Layla POV

Mal pude acreditar quando comecei a enxergar as luzes da estrada, eu realmente tinha feito aquilo! Há tanto tempo eu escondia essa vontade de fugir, agora só conseguia me culpar por não ter o feito antes.

Ainda não estava definitivamente na cidade grande, atravessava uma estrada de terra que deveria me levar até lá...Em o que eu acho que foram 20 minutos de caminhada avistei grandes prédios e outdoors, embora já passasse da uma da manhã o local estava completamente iluminado.

E o mais importante, tinham pessoas andando nas ruas, a maioria parecia ter a minha idade, cerca de 18 anos, grupos de amigos rindo e se divertindo e casais aos beijos saíam do que pareciam ser baladas e barzinhos.

Eu estava simplesmente parada no meio da calçada, entusiasmada com toda aquela liberdade quando senti algo bater em minhas costas e fui empurrada para frente.

— Ai!

Percebi que junto de minha exclamação se ouvia outra voz, me virei desajeitada e me senti corar ao encontrar um garoto da minha idade, ele era alto e tinha belos cabelos castanhos da mesma cor dos meus, mas o que realmente me chamou a atenção foram seus olhos verdes que pareciam me tranquilizar.

Me repreendi mentalmente, tinha uma situação para resolver.

— Desculpe

Sorri, evitando olhá-lo diretamente nos olhos

— Tudo bem, eu estava distraído – ele deu risada e olhou nos meus olhos – Prazer, sou Eduardo, pode me chamar de Edu

Abri mais o sorriso

— Sou Layla, me chame de Ly...

Aurore POV

Eles tinham me descoberto de novo! Já estava acostumada, mas não deixa de ser chato ter que procurar um novo emprego ao mesmo tempo que me escondo da minha espécie.

Da última vez trabalhei como vendedora de roupas em uma lojinha na cidade, a localização não era muito boa, então fui descoberta em poucos meses... Dessa vez queria algo mais discreto e perto da floresta onde ninguém viria me importunar.

Por isso, e também para me distrair, estava andando pelas bordas da floresta, procurando atentamente por algum lugar na estrada em que pudesse trabalhar, estava quase desistindo quando encontrei uma pequena lanchonete a uma distância considerável, mas suficientemente curta.

Fui até lá disposta a perguntar por vagas,

 Era normal, não seria o primeiro local em que eu pensaria se me perguntassem onde eu gostaria de almoçar, mas imagino que os outros lobisomens também não gostariam de ir ali, o que era um ponto imensamente positivo.

Ao entrar me deparei com uma senhora que aparentava ter 60 anos me analisando atentamente de cima a baixo, percebendo que ela não falava nada e aquilo já começava a me perturbar, me pronunciei

— Vocês tem vagas para garçonete?

A senhora ergueu uma sobrancelha surpresa e me analisou ainda mais profundamente, murmurou alguma coisa incompreensível e começou a andar em direção a uma porta atrás do balcão. Não entendi o que deveria fazer até ela acenar com a mão, pedindo para que eu a seguisse.

Atrás da porta havia uma espécie de quarto misturado com galpão onde imaginei que os donos da lanchonete deveriam dormir, antes que raciocinasse o que estava acontecendo a senhora levantou um dos meus braços e apontou para mim como se fosse um pedaço de carne.

— Essa moça diz querer trabalhar aqui.

Olhei para o ambiente mais uma vez tentando encontrar com quem ela falava, avistei um sujeito se levantando de uma das camas, ele parecia ter 50 anos, cabelos grisalhos e estatura grande... Tinha a sensação de que ele já fora amedrontador um dia, mas agora só conseguia sentir pena.

Ele olhou para mim quase tão atentamente quanto a senhora e abriu um sorriso

— Ela é exatamente o que nós procuramos!

— Você acha mesmo que é uma boa ideia contratar alguém como ela?

— Olha pra ela! Ela é super normal, era o que precisávamos!

Limpei a garganta tentando lembrá-los de que eu estava lá escutando tudo, até agora não tinham dirigido nenhuma palavra diretamente a mim

Os dois voltaram seu olhar para minha pessoa

— Quando você pode começar?

O homem bruto encarava meus olhos verdes como se eu fosse a solução para todos seus problemas, sem pensar nas consequências e no quanto aquela situação era estranha eu o respondi

— Agora mesmo!

Sol POV

A aula finalmente tinha acabado, e agora eu tentava chegar até a saída sem cruzar com o Gregory, já faziam alguns meses mas eu ainda me sentia péssima ao olhar para cara dele, não sei como fui capaz de um dia gostar daquele idiota!

No meio do corredor, avistei o grupinho dele, abaixei a cabeça com medo que me vissem e tirassem sarro de mim, não estava com tempo para aquilo hoje, quando percebi um deles virando a cabeça em minha direção como que por instinto grudei na pessoa mais próxima de mim, já começando uma conversa falsa.

— Então, você lembrou de dar comida pra minha gata?

— Do que você ta falando?

Reece me olhou como se eu estivesse louca

— Lembrou?

Dessa vez falei jogando a cabeça discretamente para a direção do grupinho de idiotas, felizmente Reece pareceu entender, ele não deu cabo para minha conversa besta, mas pelo menos me acompanhou até chegarmos no estacionamento.

— Não sei por que você ainda não transformou aquele idiota em um rato.

— Pode acreditar que se não fossem as regras eu já teria feito isso!

Exclamei enquanto dava risada, Reece não falava muito, então apreciava quando resolvia fazer qualquer comentário.

Do nada, e quando eu digo do nada quero dizer que realmente me assustei com a aparição, uma garota com cabelos ruivos de maria Chiquinha com uma prancheta na mão nos interrompeu e disse quase cantando.

— Querem assinar minha petição? Tenho certeza que vão gostar da ideia!

Reece a olhava como se tivesse fugido do manicômio

— Ahm, e que ideia exatamente é essa?

Tentei parecer simpática. A garota se aproximou de nós e sussurrou como se fosse um segredo

— Quero acabar com a segregação das raças, não é certo o que fazem com os vampiros.

Dei um salto ao escutar a menina, como ela sabia das raças?!

— Vampiros? Qual é, todo mundo sabe que isso de raças não passa de uma lenda urbana.

Reece não disse nada, mas parecia igualmente surpreso e concordava com a cabeça

A garota estranha deu risada como se eu tivesse contado uma grande piada e nos olhou nos olhos.

— Não tentem mentir para mim, eu já sei de tudo! Sempre sei de tudo – disse a última parte como um murmúrio e fez uma breve pausa – Então, vão assinar?!