Last Kiss escrita por Benihime


Capítulo 7
O presente de Carly




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William esperou que sua filha se ocupasse com o restante de suas tarefas da limpeza de primavera antes de ir até a estufa, onde colheu um pequeno buquê das rosas amarelas favoritas de sua esposa. Quando tudo estava terminado, deixou Carrie na casa de uma amiga para uma festa do pijama.

 Já era final de tarde quando chegou ao cemitério. O sol se punha, banhando os túmulos com sua luz dourada e projetando sombras alongadas no chão. A lápide de Carly, de mármore branco, reluzia, parecendo quase vermelha na luz do poente. William se inclinou para ler as palavras já familiares:

 Carly Valtieri Tigers - nossa escritora favorita e melhor mãe do mundo. Nunca a esqueceremos.

 Abaixo dessas palavras, uma foto de sua esposa, enfeitada por uma moldura de ferro negro moldada na forma de uma rosa trepadeira.

 — Oi, amor. — William quase sussurrou, encarando mais uma vez aqueles belos olhos castanhos. — Eu vim, como você pediu. E te trouxe rosas. Espero que goste, sei que as amarelas são suas favoritas.

Ele sabia com certeza absoluta que Carly não estava ali sob aquela pedra, debaixo da terra. Seu corpo sim, mas a essência dela certamente não. Porém, ao sentar-se ali e falar em voz alta, quase sentia como se ela pudesse realmente ouvi-lo.

— Oi, Will.

A voz quebrou o silêncio, alta e clara, como se ela estivesse parada ali ao seu lado. William teve que olhar por cima do ombro, quase certo de que veria sua esposa de pé ali, sorrindo aquele sorriso cheio de malícia que ele tanto amava.

— Carly! — Ele exclamou, olhando em volta novamente na esperança de vê-la, nem que fosse apenas de relance. — É você? Mas como?

— O amor sempre encontra um jeito. — O tom de voz dela era risonho, com um toque de malícia, como uma garotinha travessa. — Assim como eu.

Ao olhar em volta mais uma vez, William reparou em um ramalhete de flores secas na grama, depositado com cuidado rente à base da lápide de sua esposa. Isso atraiu seu olhar e ele as afastou, notando uma pequeninha fissura no mármore.

— Vá em frente. — A voz de Carly o instou. — Procure e encontrará.

A fissura era grande o bastante apenas para seu dedo mindinho. Ao inseri-lo, conseguiu tirar de lá um pedaço de papel enrolado como um pergaminho. Mantendo-o fechado estava a aliança de Carly. Ele retirou a joia e a guardou com cuidado no bolso de seu casaco antes de desenrolar o papel e começar a ler:

Oi, meu amor.

Me desculpe por tudo isso, eu sei o que você pensa sobre as minhas caças ao tesouro, mas eu queria ter certeza de que faria você pensar em mim. Em nós. Não naqueles últimos meses horríveis no hospital, mas em tudo o que levou a eles. Nossa história foi algo raro e belo, Will, e eu queria te lembrar disso.

Não sei quanto tempo já se passou, mas sei que você ainda sente minha falta. Eu sentiria a sua, se a situação se invertesse. Mas espero que você tenha mantido a promessa. Espero que esteja cuidando de Carrie como ela merece. Lembre-se de que, não importa o que acontecer, vocês sempre terão um ao outro.

Sinto muito por isso, Will, mas agora preciso que você me faça outra promessa. Lembra quando você disse que o colar de sua mãe deveria ficar com a mulher com quem você passaria o resto de sua vida? Pois quero que encontre outra pessoa, outra mulher que mereça usá-lo. Encontre alguém que o faça sentir vivo de novo.

Como pode ver, deixei minha aliança junto a essa carta. Fique com ela, se quiser. Só não permita que o símbolo da nossa união se torne um grilhão. Não viva preso a mim, ao passado. Viva, simplesmente, o máximo que conseguir, pois a vida é curta demais para não ser aproveitada.

Quero que saiba que, mesmo que ainda esteja sofrendo pelo que perdemos (e não o culpo, eu com certeza também estaria), a dor vai passar. Talvez não agora, não daqui a um nem a cinco anos, mas um dia. Até lá, aprenda a abraçá-la. Espero que, um dia, ao se lembrar de mim, você consiga sorrir.

Esperança, Will. Era esse o presente que eu queria te dar, e espero ter conseguido. 

Para sempre,

Carly

William dobrou cuidadosamente a última carta da esposa e a colocou no bolso, em seguida sentou-se perto de sua lápide e ali ficou um longo tempo, enquanto o céu dourado do pôr do sol dava lugar ao azul-índigo do início da noite.

Pela primeira naquele ano depois que Carly se fora, sentiu como se o peso esmagador do luto com o qual já havia aprendido a conviver houvesse sido erguido. Respirando fundo o ar fresco da noite, permitiu-se relaxar. Pela primeira vez naquele longo ano, sentiu-se em paz.


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