A verdade sobre uma pequena mentira escrita por calivillas


Capítulo 26
A Carta escondida na manga




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Ao ouvir a chave rodar na fechadura da porta, estiquei meu corpo, em alerta. James entrou, olhou em volta, demorou um pouco para entender aquela cena, mas logo percebeu o que estava diferente, a ausência de Dario.

— Júlia, onde está o garoto Ferrer? – ele perguntou, perplexo.

— Mandei-o embora – falei, calmamente, ele arregalou os olhos, assustado.

— Você sabe o que fez? Você mandou embora a nossa única moeda de barganha. Condenou você e toda a nossa família à morte! – ele esbravejou, mas eu o fitei com tranquilidade.

— Não, eu não condenei. James, eu sei onde estão os livros de contabilidade de Tony Felix, aqueles que você e minha avó roubaram junto com o ouro dele.

— Sabe! E aonde eles estão?

— Bem guardados.

— Você não vai me dizer, Júlia?

— Não, se minha avó não contou para você onde eles estavam, eu também não contarei. Talvez, ela não confiasse tanto assim em você. Mas, nunca iremos saber, não é verdade, James, ou melhor, Carlos? — Ele desabou, lentamente, na cadeira, onde Dario estivera preso e eu continuei. — Sabe, Carlos, hoje o dia tem sido bastante interessante. Acho que é o mais movimentado de toda a minha vida, cheio de revelações terríveis e bastante elucidativas. Então, vamos continuar com isso. Talvez, seja a hora de você aliviar seu coração e sua alma.

— O que quer dizer com isso, Júlia? – Ele estava atordoado e, por um segundo, eu o vi como era realmente, um homem idoso que havia se escondido a vida inteira para não morrer, mas não podia esmorecer diante dele.

— Vamos conversar sobre a morte de Heloisa, ou seria, de Arlete. – Ele se espantou com o meu conhecimento. – Carlos, por favor, não me diga, que minha avó e você estavam envolvidos no assassinato daquela mulher, que estava grávida de um filho seu?

— Não – ele suspirou e murmurou, balançando a cabeça em negação, de olhos fechados, como para espantar essa ideia. – Nós não matamos Arlete – confessou, eu respirei fundo, aliviada.

— Então, quem foi?

— Tony! Ele matou Arlete. Sabia que ela o havia traído comigo, que o filho não era dele, por isso a matou.

— Mas, por que todos pensaram que era Heloisa? Ele foi condenado pela morte dela.

— Tony sabia que Heloisa estava viva e que tínhamos fugidos juntos, porque sempre a amei – Ele admitiu, com um sorriso triste. – No entanto, se confessasse que quem ele havia matado foi Arlete, só trocaria um crime pelo outro. Ou pior, ele seria réu confesso.

— Então, por que essa confusão de troca de identidade entre Heloisa e Arlete?

— Harom era o chefe de polícia na época, armou para Tony para que todos pensassem que ele havia matado a esposa, seria mais dramático, mais incriminador para a sociedade, afinal, naquele tempo, uma esposa valia mais que uma amante.

— Mas, e o sangue?

— Elas tinham o mesmo tipo sanguíneo, A positivo, que é muito comum.

— E as roupas e a aliança?

— Tudo armação, até queimaram o corpo para ficar irreconhecível, implantaram as roupas e a aliança. Como ele mesmo disse, Tony não seria tão burro para deixar essas provas para trás.

— E o fato de Arlete está grávida?

— Só Heloisa, eu, ela e Tony sabiam disso, mas ele não queria passar por corno na frente de todo mundo, por isso ficou calado. Era bem o jeito dele – James deu de ombros, parecia muito cansado com tudo aquilo, recostou na cadeira e prosseguiu: – Antes de tudo acontecer, eu e sua avó havíamos planejado a fuga por semanas. Tinha contado a ela que Tony pretendia nos matar. Naquele dia, quando soube por um dos homens, que Tony havia matado Arlete e iria esconder o corpo antes de voltar para casa, resolvemos que era o momento de fugir.

— Mas a empregada que viu você e Arlete saindo juntos?

— Ela não viu nada, apenas eu avisei que iria embora com Arlete e ela acreditou. Daí para frente, vivíamos escondidos, não por causa do Tony, mas pelos livros que sua avó pegou, seria a nossa garantia que Tony continuaria preso por muito tempo, pois, ele não podia mais chantagear ninguém. Desconfiamos que alguém havia se apossado dos negócios dele, só não imaginávamos que foram os Ferrer e os Hierro. Então, com medo que nos caçassem, por causa dos livros e do que sabíamos, ficamos escondidos todo esse tempo.

— Vocês se esconderam bem. Usando nomes falsos, nem minha mãe sabia da sua existência. O engraçado é que minha mãe nunca perdoou minha avó, por não dizer quem era o pai dela. E você morando logo aqui em cima. – Sorri pela ironia daquela situação.

— Foi melhor assim. Eu estava sempre por perto, mas nunca me aproximava delas. Nos últimos tempos, já estávamos velhos e cansados, Carla estava crescida e casada, começando a formar uma família. Achamos que podíamos ter um pouco de sossego juntos, por isso, compramos os apartamentos para morarmos perto um do outro. Mas, quando Aline apareceu tão linda e parecida com sua avó na juventude, naqueles cartazes espalhados por toda a cidade, imaginamos que seria só questão de tempo até sermos descoberto.

— Eles a mataram! – Reconheci com tristeza, James confirmou com um leve aceno com a cabeça.

— Sim, e ela me fez jurar que protegeria a família, apesar de nunca me contar onde tinha escondido aqueles livros. – Ele estava cansado e abatido, inclinei-me para frente e coloquei a mão sobre o seu ombro, para reconforta-lo.

— Vá para casa, James. Durma um pouco. Você parece que está exausto. Eu cuido de tudo por aqui. – Sem discutir, ele se levantou e caminhou vagarosamente até a porta.

Dei um tempo para ter certeza, que ele não voltaria e fiz um telefonema.

— Precisamos conversar. É um assunto de interesse de todos nós.

— Venha ao meu escritório – A voz do outro lado propôs.

— Não! Iremos nos encontrar em um terreno neutro, que eu escolherei.

— Então, dê as cartas, Júlia – Pressentiu o sorriso e o tom sarcástico na sua voz.

— Agora, você está entendendo como será o jogo – respondi com o mesmo tom.

Depois de tudo combinado, precisava fazer mais alguns contatos.

— Aline, ainda bem que consegui falar com você! – disse, aliviada, ao ver minha irmã na tela do computador.

— Isso aqui está uma loucura, desfile, festas, fotos. Você nem imagina, não tenho tempo para nada. Além disso, estou saindo com o fotografo mais gato do mundo, ele é francês, um pouco baixinho, mas outras partes da anatomia dele compensam muito. – revelou, com um sorriso malicioso. — E por que tanta urgência, Júlia?

— Desculpe-me intrometer nesse seu mundo das maravilhas, mas o negócio aqui está bem sério.

— Você está me assustando, Júlia – Aline ergueu as sobrancelhas, em interrogação, ao ver minha expressão.

— É para ficar muito assustada mesmo, Aline. Você recebeu o e-mail com o arquivo que mandei?

— Sim, e fiz exatamente o que você pediu.

— Ótimo! Vou fazer um pequeno resumo do que está acontecendo por aqui – Assim contei a ela, os principais fatos que ocorreram nos últimos dias. Aline estava com os olhos arregalados, quando terminei – É isso, Aline. Tem gente morrendo por aqui o tempo todo. Então, guarde muito bem esse seu arquivo, pois pode ser a nossa garantia de sobrevivência. Tem mais algumas cópias espalhadas com outras pessoas de confiança, mas ninguém deve saber quem tem as outras. E caso, alguma coisa de ruim acontecer comigo, nesses próximos dias, enviei tudo para a lista que eu lhe mandei.

— Isso está muito sinistro, Júlia – Ela estava preocupada.

— Eu sei, entretanto, se tiver sorte, essa história estará preste a ter um final feliz para a gente. Até mais, Aline.

— Por favor, tome cuidado, Júlia – ela pediu, antes de nos despedirmos.

No dia seguinte, a uma hora da tarde, eu estava em uma lanchonete de uma grande rede internacional de fast-food, completamente lotada na hora do almoço, então comprei um lanche para justificar minha presença ali, sentei-me, ocupando uma mesa do canto, e comecei a comer as minhas batatas fritas, calmamente, esperando pelo meu convidado. Alex chegou 5 minutos depois, sentou-se na minha frente, alto, belo e charmoso, chamando a atenção da maioria das mulheres do lugar, e era exatamente isso que eu queria.

— Lugar estranho para uma reunião de negócios, Júlia – ele observou, olhando em volta do lugar barulhento, tumultuado e cheirando gordura.

— Não, ele é perfeito, cheio de câmeras de segurança e pessoas nos observando, então se você tentar qualquer coisa contra mim, sua imagem estará em todos os telejornais da noite como manchete principal. E isso seria muito ruim para os seus negócios e suas pretensões políticas – justifiquei, dando um belo e cínico sorriso para ele.

— Mas, nada nos impediriam de matar você na próxima esquina, Júlia. Pode ser hoje ou daqui há 5 dias ou mesmo em um mês – ele falou, sem alterar o tom de voz, devolvendo-me o sorriso e cruzando as longas pernas, relaxado.

— Acho que não, pois se algo acontecer comigo, muita gente importante vai receber um arquivo de fotos muito interessante.

— Que arquivo?

— Bem, foi por isso que eu marquei esse encontro com você, Alex. Para que seja o meu porta-voz, pois eu quero uma reunião com a cúpula, você, seu pai, Claudio, Dario e, até mesmo, a doce tia Thereza – disse com ironia.

— Por que Dario, ele não faz parte da nossa organização?

— Pode até ser, mas ele está metido até o pescoço nessa história toda.

 Alex me espreitou com os olhos em fenda e deu um belo sorriso diabólico, erguendo um canto dos lábios, antes de falar:

— Sabe, Júlia, quando soubemos do seu livro, eu fui mandado àquela sua sessão de autógrafos para sondá-la, descobrir quem era você. Porém, quando encontrei com Dario por lá, minhas suspeitas se confirmaram e você se tornou muito mais interessante, já que sou muito competitivo. Meu erro foi querer brincar com você, quando vi que estava caidinha por mim. Deixei Dario correr por fora, porque se eu a levasse para cama, ele, com certeza, não teria a mínima chance – encerrou, naquele momento, quis dar um soco bem na cara dele e acabar com aquele sorriso presunçoso, contudo, respirei fundo e mantive a calma.

— Então podemos marcar nossa reunião – disse, mantendo a minha voz mais natural possível.

— Sim. Então, onde será essa tal reunião? Você está dando as cartas, Júlia.


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