A verdade sobre uma pequena mentira escrita por calivillas


Capítulo 25
Conclusões inesperadas




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— Só a sua palavra? – bufei, incrédula com o cinismo.

— Sendo assim, Júlia, eu vou retribuir um favor pelas informações que me deu – Agora, seu tom era sarcástico.

— Um favor? – Estava cheia de dúvidas.

— Sim, já que você me contou o que eu não sabia sobre o meu avô e a minha família vou lhe devolver o favor. Eu vou lhe contar algo, que não sabe sobre a sua avó. – Nesse instante, ele tinha toda a minha atenção.

— O que você sabe? – interpelei, muito interessada.

— Quem você acha que era sua avó nessa história?

— Arlete, é claro, porque Heloisa morreu. Tony foi preso por isso.

— Tem certeza? – Ele me deu aquele sorriso torto e cínico, eu não tinha, estava na minha cara. – É eu acho que não tem. Você pensa que o bebê que Arlete estava esperando é a sua mãe, não é? – Assenti com a cabeça. — Mas qual é a idade da sua mãe?

— Cerca de uns 51 anos.

— No entanto, essa história aconteceu no final do ano 62, ou seja, sendo assim essa criança seria mais velha. Então, pelas contas, o bebê de Arlete não poderia ser a sua mãe. – Ele me pegou nessa, estava atônita, toda a minha teoria tinha ido por terra, e Dario sabia disso, assim prosseguiu, com um ar vitorioso. – O que você não sabe é que eu li o relatório do legista na época, algo que foi omitido no julgamento, foi que o cadáver encontrado da mulher carbonizada e que afirmaram ser de Heloisa, estava grávida, sendo assim, provavelmente, era Arlete.

— Você está supondo que Arlete foi morta e fizeram acreditar que era Heloisa para culpar Tony? – Estava pasma, com aquela revelação.

— Sim, naquele tempo, não existia teste de DNA. Só haviam algumas provas físicas, que identificaram o corpo, como sendo de Heloisa.

— O que você está insinuando? – Tive medo do que ele iria dizer a seguir.

— Como disse é só uma suposição – Ele queria me acalmar, já que sua vida dependia, unicamente, de mim, agora —, que se sua avó era Heloisa. Ela e Carlos mataram Arlete e fizeram todos acreditarem que o corpo encontrado era o dela, Heloisa – Aquela suposição me deixou tonta. – Eles queriam incriminar Tony, para que fosse preso e os deixasse em paz. Meu avô também ajudou, afinal, o assassinato de uma esposa bonita, jovem e devotada pareceria pior do que da amante, para a sociedade da época. Como você pode ver, Júlia, ambas famílias têm esqueletos dentro do armário – ele terminou, muito seguro da sua teoria.

— Não posso acreditar nisso! – retruquei, sem muita convicção, pois eu podia acreditar em qualquer coisa daquela história.

— Não? Lembra-se de como o meu avô a chamou na festa? Heloisa. Por causa sua semelhança com sua avó.

— Sim, eu me lembro – respondi com um murmúrio.

— Então, aquele senhor distinto e superprotetor, a ponto de usar uma espada na bengala para defender a neta, que você confia tanto, pode ser um assassino frio e calculista, que junto com sua avó, matou uma mulher grávida do seu próprio filho, para encobrir sua fuga. Ele me mataria sem pestanejar, depois que sairmos daqui, para longe de você. Possivelmente, meu cadáver nunca será encontrado.

Dario parou de falar, ficamos em silêncio, contemplando um ao outro. Eu tentando processar todas aquelas informações, que rodavam na minha cabeça, quando ouvimos o barulho da fechadura da porta sendo aberta, imediatamente, pulei para frente e recoloquei a fita adesiva, outra vez, na boca de Dario, ele entendeu o recado. James entrou, taciturno, parou entre mim e o nosso refém e me encarou, percebi uma sombra soturna no seu olhar.

— Tony está morto – ele informou, percebi o tom de voz abatido de James ao dar aquela notícia.

— Como? – Não podia acreditar, pois, apesar de estar muito doente, era demasiado estranho, ele morrer no dia seguinte ao da nossa visita.

— Foi encontrado morto, naquele lugar onde morava, sentado naquela poltrona, pela mulher que levava comida para ele, todos os dias. Acham que foi pela doença. Ele tinha enfisema pulmonar avançado. Felizmente, será menos um problema para nós – James completou. Aquela frase me deu arrepios.  Depois, voltando-se para Dario, continuou: – E quanto a você, rapaz, o que faremos? Já amanheceu, há algum tempo, não podemos tirar você daqui em plena luz do dia. Teremos que esperar a noite para isso.

— Para onde você vai levá-lo? – perguntei, aflita, vendo o olhar de terror no rosto de Dario.

— Para um lugar seguro. Porém, até que anoiteça, ele fica aqui. E atenção, Júlia, amarrado e amordaçado, entendeu?

Balancei a cabeça afirmativamente.

— Tenho que resolver alguns assuntos sobre a hospedagem desse jovem, voltarei mais tarde – dito isso, James virou-se e partiu.

Esperei por alguns instantes para ter certeza, que James não voltaria e retirei, outra vez, a fita da boca de Dario com um puxão.

— Ele vai me matar! Está procurando um lugar para esconder meu corpo! – ele admitiu, desesperado.

— Não vai, não! Ele não vai matá-lo. – Queria tranquilizar a ele e a mim mesma.

— Júlia, tem um monte de gente morrendo nesses últimos tempos. Sua avó, meu avô e, agora, Tony. Eu serei o próximo, se você não me soltar.

— Mas se eu o soltar, como posso ter certeza, que você não vai me atacar.

— Não vai! No entanto, se eu ficar aqui, tenho certeza, que eu vou morrer e você será cúmplice do meu assassinato. – No fundo, eu sabia que ele estava certo, não podia deixá-lo ali.

Sem falar nada, sai e fui para a cozinha, voltei com a maior e mais afiada faca que eu encontrei por lá, aproximei-me de Dario.

— O que você vai fazer com isso, Júlia? – ele me indagou, assustado, sem responder, abaixei-me e comecei a cortar a fita que prendia o punho esquerdo dele.

— Agora, se solte! – ordenei, ficando a certa distância, com a faca em prontidão. Foi com certa dificuldade, que Dario terminou a tarefa. — Agora, vá embora! – ordenei, com rispidez.

— E você? O que acha que fará quando descobrir que você me deixou fugir?

— Não se preocupe! Eu me entendo com James. Agora, vai embora, antes que ele volte!

— Obrigado, Júlia! — Ele ia saindo pela porta.

— Dario! – gritei e ele olhou para mim, sem entender. – As chaves do seu carro! – Peguei-as em cima da mesa e atirei para ele, que as agarrou no ar, deu mais um sorriso agradecido para mim e saiu correndo pela porta.

Aproveitei o momento de solidão, tranquei a porta com tudo que podia, e abri novamente o compartimento secreto da estátua do anjo, onde estava guardado os livros de contabilidade de Tony, que incriminava, entre outros, os Ferrer e os Hierro. Comecei a analisa-los com cuidado, a maioria das pessoas ali, estavam mortas ou eram desconhecidos para mim, contudo, também, haviam alguns políticos ainda na ativa ou cujos descendentes ocupavam cargos públicos de destaque, aquilo poderia incomodar muita gente.

Todavia, o mundo mudou muito desde que aqueles livros foram escritos, sendo assim, eu tinha uma ideia bem melhor para guarda-los em segurança, então peguei meu celular e comecei a fotografar tudo aquilo, depois, passei todas as fotos para o meu computador, criando um arquivo. Em seguida, enviei-o por e-mail para algumas pessoas amigas, que podia confiar, junto com instruções bem definidas. Feito isso, fui ao escritório, peguei o manuscrito de minha avó de onde estava escondido e juntei aos livros de contabilidades, recolocando tudo dentro do compartimento secreto no anjo. Meu próximo passo teria que esperar até James retornar para minha casa, para isso abri todos os ferrolhos e correntes, deixando apenas trancada com a chave e sentei-me, calmamente, na poltrona. Uriel pulou no colo, amistosamente, à espera de afagos.


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