O Sabor da vida escrita por sakuraxjapan


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712150/chapter/1

A vida não é justa. Mais se eu fosse pensar como outros, eu seria injusta comigo mesma. Não posso ficar perdendo o tempo que não tenho me lamentando com algo que está fora do meu alcance. A morte é a única certeza que temos. A única diferença de mim para os outros é que a minha irá chegar mais cedo. E eu já aceitei esse meu destino. 

Confesso que alguns anos atrás eu me perguntava todos os dias por que comigo? O que eu tinha feito para merecer isso? Pelo bem de quem eu vivia? Para que eu continuava a vivendo?  Perguntas comuns para uma pessoa condenada à morte. Pensamentos suficientes para me levar a depressão. E foi o que aconteceu há uns anos atrás. A revolta de me ver limitada a sonhar me machucou muito. Mas tive que aprender a conviver com isso. Depois de uns quatros longos anos de tratamentos, hoje fui desenganada pelo médico. Não tem mais nada o que se possa fazer. Aparentemente sou saudável, mas a validade do meu corpo está prestes a se vencer. Estou morrendo. Mas quer saber de uma coisa? Me foi dado um ano de vida, e vou fazer desse um ano que me resta valer todos os anos que eu vivi até hoje.

—Você tem certeza disso? Se abdicar do tratamento irá apressar sua morte. - Argumentou meu médico.

— Sim! Para que me serviria seis a sete meses a mais se eu tiver que passá-los encima de uma cama? O tratamento irá me enfraquecer, e eu não quero isso.  Quero viver, e para isso terei que apressar indiretamente a minha morte. - Contra-ataquei. Sem tratamento eu viverei no máximo um ano, mas para mim já bastaria se eu pudesse realmente vive-lo longe de hospitais.

— Pelo visto você já tomou sua decisão. -  Ele finalmente se convenceu. Assenti timidamente com a cabeça.

Me chamo Carol, tenho 28 anos e há 4 anos descobrir que tenho um tumor localizado em uma parte muito delicada no cérebro. Apesar dos inúmeros tratamentos, infelizmente o tumor venceu a batalha. Atualmente moro sozinha. Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha 12 anos, fui criada por uma tia que mais parecia uma madrasta. Por não ter outra alternativa, ela foi obrigada a me criar junto a sua única filha, que também nunca me aturou. Foram os piores anos da minha vida. Quando completei 18 anos, saí de casa. Sempre tive um sonho de me tornar uma grande Chefe de cozinha, mas por ter sido obrigada a me virar desde cedo, eu adiei esse sonho. Não podia me dá ao luxo de pagar uma faculdade de gastronomia enquanto eu precisava me sustentar. Trabalhei em vários lugares, de bibliotecas a lanchonetes e metrôs. Me virei em mil para tentar juntar o dinheiro da faculdade, mas meu sonho foi meio que interrompido ao descobrir a doença. Agora que sei que não me resta tanto tempo assim de vida, vou correr atrás do prejuízo e tentar realizar esse sonho de alguma maneira. 

Alex, é um Chef de cozinha bastante renomado no mundo, e particularmente meu ídolo. Ele possui vários restaurantes pelo país e mundo a fora. Seria audácia minha querer ser como ele, mas não posso negar que ele é meu exemplo de profissional, e minha meta antes de morrer. Quero muito me tornar uma aluna dele. Sei que ele vem todo ano para o Brasil treinar quatro futuros Chefes de cozinha. Tenho total consciência da dificuldade de ser um desses quatros alunos, mas não é impossível.

— Bom dia...- Me cumprimentou a moça enquanto avaliava meu currículo. – Carol né?- confirmei.  – Então você está atrás de uma das vagas de ajudante de limpeza? - Perguntou ao me olhar da cabeça aos pés. - Fiz um gesto positivo com a cabeça meio que sem graça. – Você não parece precisar tanto assim desse trabalho. – Me questionou. 

— Na verdade preciso sim. E quero muito. – Respondi.

— Ok! Estamos precisando de três ajudantes urgente. Tudo bem você começar amanhã mesmo? - Me perguntou, quase não consegui segurar a emoção ao ouvi isso.

— Por mim tudo bem sim! – Disparei rapidamente, tentando inutilmente conter minha euforia. Ela estranhou. Confesso que não está no topo da minha lista ser uma ajudante de limpeza, e não estou desmerecendo esse trabalho, apenas não é meu plano de vida, a não ser, se essa vaga for no Restaurante sede Sabor da Vida, do tão aclamado Chefe Alex. Eu precisava me aproximar dele, e essa foi minha melhor alternativa. Segundo eu fiquei sabendo, ele chegaria no Brasil amanhã mesmo e seria nesse mesmo restaurante que ele ficaria nos próximos meses. Plano em ação!

— O Sr. Alex chegará ao meio dia e quero esse restaurante brilhando mais que o normal. Ele é um bom homem, mas um patrão bem exigente. Não mistura pessoal com trabalho, não gosta de fofoca ou ser importunado. – Disse a Moça que me entrevistou ontem. Estávamos todos funcionários reunidos no salão principal. O restaurante era grande, e refinado. Era como se fosse uma obra de arte de muito bom gosto. Um local que eu jamais teria a chance de entrar a não ser como funcionaria. Era frequentado por toda alta sociedade brasileira. Pessoas com poder aquisitivo altíssimo. Respirei fundo, meu sonho estava prestes a começar a se realizar, e o primeiro passo já tinha sido dado, que era trabalhar nesse restaurante, não como ajudante de limpeza, mas acabou sendo assim, melhor do que nada. Agora o segundo passo seria conhecer meu ídolo. E isso seria logo.

—Carol? -  Alguém me tirou dos meus devaneios.  Balancei a cabeça para voltar a realidade,

—Pois não? - Me aproximei.

— Você ficará encarregada hoje da limpeza da vinícola. – Me ordenou enquanto me guiava até esse local. Depois de uns minutos de explicação, ela saiu me deixando sozinha. Eu, meus pensamentos e as mais caras garrafas de vinhos que você possa imaginar. Passou-se uma, duas, três horas e o trabalho parecia não ter fim. Olhei para o relógio, ia dá meio dia. Estava ansiosa. Será que ele havia chegado? Resolvi dá uma pausa para comer. 

— Bruna? Você vai almoçar agora? - Chamei uma moça que também estava começando hoje. Eu já estava faminta, mas não queria comer sozinha.

—Não. Tenho que terminar de organizar esses estoques. - Respondeu sem nem se dá o trabalho de me encarar. Ela parecia bem ocupada e concentrada. Sorri sem graça em resposta e sai.

— Perdida? - Lucas, um dos subgerentes se aproximou de mim.

—Não! Estava pensando em almoçar agora, mas acho que todos estão muito ocupados. Então melhor eu voltar para o trabalho. - Respondi envergonhada por ser a única faminta entre os vários funcionários.

—  Não! Você pode almoçar sim agora. Vem, te levaria no refeitório dos funcionários. – Disse ao me guiar. Chegando lá, percebi que tinha já uns cincos funcionários famintos como eu. Fiz meu prato e me sentei sozinha em uma das mesas. Saboreei calmamente cada colherada dessa comida maravilhosa que eu nunca teria a chance de provar. Mesmo sendo o almoço dos funcionários, o tempero era algo que eu nunca havia experimentado, e isso me instigava ainda mais de ser uma aluna do Alex, de saber cozinhar assim. Cozinhar é um Dom e eu sei que tenho esse Dom, só precisa ser lapidado, e ninguém melhor que ele para fazer isso. Meia hora depois ao voltar ao salão principal, percebi que o restaurante ainda estava fechado.  Mas havia quatro pessoas ocupando uma única mesa. Queria perguntar o que estava acontecendo, mas ainda não tinha feito amizade suficiente para isso. Resolvi ficar na minha e voltar para meu trabalho, mas antes que eu pudesse fazer isso, ouvi alguém me chamar.

— Carol! - A chefe geral da limpeza me puxou pelo braço até um lugar mais vazio onde ninguém poderia nos escutar. E começou sussurrando. – Preciso de um favor seu! – Ela suspirou e então prosseguiu com um tom de voz quase que inaudível. Me esforcei para escuta-la perfeitamente. – Preciso que vá sem que ninguém perceba, no segundo andar e troque a roupa de cama que fica no quarto principal.

— Mas...- Já ia começar a falar quando fui interrompida.

— Eu limpei o segundo andar todo, mas me esqueci de trocar a roupa de cama e o Alex é bem exigente em relação a isso. Não posso ir agora, vá lá e faça isso por mim. A roupa de cama limpa está da terceira porta de um dos armários que fica em um dos corredores que dá até o quarto. Pode ir sem erro. - Apesar de não ter entendido muito bem, seguir as ordens dela. Subir até o segundo andar meio que desconfiada e ao abrir a porta percebi que esse andar era praticamente um apartamento. Provavelmente era onde Alex ficava quando vinha para o Brasil que no caso seria hoje. “Terceira porta do armário do corredor que dá até o quarto principal. ” Lembrei das palavras dela. E realmente ela estava certa. Peguei a roupa de cama e fui até o quarto. Não demorei muito e já tinha feito o que ela havia me pedido. Após ter feito isso era para eu ter descido, mas não foi exatamente o que eu fiz. Minha curiosidade me fez ficar um pouco mais e explorar o tal apartamento do meu ídolo. Não seria todo dia que eu teria essa oportunidade. O quarto dele era todo branco e elegante. Até as roupas de cama eram brancas. Haviam quadros de pintura pós-moderna seja lá o que isso quer dizer, espalhado por todo lugar. Mas o que me chamou mais atenção foi a cozinha. Branca, clean e ao mesmo tempo aconchegante. Minha consciência me dizia para voltar ao trabalho, mas a minha curiosidade me fazia ficar e perder a noção do tempo. Abrir cada gaveta e armário da cozinha, os talheres, as panelas, tudo era de muito bom gosto. E já ia continuar a explorar quando escutei um barulho. Me escondi rapidamente embaixo do balcão da cozinha.     

— Já cheguei! Estou muito cansado, depois no falamos. – Ouvi uma voz grave ecoar por todo ambiente. Parecia falar no telefone com alguém. Senti meu corpo todo gelar. Era ele. Era o Alex! Ele havia chegado. E agora? Como eu sairia disso¿ Tentei não fazer nenhum barulho para que não percebesse a minha presença. Esperei uns minutos, e então ouvi barulho de água cair. Ele estava no banho. Essa seria a oportunidade perfeita de sair sem ser vista. Respirei fundo, me levantei calmamente e olhei ao meu redor.  O caminho estava aparentemente livre. Tirei meus sapatos e nas pontas dos dedos tentei seguir até a porta sem fazer um misero barulho. Mas não foi como o planejado. Quando eu já estava chegando na porta, escutei uma voz vindo de trás de mim me assustando. Me virei rapidamente e dei de cara com o Alex enrolado em uma toalha me encarando com uma expressão séria e ao mesmo tempo surpresa.

— O que você faz aqui¿ - O tom da voz dele era meio que autoritário.

— Er.. bom... Quer dizer..... – Eu não conseguia falar nada a não ser gaguejar. É como se eu tivesse desaprendido a falar. Foi quando a porta do quarto abriu. Era a Chefe de limpeza. “Salva pelo gongo. ” Imaginei aliviada.

— Desculpa Sr Alex. Ela é novata. Peço perdão por ela pela invasão. – Ela se desculpou me puxando pelo braço. Eu estava muito envergonhada. Tentei ao máximo desviar meu olhar do dele e ele ao contrário não tirava os olhos de mim. – Isso não vai acontecer novamente. – Ela continuou a se desculpar enquanto saíamos do quarto.

— Você ficou louca ou que? Só te pedi para mudar a roupa de cama. Mas o que diabos você estava fazendo até agora no quarto do Patrão? - Me perguntou irritada. Eu não sabia o que responder, então fiquei calada. Ela revirou os olhos em um gesto impaciente e me mandou de volta para meu trabalho na vinícola. O meu primeiro encontro com o Alex não foi como o planejado, mas confesso que ele é exatamente como eu imaginei, pelo menos fisicamente. Ele era alto, tinha um corpo bem atraente, não que eu tivesse me aproveitado do momento para dá uma olhadinha, mas era algo que chamava a atenção. Seus cabelos eram lisos e preto, pela branca e com barba para fazer que o deixava um homem bem atraente. Pelo que eu tinha investigado, a idade dele é 35 anos. Ele era considerado um dos solteiros mais cobiçados do Brasil. A sua beleza era algo que não passava despercebido e isso eu posso afirmar. Voltei para meu trabalho ainda envergonhada pelo que havia se passada. Essa não era a primeira impressão que eu queria ter deixado nele.

Minutos depois estávamos todos reunidos novamente no salão principal. Acho que seríamos formalmente apresentados a Alex. As quatros pessoas que eu tinha visto logo cedo também estavam no salão. Talvez essas pessoas sejam os alunos desse ano.   

— Como todos sabem, Alex costuma treinar quatro novos Chefes de cozinha. E o restaurante Sabor da Vida é onde esse treinamento acontece. Gostaria de apresentar formalmente essas pessoas que nos próximos meses ficaram com a gente. – Disse o gerente geral. O Alex ainda não tinha aparecido.

— Essa é Sofia, acabou de voltar de uma especialização na Europa especialmente para ser uma das alunas de Alex. Esse é o John, bastante conhecido no mundo gastronômico, com suas comidas diferentes e regionais. Essa é Luana, uma recém formada em  Artes culinárias nos EUA  e por fim esse é Diego, formando em uma das melhores universidade de gastronomia aqui no Brasil onde o próprio Sr Alex se formou. Espero que possamos ter uma boa convivência. –Ao terminar a apresentação, eu pude percebi que imaginar ser uma aluna do Alex era meio que ousadia de minha parte. O que eu teria ou tenho a oferecer para ser escolhida em ser uma de seus alunos? Todos se formaram em ótimas faculdades aqui ou fora do Brasil, com especializações e etc. E quanto a mim¿ Aprendi a cozinha com a minha mão e depois sozinha. Não conseguir fazer cursos ou faculdade, sinceramente eu não teria a e nem tenho a mínima chance. Mas não posso me desanimar. Entrei nesse restaurante com um objetivo e vou seguir até o fim custe o que custar.

— Pelo visto, todos já se conheceram. – Uma voz grossa e familiar ecoou pelo salão. Era o Alex. – Quero deixar o meu bem-vindo não só para meus novos alunos, como também para os meus novo funcionários. – Comentou.  Não sei se foi impressão minha, mas ele meio que olhou em minha direção ao terminar de falar. Sentir uma pontinha de ironia em sua voz. Acho que eu não tinha deixado mesmo uma boa impressão. Sorri sem graça. – Todos devidamente apresentados. Como podem perceber, o restaurante não abriu hoje. Há um motivo para isso. Terei uma entrevista daqui a pouco para um programa famoso de televisão aqui mesmo no Sabor da vida. Por isso peço a colaboração de todos para que façam seus trabalhos bem feitos. Posso contar com você? - Perguntou, todos responderam ao mesmo tempo com um sonoro “sim”, como se estivéssemos ainda no colegial, respondendo o professor. Depois do comunicado, todos correram para seus devidos lugares. Os chefes do restaurante já estavam fazendo o cardápio para hoje. Os garçons estavam montando as mesas. Todo faziam seus trabalhos devidamente. Eu voltei para a vinícola. O que eu precisava fazer era só tirar o pó das garrafas. Simples, mas ao mesmo tempo cansativo.  Foram mais umas duas horas limpando garrafas e mais garrafas de vinhos. Confesso que já estava bem cansada. A gravação do programa já tinha começado a um tempinho. Peguei uma das garrafas que aparentemente parecia ser bem cara para limpa-la, mas algo aconteceu. A famosa lei de Murphy. Fazia muito tempo que eu não sentia as sequelas deixadas pelo tumor em meu cérebro. Mas justo hoje quando estava segurando uma garrafa que eu não consigo nem imaginar o quanto vale, de tão cara que é, a minha mão falhou e acabei derrubei o vinho. Fora cacos de vidros para todos os lados. Me desesperei. Assim que alguém visse eu estava arruinada. Me abaixei rapidamente para juntar os cacos de vidros, e percebi que minhas mãos ainda tremiam e por essa instabilidade, acabei me cortando levemente. Mas o pior veio depois. Alex, junto com o gerente e a equipe de TV entraram, eles fariam a gravação agora na vinícola. Percebi que todos me olhavam.  Meu dia não tinha como piorar.

— O que você fez? - Gritou o gerente ao se aproximar de mim aparentemente alterado.  

— Foi sem... sem... sem querer.- Respondi em meio a gaguejos. Eu tremia dos pés à cabeça.  

— Desculpa Sr. Alex. Ela é novata. Foi contratada ontem. – O gerente se justificou. – Vamos! - Ele me puxou pelo braço.

— Roberto! – Alex, chamou o Gerente. – Chamem alguém para limpar isso agora pois a gravação precisa continuar. – Ordenou. Eu não conseguia encara-lo.

— Já ia fazer isso. Vamos! – Disse o gerente ainda me puxando.

— Mas uma coisa. – Alex continuou. - Leve ela para o segundo andar. -  

— Segundo andar, senhor? - Questionou confuso.

— Sim! - Leve-a. Já subo para falar com ela.  Ao ouvi essas palavras, meu coração gelou. Eu sabia que seria demitida, e com o acréscimo de uma dívida que eu demoraria muito para pagar. Segurei o choro e fui com o gerente.  Lágrimas agora não adiantaria nada.

— Você sabe o que acabou de fazer? - O gerente disparou enquanto saiamos. Continuei calada. Apenas balancei a cabeça num gesto positivo. Eu tinha total consciência da confuso que eu tinha me metido. – Você quase arruinou uma gravação muito importante. Fora que o vinho que você quebrou fica na seção dos mais caros do nosso estoque. Como você conseguiu tal proeza? - Me questionou.

— Sinto muito mesmo. Não foi minha intenção. – Me justifiquei.

— Claro que não foi sua intenção. Quem quebraria tal vinho intencionalmente? - Bufou aparentemente irritado. – Sonia, vá imediatamente com toda equipe de limpeza a vinícola. – Ele ordenou ao se aproximar da chefe da limpeza.

— Aconteceu alguma coisa? - Perguntou ao gerente enquanto me encarava. Já consigo imaginar o que ela estava pesando.  Mais cedo eu também tinha entrando em um pequeno mal-entendido e ela presenciou tudo.

— Sem tempo para conversa. Vá agora! – Ordenou ele. Ela logo obedeceu. Em seguida ele me levou para o segundo andar. – Espere ele aqui. – Ordenou, mas antes de sair fez um pequeno comentário, que eu diria até que maldoso. – E tente não quebrar nada! -  Assenti com a cabeça, e me sentei no sofá. Sabia que seria demitida. Que o meu sonho tinha se estilhaçado junto com aquela garrafa de vinho. Não demorou muito e Alex entrou. Ele se aproximou lentamente sem tirar os olhos de mim.  Fiquei com a cabeça baixa.

— Se apresente! – Ordenou. Respirei fundo e me apresentei.

— Me chamo Carol. Fui contratada ontem como ajudante de limpeza. – Respondi em um único suspiro. Ele ficou calado e se distanciou. Levantei minha cabeça para saber onde ele estava indo. Ele entrou no quarto e logo depois saiu com uma maleta de primeiros socorros.  Sentou-se ao meu lado, abriu a maleta.

— Antes de iniciarmos essa conversa, vamos tratar dessa mão. – Indagou. Eu havia completamente me esquecido que eu tinha me cortado. Olhei para minha mão suja de sangue.  

— Não precisa! Não foi nada! – Respondi sem graça.  Ele ignorou essas minhas palavras e pegou minha mão. Passou algo para desinfetar o ferimento, que ardeu um pouco e logo fez um curativo. 

— Pronto! – Disse ao fechar a maleta. Se levantou logo em seguida. – Então... Por algum motivo nos esbarramos duas vezes hoje em situações constrangedora. 

— Eu não tive a intenção de quebrar o vinho. Escorregou da minha mão e ...- Fui interrompida.

— Eu sei, não estou questionando isso. Tenho certeza que você não teve a intenção, que você é novata e não entende a regras daqui.  

— Prometo pagar esse vinho. Só preciso que me dê um prazo. – Implorei, agora o encarando. Ele voltou a se sentar no sofá ao meu lado.

— Não acho que você tenha condição de pagar esse vinho. – Indagou. Ele estava certo. 

— No momento não. Mas irei procurar outro emprego logo, e pagarei por mês se me permitir.

— Outro emprego? Não está feliz nesse? - Me questionou. Suas palavras me pegaram de surpresas.     

— Mas... – Pausei, respirei fundo e continuei. - Tenho consciência que serei demitida, Sei que dei motivo. – Ele me olhou, percebi um leve sorriso se formar no canto de sua boca.

— Vamos fazer o seguinte! Você não será demitida, e não precisa pagar pelo vinho. Mas... – O interrompi.

— Faço qualquer coisa que mandar. É só dizer.  – Cometei rapidamente.

— Mas a parti de agora será mais cuidadosa. Sem situações constrangedoras, ok? Estou te dando mais uma chance. – Ele se levantou do sofá. – Preciso voltar para entrevista. Se você quiser, já pode ir embora.

— Obrigada mesmo! Jamais irei esquecer esse seu gesto. – Agradeci. Ele sorriu e então saiu. Tenho que ser mais cuidadosa agora. Tenho que aproveitar essa nova chance para dá uma impressão melhor de mim. Como imaginei. Além de lindo por dentro, ele é uma pessoa incrível por fora. Voltei para casa, feliz por ter conhecido Alex de perto e saber que agora ele é meu patrão. Talvez eu nem consiga ser sua aluna. Mas está perto dele, trabalhar no restaurante que eu sempre sonhei já me realizava de uma certa forma. Não posso ser gananciosa em relação a isso. Não tenho tempo suficiente para exigir nada, vou aproveitar o que der.   Moro sozinha em uma pequena quitinete, com um quarto, um banheiro e uma cozinha. Mas para mim já é suficiente. Antes de voltar para casa, parei em um supermercado e comprei ingredientes. Amo cozinhar. É o que eu mais faço em casa. Gosto de criar receitar, combinar temperos. Não sei explicar esse meu amor por isso. É como se viesse de dentro da alma. Amor de outras vidas. Um dom. Depois do jantar, tomei minha medicação. Apesar de interromper o tratamento, eu ainda precisava tomar uns remédios para controlar as sequelas que irão piorar com o tempo devido a esse tumor. No dia seguinte acordei cedo. Queria ser uma das primeiras funcionárias a chegar. Tenho que mostrar serviço. Foi quando cheguei ao restaurante que percebi que era cedo até demais. A entrada dos funcionários ainda estava até fechada.  Me sentei em uma cadeira que ficava na varanda próxima a essa entrada, coloquei os fones de ouvido e comecei a escutar músicas, mas acabei dormindo. Só despertei com alguém pigarreando perto de mim. Acordei assustada e olhei para cima. Era o Alex, para variar. Ele estava com roupas de corridas. Talvez tivesse ido correr um pouco. 

— Desculpa. É que eu cheguei cedo demais. Ainda estava fechado a porta. E ...- Falei rapidamente, mas logo fui interrompida.

— Hoje é segunda, o restaurante não abre nas segundas feiras. – Justificou sem tirar os olhos de mim. Eu tinha me esquecido completamente desse pequeno detalhe. – Voc~e não sabia disso¿ Faz tempo que você está aqui? - Perguntou.

— Não muito! Me esqueci completamente que hoje era segunda. Peça desculpa por isso. – Me desculpei ao me levantar. E para variar, estava novamente envergonhada. É como se o universo estivesse conspirando contra mim, me fazendo sempre passar por situações constrangedoras como essa na frente dele.

— Está muito frio aqui fora. Você está tremendo. Vamos entrar um pouco. – Disse já saindo, dando menção para eu segui-lo.

— Não precisa! Melhor eu voltar. – Respondi. Mas ele foi bem categórico. Preferir não o contraria-lo, então o seguir. Então entramos no restaurante.  

— Prefere café ou chocolate quente? - Me perguntou ao entrar na cozinha. Continuei seguindo-o.

— De verdade, o senhor não precisa se incomodar. – Insistir, sem graça.

— Eu já iria fazer para mim mesmo. E você está tremendo, precisa tomar algo quente Então, café ou chocolate? - Perguntou.  

— Chocolate! – Respondi sem graça. Minutos depois ele me entregou a caneca contendo o chocolate quente. 

— Tenho que sair. Você pode tomar o chocolate tranquila e depois ir embora. Essa é a chave da porta. – Disse já me entregando. 

— Mas... Eu posso ir agora. – Eu continuei insistindo em sair. A situação toda era esquisita.

— Não! Termine primeiro seu chocolate e depois você pode ir. – Insistiu já subindo as escadas. Não tinha alternativa a não ser obedece-lo. Tomei o chocolate quente enquanto olhava ao meu redor. Era como se eu estivesse em um sonho ou pesadelo. Não sei bem como defini-lo.  Depois de terminar de tomar, eu já ia sair quando Alex desceu as escadas já com outra roupa.

— Eu já estava indo embora. – Justifiquei. 

— Te daria uma carona até sua casa. Mas estou muito apressado. – Disse enquanto íamos em direção a porta.

— Tudo bem! Mas mesmo assim obrigada. – Respondi ao forçar um sorriso no rosto. Mas ao sairmos nos deparamos com uma bela e jovem moça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sabor da vida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.