Striker - A Bruxa, Os Deuses, Anjos & Mortais. escrita por Lucas Chroballs


Capítulo 4
Adeus Alexia.


Notas iniciais do capítulo

ATO 1 - CASA DE BONECAS



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712977/chapter/4

"Eu não era um anjo, muito menos um demônio, eu era um selo que carregava o peso do universo em suas costas, ou melhor, asas."

 

 

No Jardim Botânico

Um lugar tão surpreendente quanto encantador. Sua flora foi trazida de todos os cantos do mundo para quebrar a monotonia de cores da grande selva de pedra. Apesar de sua arquitetura parecer moderna é tão antigo quanto seus bancos de pedra ou suas fontes de estátuas renascentistas.

A mulher que ajudou a deter o roubo foi ler seu livro em um dos bancos próximo ao canteiro de bromélias.

— Me impressiona a arquitetura deste lugar estar preservada depois de tantos anos. – Ela passa a mão sobre as bromélias ao seu lado.

Quando abre seu livro, percebe que um casal briga próximo ao lago.

— Como assim você quer terminar? Eu dei tudo por você! Comprei esse anel caro que está em seu dedo, te dei amor e dei tudo que até não podia só para te fazer feliz. Isso não valeu de nada pra você? – Disse o rapaz, completamente exaltado.

— Rick, eu amo você, mas eu não me sinto mais bem ao seu lado hoje em dia...

Ele a pega pelos braços e a aperta.

— Você tem outro, não tem, Rita?

Visivelmente descontrolado, Rick a chacoalha e dá um tapa no rosto dela. Sua companheira pede para que pare, mas ele a prensa contra uma azinheira, ainda a machucando.

A mulher fecha seu livro, olha para eles e se levanta. Tira seu casaco e revela suas longas asas de fada.

— Como eu havia dito... "Quem tem tempo de ler hoje em dia?" – Ela avança contra o pescoço Rick e o aperta. – Gosta de machucar pessoas? Vejo que temos algo em comum.

Ela o joga para o lago, fazendo-o quebrar todas as pedras com as suas costas na queda. A fada olha para a moça, que está assustada com a situação.

— O que é você? – Perguntou Rita.

— Eu sou... Uma Deusa! – A mulher usa a luz solar para escrever o nome "Aine" no ar.

— Aine... Obrigada, Aine. – A moça olha para o seu companheiro, ainda nervosa com a situação – E quanto a ele?

— Ah, é mesmo...

Aine anda até as margens do lago e aponta seu dedo para ele, disparando um raio de calor contra a água. A temperatura era tão alta, que o homem saiu correndo até a outra margem.

— Sua abe... – Sem conseguir terminar sua fala, ele é congelado por uma garota de cabelos azuis e pele branca.

— Chegou a tempo, Clira. – Aine anda até a jovem e recolhe uma rosa azul do canteiro da América do Sul e cheira – Tem algo para mim?

Clira a reverencia e lhe estende uma carta.

— Obrigada! – Aine a pega e lê. – Certeza?

Clira acena positivamente com a cabeça.

— Então devemos impedir esta catástrofe... Hm?

A mulher se aproxima delas com cautela, ainda demonstrando nervosismo.

— E eu?

— E você? Faça o que achar melhor... Mas me prometa que da próxima vez que nos vermos, você não será tão fraca em dizer um "basta", querida. – Aine acaricia a cabeça da moça e se vira, indo embora pela porta de vidro do jardim com seus longos cabelos verdes balançando ao vento.

No centro comercial de Vanilla

A religião predomina na maior parte de Vanilla, sendo uma ilha 88% cristã, 10% judia e 2% sem segmento religioso. Por mais que o sistema político da cidade seja arcaico, sua arquitetura é a de uma metrópole, tendo altos lucros com a exportação de minérios e grandes empresas controladas ou regidas por normas da Igreja Central.

Jaison leva Loop para comer alguma coisa no Fast Les Sex, uma das poucas lanchonetes sem a influência da Igreja.

— Ah, isso é uma daquelas coisas que as pessoas jogam fora? – Perguntou Loop.

— Se você não comer, sim. – Respondeu Jaison – Mas conta... de onde você é?

— Olimpo. – Disse a Loop de boca cheia.

— Olimpo... Aquele Olimpo? – Ele aponta seu dedo indicador para cima.

— Lá em cima é o teto.

— Ah... Com todo o respeito... você é burra?

— Não, eu sou uma garota. Pode me passar essa coisa vermelhinha? – Ela aponta para a bisnaga de ketchup.

Ele passa para Loop e ambos ficam se encarando por alguns segundos sem falar nada, até espremer a bisnaga de ketchup, sujando o colete preto dele. Jaison olha para ela com seriedade e queima o ketchup em sua roupa, depois pega um guardanapo para limpar o excesso da mancha.

— Desculpa... Eu não sei usar essas coisas. – Disse a Loop, com um olhar tristonho.

— Tá de boa... Mas me lembra que eu nunca mais te trago aqui... E também lembra que eu ainda não te perguntei... por que está aqui? – Perguntou Jaison, olhando fundo nos olhos azuis dela.

— É... Bem, eu...

Naquele momento, um grande estrondo acontece do lado de fora e Jaison se levanta para ver o que é. Loop o segue logo depois.

— O que foi isso? – Perguntou ela.

Jaison olha em direção ao som como se pudesse ver o que está além dos prédios.

— Temos que sair daqui! – Disse ele.

— Mas por quê? OH! – Jaison pega ela pelo braço e corre até o fim da rua, onde faz um portal para o apartamento da Striker, jogando Loop dentro dele. Ele olha para trás por um minuto, então se joga e some com o portal.

Jaison é cuspido pelo portal, mas antes de se levantar, ele olha Loop de baixo para cima, vendo que ela está de pé com o mesmo sorriso de antes.

— Você é mais leve que um pedaço de algodão... Que tipo de olimpiana é você? – Perguntou ele.

— Não sei, o tipo que quer saber o porquê de corrermos do nada? – Questionou Loop.

— Eu prefiro explicar... quando a albina chegar... – Ele se levanta, impressionado com o que ouviu e olha no fundo dos olhos dela. – Vai tomar um banho e depois a gente faz alguma coisa pra você se distrair.

— Tá bom... Ah... Obrigada pelo lanche. É o primeiro gesto de amor que alguém tem por mim. – Diz ela sorrindo.

— Amor?

— Sim, minha mãe nos ensinou que o amor é aquilo que se faz por alguém demonstrando sentimentos bons Você me deu comida com bons sentimentos.

— Sua mãe? – Ele fica com uma expressão de curiosidade em seu rosto por ela ter contado algo relevante de sua vida.

— Sim, aquele lanche fresco é bem melhor do que os que eu comi no lixo. Eu já volto! – Loop entra no banheiro.

A parede atrás dele toma forma de um grande lótus e Ganesha sai de dentro dela.

— Tem roupa limpa e toalha no banheiro, minha jovem. – Disse Ganesha.

— Como uma olimpiana vem ao mundo humano e se sujeita a comer restos... Quem é essa garota afinal? – Perguntou Jaison.

— Não sabemos os motivos de ela estar entre os mortais, mas olhando bem, não me é uma desconhecida... Descanse, senhor Jaison, mais tarde o senhor terá de ensiná-la a jogar nos equipamentos eletrônicos desta era. – Ganesha dá duas batidas leves na cabeça dele com sua tromba e some no ar.

Jaison continua pensativo sobre o que ele acabou de descobrir de Loop.

— Uma olimpiana mendiga?

No Hospital de Vanilla

Uma enfermeira nova, de cabelos pretos e pele morena, entra no quarto de Alexia com uma caixa e um CD.

— Como está hoje?

— Eu estou bem. Quando vou poder sair daqui? Meu noivo e eu vamos nos casar em breve, quero que tudo esteja pronto. – Disse Alexia.

— Ah, que bonito. Quando vão se casar?

— Daqui a dois meses, ainda preciso ver muita coisa para o casamento. – Disse Alexia.

— Logo menos você sairá daqui... No seu prontuário diz que sofreu lesões no seu tímpano, como consegue me entender?

— Aprendi a ler lábios com a minha avó. Ela era surda e não conseguia se comunicar em libras, então ela lia meus lábios para me compreender. Daí eu comecei a ser mais observadora na boca e no jeito de falar das pessoas, e vejo que está sendo muito útil agora.

— Foi uma fatalidade o que aconteceu, mas é bom ver que está se recuperando. Já ia esquecendo, mandaram isso para você com este DVD. Gostaria que eu ligasse a TV para assistir? – Ela estende a caixa.

— Eu não vou conseguir ouvir nada.

— Mas ver já é alguma coisa. Quem sabe é um vídeo caseiro da sua família? – A enfermeira liga a TV.

— Já que ligou, vamos ver o que é.

Ela coloca o DVD. Enquanto passa alguns trailers de filmes, a enfermeira prepara uma seringa.

— Tenho que aplicar o remédio.

— Ah, pode aplicar.

A enfermeira libera o líquido transparente na veia de Alexia.

— Pronto. Vou pegar o controle para você.

Alexia abre a caixa, tendo linhas, agulhas, roupas dela e uma tesoura.

— Não tem nome... Porque mandariam isso? – Disse Alexia.

— Na recepção disseram que era alguém que só queria o seu bem. Parece que te mandaram um filme para passar o tempo. Eu tenho que ir, mas aproveite! – Ela sai.

— Só espero que seja um filme bom... Hm... Meu corpo não se mexe...

Alexia tentava se mexer, mas era em vão. Naquele momento, um vídeo do noivo dela tendo relações sexuais com outras mulheres, inclusive sua irmã e sua mãe, passa bem na frente dos seus olhos. Lágrimas escorrem pelo seu rosto a cada cena. Ela se esforça para tentar se mexer, mas o máximo que consegue é alguns dedos, mas suas articulações doem. Então ela desiste de continuar e prossegue assistindo o vídeo.

— Aaron... Seu desgraçado! – Gritou Alexia.

Do lado de fora do quarto de Alexia, a porta é trancada e a enfermeira esboça um sorriso.

— Minha líder te mandou felicidades no casamento!

Na igreja

O padre Lauro rezava quando uma das freiras começa a passar mal. De início, ele tenta ajudar, mas ela começa a se contorcer até seus olhos escurecerem e chorarem sangue. Logo em seguida, uma figura alta aparece na porta da igreja e se dirige ao altar.

— Dizem que partilhamos de pensamentos diferentes para tentarmos compreender a mente do Criador. Mas será que a mente humana não é feita de pequenos pensamentos de Deus? – Disse o Corvo.

— Demônio... Como ousa entrar na casa do Senhor? – O padre deixa a freira no chão e se aproxima do Corvo, mas mantendo uma distância segura.

— Ousar? A casa de Deus é aberta àqueles que estão dispostos a seguir Suas virtudes. No meu caso – sua garra indicadora esquerda aponta para o seu lado branco –, este é o meu lado virtuoso.

Os dois lados do Corvo se dividem, o lado esquerdo vira uma fumaça preta e o lado direito, uma fumaça branca. Ambas avançam até o altar, formando o corpo do Corvo novamente, que pega o cálice sagrado.

— Lugares como esta catedral abrangem muitas pessoas que têm medo de ir para o Inferno... Já parou para pensar que vocês transformam este lugar em um Inferno prometendo o Paraíso – Disse o Corvo.

— O que quer aqui?

O Corvo aparece repentinamente na frente do padre, coloca a mão sobre o seu peito e lhe mostra uma visão de caos e guerra. Após isso, ele cai no chão e o Corvo se dirige à saída.

— O que é isso? – Perguntou o padre, transtornado.

— Isto... É o que você trouxe a si mesmo quando procurou guerra com forças além da sua compreensão.

— Eu não deixarei que isso aconteça.

— Não há como impedir o inevitável. Aliados aparecerão para o senhor, mas o seu maior pecado será deixar o seu destino em outras mãos. – O Corvo para em frente à porta, onde alguns policiais apontam suas armas para ele.

— Não nos faça atirar!

O Corvo estende sua mão e o policial dispara. A bala é transformada em uma mariposa que voa até a cruz em cima da catedral.

— Senhores, vocês sabem os estágios do sonho? – Perguntou o Corvo com um sorriso em seu rosto.

Os policias recuam um pouco, mas são paralisados antes que pudessem fazer algo.

— Mundo dos Sonhos...

— Por favor, não faça isso... – Disse o policial.

— Pesadelo!

Os pesadelos deles começam a sair de suas cabeças e a torturá-los até a morte. Corvo continua andando como se nada tivesse acontecido. As pessoas dentro e fora da igreja se apavoram com a cena, afastando-se dele, enquanto algumas fazem o sinal da cruz.

— Toda pequena ação tem consequência, padre Mitchels... O senhor vai receber a sua.

Ele vira um corvo e voa dali. O padre se levanta e olha para um dos seus bispos.

— Quando eles chegarem, diga que eu necessito de uma audiência urgente! – Ele se retira e vai embora.

Na Dimensão Branca

A Coruja continua sentada em sua poltrona, enquanto toma uma xícara de chá e sua mascote, uma coruja das torres com olhos de galáxias, come um rato.

— Então... Esse é um dos maiores maus do ser humano que prega palavras de fé... De todas as maneiras querem provar que estão certos, mas esquecem de que estão cometendo o pecado que retirou Lúcifer do Paraíso... Não é mesmo, Fengári? – Ela acaricia sua coruja de estimação.

 

"Deuses são seres orgulhosos e arrogantes. Eu só quero sorvete e uma família" – Loop


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Curiosidade: A igreja de Vanilla possuiria três bispos, mas o padre recusou o posto e decidiu presidir em seu posto, tomando assim, alguns privilégios dados pela Ordem Mundial pela sua visão de pacificação e justiça.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Striker - A Bruxa, Os Deuses, Anjos & Mortais." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.