Pov Katniss.

Uma semana depois...

Uma semana. Uma semana se passou desde que tudo na minha vida virou de cabeça para baixo. A morte da minha patinha ainda está bem presente e dói muito. Muito mais do que eu posso suportar, passo a maior parte do tempo chorando, não consigo dormir direito e nem comer. Minha mãe vem todos os dias e fica horas e horas aqui, tentando me animar, ninguém vem me ver a não ser ela.

— Seu remédio. – Ela diz entrando no quarto com um copo de agua na mão.

Bebo sem reclamar, na verdade esses dias eu estou deixando ela ditar a minha rotina e meus afazeres.

— Katniss! – Chama a doutora entrando no quarto. — Tenho novidades.

— Não gosto de novidades. – Digo.

— Você já pode sair do Hospital! – Ela diz. — Porém, terá que ir para uma ala mais reservada onde poderemos observar de perto o seu progresso.

Minutos depois sou transportada de carro até uma torre enorme.

— Aqui é onde os Tributos ficavam antes de ir para a arena. – Minha mãe explica. — Você vai ficar no seu antigo andar, o 12. – Entramos no elevador e minha mãe aperta o número 12, rapidamente chegamos ao último andar. Mais fácil impossível.

— Ótimo. – Digo.

— Katniss, tem mais uma coisa. – Minha mãe diz. — Estão suspeitando que seu acidente não foi tão acidental assim.

— Isso quer dizer que... que alguém tentou nos matar? – Pergunto.

— É o que eles estão suspeitando, por isso. Colocaram câmeras aqui dentro, você será monitorada 24 horas por dia. E... – Ela pondera.

— E...?

— Toda a mansão presidencial terá o direito de assistir isso. – Ela diz por fim.

— Por que isso?

— Para sua segurança, se você for atacada aqui, quanto mais pessoas souberem, melhor! E Paylor quer estar por dentro.

— Não acho que isso seja mesmo necessário. – Entro nos meus aposentos.

— Plutarch Heavensbee acha. – Ela sussurra.

— Então é isso. – Balanço a cabeça com deboche. — Numa hora dessas estou dentro de uma arena de novo.

Minha vida já não foi exposta o suficiente? Não que eu tenha memorias disso, mas pelo que minha mãe disse, só faltava eles me filmarem no banheiro.

— Espero que não tenha câmeras no banheiro. – Suspiro por fim.

Pov Peeta.

— Tente ver pelo lado bom. – Diz Johanna.

— Qual é o lado bom de ter uma mulher que não se lembra de você? – Pergunto ironicamente.

— Como você é idiota. – Haymitch joga uma almofada em Johanna.

— Se ela não se lembra de você, não se lembra das coisas idiotas que você já fez, como beijar a Delly. Você pode fazer as coisas certas dessa vez. – Diz Johanna novamente.

— Eu estou preocupado. – Diz Gale. — Se ela não se lembra de você, como vai se lembrar que está apaixonada por você?

— Eu já fiquei surpresa por ela ter se apaixonado antes. – Diz Haymitch.

— E depois disso, as coisas só ficaram piores. – Diz Johanna.

Ri da situação.

— Vocês me dão a maior força mesmo. – Digo sorrindo brevemente.

Annie se abaixa ficando na minha frente e segurando minha mão.

— Ela vai se lembrar de você! – E aí ela sorri, aquele sorriso calmo e esperançoso.

Aceno positivamente.

— Somos a família dela. – Johanna finaliza.

— É, tem razão. – Digo.

Depois de um tempo pego Rye e desço com ele para a sala, me encontrando com os outros que tem seus olhares fixos na televisão.

— O que foi? – Pergunto, sentando e colocando Rye no meu colo.

— Levaram Katniss para o Centro de Treinamento. – Diz Johanna. — Ela vai ficar lá em observação.

Só quando Johanna diz isso é que a ficha cai que eu não fui visita-la nenhum dia. Não que a coisa toda fosse fácil de aceitar, só estou dando um tempo para que eu me acostume com a ideia, essa sensação de perda que eu criei desde que soube que ela não se lembra de mim, pode colocá-la em risco caso eu decida vê-la e tenha um flashback.

— Como sabem disso? – Pergunto.

— Teremos direito de ficar observando cada passo que nossa garota em chamas dá. – Diz Haymitch.

Pov Katniss.

— Podemos fazer nosso próprio almoço se você quiser. – Diz minha mãe, sentando-se no sofá ao meu lado.

— Eu acho melhor mesmo. – Digo sem vontade.

Nos levantamos e começamos a fazer o almoço, eu não sabia fazer muita coisa, apenas picava algum legume ou algo do tipo.

— Sra. Mellark? – Alguém chama. Tenho um sobressalto e encaro minha mãe.

— Acho que é para você. – Ela dá de ombros. Bufo e vou em direção a porta, assim que a abro alguém choca seu corpo contra o meu em um abraço apertado. Minha primeira reação é me afastar. Encaro a mulher de cabelos pretos e olhos castanhos a minha frente, trajada em um vestido branco e preto.

— Quem é você? – Digo encarando seus olhos que se enchem de lágrimas imediatamente, em segundos ela engata um choro forte e cheio de soluços. Por instinto dou um passo para trás.

— Katniss? – Minha mãe chama aparecendo na sala com um pano de prato nas mãos. — Vênia?

— Então é mesmo verdade? – A mulher diz entre soluços.

— Sim, Katniss perdeu a memória. – Minha mãe diz e logo a mulher começa uma nova série de soluços.

Ainda meio sem entender nada, acompanho com o olhar minha mãe pegá-la pela mão e ajudá-la a se sentar no sofá. Minha mãe busca um copo d’agua para ela, que devagar começa a se acalmar.

— Vocês não merecem isso... – Ela dá uma pausa no choro. — Pobre Peeta, como ele está com tudo isso?

— Não sei, ele nunca veio me ver. – Digo, e tem um pouco de ressentimento em minha voz sim. Afinal, ele não é meu marido? O que diabos está fazendo que não está aqui?

— Oh querida, ele com certeza deve estar cuidando do...

— Do Haymitch! – Minha mãe diz com pressa. — Aquele bêbedo dá muito trabalho para o Peeta.

— Não, eu não estou falando do Haymitch! – Diz a mulher. — Estou falando do Rye, seu...

Minha mãe prontamente coloca a mão sobre sua boca, impedindo a mulher de continuar a falar, assusto-me com isso.

— Mãe? O que significa isso? Deixe ela falar! – Digo tirando sua mão da boca da mulher. — De quem você está falando? De quem o Peeta precisa cuidar?

— Rye! – Ela sorri por um momento. — Seu filho.

E mais uma vez vejo o mundo cair aos meus pés, um filho? Eu tenho um filho? Como? Quando isso aconteceu? Meu Deus! O que eu fiz comigo mesma? Revoguei todas as minhas regras, me casei, tenho um filho. Um filho! Eu nunca quis ter filhos, me casar talvez, mas ter um filho nunca. Em que momento da vida eu voltei atrás? O que me fez voltar atrás? Agora tudo faz sentido, ando reparando meu corpo a dias, além das cicatrizes, vi que meus seios estavam bem maiores e diferentes. Saio de meu sobressalto com minha mãe pegando em meus ombros e me sacudindo.

— Katniss, não pode surtar de novo. Não pode!

— Não vou. – Digo, sentando-me no sofá. — Não vou.

— Desculpa, eu não sabia que... que vocês ainda não tinham contado para ela. – Diz a morena.

— Está tudo bem. – Minha mãe se vira para mim. — Íamos te contar. Só estávamos esperando uma hora, uma hora certa. Você ainda está de luto, por causa de Prim. Achei que não seria uma hora certa, e pelo seu estado, eu estava certa.

— Eu só, estou meio... confusa. – Digo fechando os olhos com força. Minha cabeça voltou a doer. Bem pior do que antes.

— Espero que não fique com raiva, fizemos isso para o seu bem. – Diz minha mãe.

— Eu peço para que a partir de agora, vocês não me escondam mais nada.