Pov Katniss.

Acordei sentindo os braços de Peeta ao redor da minha cintura, é incrível como isso pode me deixar segura e fazer eu acordar com um sorriso bobo nos lábios. Remexi na cama até estar de frente para ele e dei de cara com duas safiras lindas me encarando.

— Já está acordado? – Pergunto sorrindo para ele.

— Há algum tempo. – Ele respondeu, puxando meu corpo para mais perto do dele e eu vi que estávamos nus. — Não se lembra do que aconteceu ontem, não é?

— Muita coisa não, mas se estamos nus já adianta muita coisa. – Digo sorrindo.

— Você foi péssima ontem Katniss. – Ele disse fechando a cara e eu o olhei confusa. — Na despedida de Johanna, é claro.

— Ah meu Deus...! – Murmurei, enterrando minha cabeça em seu ombro e fechando os olhos com força. — Me perdoa por aquilo tudo, eu estava fora de mim, nunca mais na minha vida eu bebo whisky.

— Eu acho bom mesmo, por que da próxima vez, vai se arrepender muito. – Ele falou sério.

— Achei que tinha feito isso ontem. – Digo olhando em seus olhos. — Me lembro de ter ouvido você falar algo sobre “me castigar”.

— Acha que isso foi um castigo? – Ele perguntou apontando para nós dois.

— Se for, pode me castigar sempre. – Murmurei em seu ouvido e mordisquei seu lóbulo.

— Você é impossível. – Ele suspirou.

— Sim, talvez eu seja. – Digo sorrindo e beijando sua bochecha.

— Vamos nos levantar. Temos que nos arrumar para o casamento. – Ele fala se sentando na cama. — Gale deve estar enfartando.

— Nem me fale sobre Johanna. – Digo me sentando ao seu lado, e senti seus olhos sobre meu corpo. — Mas, tem certeza que não temos tempo para um banho... hm... a dois?

— Ah meu amor... – Ele puxou meu cabelo para trás e sorriu contra a pele do meu pescoço. — Para isso, sempre vamos ter um tempo.

*-*

Pov Peeta.

Gale andava de um lado para outro dentro da sala de espera da igreja.

— E se ela não vier? – Ele pergunta pela milésima vez.

— Aí não tem casamento, simples. – Haymitch fala, virando a garrafa de alguma bebida alcoólica na boca.

— Haymitch... – Repreendi, mas eu mesmo já estava perdendo a paciência com Gale.

— Eu quero morrer se isso acontecer. – Ele se senta na cadeira apoiando os braços nos joelhos e coloca as mãos sobre o rosto, e eu suspiro.

— Ela vai vir. – Digo, sentando-me na cadeira e pensando no quanto eu gostaria de estar com a minha morena agora. Mas ela deve estar muito ocupada com Johanna e todo o processo de antes do casamento. Bufo. — Para de se preocupar com isso Gale.

— Só para lembrar, vocês dois ficaram piores quando foi o casamento de vocês. – Ele fala, sorrindo nervoso.

— Talvez. – Eu e Haymitch falamos juntos.

— Se apronta logo e vamos pra igreja. – Haymitch fala sério e eu o encaro. — Alguém tem que ser duro com ele.

Saímos do aerodeslizador e eu me surpreendi com a quantidade de pessoas que estavam do lado de fora nos esperando. Flashes e mais flashes nos cegavam, e Gale e Haymitch me puxaram para uma foto, que eu fui de bom grado. O dia estava lindo e o sol brilhava intenso no céu, um ótimo dia para o casamento do seu melhor amigo. Pessoas e mais pessoas chegavam até nós para nos cumprimentar, algumas que eu não me lembro de conhecer, vinham até mim e me saudava. Lembranças do meu casamento com Katniss vieram em minha cabeça, e eu me permiti sorrir feliz, infelizmente as coisas não estavam tão bem como quando nos casamos, mas o simples fato de estarmos juntos já me faz bem.

Três horas depois...

Três horas já haviam se passado, desde a hora que chegamos na igreja, ou seja Johanna está...

— Duas horas e meia atrasada! – Gale fala andando de um lado para outro. Confesso que até eu já estava ficando entediado.

— Fica calmo, as noivas sempre se atrasam. – Haymitch fala tomando a bebida de uma garrafa. Como ele não fica bêbedo? Ou será que ele já não está?

— Duas horas e meia? – Gale volta a questionar.

— Sim. – Eu digo. — Até mais.

— Não sei, estou achando isso muito estranho. – Gale volta a andar de um lado para outro. — E se tiver acontecido algo?

— O que poderia ter acontecido? – Eu pergunto e na hora que essas palavras saem da minha boca, e tenho vontade de pegá-las de volta e nunca mais perguntar isso. Por que eu sei que se alguma coisa pode ficar ruim, ela vai ficar.

Então eu quase não me surpreendo quando vejo as portas da igreja se abrindo e Johanna, Annie e Effie entrarem desesperadas por ela. Tem algo errado, e eu sinto isso no fundo do meu coração enquanto procuro Katniss no meio delas. Mas ela não está. Uma pontada de medo aperto meu peito e eu vou de encontro à elas.

— Johanna...? – Chamo seu nome mas não termino de perguntar, ela me encara profundamente, os olhos castanhos cheios de lagrimas, sua maquiagem está quase intacta, se não fosse o rímel levemente borrado. — Katniss...

— A Katniss sumiu. – Sinto todo o chão sair debaixo dos meus pés quando ouço a voz rouca e tremula de Johanna pronunciar tais palavras. Minhas pernas falham e eu caio de joelhos no chão. “Ainda estamos fora de perigo?” Ouço a voz de Katniss perguntando isso para mim dentro da minha cabeça, e desta vez eu sei a resposta, e ela sempre foi “Não”.

*-*

— COMO ISSO FOI ACONTECER? – Gale grita deixando obvio o desespero em sua voz.

— Não sabemos, em um momento ela estava lá, e em outro, não estava mais. – Effie fala, voltando a chorar desesperada.

— Isso não existe, alguma coisa deve ter acontecido com ela. – Falo, não sinto as lagrimas saindo dos meus olhos, mas ainda assim, sei que elas estão.

— Ela me disse que estava um pouco tonta, e ia sair para tomar um ar. – Clara se pronuncia pela primeira vez. — Eu disse que era melhor mesmo, até perguntei se ela tinha tomado seus remédios hoje, e ela disse que não. Mas, ela parecia bem, apesar de estar um pouco pálida e então ela saiu... – Ela fecha os olhos, voltando a chorar copiosamente. — E não voltou mais.

— Eu reparei que ela estava demorando muito, e pedi para Effie ou Annie ir atrás dela, já que Clara estava preparando uma agua com açúcar para mim, elas saíram e voltaram chorando, dizendo que não tinha nem sinal dela lá fora.

— Uma pessoa não pode sumir assim. – Gale sentou na cadeira colocando as mãos na cabeça.

— Não, não pode. – Eu disse me levantando do chão, onde eu estava desde a hora que Gale e Haymitch me ajudaram a levantar do chão da igreja e me trouxeram pra cá. — Eu vou atrás dela.

— Não vai sozinho. – Disse Gale se levantando e tirando o blaiser que usava, ficando apenas com a camisa social. — Eu vou com você.

— Vocês estão se precipitando muito. – Haymitch falou. — Vamos esperar o exército chegar, e vamos deixar eles trabalharem.

— É a minha mulher. – Digo sério.

— E Katniss para mim é como uma irmã. – Gale se colocou ao meu lado.

— Deixem de querer bancar os heróis. – Haymitch se levantou da mesa. — Tem pessoas lá fora querendo matar você Peeta, e quem garante que não foram elas que pegaram a docinho? Vocês sozinhos lá fora, só vão piorar as coisas. Gale, você tem a sua mulher aqui, com seus dois filhos. E Peeta, você tem que manter a calma, Rye precisa de você e você nem sabe onde seu filho está.

— Onde...? – Perguntei secando os olhos.

— Aqui. – Annie veio até mim me entregando o menino, que não estava chorando alto, mas tinha seus olhinhos azuis cheios de lagrimas.

— Eu perdi sua mãe, filho... – Digo abraçando seu corpinho e ouvi o choro de Effie e Clara aumentar. — Perdi ela de novo.

*-*

Pov Katniss.

Tentei abrir os olhos com dificuldade, mas não consegui, minha cabeça doía e eu estava fortemente enjoada, não me lembrava de nada que tinha acontecido depois que eu saí de dentro da sala onde Johanna se arrumava para o casamento. Casamento... Ah Deus! Eu estou atrasada e se eu sou a madrinha, o casamento não pode acontecer sem mim. Abri os olhos abruptamente, mas não vi muita coisa na minha frente, meus braços doeram e eu pude ver que estava sentada em uma cadeira – dentro de um lugar escuro que parece muito com uma caverna, mas não posso assegurar nada – e que estava amarrada com os braços presos atrás do meu corpo e minhas pernas junto da cadeira. “Droga”. Foi a única coisa que veio na minha cabeça, seguida por uma pequena onda de desespero, quando eu me dei conta de que fui sequestrada. Ah não! Era só o que me faltava. Olho ao redor procurando identificar o lugar onde estou, mas não faço a mínima ideia. Ouço passos e logo alguém desfaz a porta da caverna, que aparentemente havia sido feita apenas para disfarçar a entrada. A pessoa entra, e somente quando ela para em minha frente a luz do sol que entra por uma rachadura na parede da caverna bate em seu rosto, e eu quase sorrio. De desespero talvez. Não pode ser sério isso.

— Olá, Katniss.

*-*

Pov Peeta.

— E então? – Pergunto entrando na sala da minha casa. Eu havia acabado de colocar Rye na cama. O exército já havia chegado e eu estava querendo saber o que está acontecendo.

— Bom, eles estão tomando o depoimento de cada pessoa que estava no local onde Johanna estava se arrumando, incluindo os funcionários. Depois que eles fizerem isso. Vamos começar as buscas. – Gale responde e eu afirmo com a cabeça.

— Você sabe que eu vou com vocês, certo? – Falo olhando para ele.

— Sei sim. Já avisei ao comandante. – Ele me encara. — Vamos encontra-la Peeta.

— Eu sei que vamos. – Olho para Haymitch. — Onde estão as meninas?

— Annie, Effie e Clara foram para casa trocarem de roupa. – Haymitch responde.

— Sinto muito se estiver lhe incomodando. Mas você sabe que Johanna não quer sair de perto de Rye e Hunter agora. – Gale me encara com lagrimas nos olhos.

— Não incomoda, fico feliz que ela esteja querendo cuidar de Rye. Eu não posso fazer isso agora. – Digo, meus olhos ardem por causa das lagrimas. — Não posso fazer isso sem ela. De novo não. – Falo me lembrando de quando sofremos aquele acidente. Todas as vezes que Rye acordava no meio da noite chamando pela mãe, e ao invés de acalmá-lo eu começava a chorar junto com o menino.

— Isso vai se resolver logo. – Haymitch e Gale colocam suas mãos sobre meus ombros.

— Eu sei que vai. – Tento ser otimista, mas a verdade é que aquela dorzinha horrível que sentimos quando perdemos algo ou alguém está aqui, bem dentro do meu coração.

As horas passam, eu encaro os raios de sol sumindo devagar no horizonte. Eu sempre gostei de observar o pôr do sol, isso sempre me trouxe uma incrível tranquilidade, a sensação de mais um dia ganho. Mas agora, tudo o que eu sinto é desespero, sabendo que a mulher da minha vida está por aí, sozinha, ou pior, acompanhada de alguém que quer sua morte. Eu preciso achá-la, e preciso fazer isso agora.

— Garoto? – Ouço a voz de Haymitch.

— Alguma notícia? – Pergunto e vejo Gale sair para fora de casa também.

— Uma funcionaria nos contou que viu Katniss conversar com uma pessoa antes dela sumir. – Gale fala.

— E ela disse como era essa pessoa, homem ou mulher? – Pergunto novamente me aproximando de Gale.

— Sim, ela nos deu as características dele. – Haymitch cerra os dentes.

— Dele? – Questiono.

— Sim, é um homem. – Gale olha nos meus olhos.

— Já sabem quem é? – Pergunto temendo a resposta.

— Sim, mas você não vai gostar muito de saber quem é. – Haymitch responde.

— Pelo amor de Deus... Me digam logo quem é. – Falo passando a mão pelos cabelos.

— Ramon.

Pov Katniss.

— Ramon? – Não é uma pergunta, apesar do leve tom de interrogação no final.

O homem moreno do sorriso encantador está na minha frente. Mas seu olhar inocente e bondoso foi embora, dando lugar a um olhar selvagem e predador. Como se fosse alguém muito diferente do rapaz bondoso que eu via sempre na padaria.

— Onde estamos? – Pergunto, é quase uma pergunta idiota, pois eu sei que ele não vai me responder.

— Em algum lugar, bem longe de tudo e de todos. – Ele responde, sua voz está mais grossa e sedutora.

— Olha, eu não sei o que deu em você, mas precisa me levar embora. – Falo mexendo minhas mãos desconfortável atrás da cadeira.

— Não vou te levar embora. – Ele balança a cabeça em negação.

— Eu não estou pedindo. – Sinto raiva, e isso se intensifica. Que babaca!

— Não está em condições de exigir nada. – Ele murmura se aproximando.

— Mantenha-se longe de mim. – Falo com nojo na voz.

— Eu tenho um único proposito aqui Katniss. – Ele murmura chegando sua boca próxima da minha. — Eu sempre te achei tão incrível. – Ele cheira meu pescoço. — Tão linda e sexy. Esse seu jeito mandão. – Ele sorri. — Você precisa de um homem de verdade. Um homem que te mostre quem está no comando. – Ele volta a se afastar. — Peeta não é esse homem.

— E você acha que você é? – Pergunto olhando em seus olhos, e até tento um sorriso sarcástico, apesar de entender bem que aqui, ele me tem nas mãos para fazer o que quiser comigo, e isso me deixa bem apavorada.

— Vou te provar que sou. – Ele puxa o cabelo da minha nuca e aproxima sua boca da minha de novo.

— Não encosta em mim. – Quase cuspo as palavras em seu rosto e ele sorri.

— Não tem como fugir Kat, você vai ser minha. – Ele se afasta. — Por bem, ou por mal.

Dito essas palavras ele sai por onde entrou, tampando a entrada com alguns arbustos. Com certeza estamos na floresta, mas, em qual parte dela? Será que já sentiram minha falta? Será que Peeta está atrás de mim? Será que ele está com Rye? Ah, meu Deus! Eu vou ficar doida. E agora, o que o Ramon quer comigo? “Não seja tola Katniss, você sabe o que ele quer”. Minha consciência me fala. Eu não posso acreditar nisso, ele parecia ser tão bom, e bom amigo para Peeta. Como ele mudou assim? Ou será que ele sempre foi assim, e aquele era o falso “eu” dele? Não sei, de qualquer forma, eu espero – mesmo que isso seja bem difícil –, que Peeta consiga me achar, antes que esse maluco faça algo comigo.