedendo a cigarro. ― Resmunguei me soltando. ― Cadê seus capachos?

― Acho que não notou nas câmeras do outro lado da rua.

― Era de uma bomboniere.

Ele arqueou uma sobrancelha, batendo no próprio peito convencido me fazendo gargalhar.

― Seu bandido desavergonhado.

― Passa por lá depois, o Kit Kat é por minha conta.

Ele me conduziu pelo galpão e na mesma ala em que estavamos tinha uma porta, muito bem disfarçada com as caixas e prendi o fôlego ao entrar. Era uma grande escritório cheio de homens vestidos com ternos risca giz, um uniforme particular, supus. Todos com um trabalho diferente imprimindo papéis, fazendo telefonemas e pararam o que faziam para nos olhar.

― Seus capachos são bem estilosos.

― Deveras. ― Concordou me empurrando para a frente. ― Rapazes, essa é a Julieta.

Um senhor que parecia o mais velho sorriu para mim, era cego de um dos olhos, roliço e mais baixo com um sorriso quase acolhedor.

― Bom te conhecer. ― Falou apertando as minhas mãos. ― Você salvou a vida do meu filho.

Achei que o chão fosse me engolir por que meu sorriso vacilou e a visão escureceu. Olhei para Tubarão em busca de apoio mas ele apenas aquiesceu.

― Negócios da família.

― Claro. ― Murmurei sem muito o que falar.

Meu Deus, porque eu sempre me metia em merda? O pai de Romeo foi chamado e voltou para instruir os outros funcionários (bandidos) me deixando a sós com ele. Me sentei de frente para sua mesa de negócios, era mais alta e mais organizada, com um maço de cigarros em cima e uma garrafa de whisky. Bem a cara dele.

― O que vai querer meu amor? ― Perguntou colocando o rosto sobre as mãos, com uma expressão infantil.

― Todos os documentos possíveis falsificados. ― Incluam um revirar de olhos aqui.

― Sim, disso eu sei. ― Girou um pouco a cadeira rodopiando nela em seguida parando de novo na minha frente. Céus cadê a maturidade desse homem? ― Quero saber para o que quer elas.

― Ajudar uma amiga que é médica que precisa da minha ajuda para investigar umas mortes no hospital em que ela trabalha. Mas Samson não sabe disso. E nem pode.

― Claro que não. ― Bateu a mão na mesa. ― Você seria presa.

― Posso lidar com as consequências se for por uma causa nobre.

Ele gargalhou e apontou para mim como se eu fosse uma piada.

― Vamos Julieta, qual o verdadeiro motivo.

― Ambição própria. ― Admiti.

― Que feio, muito feio. ― Romeo fingiu repreensão. ― Você é uma jóia Ashara, poucos admitem suas falhas. Agradeço ser perfeito, me poupa de aborrecimentos como esse.

― Humpf.

Ele rabiscou no papel e entregou para um de seus homens, ordenando que fosse feito pra ontem.

― Boa viagem minha Julieta, tente não morrer, por favor, quero ver a cara de Samson quando descobrir o que sua pupila fez.

Levantei da mesa e aceitei o braço que ele me ofereceu.

― Ele não vai descobrir.

― Ashara, estamos falando do Samson.

Suspirei cansada.

― Eu sei, ele sempre descobre, mas posso adiar por tempo suficiente.

― Vai ter uma vida dupla emocionante. Em uma hora Ashara e na outra... ― Franziu o cenho. ― Não escolheu nada.

Beijei sua bochecha.

― Deixo isso por sua conta, mas por favor nada de nomes de prostitutas.― Soltei seu braço e antes de sair porta a fora voltei a olhar para trás. Romeo não estava ali. ― Amanhã passe um perfume para encobrir esse cheiro horroroso.

A minha resposta foi uma explosão se gargalhadas.

Atravessei a rua novamente e olhei para a bomboniere. Um chocolate caia bem. Entrei na loja, puxei duas barras de Kit Kat e joguei para o vendedor (bandido). Ele me olhou e sorriu brincalhão.

― O chefe disse que era só uma.

Fiz uma careta com escárnio.

― Vou levar as duas. ― Anunciei. ― E mande seu chefe parar de ser pão duro.

Peguei as barras e andei até o carro. Etapa um, concluída. Agora vinha a parte difícil... tinha que levar Emery para comprar roupas novas para a viajem.


***

― O rosa ou o verde?

― Os dois.

Emery me fitou irritada. Colocando o tons no seu braço.

― Acho que o rosa combina mais com meu tom de pele.

― Sim. ― Bocejei e cocei os olhos. ― Estou cansada, vamos eu pago os dois.

Ela emitiu um gritando e pulou em cima de mim.

― Amo você.

― Claro que me ama. ― Murmurei irônica, pegando os dois biquínis e jogando para a atendente que mascava um chiclete, cada mastigada me irritava profundamente.

― A vista ou a prazo?

― A vista. ― Quase deixei o dinheiro cair no chão eufórica. A mulher me deu a sacola e olhei para trás.

Onde demônios estava minha irmã?

Zonzei pela loja e a encontrei conversando com um garoto. De primeira não fui com a cara dele. Não faça essa cara. Isso mesmo. Essa cara que está fazendo nesse momento. Eu sei que não vou com a cara de ninguém mas quero dizer que não fui com esse em especial.

Qual é, o menino tinha o corpo coberto com tatuagens e piercings e todo o seu vocabulário parecia dizer: Sou um ladrão por favor Ashara me prenda. E aquelas mãozinhas estavam muito perto da minha princesa.

― Emery. ― Soletrei perto dela. ― Vamos.

A minha irmã me olhou sorridente e apontou para o dito cujo.

― Esse é Quentin, um amigo da escola.

Me pus a analisar o garoto, da forma mais intimidando que encontrei.

― Interessante.

― Oi. ― Disse sorrindo. ― Você é demais, Emery me falou muito sobre você.

― Que bom. ― Murmurei tentada a me deixar levar por sua comoção. ― O que pretende fazer da sua vida Quentin?

Fui clara demais?

Pelo olhar mortal de Emery acho que sim. Mas o garoto nem piscou com a minha pergunta.

― Quero ser Chef de cozinha.

Sorri para o garoto, que tinha um brilho genuinamente sonhador ao falar dos seus planos.

― Me avise quando for cozinhar, quero ser a primeira a ser servida.

― Sim senhora.

Emery parecia cada vez mais confusa, e quando Quentin se despediu e partiu dando um aceno me perguntou.

― O que foi isso?

― Proteção de irmã.

Ela abanou a mão.

― Isso não, você gostou dele depois.

― Não é tão ruim quanto se imagina. ― Admiti. ― Ele é divertido.

― Você é maluca, não sei como ainda não foi demitida.

Sorri para ela e andamos para fora da loja.

― Ah querida, essa pergunta eu me faço todos os dias.


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Notas finais do capítulo

Um beijo e até o próximo capítulo!



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