Reece POV
Nenhum humano tinha esfregado uma petição secreta sobre as raças na minha cara, mas aquela ruiva não parecia estar blefando e continuar negando a verdade para ela não nos traria nenhuma resposta.
— Vamos pra outro lugar!
Comecei a andar em direção a floresta e indiquei para que me seguissem, chegando lá a louca da petição foi a primeira a se manifestar
— Fiquem tranquilos, não vou contar pra ninguém que vocês são feiticeiros!
— Como você sabe sobre a gente?
Fui direto ao ponto
— É obvio – ela deu risada – Sol, você sempre pega aqueles livros estranhos na biblioteca... E, Reece, você não é exatamente a pessoa mais normal do planeta.
Suspirei, já acostumado com os comentários, e foi a vez de Sol retrucar
— Tá bom, mas o que te levou a pensar que as raças são mais que uma lenda?!
A garota olhou para nós com cara de desentendida e cruzou os braços, como se não precisasse responder aquela pergunta. Naquele momento, Sol e eu percebemos que ela definitivamente não iria falar mais nada sobre aquilo.
— Eu estou triste pelos vampiros e queria fazer algo pra mudar a vida chata deles, mas sou só uma humana e pensei que se alguns seres sobrenaturais me ajudassem, seria mais fácil.
Mesmo sabendo tanto, ela parecia ser a pessoa mais inocente do mundo.Talvez fosse uma daquelas que acredita em qualquer conspiração illuminati que lê na internet...

Mas, ainda que a situação dos vampiros fosse comovente, eu sabia que estava longe do meu alcance conseguir mudar alguma coisa e não queria me envolver com algo que me levaria ao fracasso.
— Pensou errado, ninguém pode mudar o que os deuses escolheram, você já tem muitas preocupações como humana, não se envolva nas dos outros.
A ruiva tinha os olhos marejados e parecia tão frágil quanto um bebê, Sol me repreendeu com o olhar e colocou a mão no ombro da garota, comovida.
— Reece se expressou mal, o que ele queria dizer era que você encontrou as pessoas erradas, somos feiticeiros, mas ainda não tivemos tempo suficiente para treinar nossas habilidades, não teríamos uso no seu plano.
— Mas... Não precisamos de força, se eles verem que todas as raças estão contra essas punições, com certeza vão repensar, não é?
Sol baixou a cabeça, com pena da garota que se mostrara tão boa
— As coisas não são bem assim...
— Mas, temos que tentar! Como podem saber se nunca tentaram?! Como conseguem aceitar que submetam pessoas ao isolamento, vocês têm ideia de quantos vampiros morrem por mês?
Percebi que Sol começara a se sentir mal, mas eu não, era triste e horrível, porém era loucura pensar em nos envolver no que resultara de uma guerra!
— Já disse que não tem nada que nós possamos fazer!
A menina fechou o sorriso e nos olhou cabisbaixa, pegando um pedaço de papel e uma caneta do bolso. Nos disse com a voz fraca enquanto escrevia alguma coisa.
— Entendi. Mas, se mudarem de ideia, eu estou no terceiro b, e esse é meu número – ela me entregou o pedaço de papel – Tchau.
Ela se distanciava cada vez mais em direção a escola, Sol permaneceu do meu lado
— Nós nem perguntamos o nome dela...
— Nem precisamos – disse mostrando o papel para ela – Melanie Stuart, e o número é 7234-8961.
Estava prestes a amassar a folha quando Sol me impediu
— Não, podemos precisar disso...
— Não vá me dizer que está considerando ajuda-la com a petição?!
— Olha, não vou mentir que também não concordo com o que fazem com os vampiros... Mas, independentemente das nossas escolhas, temos que descobrir mais sobre aquela garota, além do mais, não parece que ela vá desistir tão fácil da ideia.
Suspirei constatando que ela tinha razão, depois de saber de seus planos não poderíamos deixa-la correr em direção a morte. Embrulhei o papel novamente e guardei em meu bolso.
— É, você tem raz...
De repente, escutamos um grito agudo e desesperado vindo da direção em que Melanie partira. Sem pensar duas vezes, Sol e eu saímos em disparada à procura da garota.

Lúcifer POV
Estava satisfeito com minha decisão de passear pela floresta, finalmente poderia saciar minha sede. Uma garota com uniforme de colegial, cabelos ruivos e pele alva caminhava em minha direção, sem pensar nas consequências pulei na sua frente e antes que eu fizesse qualquer movimento, a menina já berrava horrorosamente.
Por minha anisa por sangue e vontade de silenciar aquela voz, bruscamente coloquei minhas mãos em seus ombros a prensando contra uma árvore e finquei meus caninos no seu pescoço. Porém, antes que pudesse me deleitar com sua vitalidade fui estranhamente empurrado para longe, mesmo tendo certeza que ninguém tocara em mim.
Assim que me levantei percebi o que causara minha queda: dois feiticeiros, que agora acolhiam a ruiva chorando impetuosamente. Odiava feiticeiros, foram os principais aliados dos deuses na destruição de meu clã... Agora que estava alerta, tinha total capacidade de vencer aquelas crianças, mas elas pareciam muito mais preocupadas em acolher a minha refeição do que em lutar comigo.
— Ei, me entreguem a ruivinha e deixo vocês vivos!
A feiticeira asiática de cabelos castanhos rapidamente desviou o olhar de mim se mostrando visivelmente abalada, e apertou a garota contra seu peito.
— Não podemos fazer isso!
— Ótimo, então terei três para o almoço.
Sorri convencido e me aproximei do feiticeiro de cabelos negros e olhos azuis, que parecia um tanto nervoso com a situação, antes que tivesse a chance de fazer qualquer coisa, ele se pronunciou.
— Espera, nós queremos te ajudar! Essa menina ruiva que teve a ideia, inclusive, vamos tentar conseguir sua liberdade de volta!
Dei risada do tom desesperado do garoto, como aquelas crianças esperavam conseguir aquilo?!
— Ah, é, e como pretendem fazer isso?
Dessa vez foi a ruiva quem me respondeu, secando as lágrimas com as mãos.
— Uma petição... Eu fiz uma petição, vou dar um jeito de vários seres sobrenaturais assinarem e apresentar aos deuses.
Eles só podiam estar brincando! O que eles pensavam? Que os deuses eram seres sensíveis que ligavam para a vontade dos outros? Eu sabia muito bem que eles eram o oposto disso e só consegui gargalhar ainda mais alto com aquela estratégia.
— Vocês estão sendo inocentes demais em achar que isso terá qualquer efeito, vocês ao menos vão chegar perto dos deuses com essa estratégia!
Esperava as respostas dos outros, mas percebi que ainda estavam assustados com a expectativa de se tornarem minha refeição.
— Vamos, me digam seus nomes... Mudei de ideia, não vou mais mata-los, são divertidos demais!
Os três pareciam decidir se deveriam falar ou não, a ruiva olhou para os amigos confusa e em seguida para mim, embora não nos olhos.
— Melanie Stuart...
Em seguida foi a vez da feiticeira
— Sol Milton.
O garoto ainda parecia pensativo, mas abriu a boca ao levar uma cotovelada de Sol
— Ai! É Reece Crawford...
Sorri satisfeito, disposto a encontrar alguma outra pessoa menos interessante no caminho e leva-la para alimentar meus pais, que já deveriam estar famintos na lanchonete, há algum tempo que não conseguiam tomar o sangue de seus clientes, estavam a um passo de serem descobertos pelos deuses e não queríamos descobrir como eles poderiam deixar nossas vidas ainda piores.
— Adeus, tomem mais cuidado para não encontrarem o lobo mau da próxima vez que andarem pela floresta – disse irônico enquanto retomava as minhas preocupações diárias e andava para longe.
— Espera, você disse que não chegaríamos a lugar nenhum com a petição, o que a gente deve fazer, então?
A ruiva me interrompeu parecendo totalmente recuperada do susto anterior.

—-------

Layla POV
Sorria ao me lembrar do encontro com Edu, não sei se foi por que ele era o primeiro garoto de fora da aldeia que conhecia, mas senti algo diferente enquanto conversava com ele.
Tínhamos conversado um pouco e ele me contou que era músico, tocava em uma banda e tudo! Seu sonho era ter sucesso e um dia fazer uma turnê pelo mundo... O mundo, ainda tinha tanto para conhecer!
Eu disse para ele que adoraria ver um de seus shows, então ele me convidou para ir vê-lo tocar em um bar no próximo sábado! Precisava providenciar um celular até lá, ele pediu meu número e riu quando eu disse que não tinha um...
Não conseguia parar de suspirar e já ansiava por conhecer mais lugares e pessoas que se tornassem memórias tão novas e mágicas quanto aquela.
Agora tinha que voltar para casa, mas só para fazer minhas malas... Depois de conhecer tudo isso seria uma tortura ainda maior viver lá.