O Sabor da vida escrita por sakuraxjapan


Capítulo 2
Coincidências


Notas iniciais do capítulo

- Alex! Como ousa chegar em não me ligar hein? - Falou enquanto ia na direção dele.
— Eu ia fazer isso mais tarde! – Justificou já fechando a porta da entrada. – No momento estou de saída. Podemos deixar essa conversa para mais tarde? - Ela ignorou a pergunta dele, e seus olhos vieram em direção a mim.
— Quem é ela? - Questionou.
— Apenas uma funcionária. Gisele, estou sem tempo agora. Depois conversamos. – Insistiu já saindo.
—Hoje é segunda. O restaurante não abre! – Ela gritou aparentemente irritada e eu era um dos motivos dessa irritação. Engoli em seco. Ele a ignorou completamente e foi até o seu carro e saiu. - Alex é um idiota. – Resmungou ao vê-lo partir. Segundos depois sua atenção voltou para mim, antes que ela começasse a dizer qualquer coisa, comecei a falar.
— Sou novata e não me lembrei que hoje o restaurante não ia abrir. Desculpa qualquer incomodo. – Me expliquei. Ela riu em forma de debochada, virou a cara e saiu. “Que situação. ” Pensei. Fui até a parada do ônibus. Hoje definitivamente não havia sido uma manhã muito fácil. Será que é a namorada dele ou alguma coisa do tipo? Ele não parecia muito feliz em vê-la. Vai entender esses relacionamentos de hoje.
Antes de descobrir minha doença a 4 anos atrás, eu namorava. Mas ele logo não aguentou a barra de namorar uma doente, e as inúmeras idas ao hospital, efeitos colaterais da quimioterapia. Não o julgo por ter me deixado, sei que é difícil entrar em um relacionamento desses, onde só quem perde é ele. Na verdade, se ele não tivesse me deixado, eu o faria. Não quero ser um peso para ninguém. Hoje se me perguntarem o que mais me deixa triste com essa doença, vou responder que é o fato dela me tirar o direito de amar e ser amada. Sempre sonhei em encontrar um homem que me amasse de verdade, teve até um momento que eu acreditei que esse meu ex fosse esse tal homem. Mas essa ilusão acabou quando ele apareceu com uma outra mulher um mês depois dele terminar comigo. Não que eu quisesse que ele fosse solteiro pelo resto da vida. Mas as vezes penso que ele nunca me amou de verdade.
Como hoje é meu dia livre. Resolvi ir visitar o orfanato na qual eu sou voluntaria. Depois que perdi meus pais e fui morar com a minha tia e minha prima, me sentir muito solitária. Sabia que não era bem-vinda. E acabei crescendo com essa falta de amor familiar. Antes dos meus pais morrerem eu era a criança mais feliz do mundo. Mas acabei indo do céu para o inferno e pouco tempo. E por tudo isso sei essa importância de uma criança se sentir amada e protegida. Eu leio para crianças, brinco. Me sinto bem fazendo isso. Me sinto acolhida por elas da mesma maneira que elas se sentem acolhidas por mim.
— Carol, que surpresa! Você não tinha dito que viria hoje. – Aline me recebe animada, me dando um longo abraço.
— Hoje tenho um dia de folga, então resolvi ler um pouquinho para as crianças.
— Mas já? Você começou ontem esse emprego. – Observou rindo.
— Pois é! Acabou sendo assim.
— Vem comigo! Hoje o neto da diretora veio também ler para as crianças. Você pode fazer companhia a eles. – Disse ao meu guiar até o salão onde todos se encontravam.
— Neto? Nem sabia que ela tinha um neto.
— Eu também não. Fiquei sabendo hoje. E posso te adiantar que ele é lindo. – Comentou em meio a risos.
— Imagino!
— Bom dia criançada. Advinha quem veio de surpresa hoje? - Comentou Aline, ao adentrar no salão. Todas as atenções das pessoas vieram em nossa direção, inclusive a de um homem que segurava um livro. O que me deixou em choque foi que eu o conhecia. Era coincidência demais. Percebi o espanto em seu rosto também ao me vê. Era Alex! Desse jeito ele iria pensar que eu estava o seguindo.
— Vamos Carol! Se aproxime, irei lhe apresentar a ele. – Aline já me puxava pela mão. – Alex! Essa é Carol, uma das nossas mais fieis voluntarias. – Ela disse ao nos aproximarmos dele. Engoli em seco. Ele se levantou e estendeu a mão.
— Prazer!
— Prazer é todo meu! – Respondi timidamente.
— Deixo a Carol a seus cuidados. – Aline comentou enquanto me empurrava para mais perto dele. E antes de sair ela sussurrou no meu ouvido “Boa sorte!” me deixando totalmente envergonhada.
— Estamos nos encontrando muito ultimamente. - Ele observou. Eu apenas sorri sem graça. – Você é voluntaria aqui a muito tempo?
— Uns 2 anos eu acho.
— Ah! Bom saber, se não eu iria pensar que está me perseguindo. – Comentou, me deixando sem graça.
— Desculpa, foi só uma piada. Não falei sério. - Ele logo observou, ao perceber minha expressão.
— Não, tudo bem! – Respondi desviando o olhar do dele.
— Estava lendo Aladim. – Ele me mostrou o livro tentando quebrar o clima tenso.
— É a história preferida deles. – Indaguei ainda nervosa ao pegar o livro de suas mãos.
— Vocês vão ficar conversando aí ou vão ler para gente? - Uma das crianças se aproximou, cruzou os braços e ficou nos encarando. Alex riu da situação.
— Jorge! Não é assim que se fala. – O repreendi.
— Desculpa, tia Carol. – Ele se aproximou e me abraçou.
— Tudo bem meu amor! Vamos! – Sentei em um puff, Alex fez o mesmo e lemos Aladim. Uma horas depois Aline aparece me procurando.
— Carol, preciso da sua ajuda. – Disse ao se aproximar de mim. - A cozinheira não está se sentindo bem. Será que você pode fazer o almoço de hoje? Acabei de libera-la para ir ao médico. - Ela sabe meu amor pela arte da culinária. Minha resposta era meio que óbvia.
— Claro! Não precisava nem pedir.
— Obrigada! Sabe Alex, a Carol é uma cozinheira de mão cheia. – Aline se aproximou dele e já ia continuar a falar, mas eu a interrompi rapidamente.

— Aline! Não exagera né? - Disparei envergonhada. Ela definitivamente não sabia quem o Alex é. Ela não sabe que está falando que eu sou uma ótima cozinheira para um dos mais renomados chefes de cozinha do mundo. Que vergonha!
— Para Carol! Não precisa ficar tímida. – Insistiu., achando que eu estava sendo modesta.
— Aline!!! – Chamei a atenção dela de novo.
— Tudo bem, tudo bem, entendi a deixa. Mas que fique claro que eu não menti em nenhuma palavra. – Ela saiu antes que eu brigasse com ela.
— Então você cozinha? - Ele perguntou curioso assim que ficamos sozinhos.
— Um pouco.
— Segundo ela, você cozinha perfeitamente bem. – Ele observou.
— Ela exagera as vezes.
— Quer que eu te ajude no almoço?
— Não precisa se incomodar.
— Mas não é um incomoda. Amo cozinhar. – Ele disse já indo em direção a cozinha.
— Eu sei disso. – Sussurrei para que só eu pudesse ouvi.
Fomos junto a cozinha. Essa com certeza é uma situação que jamais pensei vivenciar. Nesse momento iria cozinhar ao lado do meu ídolo e motivo de querer ser uma grande chefe. Talvez eu nem consiga ser aluna dele, mas esse momento de agora já vai fazer valer a pena todo meu sacrifício de ter abandonar o meu tratamento.
— Estava pensando em fazer uma macarronada. Eles adoram. – Sugerir.
— Acredita que é meu prato preferido também? - Comentou enquanto mexia nos armários atrás de panelas e mantimentos.
— O meu também. – Comentei. – Foi a primeiro prato que aprendi a fazer. Minha mãe que me ensinou. Fazíamos sempre para meu pai, ele amava. - Suspirei com a lembrança deles. Minha mãe tinha me ensinado a cozinhar antes de morrer.
— Então está decidido! Será macarronada.
Peguei tudo que precisaria para fazer a macarronada. Mas o nervosismo de cozinhar ao lado do Alex me deixava sem ação. Afinal eu estava ao lado de um dos maiores chefes de cozinha. Como posso apenas cozinhar? Ou agir naturalmente¿ É surreal.
— Algum problema? - Ela perguntou ao notar minha expressão.
— Não... é que... – Respirei fundo e continuei a falar. Tentei ser sincera. – É que estou nervosa. O senhor é Alex Benvenuto. Como posso apenas cozinhar como se não fosse nada? - Ele riu do meu nervosismo.
— Aqui sou apenas Alex, um dos voluntários do orfanato. Não precisa se sentir constrangida ou mal por isso. Não estamos no meu restaurante e nem estou aqui como seu patrão.
— Mas...
— Mas nada. Não se preocupe atoa. As crianças já estão com fome. – Ele argumentou. Concordei com a cabeça.
Percebi que Alex observava cada gesto meu enquanto cozinhava. E isso me deixava com mais medo de cometer um erro na frente dele. Fui cuidadosa em cada aspecto. Esse era o momento de impressiona-lo. Montamos a mesa e servimos as crianças.
— Alex! Como foi cozinhar ao lado dessa grande chefe de cozinha? - Perguntou Aline inconvenientemente ao se aproximar, me deixando novamente constrangida.
— Me sentir lisonjeado. – Respondeu educado.
— Aline, por favor amiga. Cala a boca. – Supliquei. Ela riu, mas se calou.
— As crianças já estão todas servidas. – Ele falou quando voltava para cozinha.
— Podemos comer agora então. – Sugeriu Aline animada.
— Como assim comermos agora? - Perguntei confusa. Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe. Ele também iria comer da minha comida.
— E que horas você quer que a gente coma? Estou com fome. Você não está Alex? – perguntou Aline ao olhar para ele.
— Morrendo! – Ele respondeu trazendo mais três pratos.
— Mas se você quiser almoçar em outro lugar, tudo bem. Não ficaremos chateadas né Aline? – Falei numa tentativa de fazê-lo desistir de comer aqui.
— Mas porque ele comeria em outro lugar, se já está aqui? - Aline perguntou confusa.
— Nada amiga! Esquece. – Respondi, revirando os olhos impaciente. Eu precisava conversar com ela sobre quem Alex é, mas não na frente dele.
— Bom garotas, vocês sentem-se, que irei servi-las.
— Não precisa. – Falei rapidamente. Não poderia deixa-lo me servir.
— Carol, para de ser mal-educada. Ele está sendo tão gentil. – Aline me forçou a sentar na mesa. Como posso simplesmente deixar meu patrão me servir? Mas não tive alternativa, a não ser concordar. Quando ele se sentou na mesa após no servir, meu coração acelerou. Ele iria comer da minha comida, e a ficha ainda não tinha caído.
— Alex, se prepare, pois vai ser a melhor macarr...
— Aline! - Gritei a interrompendo. Já sabia o que ela iria falar. Ela sorriu em resposta e se calou. Então ele deu a primeira garfada, depois a segunda e a terceira. Eu involuntariamente estava contando quantas garfadas ele estava dando. Quando finalmente ele suspirou e me encarou.
— Essa macarronada está incrível. – Elogiou, me pegando de surpresa. Escutar um elogio desses vindo de quem é, é mais do que eu esperava. É claro que ele pode está só sendo educado. Mas sonhar não custa nada né¿
— Obri... Obri... – Respirei fundo para conseguir terminar a palavra. – Obrigada! – Ele sorriu em resposta. Aline me encarava com uma expressão confusa. Acho que ela notou meu nervosismo aparentemente inexplicável. Ela nem sonhava que Alex é o chefe de cozinha que eu sempre fui fã. Para ela era apenas mais um voluntario que comia da minha comida.
— Agora eu preciso realmente ir. – Alex se levantou da mesa após comer. Aline levantou-se logo em seguida para se despedir dele, eu continuei sentada.. Aline abriu um sorriso na mesma hora.
— Não precisa. Vou ficar mais um pouquinho. – Respondi ao me levantar, recusando assim a carona. Aline me encarou meio que irritada e então olhou para o Alex.
— Ela quer sim. Só que é tímida. – Comentou e então me encarou. - Carol, pare de besteira e vá com o Alex. Ele é um moço tão gentil e educado. Não seja rude. – Me repreendeu. Aline é assistente social desse orfanato e logo que comecei a ser voluntaria, fizemos amizade. E desde que a conheço, ela sempre foi assim impulsiva.
— Aline! Amiga, nós ainda temos muito o que conver... – Ela me interrompeu.
— Desculpa, mas estou ocupada agora. Beijos amigas. – Disse já saindo e nos deixando sozinhos. Me deixando em uma situação constrangedora, na qual eu teria que aceitar a carona.
— Você não precisa se incomodar em me levar.
— Não é incomodo. Vamos?
Respirei fundo e aceitei a carona. Não tinha para onde correr. Assim que nos aproximamos do carro, ele abriu a porta para que eu entrasse. Além de tudo, ele era cavalheiro. Sorri sem graça e entrei. O carro dele é um importado luxuoso. Jamais havia andado em algo ao menos parecido.
— Então, o que te fez ir trabalhar no sabor da vida? - Perguntou quebrando o silencio ensurdecedor que se mantinha desde que saímos do orfanato. Eu não poderia simplesmente dizer o real motivo que me fez ir trabalhar lá, então menti.
— A necessidade. Precisava trabalhar, e o restaurante estava oferecendo uma vaga.
— Entendo! Espero que goste do trabalho.
— Sobre ontem... – Eu já ia falar sobre o que havia acontecido no dia anterior. Mas ele me interrompeu.
— Não vamos falar sobre isso. Já resolvemos não?
— Mas me sinto mal pelo vinho que quebrei. Deve ser caro.
— Tudo bem! Como você mesmo disse. Você precisa trabalhar, então não vou força-la a pagar algo que está acima das suas condições.
— Prometo que vou dá um jeito de recompensa-lo.
— Não se preocupe com isso. Basta fazer outra macarronada dessas para mim, e estaremos quites. – Sugeriu. Acabei rindo de nervoso. Não conseguia decifrar se ele falava sério, ou apenas estava sendo gentil. Mas independente disso, devo confessa que a cada minuto eu me convenço de quão maravilho ele é.



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— Alex! Como ousa chegar em não me ligar hein? - Falou enquanto ia na direção dele.

— Eu ia fazer isso mais tarde! – Justificou já fechando a porta da entrada. – No momento estou de saída. Podemos deixar essa conversa para mais tarde? - Ela ignorou a pergunta dele, e seus olhos vieram em direção a mim.

— Quem é ela? - Questionou.

— Apenas uma funcionária. Gisele, estou sem tempo agora. Depois conversamos. – Insistiu já saindo.

—Hoje é segunda. O restaurante não abre! – Ela gritou aparentemente irritada e eu era um dos motivos dessa irritação. Engoli em seco. Ele a ignorou completamente e foi até o seu carro e saiu. - Alex é um idiota. – Resmungou ao vê-lo partir.  Segundos depois sua atenção voltou para mim, antes que ela começasse a dizer qualquer coisa, comecei a falar. 

— Sou novata e não me lembrei que hoje o restaurante não ia abrir. Desculpa qualquer incomodo. – Me expliquei. Ela riu em forma de debochada, virou a cara e saiu. “Que situação. ” Pensei. Fui até a parada do ônibus. Hoje definitivamente não havia sido uma manhã muito fácil. Será que é a namorada dele ou alguma coisa do tipo? Ele não parecia muito feliz em vê-la. Vai entender esses relacionamentos de hoje.

Antes de descobrir minha doença a 4 anos atrás, eu namorava. Mas ele logo não aguentou a barra de namorar uma doente, e as inúmeras idas ao hospital, efeitos colaterais da quimioterapia. Não o julgo por ter me deixado, sei que é difícil entrar em um relacionamento desses, onde só quem perde é ele. Na verdade, se ele não tivesse me deixado, eu o faria. Não quero ser um peso para ninguém.  Hoje se me perguntarem o que mais me deixa triste com essa doença, vou responder que é o fato dela me tirar o direito de amar e ser amada. Sempre sonhei em encontrar um homem que me amasse de verdade, teve até um momento que eu acreditei que esse meu ex fosse esse tal homem. Mas essa ilusão acabou quando ele apareceu com uma outra mulher um mês depois dele terminar comigo. Não que eu quisesse que ele fosse solteiro pelo resto da vida. Mas as vezes penso que ele nunca me amou de verdade.

 Como hoje é meu dia livre. Resolvi ir visitar o orfanato na qual eu sou voluntaria. Depois que perdi meus pais e fui morar com a minha tia e minha prima, me sentir muito solitária. Sabia que não era bem-vinda. E acabei crescendo com essa falta de amor familiar. Antes dos meus pais morrerem eu era a criança mais feliz do mundo. Mas acabei indo do céu para o inferno e pouco tempo. E por tudo isso sei essa importância de uma criança se sentir amada e protegida. Eu leio para crianças, brinco. Me sinto bem fazendo isso. Me sinto acolhida por elas da mesma maneira que elas se sentem acolhidas por mim.

— Carol, que surpresa! Você não tinha dito que viria hoje. – Aline me recebe animada, me dando um longo abraço.

— Hoje tenho um dia de folga, então resolvi ler um pouquinho para as crianças.

— Mas já? Você começou ontem esse emprego. – Observou rindo.

— Pois é! Acabou sendo assim.

— Vem comigo! Hoje o neto da diretora veio também ler para as crianças. Você pode fazer companhia a eles.   – Disse ao meu guiar até o salão onde todos se encontravam.

— Neto? Nem sabia que ela tinha um neto.

— Eu também não. Fiquei sabendo hoje. E posso te adiantar que ele é lindo. – Comentou em meio a risos.

— Imagino!

— Bom dia criançada. Advinha quem veio de surpresa hoje? - Comentou Aline, ao adentrar no salão. Todas as atenções das pessoas vieram em nossa direção, inclusive a de um homem que segurava um livro.  O que me deixou em choque foi que eu o conhecia. Era coincidência demais. Percebi o espanto em seu rosto também ao me vê. Era Alex! Desse jeito ele iria pensar que eu estava o seguindo.

— Vamos Carol! Se aproxime, irei lhe apresentar a ele. – Aline já me puxava pela mão. – Alex! Essa é Carol, uma das nossas mais fieis voluntarias. – Ela disse ao nos aproximarmos dele.  Engoli em seco. Ele se levantou e estendeu a mão.

— Prazer!

— Prazer é todo meu! – Respondi timidamente.    

— Deixo a Carol a seus cuidados. – Aline comentou enquanto me empurrava para mais perto dele. E antes de sair ela sussurrou no meu ouvido “Boa sorte!” me deixando totalmente envergonhada.  

— Estamos nos encontrando muito ultimamente. - Ele observou. Eu apenas sorri sem graça. – Você é voluntaria aqui a muito tempo?

— Uns 2 anos eu acho.

— Ah! Bom saber, se não eu iria pensar que está me perseguindo. – Comentou, me deixando sem graça.

— Desculpa, foi só uma piada. Não falei sério. - Ele logo observou, ao perceber minha expressão.

 - Não, tudo bem! – Respondi desviando o olhar do dele.

— Estava lendo Aladim. – Ele me mostrou o livro tentando quebrar o clima tenso.  

— É a história preferida deles. – Indaguei ainda nervosa ao pegar o livro de suas mãos. 

— Vocês vão ficar conversando aí ou vão ler para gente? - Uma das crianças se aproximou, cruzou os braços e ficou nos encarando. Alex riu da situação.

— Jorge! Não é assim que se fala. – O repreendi.

— Desculpa, tia Carol. – Ele se aproximou e me abraçou.

— Tudo bem meu amor! Vamos! – Sentei em um puff, Alex fez o mesmo e lemos Aladim. Uma horas depois Aline aparece me procurando.  

— Carol, preciso da sua ajuda. – Disse ao se aproximar de mim. - A cozinheira não está se sentindo bem. Será que você pode fazer o almoço de hoje? Acabei de libera-la para ir ao médico. - Ela sabe meu amor pela arte da culinária. Minha resposta era meio que óbvia.

— Claro! Não precisava nem pedir.

— Obrigada! Sabe Alex, a Carol é uma cozinheira de mão cheia. – Aline se aproximou dele e já ia continuar a falar, mas eu a interrompi rapidamente.

— Aline! Não exagera né? - Disparei envergonhada. Ela definitivamente não sabia quem o Alex é. Ela não sabe que está falando que eu sou uma ótima cozinheira para um dos mais renomados chefes de cozinha do mundo. Que vergonha!

— Para Carol! Não precisa ficar tímida. – Insistiu., achando que eu estava sendo modesta. 

— Aline!!! – Chamei a atenção dela de novo.  

— Tudo bem, tudo bem, entendi a deixa. Mas que fique claro que eu não menti em nenhuma palavra. – Ela saiu antes que eu brigasse com ela.

— Então você cozinha? - Ele perguntou curioso assim que ficamos sozinhos.

— Um pouco.

— Segundo ela, você cozinha perfeitamente bem. – Ele observou.

— Ela exagera as vezes.

— Quer que eu te ajude no almoço?

— Não precisa se incomodar.

— Mas não é um incomoda. Amo cozinhar. – Ele disse já indo em direção a cozinha.

— Eu sei disso. – Sussurrei para que só eu pudesse ouvi.

Fomos junto a cozinha. Essa com certeza é uma situação que jamais pensei vivenciar. Nesse momento iria cozinhar ao lado do meu ídolo e motivo de querer ser uma grande chefe. Talvez eu nem consiga ser aluna dele, mas esse momento de agora já vai fazer valer a pena todo meu sacrifício de ter abandonar o meu tratamento.   

— Estava pensando em fazer uma macarronada. Eles adoram. – Sugerir.

— Acredita que é meu prato preferido também? - Comentou enquanto mexia nos armários atrás de panelas e mantimentos.

— O meu também. – Comentei. – Foi a primeiro prato que aprendi a fazer. Minha mãe que me ensinou. Fazíamos sempre para meu pai, ele amava. -  Suspirei com a lembrança deles. Minha mãe tinha me ensinado a cozinhar antes de morrer.

— Então está decidido! Será macarronada.

Peguei tudo que precisaria para fazer a macarronada. Mas o nervosismo de cozinhar ao lado do Alex me deixava sem ação. Afinal eu estava ao lado de um dos maiores chefes de cozinha. Como posso apenas cozinhar? Ou agir naturalmente¿  É surreal. 

— Algum problema? - Ela perguntou ao notar minha expressão.

— Não... é que... – Respirei fundo e continuei a falar. Tentei ser sincera.  – É que estou nervosa. O senhor é Alex Benvenuto. Como posso apenas cozinhar como se não fosse nada? - Ele riu do meu nervosismo. 

—  Aqui sou apenas Alex, um dos voluntários do orfanato. Não precisa se sentir constrangida ou mal por isso. Não estamos no meu restaurante e nem estou aqui como seu patrão.  

— Mas...

— Mas nada. Não se preocupe atoa. As crianças já estão com fome. – Ele argumentou.  Concordei com a cabeça.

Percebi que Alex observava cada gesto meu enquanto cozinhava. E isso me deixava com mais medo de cometer um erro na frente dele. Fui cuidadosa em cada aspecto. Esse era o momento de impressiona-lo. Montamos a mesa e servimos as crianças.

— Alex! Como foi cozinhar ao lado dessa grande chefe de cozinha? - Perguntou Aline inconvenientemente ao se aproximar, me deixando novamente constrangida.

— Me sentir lisonjeado. – Respondeu educado.

— Aline, por favor amiga. Cala a boca. – Supliquei. Ela riu, mas se calou.

— As crianças já estão todas servidas. – Ele falou quando voltava para cozinha.

— Podemos comer agora então. – Sugeriu Aline animada.     

— Como assim comermos agora? - Perguntei confusa. Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe. Ele também iria comer da minha comida.

— E que horas você quer que a gente coma? Estou com fome. Você não está Alex? – perguntou Aline ao olhar para ele.

— Morrendo! – Ele respondeu trazendo mais três pratos.

— Mas se você quiser almoçar em outro lugar, tudo bem. Não ficaremos chateadas né Aline? – Falei numa tentativa de fazê-lo desistir de comer aqui.

— Mas porque ele comeria em outro lugar, se já está aqui? - Aline perguntou confusa.

— Nada amiga! Esquece. – Respondi, revirando os olhos impaciente. Eu precisava conversar com ela sobre quem Alex é, mas não na  frente dele.

— Bom garotas, vocês sentem-se, que irei servi-las.

— Não precisa. – Falei rapidamente. Não poderia deixa-lo me servir.

— Carol, para de ser mal-educada. Ele está sendo tão gentil. – Aline me forçou a sentar na mesa. Como posso simplesmente deixar meu patrão me servir? Mas não tive alternativa, a não ser concordar. Quando ele se sentou na mesa após no servir, meu coração acelerou. Ele iria comer da minha comida, e a ficha ainda não tinha caído.

— Alex, se prepare, pois vai ser a melhor macarr...

— Aline! - Gritei a interrompendo. Já sabia o que ela iria falar. Ela sorriu em resposta e se calou.  Então ele deu a primeira garfada, depois a segunda e a terceira. Eu involuntariamente estava contando quantas garfadas ele estava dando. Quando finalmente ele suspirou e me encarou.

— Essa macarronada está incrível. – Elogiou, me pegando de surpresa.  Escutar um elogio desses vindo de quem é, é mais do que eu esperava. É claro que ele pode está só sendo educado. Mas sonhar não custa nada né¿

— Obri... Obri... – Respirei fundo para conseguir terminar a palavra. – Obrigada! – Ele sorriu em resposta. Aline me encarava com uma expressão confusa. Acho que ela notou meu nervosismo aparentemente inexplicável. Ela nem sonhava que Alex é o chefe de cozinha que eu sempre fui fã. Para ela era apenas mais um voluntario que comia da minha comida.

— Agora eu preciso realmente ir. – Alex se levantou da mesa após comer. Aline levantou-se logo em seguida para se despedir dele, eu continuei sentada.. Aline abriu um sorriso na mesma hora.

— Não precisa. Vou ficar mais um pouquinho. – Respondi ao me levantar, recusando assim a carona. Aline me encarou meio que irritada e então olhou para o Alex.

— Ela quer sim. Só que é tímida. – Comentou e então me encarou. - Carol, pare de besteira e vá com o Alex. Ele é um moço tão gentil e educado. Não seja rude. – Me repreendeu. Aline é assistente social desse orfanato e logo que comecei a ser voluntaria, fizemos amizade. E desde que a conheço, ela sempre foi assim impulsiva.

— Aline! Amiga, nós ainda temos muito o que conver... – Ela me interrompeu.

—  Desculpa, mas estou ocupada agora. Beijos amigas. – Disse já saindo e nos deixando sozinhos. Me deixando em uma situação constrangedora, na qual eu teria que aceitar a carona.

— Você não precisa se incomodar em me levar.

— Não é incomodo. Vamos?

Respirei fundo e aceitei a carona. Não tinha para onde correr. Assim que nos aproximamos do carro, ele abriu a porta para que eu entrasse. Além de tudo, ele era cavalheiro. Sorri sem graça e entrei. O carro dele é um importado luxuoso. Jamais havia andado em algo ao menos parecido.

— Então, o que te fez ir trabalhar no sabor da vida? - Perguntou quebrando o silencio ensurdecedor que se mantinha desde que saímos do orfanato. Eu não poderia simplesmente dizer o real motivo que me fez ir trabalhar lá, então menti.

— A necessidade. Precisava trabalhar, e o restaurante estava oferecendo uma vaga.

— Entendo! Espero que goste do trabalho.

— Sobre ontem... – Eu já ia falar sobre o que havia acontecido no dia anterior. Mas ele me interrompeu.

— Não vamos falar sobre isso. Já resolvemos não?  

— Mas me sinto mal pelo vinho que quebrei. Deve ser caro.

— Tudo bem! Como você mesmo disse. Você precisa trabalhar, então não vou força-la a pagar algo que está acima das suas condições.

— Prometo que vou dá um jeito de recompensa-lo.

— Não se preocupe com isso. Basta fazer outra macarronada dessas para mim, e estaremos quites. –  Sugeriu. Acabei rindo de nervoso. Não conseguia decifrar se ele falava sério, ou apenas estava sendo gentil. Mas independente disso, devo confessa que a cada minuto eu me convenço de quão maravilho ele é.  


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