Quando acorda, Loki se sente confortável e seguro, ainda envolto nos braços de Tony. O deus não se lembra de já ter se sentido tão protegido alguma vez. É como se seu corpo tivesse sido feito exatamente para ser encaixado ao do gênio.

Anthony se mexe ao lado dele, e seus olhos se abrem. Loki suspira, e seu estômago ronca audivelmente. Stark se levanta, dizendo que vai buscar ao para o deus comer, e deixa o quarto por alguns minutos.

Os olhos do asgardiano flutuam até a janela, observando os prédios que se erguem imponentes cortando o céu da cidade. Midgard é mais agradável do que ele esperava, mas talvez isso tenha algo a ver com como está sendo tratado por aquele que antes considerava inimigo.

Tony entra de novo no quarto, tagarelando sobre como não consegue entender o prazer que Bruce tem em fazer "aquelas-posições-estranhas-sobre-o-tapete", mais conhecidas como yoga. Ele ajuda o deus a tomar uma tigela de sopa, e checa sua medicação e seus sinais vitais. Ao que parece, Loki se recupera mais rápido do que um humano, o que é esplêndido, e Anthony internamente agradece por isso.

O dia passa tranquilamente, e Tony faz com que o asgardiano converse mais com JARVIS, e, já perto do pôr-do-sol, acaba ficando de fora da conversa durante uma discussão sobre livros de mitologia entre o AI e Loki, então o gênio apenas se levanta e sai do quarto, deixando os dois conversarem.

Bruce e Steve estão na cozinha, e os dois parecem estar cozinhando alguma coisa vegetariana com muita cenoura na receita. Eles riem de algo enquanto Tony entra no local, se servindo de uma xícara de café.

— Olá Tony. – Rogers o cumprimenta enquanto corta alguns tomates. – Só queria avisar que já comecei os preparativos, é incrível como sua equipe consegue tudo o que é preciso extremamente rápido.

— Nomes abrem portas. – Stark o assegura, se recostando no balcão.

— Está com fome, Tony? – Bruce pergunta se virando para Anthony. – O jantar está quase pronto. Sei que não é muito fã de comida vegetariana, mas acho que vai gostar do que estamos preparando.

— Desculpe Bruce, mas vou passar dessa vez. – Stark diz e toma um gole de seu café. – Vou para o laboratório. Tenho alguns projetos para terminar.

— Tony, você precisa se alimentar... – Rogers começa, e o gênio o interrompe.

— Não precisa se preocupar, Capsicle. – Tony fala enquanto se vira. – Se precisarem de mim, peçam para JARVIS me chamar.

Dito isso, o gênio sai da cozinha em direção ao elevador, mas não sem antes passar pelo bar no canto da sala e pegar uma das ótimas garrafas de whisky caro que Pepper sempre comprava.

É, talvez já tenha passado da hora de acabar com os últimos resquícios de Potts naquela torre.

x-x-x

Steve abre subitamente os olhos e encara o teto escuro sobre sua cabeça. Ele checa o relógio, sem saber o que o acordou. Três da manhã. Geralmente o soldado dorme como uma pedra. Isso é no mínimo estranho.

— Sr. Rogers? – a voz de JARVIS o chama. – Desculpe acordá-lo tão cedo.

— Hmm... Sem problemas. – Steve boceja, coçando os olhos. – O que houve?

— Creio que o Sr. Stark precise de ajuda no laboratório.

— O que? Por quê? – ele pergunta se levantando e procurando algo para vestir sobre a boxer preta.

— Ele está atualmente caído atrás de sua mesa, e meus sensores detectam um alto nível de álcool em seu sangue. – o AI esclarece. – Níveis mais altos podem causar uma severa intoxicação.

— Droga, Tony. – o soldado murmura saindo do quarto.

Ele pega o elevador até o laboratório, e JARVIS permite sua entrada. O lugar fede a graxa, óleo de motor e bebida. Definitivamente Steve vai obrigar Tony a fazer uma limpeza por aqui, não é saudável passar tanto tempo em um lugar assim.

Por falar em Tony, Rogers o encontra sentado no chão, com as costas apoiadas na parede. Ele não parece o bilionário atrevido de sempre, apenas um bêbado triste.

— Hey, Tony, tudo bem? – Steve pergunta ajoelhando-se na frente do gênio.

— Diga, Rogers, pareço bem pra você? – Stark responde com a voz arrastada.

— Está bêbado de novo, Stark. – o soldado suspirou. – Pepper iria ficar furiosa se visse isso.

Steve é surpreendido quando Tony se levanta abruptamente e o empurra para longe, parecendo incrivelmente irritado.

— E quem se importa com as merdas que Pepper vai pensar, hein!? – Anthony grita. – Ela não está mais aqui! Pepper foi viver a porra da vida dela! Então... Então acho que tenho o direito de fazer o caralho que quiser com a minha!

— Tony, eu não sabia... – Rogers tenta se desculpar, nem sequer se importando com a linguagem usada pelo amigo.

— Foda-se, Rogers! – Anthony grita atirando a garrafa de whisky na parede, onde ela bate e se estilhaça. – O fato é que ela cansou de viver na droga da minha vida doentia! Eu nem a culpo por isso! Merda, eu sou autodestrutivo!

— Okay, Tony, acho que está na hora de ir pra cama. – Steve diz se aproximando cautelosamente.

— Não me trate como um bebê, Rogers! Não preciso de sua ajuda! – Tony grita, se afastando do soldado violentamente.

— Tony, você não está pensando direito, vamos para a cama.

— Não. Me. Trate. Assim. – Stark diz com os dentes cerrados, e vira às costas para Rogers, caminhando bruscamente em direção à porta.

— Onde você vai? – Steve pergunta seguindo Anthony até o corredor.

— Estou indo até a ala médica. – o gênio responde com a voz embargada, e logo se dá conta do que disse. – Vou checar se meu fígado ainda está vivo, okay? Feliz? Não me siga, Rogers.

Steve suspira, mas se limita a ficar parado no mesmo lugar enquanto Tony entra no elevador. O gênio se escora na parede metalizada, lentamente se arrependendo de perder o controle e encher a cara. Os problemas do bilionário com o álcool ficaram piores desde que Pepper foi embora. E, ao que parece, seu corpo não parece muito feliz com isso.

O elevador finalmente para, e Tony se arrasta pelo corredor se apoiando nas paredes, até chegar ao quarto de Loki. Ele respira fundo e entra no quarto. O deus se assusta, e aparente estava dormindo antes de Stark interromper seu sono tão necessário.

— Te acordei? – Anthony pergunta com a voz arrastada. – Desculpa... Não quero incomodar.

— Você bebeu? – Loki franze o cenho enquanto observa Tony parar ao lado de sua cama.

— Aham. – Stark balança a cabeça repetidamente, gemendo quando o movimento o deixa tonto. – Desculpe, não me julgue por isso. Meu pai era alcoólatra, eu só herdei o hábito.

— Por que bebeu dessa vez? – o deus pergunta encarando Tony com seus enormes olhos verdes. – Tem algo a ver com minha estadia em sua torre?

— Não! Não! – o gênio se apressa em negar. – Eu tinha uma namorada. Nós nos dávamos muito bem. O sexo era incrível, mas a companhia dela era o melhor. Ela mantinha minha sanidade. Quando foi embora, ela levou isso junto. Não tenho mais ninguém, por isso eu bebo.

— Você tem os Vingadores. – Loki constata, ainda parecendo confuso.

E, caramba, como ele é sexy com essa expressão confusa no rosto, Tony pensa.

— Não somos próximos. Eu costumo me isolar para evitar que as pessoas me usem ou sejam filhas da puta comigo. Você não tem nada a ver com isso. – Tony sorri para si mesmo. – Você me deixa um pouco feliz. Isso é loucura? Você me jogou de uma janela. Acho que estou louco, mas conversar com você faz eu me esquecer de meus problemas. Não me importo com isso de ter enlouquecido. Gosto de como você me faz sentir quando não está sendo assustador, sabe? Quando não está tentando dominar esse planeta. Ou quando não está morrendo. Não gosto de como eu me sinto quando você está morrendo. Não morra, okay?

— Você está divagando. – Loki sorri.

— E você tem um sorriso lindo.

O deus continua o encarando, o que só confunde Tony ainda mais. O gênio não acredita que deixou aquilo escapar de sua boca, ele podia dar um tapa em sua própria cara. Mas já que o assunto surgiu...

— Posso te beijar?

A pergunta escorrega para fora da boca de Anthony, e os olhos de Loki se arregalam. O gênio se inclina em direção à cama, e cola os lábios nos do deus. O beijo é rápido, mas Tony sente o ar ser tirado de seus pulmões e precisa se apoiar na cama para não cair.

— Está tudo bem? – Loki pergunta rapidamente assim que Tony interrompe o beijo.

— Acho que vou vomitar... – Anthony murmura. – Beber tanto não foi uma boa ideia.

— Você precisa de ajuda? Quer que eu chame alguém? JARVIS pode chamar alguém. – o deus oferece.

— Não, estou bem. – Tony suspira. – Só preciso dormir.

— Deite-se comigo.

Stark não pensa duas vezes antes de tirar os sapatos e subir na cama de hospital ao lado de Loki. O deus se aconchega ao lado de Tony, sentindo o calor irradiar de seu corpo. O bilionário está cheirando graxa e whisky, mas ele não importa.

E é nesse momento que Loki promete a si mesmo que vai ajudar Tony a se livrar do vício no álcool e reconstruir sua vida e autoestima, custe o que custar, talvez para pagar a dívida que tem com o gênio por salvá-lo mais de uma vez.

E, quem sabe, ele esteja salvando a vida de Anthony também.