Algum tempo depois, Tony finalmente deixa o quarto na ala médica, e segue até a sala de estar. Bruce está sobre o tapete, em alguma posição estranha de yoga, com as pernas bem abertas, uma das mãos levantada sobre a cabeça, e a outra apoiada sobre o chão.

— Hm, Bruce, o que você está fazendo? – Tony pergunta se sentando no sofá.

— É yoga.— Banner diz com dificuldade. – A posição se chama trikonasana. Você deveria tentar, é muito saudável.

— Nah, eu dispenso. – Stark suspira. – Será que pode parar um pouquinho sua sessão de yoga para conversarmos sobre o que aconteceu?

O médico suspira e endireita a postura, e toma um assento ao lado do bilionário.

— Eu vou te ajudar com isso. – Bruce assegura. – Mas você tem que me prometer, Tony, que ao menor sinal de perigo nós vamos entregá-lo a SHIELD.

— Não vai ter perigo, okay?

— Prometa. – Banner insiste com o semblante sério.

— Tudo bem, tudo bem. – Tony cede, jogando os braços para o alto. – Eu prometo.

— Senhor? – a voz de Jarvis invade a sala. – Já passa do meio dia, devo lembrá-lo que ontem à noite o senhor prometeu-me ter uma refeição decente.

— Obrigada por avisar, Jarvis. – o médico diz repreendendo Tony com o olhar.

— De nada, Dr. Banner. – o AI responde.

— Vamos Tony, vou cozinhar alguma coisa pra gente. – Bruce diz se virando para ir até a cozinha.

— Alguém disse cozinhar?

Steve entra na sala, e Tony pula de cima do sofá como um raio. O soldado tem um sorriso no rosto, e o gênio xinga baixinho, imaginando por que Jarvis não avisou que Rogers estava no prédio.

— Steve, que surpresa. – Banner fala trocando olhares com Stark.

— Desculpem por vir sem avisar. – Rogers disse seguindo para cozinha com os dois cientistas o seguindo. – Mas, já que estou aqui, posso cozinhar o almoço. Você tem legumes por aqui, Tony?

— Não sei, tem um monte de coisas aí. – Stark diz distraidamente. – Eu vou... Vou checar umas coisas no laboratório. – ele mente.

— Eu vou ficar e ajudar Steve com o almoço. – Bruce assegura, lavando as mãos na pia.

Tony se virou rapidamente, seguindo até o elevador. Todo mundo sabe que Anthony Edward Stark é ateu, mas, nesse momento, ele reza para qualquer um que esteja lá em cima ouça suas preces para que Steve se mantenha bem longe da ala médica.

x-x-x

Depois de terminarem de almoçar, Steve inicia uma conversa sobre a música dos anos 40 e como os bailes eram incríveis, apesar do fato de que ele nunca havia dançado com nenhuma garota. Porém, ao chegar nesse assunto, o soldado subitamente se cala, e põe-se a lavar a louça em silêncio. Bruce e Tony se entreolham, sabendo exatamente qual o motivo.

— Então... – Tony diz se levantando. – Steve, você poderia me ajudar com uma coisa? Eu... Estou planejando fazer o próximo baile beneficente da minha fundação com a temática "anos 40", e tenho certeza que você pode me ajudar com isso. Sabe, eu quero cuidar de tudo dessa vez, já que Pepper... – Stark se interrompe, sem palavras. – Bem, o que importa é que você é a pessoa perfeita para me ajudar.

— Está falando sério? – Rogers pergunta. – Uau, isso vai ser incrível. Pode contar com a minha ajuda com certeza.

— O baile será em um mês então seria ótimo se pudesse começar agora.

Steve retoma a animada conversa sobre os anos 40 e começa a dar diversas sugestões. Tony o entrega um cartão com o número do pessoal responsável pela decoração do salão de festas, e o manda contatá-los e dizer que ele foi encarregado pessoalmente por Tony Stark para cuidar dos preparativos, e com isso o soldado deixa a cozinha animadamente.

— Você não fazia a menor ideia sobre o que iria fazer para esse baile, não é mesmo? – Bruce pergunta olhando para Anthony.

— Não. – o gênio admite. – Mas eu precisava tirá-lo daqui. Matei dos coelhos com uma cajadada só. Além disso, preciso fazer algo para Loki comer.

— Pode deixar isso comigo. – Bruce o assegura. – Tenho certeza que você não entende de culinária.

Tony murmura um rápido "obrigado" e sai com destino à ala médica. É incrível como Loki subitamente se tornou algo importante pra ele. O deus é como algo delicado e quebrado, e o gênio se sente responsável por ele agora.

Quando adentra o quarto, Tony percebe que o asgardiano está acordado, olhando para a janela com os profundos olhos verdes circundados por olheiras. Ele ainda está ligado ao oxigênio, e a visão de seu peito lentamente subindo e descendo tranquiliza Stark mais do que qualquer coisa.

— Que bom que está acordado. – diz Tony se sentando na poltrona ao lado da cama. – Você me deu um susto enorme. Não gosto de como me sinto quando você está quase morrendo. Eu me sinto impotente e frustrado e surpreendentemente triste. E... Eu fico com medo, okay? Não quero que morra sob minha responsabilidade. Aliás, não quero que morra. Isso é meio estranho pra mim, considerando que alguns meses atrás você me jogou de uma janela. Mas, bem, não morra, eu iria ficar destruído se você morresse.

Loki não responde, apenas continua olhando para a janela com a expressão em branco.

— Você não quer falar, não é? Tudo bem, eu entendo. – Anthony levemente repousa sua mão sobre a do deus, sentindo os dedos gelados sobre os dele. – Eu sei como é ser torturado, traído, machucado. Eu tenho um passado um pouco obscuro, Loki. Nem sempre fui o herói. Minha empresa costumava produzir armas, e eu as vendia sem me importar com seu destino. Sei que indiretamente fui responsável por muitas mortes. Um dia eu fui capturado, para ser morto, e tudo isso a mando de uma das pessoas mais próximas a mim. Eu fui torturado, eu implorei pela morte. E, sim, eu quase morri, mas, no final, eu tive uma segunda chance, e recomecei minha vida.

O deus nórdico suspira, e vira o rosto, olhando profundamente nos olhos do bilionário.

— Não estou dizendo que me esqueci de tudo de ruim que já fiz. – Stark diz com a voz grave. – Só estou dizendo que as coisas ruins que você fez no passado não precisam definir quem você vai ser daqui pra frente. Você não pode se culpar pelas coisas ruins que as pessoas fizeram com você. Uma hora ou outra todos temos que seguir em frente e nos agarrar às coisas boas, porque, se não fizermos isso, tudo o que nos espera é um triste fim.

A princípio, Loki só continua estático, sem se mexer, mas, em seguida, Tony sente a mão do deus se envolver na sua levemente. Uma mecha do cabelo negro do asgardiano está caindo sobre seu rosto, e Stark levanta a mão e suavemente a afasta.

— Obrigado, Tony. – Loki agradece com a voz rouca e frágil, e Stark sorri sem graça.

— Eu só tirei o cabelo do seu rosto, não precisa me agrade...

— Não, Tony. – o deus o interrompe. – Obrigado por tudo. Por me salvar, por cuidar de mim, por acreditar em mim.

O deus sorri, e Tony acha que enlouqueceu, porque não se lembra de já ter visto um sorriso mais lindo em toda sua vida. Um calafrio atravessa o corpo de Loki, e ele estremece visivelmente.

— Está com frio? – Tony pergunta acariciando a mão do deus, que assente. – Hmm, eu acho que não tenho mais nenhum cobertor por aqui. Será que... Será que você se importaria se eu deitasse junto com você na cama? Sabe, só para te aquecer. Se você não quiser, eu vou entender, é claro, é só que...

— Tudo bem, Tony, eu quero.

Anthony sorri, tira os sapatos e sobe na cama, encaixando seu corpo ao de Loki, mesmo em meio aos inúmeros fios ligados ao deus. O asgardiano suspira, recostando a cabeça no ombro de Stark, e ambos fecham os olhos, caindo em um sono tranquilo.

E, pouco tempo depois, quando Bruce entra no quarto carregando uma tigela de sopa e uma xícara de chá, ele nem sequer cogita acordá-los, e, mesmo sabendo que Tony vai querer matá-lo por isso, saca o celular e tira uma foto dos dois, antes de sair rapidamente do quarto.