Memórias de um garoto apaixonado escrita por Chão


Capítulo 3
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

As vezes todos se sentem sozinhos, apenas pelo fato de não ter alguém que ame ao lado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712557/chapter/3

Estou dançando pelo quarto, apenas uma musica qualquer. Meu corpo balança lentamente, junto com a musica. Faz uns quatros dias deste que ele entrou, e meu cérebro já começou a inventar mil e uma paranóias. No jornal apareceram umas noticias sobre Recife, e eu o fiquei imaginando caminhar por aquelas ruas, o cabelo balançando contra o vento, as mãos enfiadas nos bolsos da calça, o sorriso no rosto, enquanto ele ouve sua musica favorita, a mochila nas costas e os sonhos passando pelos seus pensamentos. Será que sou um desses pensamentos? Será que ele pensa em falar comigo? Será que ele me considera como amigo dele, do mesmo jeito que eu o considero? Ah, inferno! Eu só queria poder entrar nos seus pensamentos e saber o que você está pensando agora.

Agradeço intensamente a qualquer deus que estivesse me ouvindo, por estar sozinho em casa e poder aumentar o som no volume máximo, apenas para abafar o som dos meus soluços. Se eu estou chorando por ele? Não exatamente. Sim, boa parte é por sentir saudades desse idiota. Mas outras coisas vinham acontecendo recentemente, e isso está apenas me fazendo afundar lentamente. Sinto como se a escuridão estivesse segurando meu pé, e me puxando para baixo, sem se importar se eu vou me afogar ou não.

Sento sobre a cama. Pernas cruzadas e a cabeça apoiada na parede. A droga dos antidepressivos não estão mais tendo o mesmo efeito de antes. É como se os picos depressivos tivessem criado seu próprio escudo. Meus dedos formigam e meus pulsos coçam. Sinto a necessidade de me fazer sentir dor, mas a promessa ainda ronda meus pensamentos. Fechei os olhos, enquanto algumas imagens me vinham à mente.

Lembro como se fosse ontem. A gilete ainda estava presa sobre meus dedos. Os pequenos cortes sangrando lentamente, enquanto a sensação de prazer e conforto me preenchia. O tilintar da gilete caindo na pia, me fez olhar para o espelho. Meus olhos ainda estavam vermelhos, algumas lagrimas escorriam por minha face. Meu cabelo estava bagunçado. Apesar de minha pele morena, eu estava pálido.

Cai lentamente, encostado na porta. O olhar perdido na janela. Parecia estar um dia lindo do lado de fora. O som de alguns pássaros cantando, parecia deixar o mundo mais bonito. Mas tudo o que eu conseguia imaginar era como ele era horrível. Como alguma pessoas fingiam se importar umas com as outras, e depois apenas iam embora, as deixando em meio a própria escuridão e solidão.

Esfreguei o pulso, a fim de proporcionar outra onda de dor, mas eu me sentia anestesiado. Talvez tivesse tomado calmantes demais. A escuridão se aproximou lentamente, como se fosse uma pessoa se agachando na minha frente. Tudo estava ficando embaçado, até que o sono mais profundo que eu podia ter, chegou.

Acordei alguns dias depois. A luz do teto do quarto do hospital estava forte demais. O que me fez fechar os olhos novamente. O barulho de alguém respirando, alto demais para mim, me fez ficar irritado, mas quando minha voz saiu, pedindo para a pessoa respirar mais baixo, ela não passava de um mero sussurro. Minha garganta estava tão áspera, que eu teria que tomar muita agua.

Eles deviam ter feito uma lavagem estomacal, para tirar todas aquelas merdas que eu havia tomado. E isso significava que eu estava muito ferrado, pois agora todos saberiam como eu estava me afundando e me mandariam para algum psicólogo, que iria dizer que isso não passava de stress de adolescente e que eu teria que ser forte e toda aquela baboseira, que as pessoas acham que irá ajudar, mas na verdade só te fazem se sentir um grande bosta, que esta atrapalhando a vida das pessoas a sua volta.

Abri os olhos e encarei a parede a minha frente. Nunca havia percebido como o azul marinho era tão deprimente. O desenho de Yin Yang em forma de gatinhos parecia se mover em câmera lenta, descendo e subindo em meio à parede.

Sorri para mim mesmo, não por estar feliz, mas por achar que era necessário. John Green disse que “A Dor precisa ser sentida”, mas se ele soubesse como é horrível, mas ao mesmo tempo prazeroso senti-la, talvez eles não escrevesse isso em seu livro.

Tombei para o lado, enquanto a chuva começava a cair do lado de fora. Ou talvez fosse apenas minha imaginação. Em meio aos trovoes, desejei que seu corpo estivesse colado ao meu, que o calor do seu corpo me aquecesse naquele momento. Que seu dedo brincasse sobre minha pele, e que sua voz sussurrasse que iria ficar tudo bem, mesmo ambos sabendo que talvez essa fosse uma das maiores mentiras contadas para alguém.

Dessa vez, a escuridão não se abaixou na minha frente. Ela apenas deitou ao meu lado, me lembrando de como era horrível ser sozinho.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como eu já havia dito, alguns caps serão em forma de lembranças escritas no meu diário. Outros serão de lembranças que me vem a memória, mas que compõem toda a história.
E então. Se você gostou, deixa um review ai, dizendo o que ta achando da fic até agora.
Se não gostou, comenta também.
Bota pra acompanhar, e favorita.
Isso me ajuda a não desistir de escrever.

Beijos
Chão ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Memórias de um garoto apaixonado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.