No Fast Les Sex

Após receber os disparos, Striker dá três passos para trás, parando bruscamente no último, com a regata branca repleta de buracos de bala. Sangue escorre e mancha suas roupas, pingando algumas gotas no chão.

Loop a observa sem entender o que acontece. Então, se levanta e caminha em direção a ela bem devagar, mas Kim coloca a mão sobre seu ombro direito e a impede de continuar.

— É melhor não – disse Kim em tom de seriedade.

— Mas...

Loop é interrompida quando os soldados entram no estabelecimento e olham para todos caídos em suas mesas. Alguns começam a se espalhar pelas mesas próximas à entrada, enquanto os demais mantêm seus rifles apontados para Striker, com certo temor sobre ela. Naquele momento, Loop olha para os amigos com desespero em seus olhos.

— Não vão fazer nada?

Donatella e Jaison permanecem sentados, enquanto Kim olha atentamente para a porta de entrada, onde uma nova militar aparece. Ela retira de seu bolso um comunicador e anda em direção a Striker.

— A fonte estava certa. A bruxa está realmente aqui, General Ares. – A militar olha para os outros. – Solicito um veículo de apreensão maior... Sargento Moura... – Ela faz uma pequena jogada rápida com a cabeça na direção deles.

— Sim, senhora... – disse o Sargento, andando com cautela até Loop e apontando o rifle para o seu rosto.— Utilizem de força que revidaremos em dobro! Rendam-se pacificamente e ninguém sairá machucado.

Jaison coloca a mão esquerda para trás e canaliza calor na palma. Enquanto isso, Loop olha para a enorme cicatriz no nariz do militar e aproxima seus dedos do rosto dele. Alarmado, ele dispara uma única vez em sua cabeça, deixando todos na mesa, menos Donatella, surpresos. Loop permanece parada e sem danos visíveis, mas o projétil atravessa sua nuca totalmente desgastado e enferrujado. O militar não aparenta nenhum espanto, e mantém a arma apontada para ela.

— Permaneçam onde estão e ninguém será ferido.

Jaison fita Kim de soslaio e ela corresponde seu olhar, pegando o copo de refrigerante da mesa e o apoiando no colo.

Neste exato momento, uma bala é disparada em Kim, que se defende com uma raquete de energia que destrói a bala ao rebatê-la.

— Você ganha quanto por atirar em adolescentes? – disse ela com um sorriso em no rosto.

— Eu disse para não se mexerem. Qualquer desacato será considerado como resistência à lei... Hm?

O soldado olha para a sua esquerda e percebe que sua superior está com a mão em seu ombro.

— Chega de fazer o meu trabalho, soldado. Vocês. Levem-nos às jaulas de contenção! – disse a militar.

Donatella olha em volta e sorri, enquanto bebe seu suco. Logo em seguida, a militar joga uma faca contra o copo dela e o retira da sua mão.

— Eu ainda não tinha acabado...

A militar vai se aproximando, retirando a luva de couro da mão direita.

— Acho que me lembro de você. Ah... Você foi a mulher que sobreviveu à “Guerra dos Portões Sagrados”.

— E você foi a que matou meu povo antes dos demônios chegarem. Como o tempo passa...

Ela é chutada pela mulher, sem tempo para reação, contra o balcão de atendimento.

— Todos que fazem parte desse grupinho são tão debochados assim com as autoridades? Coloque-se no seu lugar, ou eu não terei piedade de fazer isso por você. – A militar anda até Donatella em passos calmos.

Embora esteja zonza, ela consegue olhar para seu baralho caído no chão e pegar a carta que está mais próxima, começando a falar com ela.

— Princeps tenebris cogitationes in corde viri Arcanum Mortis... — A militar está prestes a acertá-la com um soco. —  0, insipiens. ¹

Neste exato momento, um tímido feixe de luz aparece da carta, mas ele ganha intensidade e limita a visão de todos dentro do estabelecimento. A militar recebe um golpe forte em sua barriga que a joga para fora do Fast les Sex. Ela passa por duas ruas, invadindo em uma loja de conveniência e estourando a estrutura ao impacto.

Os soldados ficam impressionados e vão ajuda-la. Donatella olha para a figura exuberante de vestido e asas que está em pé à sua frente e a ajuda a se levantar e apoiar-se no balcão.

— Fique aí, minha cara. Eu resolvo isso. — Ela retira seu casaco e abre suas asas, olhando para o corpo da Striker ainda parado. – Magia dos anjos?

— Quem é você? – perguntou um soldado.

Ela vira sua cabeça para ele, e, de repente, aparece atrás de três soldados, derretendo suas armas com uma esfera de luz na palma da mão. Em seguida, dá uma rasteira neles, e, antes que possam cair no chão, ela os joga cada um contra outro militar com seus dedos indicadores.

— Maneiro – diz Kim, que só observa tudo.

Donatella avança para o que apontava a arma para Loop e o trava na parede, deixando-o sem ação.

— Você é uma Olimpiana, querida? – perguntou ela a Loop.

— Sim... E você é Aine, não é? – questionou tranquilamente.

Ela olha para Loop, analisando-a minuciosamente e depois acena um “sim” com a cabeça. Antes que pudesse dizer algo, é interrompida pela militar que entra repentinamente pelo buraco da parede e a ataca com duas adagas nas mãos. Aine desvia rapidamente e a mulher é jogada outra vez para o lado de fora da lanchonete por um disparo luminoso vindo do banheiro.

Todos olham sem saber o que aconteceu, vendo apenas o corpo de Striker se esfarelando aos poucos e uma sombra caminhando até a luz.

— Incrível... – Striker olha para as paredes destruídas, o chão sujo e as pessoas protegidas por campos de força feitos pela Kim. – Essas coisas só acontecem quando a comida não cai bem pra gente. Que pena que perdi essa social.

— Você foi no banheiro enquanto todos aqui estavam sem saber o que fazer? Por acaso tem merda na cabeça? – perguntou Jaison, levemente estressado.

— Alguns minutos atrás eu tinha, mas ela foi embora na descarga – respondeu ela em tom de deboche.

Eles começam a discutir, enquanto Aine olha para ela de cima a baixo e bate palmas, o que os faz prestar atenção nela.

— Sua habilidade com a pele, a magia que rodeia este lugar e toda essa presença que sinto saindo de seu corpo... Você é a criança que quebrou os limites entre os mundos? – perguntou Aine.

Striker se surpreende com a fala dela e se aproxima lentamente.

— O que sabe sobre mim?

— Sei o que todos eles sabem. Mas se me questiona nesse tom, você não sabe por que está aqui, não é?

Aine demora a responder por olhar para suas asas, seu longo vestido e seus cabelos verdes, agora sujos pela poeira.

— Quem é você e o que quer comigo? – perguntou Striker em tom de seriedade.

— Eu...

Antes que Aine pudesse terminar sua fala, o barulho de rodas derrapando no asfalto é ouvido por eles.

— Mais deles chegaram – disse Jaison.

— Sua amiga está ferida, outro confronto direto pode derrubar este local – disse Aine.

— É melhor irmos embora então... – Striker energiza seu dedo e ela faz uma linha reta na parede, abrindo no centro e afastando as beiradas, mostrando um portal para um elevador. – Querem convite para entrar?

Jaison pega Loop e Kim por suas barrigas e corre até o portal; Aine pega Donatella no colo e entra também. Ao ver a força de Aine, Kim olha para as asas dela e questiona:

— Você utiliza pó mágico como suplemento de academia?

— Querida, não sou este tipo de fada. Somente as mais desesperadas utilizam o pó mágico.

Kim fica meio sem entender, mas Loop tapa um dos lados do nariz e aspira com força, como se estivesse querendo dizer algo a ela.

— Nossa... Quero fazer formatura na Terra do Nunca – disse Kim, caçoando.

Quando os militares chegam, Striker entra por um último no portal e o fecha rapidamente.

— Ah... Não acha que é muita gente para um elevador, minha cara? — perguntou Aine.  

— Só um minutinho que já vai piorar.

Ela olha para o painel de controle e aperta uma sequência de números que os leva aos seguintes andares: primeiro, quarto, segundo, sexto, segundo, décimo e quinto andar. Quando chegaram ao quinto andar, uma figura com vestimenta danificada de aeromoça e olhos cobertos por uma faixa ensanguentada, juntamente com o resto do seu corpo, entra no elevador sem voltar-se para qualquer um deles. Após as portas se fecharem, Striker aperta o botão para o primeiro andar, mas o elevador sobe até o décimo, deixando Aine desconfiada da situação. As portas se abrem para um andar vazio, sujo e s em luz, somente com uma porta. Striker sai com Jaison e as meninas; a fada vai atrás deles, ainda com um pé atrás.

— Aonde vão? – perguntou a mulher no elevador.

Antes que Aine pudesse dizer algo, Striker a puxa pelo braço e a coloca em frente à porta do apartamento.

— Não há necessidade de responder aquilo.

— Isso é um portal para o submundo? – perguntou Aine.

— Já vi que entende dessas coisas. Acho que vai conseguir responder muitas perguntas minhas mais tarde – disse Striker ao abrir a porta.

Ao entrarem, se deparam com o Corvo sentado em sua poltrona bebendo chá.

— Passeio agradável para vossas senhorias? – perguntou ele com um sorriso em seu rosto.

Todos o encaram sem reação. Somente Kim olha para os demais e depois sai andando para o seu quarto.

Em um apartamento da zona leste de Vanilla

Longe das riquezas do centro da cidade, Lauro está sentado em um sofá mofado próximo a paredes emboloradas e sujas, vestindo uma camiseta esfarrapada e uma bermuda velha. Seu cachorro se deita no chão sujo próximo a ele, enquanto o religioso assiste ao noticiário que fala sobre o acontecido no Fast Les Sex.

— Aqui é Renne Renniew, ao vivo da lanchonete mais controversa da cidade, Fast Les Sex. Alguns instantes atrás, o controle militar de Margo’on e outros civis foram atacados pelo grupo sobrenatural liderado pela Bruxa Letal, chamados de “Revolucionários”. Até então, não foram divulgados os detalhes do ataque e nem mesmo o número de feridos, mas estima-se que os danos causados ultrapassassem os 100 mil puissants. Striker e seu grupo ainda encontram-se desaparecidos. Mais informações no portal RN1. Obrigada.

Ele pega seu controle e joga com toda a força na TV, deixando-a com a imagem instável.

— A mídia não noticia o golpe, os fiéis não questionam meu afastamento e a população não liga ao ver militares nas ruas... Todos persuadidos pela influência da Ordem. A traição deles os levará ao colapso... – disse ele completamente frustrado e pensativo.

Lauro se levanta e vai até o banheiro lavar o rosto. Uma água suja sai pela torneira, mas, segundos depois, uma mais clara toma conta da pia. Enquanto insetos passeiam pelas paredes atrás dele, Lauro olha para sua barba no espelho e começa a passear por sua mente, se lembrando de acontecidos em sua vida até chegar ao presente.

— Não sei o porquê de fazerem isso, mas eu não deixarei que destruam tudo que fiz por esta cidade.

Cabisbaixo, mas com uma ideia na cabeça, ele olha pela janela o térreo, onde alguns fotógrafos da imprensa esperam o momento certo para flagrá-lo saindo do prédio.

— Eles são vampiros tentando sugar até a minha última gota de vida, mas cederei a eles.

Lauro pega seu barbeador elétrico, e mesmo com as luzes oscilando, ele começa a aparar todo o pelo existente em sua cabeça, até ficarem os tufos grisalhos na pia e seu rosto completamente limpo.

Ele pega um casaco marrom, uma boina xadrez, veste sua calça jeans e seus mocassins para sair pelos fundos do prédio em direção ao desconhecido.