Anthony Morrison, ou Tonny como gostava de ser chamado, fazia sua costumeira ronda a qual executava religiosamente todos os dias. Era pouco mais de seis da tarde e ainda estava no começo de seu turno. Seria um longo e entediante turno como sempre.

O que mais lhe incomodava nisso tudo era saber que havia deixado sua bela, jovem e fogosa esposa em casa – ela era uma linda loura de olhos azuis, delgada, dez anos mais jovem que ele. Ele tinha trinta e cinco – e que somente retornaria para seu lar no outro dia e ela já teria ido para o trabalho. Ela era professora da escola primária. Já devia ter se acostumado, pois já realizava aquele trabalho entediante há mais de quinze anos. Porém nunca se acostumara.

Sua obrigação consistia em patrulhar as margens dos rios e lagos da região à procura de algo que estivesse fora de seu lugar. Isso nunca acontecia. Ele sempre fazia sua caminhada solitária e silenciosa sem que nada de diferente ocorresse. Seu local de trabalho naquele dia era o famoso lago Mead.

E como sempre para a realização de seu trabalho, ele trajava uma farda verde-oliva que lhe ficava um tanto folgada e grande para seus meros 1,70 metros, a qual ele não achava que combinava com a cor castanho de seus olhos, um quepe que cobria seu cabelo também castanho cortado bem rente – exigência da companhia em que ele trabalhava e que ele achava perda de tempo – também usava uma bota, que a companhia dizia que era para sua proteção e ainda um walkie tolkie, o aparelho o qual servia para que ele informasse sua posição. Não podia dar nenhum passo em falso.

Ele andava tranquilamente pensando na surpresa que faria para sua esposa no dia de sua folga, que seria no dia seguinte, certo de que não encontraria nada como sempre acontecia. Andava bem junto ás margens do lago quando pisou em algo viscoso. Não olhava para o chão, não era de seu feitio e também conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Na certa algum turista, curioso por conhecer o famoso lago, deixou algum lixo ali. Abaixou-se indignado para recolher aquele dejeto e qual não foi sua surpresa ao descobrir que aquilo não era lixo. Eram restos mortais de uma pessoa.

Ele não conseguiu gritar, embora estivesse apavorado.  Seus olhos estavam arregalados, vidrados naquela cena grotesca. Parecia um filme de terror. Tinha certeza de que toda vez que fechasse seus olhos se lembraria daquela imagem.

Pegou o walkie tolkie e informou à central o seu achado. Nem sabia como reunira força para fazer a chamada, pois suas mãos e pernas tremiam. E ainda tinha mais. Ele sabia que como era testemunha de um crime, ou pelo menos o achador do corpo, ele seria um possível suspeito e teria que aguardar a chegada da polícia. Era isso o que acontecia nos programas de investigação. Ele estava amedrontado com a perspectiva de permanecer mais um minuto junto aquele cadáver.  Ele não resistiu. Pôs seu maravilhoso café da manhã para fora.