A Rainha de Nárnia escrita por PrincesadeTres


Capítulo 4
04


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Você a amava... — Conclui.

O rei não respondeu e seu silêncio era a minha resposta. Ele continuou a me encarar com seu par de safiras e por fim, caminhou até a varanda aberta com vista para a floresta. As longas madeixas brilhavam a luz da lua e o céu escuro não tinha estrelas.

— Porque ainda me olha? Vista-se. — Ele diz.

Caminho para o banheiro com as costas despidas e sinto seu olhar bem na minha marca. Entro no cômodo e fecho a porta. Respiro. Penso. Reflito. Tudo isso ao mesmo tempo para não deixar que o nervosismo domine a minha mente. Não era todo dia que um homem daquele entrava no meu quarto e principalmente, era Rei.

Légolas era diferente do seu pai nesse aspecto. Não chegava a ser ousado como seu pai.

Tirei meu vestido sempre olhando de soslaio para a porta, querendo evitar surpresas e coloquei minha camisola longa que não havia nada em que pudesse seduzir o rei ou mesmo provoca-lo. Graças a Deus! Saí do banheiro com o coração acelerado e as mãos formigando. Ele estava parado na varanda observando a paisagem e quando me aproximei a passos suaves, Thranduil começa a falar.

— Prometi a sua mãe que cuidaria de você. — Ele me encara. — Cumprirei a minha promessa.

— Não quero ser rainha. — Declaro.

— Não tem escolhas, está no seu sangue e quando perceber isso, não poderá voltar atrás. — Ele destrói minhas esperanças com palavras ásperas.

— Então... sou obrigada a um destino que não quero? — Pergunto indignada. — Eu Não Quero Ser Rainha. — Me exalto.

— Sua mãe também não queria. — Ele penetra seus olhos nos meus. — Mas ela foi até o fim pelo povo e por causa da coroa que carregava. — Thranduil caminhou na minha direção. Tive que me manter firme diante da sua postura severa. — Ela morreu por todos nós aqui e principalmente para que Você tivesse a chance de ser uma governante para guiar o povo.

Engulo em seco.

— Chega de ser mimada e comece a agir como uma mulher que você é. — Trocamos olhares mortais e ele caminha até a saída.

— Eu só queria ser normal. — Respondo em meio aos soluços do choro que ameaçava desabar.

— E eu queria que meu filho pudesse ser feliz. — Ele murmura e eu o observo.

Thranduil dissipou aquela pose autoritária e me surpreendi ao vê-lo extremamente abalado quando falou do filho. Havia arrependimento em seu olhar e senti uma enorme vontade de abraça-lo. Foi o que fiz. Andei na sua direção e o abracei e ele não rejeitou. Ficamos assim até eu sentir meu corpo cansado e acabei dormindo em seus braços.

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Acordei ouvindo burburinhos ao meu redor e deitada em algo macio e sedoso. Abri aos poucos os olhos, para me acostumar com a luz do dia e me vejo com a cabeça repousada no colo do rei. Ele está sentado na minha cama, com as costas no encosto do móvel e afagava os meus cabelos paternalmente. Observo sorrateiramente as minhas servas me olhando com espanto nos olhos e me levanto rapidamente, encarando Thranduil que sorria.

— O que faz aqui?

— Oras essa... você adormeceu em meus braços ontem, lembra? — Ele ironiza.

Ouço minhas servas cochicharem umas com as outras.

— Eu espero que não estejam pensando no que eu estou pensando. — As encarei mortalmente e elas desviaram o olhar envergonhadas.

— Como qualquer pessoa normal, elas acham que dormimos juntos. — O rei conclui e vejo as meninas se enrubescerem. — Mas eu nunca dormiria com uma criança como você.

— E eu nunca ficaria com um homem que tem idade para ser meu tataratataratataratataratataratataratatarô. — Retruco e ele faz pouco caso das minhas palavras, apesar de ouvirmos os gracejos baixo das meninas.

Thranduil se levanta da cama e ouço as meninas recuarem. Ele puxa seu manto vermelho e os raios solares brilham na sua pele, o que me faz admira-lo.

— Seu treinamento começa hoje. — Avisa, indo embora, mas o paro antes de sair.

— Como assim? — Eu seguro no seu braço e ele me encara.

— Seu destino é esse... terá que aceita-lo.

— Não acredito em destino... eu escrevo a minha própria história. — Afirmo.

— Boa sorte para você... não se atrase, Légolas irá treina-la. — Ele dá as costas e saí.

— Oque...? Thranduil! — Chamo no corredor e dou de cara com o príncipe. Escorrego para trás e ele me segura pela cintura, fazendo nossos corpos se encostarem e uma onda elétrica me incomodar.

— O que meu pai fazia aqui? — Indaga curioso.

Arrumo minha postura e permaneço com os olhos nele.

— Seu pai apenas veio conversar comigo. — Minto e as meninas riem baixo, mas as fuzilo com os olhos e volto a sorrir para o príncipe desconfiado.

— Isso é verdade?

— Para que eu mentiria? Légolas, por favor. — Bufo irritada e ele riu da minha careta brava.

— Tudo bem, fingirei que acredito. — Ele me provoca e lhe dou um tapa leve no braço. — Você é uma péssima dama, nunca nenhuma mulher deu um tapa no meu braço.

— Sempre tem uma primeira vez. — Dou lhe mais um tapa. — E isso é por dizer que não sou uma dama... seu príncipe loiro. — Mostro a língua.

— Acho melhor você ter aulas de etiqueta.

— Légolas, eu vou bater em você de verdade. — Ralho.

— Tudo bem, estou brincando. — Seus olhos brilham para mim. — Então jovem dama, pode me acompanhar até o Salão do Banquete?

— Sim, sua alteza real. — Zombo e ele deposita um beijo na minha testa, pegando-me de surpresa.

— Então vista-se, esperarei lá fora. — Ele dá uma leve reverência para mim e retribuo o gesto, depois vai para fora do quarto e fecho a porta desesperada.

— Amiga... você está lascada. — Lorraine se diverte com meu desespero.

— Se não tiver o que dizer... fica quieta. — Ralho com ela.

— Shara... a senhorita e o rei... hum... não? — Mirimiel pergunta.

— Eca. — Faço uma careta de nojo. — Mudando o assunto, qual vai ser minha roupa de treinamento e onde estão meus amigos?

Elas se entreolharam e joguei as mãos para cima pedindo paciência aos céus. Que saudade tenho das meninas, até agora não nos encontramos e necessito vê-las! Pedir para que tomem cuidado e apresentar a Lorraine.

— O que vou vestir hoje? — Questionei. Lembrando que Légolas estava lá fora me esperando.

Eu estava meio nervosa com o treinamento, tê-lo tão perto assim de mim, não acha uma boa ideia, ainda mais porque espero profundamente que Thranduil não esteja dando um de casamenteiro.

— Como vai treinar com o príncipe, precisará de uma roupa fácil de se locomover. Por isso, aqui está. — Nerwen me entregou uma muda de roupas.

Caminhei na direção do banheiro e me tranquei lá dentro por alguns minutos. Tomei o banho que as meninas providenciaram, talvez enquanto estivesse dormindo no colo do rei e bufei ao ver que a água havia esfriado. Não queria sair como vim ao mundo para as meninas verem, então eu pensei. Eu possuía uma ligação com Nárnia ou com a natureza, apesar de nunca ter testado seriamente, só naquele momento que pedi a árvore algumas maças. Mas será que podia fazer mais?

Mesmo receosa, eu coloquei o meu pé na água e a imaginei aquecida, uma energia dentro de mim começou a se mover quando me concentrei totalmente e aos pouquinhos, senti meu pé quente e um barulho de borbulha. Abri meus olhos para ver a água fervendo mesmo! Me desesperei, como explicar isso as meninas?

— Mas que burrice! — Exclamei. — Talvez o ar me ajude.

Estiquei meu braço para tocar o ar, o que parecia loucura, mas aos poucos fui imaginando ele levar embora a fervura da água e para minha surpresa, observei a fumaça branca desaparecendo completamente na minha frente e quando coloquei o pé de novo na água, ela estava morna.

Acho que aos poucos pego o jeito.

Tomei meu banho apressadamente e depois me sequei, pegando a roupa. Era uma túnica branca, com um corpete de fivelas, também uma calça de tipo legging preta. Botas de cano longo marrons e pela primeira vez depois que cheguei aqui, me lembrei do meu colar que não havia tirado a tempos. Um alivio me tomou quando ele continuava no pescoço. Meu maior presente.

— O príncipe está esperando! — Lorraine bate na porta.

Você só fala assim comigo porque é minha amiga, sua elfa atrevida!

Abro a porta e dou de cara com ela.

— Morreu? — Insinuei.

— E ressuscitei. — Ela revidou.

— Hahaha... morri de rir. — Segurei a raiva e passei por ela. Nerwen fez uma rabo-de-cavalo alto no meu cabelo. — Cadê meus amigos? — Me direcionei a Lorraine.

— Estão no Salão do Banquete, o rei os convidou para comer com você. — Ela disse. — Talvez para se sentir mais à vontade, ele disse que ontem você ficou meio tensa comendo ao lado dele. Quer que se familiarize conosco.

Meneio a cabeça concordando.

— Vou indo. Tchau.

Saio do quarto, após me despedir e encontro o príncipe no corredor, encostado na parede e com as mãos entrelaçadas atrás das costas, me esperando. Lindo como sempre e com aqueles olhos safira... Para Shara! Afasto o pensamento de mim, um tanto complicado, visto que ele me lançava um sorriso amigável que parecia mexer com meus neurônios.

Thranduil fez um ótimo trabalho, visto que ele estava tirando a minha sanidade.

— Vamos? — Légolas me tira do transe.

— Sim.

Caminhamos juntos por aquele labirinto de corredores, o que me chama mais a atenção é que observando as vezes o céu lá fora, ele parecia meio obscuro ao mesmo tempo em que, uma luz tentava dissipa-lo e foi quando senti uma enorme enxaqueca que me fez gemer de dor e ser acudida pelo príncipe. Légolas parecia assustado com a minha repentina situação.

— O-oque está acontecendo lá fora? — Me esforcei para apontar em direção ao céu.

— É a rainha das sombras. Ela usa seus servos das trevas para tentar entrar pela floresta de Mirkwood e o mago Gandalf, colocou uma barreira de proteção no reino, mas que em breve, será destruída por ela. — Légolas mostra um misto de raiva e dor quando olha para os ataques.

Senti um enorme desejo de ajuda-lo, mas não posso, porque sou inútil nesse momento.

— E porque não fazem alguma coisa? — Questiono com a mão na testa, estava doendo.

— Não temos força o suficiente para os ataques, ela usa magia negra e a mais forte de todas, também tem as suas irmãs que a auxiliam nesse processo. Já perdemos muitos na batalha contra elas. — Légolas me encara suavizando a expressão. — Você está bem?

Meneio a cabeça confirmando e ele me conduz até o Salão, me ajudando a andar.

— Não sei o que aconteceu com você, mas parecer ser muito sério. — Concluí.

— Só uma dor de cabeça repentina, acontece quando a gente menos espera. — Tento encerrar o assunto, antes que o príncipe me questionasse por coisas que nem eu sei bem.

Entramos no salão e meus olhos passeiam pelas cadeiras até chegar nos meus amigos sentados em volta daquele móvel, com sorrisos estampados no rosto e com a aparência bem melhor do que antes. As meninas são a primeira a me abraçarem dramaticamente.

— Você está bem? — Mary pergunta ansiosa.

Noto antes de responder, que as meninas não usavam roupas iguais as minhas, estavam vestidas com belíssimos vestidos élficos que ressaltavam uns a cor dos cabelos e outro, os dos olhos. Elas pareciam ter passado por um tratamento de beleza rigoroso que as fizeram mais lindas do que já eram e já podia perceber os olhares dos elfos homens encostados nas paredes, que deviam servir a guarda real. Lancei um olhar rígido para eles que mantiveram suas posições e abaixaram a cabeça.

Se esses elfos safados encostarem um dedo nas minhas amigas, eles vão conhecer o paraíso mais cedo ou sei lá, para que lugar vão depois de morrer.

— Como conseguiu que morássemos aqui? O rei é meio grosseiro e não conversa com a gente, disse que comeríamos aqui só hoje, para você se acostumar com o ambiente... porque? — A curiosidade brilha nos olhos de Samara.

Porque ele é um estúpido... simples assim.

— Você sabia que a audição élfica é aguçada? — Ela fica confusa. — Significa que ele ouviu tudo que você disse. — Após Samara processar a informação, suas bochechas se avermelham e eu seguro o riso dentro de mim. — Relaxa, ele é de boa.

Légolas arqueia a sobrancelha incrédulo.

— Comigo. — Afirmo.

— Claro né, você é mega im-... LOUCA! — Amanda e sua boca grande são impedidas com um chute rápido na canela. — Cara, eu vou dar uma em você! — Ela se preparou para me atacar, mas no momento exato, dei um passo para o lado e minha amiga quase caí no chão, se não fosse um belo elfo meio jovem a segurando. — SHA-ra...

— Amanda, isso é baba? — Milena zomba.

— Cala a boca suas sem-noções! — As meninas caiem na risada e percebo um sorriso de canto nos lábios de Thranduil. Esqueci que ele estava ali.

— Se machucou senhorita? — O elfo ignora as risadas e avalia se minha amiga tem algum machucado, não parecendo incomodado com os olhos dela cravados nele.

— Es-estou bem... — Ela diz meio em transe.

— Que bom, por favor, tome cuidado. — Ele sorriu.

— Obrigado. — Ele a ajuda se levantar.

— Vamos amiga... você precisa comer. — Milena puxa-a pela mão, mas os olhos e pensamentos de Amanda estão no elfo que retribui o olhar.

— Elendil. — Légolas chama atenção do elfo vidrado na minha amiga.

— Perdão... senhor. — Ele se assusta e abaixa a cabeça, envergonhado.

Minha vontade era de rir e dar uns tapinhas na costa de Elendil, consolando ele pelo constrangimento que passou. Só espero que não tente dar uns amasso escondidos com Amanda, ou ele vai se arrepender ter nascido, apesar de não ter uma cara de elfo-ousado, estava mais para Justin Bieber com aqueles rosto e cabelos fofos.

— Shara! — A voz de Théo arrepia meus pelos e quando me viro, ele nem me dá tempo de cumprimenta-lo, já vem logo me abraçando amorosamente e depositando um beijo no topo da minha cabeça. — Você está bem? — Segura meu rosto com as suas mãos. Ele estava lindo com aquela roupa de nobre medieval, os cachos loirinhos estavam bem formados e os olhos mais profundos do que antes.

Légolas coça a garganta e eu com Théo nos afastamos consideravelmente. Porque esquecemos que tínhamos plateia.

— Vamos nos sentar? — Légolas sugere e passa por nós, percebo que ele não se agradou com o abraço entre eu e Théo.

Me sentei a mesa e fui obrigada a me sentar ao lado do rei, porque ele queria conversar comigo sobre algumas coisas que eram importantes.

— Coma bem, o treinamento será cansativo. — Diz ele, como se fosse meu pai.

— Você não é meu pai. — Implico.

— Por enquanto, estará sobre meus cuidados, então sou mais velho e terá que me obedecer. — Responde com sua soberania habitual.

— Chato. — Resmungo.

Noto os olhares incrédulos das pessoas ao meu redor, porque percebo que ninguém enfrenta ou debocha de Thranduil, como eu. Até mesmo com o filho, ele se torna meio áspero, apesar de que sinto uma magoa em saber que só sou tratada assim, porque ele amava a minha mãe e prometeu cuidar de mim para ela. Por isso, eu me levantei da mesa sem pedir licença e saí do Salão com os olhares cravados na minha pessoa.

— Posso saber o que aconteceu? — Ashafe aparece repentinamente no meu encalço. — Saiu sem dizer nada...

Reviro os olhos com um sorriso nos lábios. Eu queria chorar.

— Sei lá... acho que endoidei.

Ele riu.

— Tem como ser mais doido que você? — Brinca.

— Não. — Rimos. — Você está bem? — Pergunto ao notar que seus olhos escuros, estavam meio claros, chegando a ser transparentes!

— Sim, porque? — Ashafe pergunta confuso.

— Nada... impressão minha. — Minto.

Não era hora para brincadeiras ou discussões. Por isso, não o disse a verdade por agora, porque senão ele viria com um monte de perguntas e eu já estou cheia delas.

— Vamos voltar? — Sugeriu pegando na minha mão.

— Claro, minha barriga está roncando. — Faço careta e voltamos ao salão, sem ninguém se incomodar conosco.

Todos conversavam normalmente e sentada ao lado do rei, discutíamos sobre o reino, já que eu não conhecia nada e estava meio perdida nisso tudo; mas sempre tomando cuidado com as palavras, se tocássemos no assunto de rainha de Nárnia ou coisa parecida, até invertemos a situação, a rainha das sombras já terá nos ouvido e lançado suas tropas para me matar.

Observava os meus amigos sorrirem, coisa que não faziam desde que chegamos aqui e para ser sincero, até eu havia parado de sorrir, se me lembro bem, todas as vezes que arrisquei um sorriso, foi quando me encontrava com Légolas, porque ele me transmite uma paz aconchegante que desejo ter o resto da minha vida.

Ele está conversando sobre a floresta com Tauriel sentada a sua frente. Não preciso adivinhar que tem algo a ver com a barreira sendo atacada pelas tropas da rainha das sombras, que cessaram fogo por um instante, mas Légolas está ciente que ocorrerá mais e que devem já se preparar para qualquer invasão.

Quando ouço aquilo, meu corpo todo se estremece em pensar no sangue sendo derramado. Eu não quero de jeito nenhum ser uma rainha, mas meus amigos estavam ali e precisavam que eu jogasse meu egoísmo no lixo para preservar a vida deles.

Que situação difícil!

— Precisamos ser rápidos, terminando aqui, vamos já começar a patrulha por toda floresta e não permitir que eles nos ataquem. — Ele estava tenso, mas disfarçava para os outros não perceberem, só que eu não sou os outros.

— Vamos agora? — Tauriel sugere, posso ver que ela deseja acabar com tudo isso de uma vez.

Os dois se afastaram da mesa e me levantei da cadeira, atraindo o olhar dos dois.

— Algum problema? — Légolas questiona.

— Apenas tomem cuidado. — Digo, meio atrapalhada.

Légolas sorrio com meu aviso e caminhou em minha direção, depositando um beijo nas costas da minha mão, sem se importar com os outros à nossa volta. Ele ergue a cabeça e seu olhar me arrepia. Ele parecia feliz em me preocupar com ele.

— Tomaremos. — O príncipe se despede, saindo do salão e só me sento novamente, quando ele some do meu campo de vista.

Meus olhos se cruzam com os de Théo que parece incomodado com o meu aparente relacionamento com o príncipe. Ah qual é? É proibido agora se preocupar com outros sem ter outros sentimentos envolvidos? Théo que me desculpe, mas eu tenho coisas melhores para me preocupar do que com seu ciúme chato.

— O treinamento será comigo. — Diz o rei.

— Mas... — Ele me ignora, mandando um servo preparar o campo para nós.

Onde fui me meter?

Jogo minhas lamentações no vento e termino minha refeição a contragosto, porque Thranduil insiste que eu me alimente bem para tirar proveito do treinamento. Vejo meus amigos conversarem sobre muitas coisas, enquanto eu fico de fora, porque nossos assuntos só podem ser ditos dentro de quatro paredes e somente nós, tudo junto. Por isso, preciso esperar até o momento de convoca-los para uma reunião sem os outros saberem.

— Vamos. — Thranduil manda se levantando da mesa.

— Sou obrigada? — Resmungo.

Ele passa por mim sem responder e minha vontade é de arrancar aquele sorrisinho irônico nos lábios dele!

Levanto da cadeira e Mary segura meu pulso.

— Aonde vai?

— Pro sofrimento. — Respondo dramaticamente e ela faz uma careta dolorosa, se compadecendo de mim.

— Vamos, não tenho o dia inteiro. — O rei rosna e eu mostro a língua para ele, caminhando na sua direção de um jeito largado.

Saímos juntos do salão e ele caminha em silêncio, enquanto eu observo a nuvem negra ter sumido do céu, significa que a barreira repeliu os ataques com sucesso e as tropas dessa rainha das sombras partiram. Sinto uma mistura de alivio e culpa me invadirem, porque como Thranduil disse, ela talvez esteja ciente da minha chegada e deve estar me caçando por toda Nárnia, significa que muitas outras pessoas estão sofrendo nas mãos de seus servos das trevas e a culpa disso tudo... é minha.

Nós andamos por vários corredores que não lembro exatamente a ordem e entramos num que estava vazio, sem nenhum guarda. Totalmente silencioso e num tom de mistério. Olho para Thranduil e ele permanece firme, já eu fico com um ponto de interrogação na cabeça, querendo saber aonde exatamente iriamos treinar, já que com o príncipe, tenho certeza que seria em um lugar movimentado e talvez, no campo de treinamento dos guardas, porém, o rei sabe quem sou e pode ser que não seja apenas um treinamento comum, mas algo diferente.

Ele parou de repente e acabei me chocando com as suas costas. Ele não parece se importar e permanece estático, diante de duas enormes portas na parede que não tinham nenhuma fechadura e maçaneta. Apenas acima delas, uma frase em élfico escrito: Só ela pode abrir, porque seu coração é feliz.

Mas que porcaria é essa!? Por acaso é algum truque élfico para trouxas? Andei tudo isso para nada? Porque até agora Thranduil não moveu um dedo sequer para abrir aquelas portas esquisita.

Só ela pode abrir, porque seu coração é feliz? Que raios de trocadilho é essa? — Elevo a voz. — E Thranduil, porque você está parado aí na parede me encarando?

O rei estava encostado na parede me encarando serenamente, pronto para esperar o tempo que fosse, para alguém desvendar a chave dessa porta.

— A inscrição diz ela, que obviamente é você. — Ele joga a responsabilidade em mim.

— Como é? — Me faço de desentendida.

Ele desvia o olhar, fechando os olhos.

— Você está de brincadeira comigo, né? — Ele não responde e tenho uma louca vontade de espernear e dar uma nesse rei estúpido.

Bufo extremamente irritada porque estou submetida as ordens desse elfo. Cara, ele me irrita de verdade e eu quero pegar umas folhas de árvore e tacar na cara dele, mas não vale a pena e agora estou aqui tentando desvendar esse enigma.

Será que eu tenho que estar feliz para abrir isso? Se for essa a questão, vai ser difícil. Até agora nada que pudesse me trazer alegria aconteceu. Quem pode me fazer feliz? Quem? Quem? Quem?

Pensei nos meus pais e caminhei até a porta, colocando a minha mão nela e transmitindo minha felicidade ao pensar neles, mas nada acontece para meu desgosto. Então tento imaginar meus amigos e irmãs, porém, continua sem abrir. Pelo amor de Cristo! Como faço para abrir isso meu Deus?

Aí me vem à mente a única pessoa que me fez sorrir nesses dias todos... Légolas. Mas eu acabei de conhece-lo, como pode uma amizade recente me fazer abrir essa porta? Se pensar nos meus pais ou mesmo nos meus amigos, que estão comigo desde sempre, não abriu, imagina se eu pensar num carinha que conheci faz uns quatro dias ou menos? Seria tolice tentar!

Só que nesse momento eu não tinha opções.

— Seja o que Deus quiser. — Respiro e coloco novamente a mão na parede, já que tinha me afastado dela para pensar.

Então eu tento lembrar de cada momento com o príncipe. Na floresta, depois na cela, seguidamente no corredor, no salão de banquete, no meu quarto, de novo no corredor e... seu beijo. Foi apenas um beijo nas costas da mão, mas que sem perceber, mexeu comigo de alguma forma e fico pasmada, quando ouço o barulho de parede rachando e consequentemente, as portas se abrindo na minha frente.

— No que você pensou? — Thranduil perguntou.

— É ruim que te conto. — Ele revira os olhos e caminha na minha frente, sem mais perguntas, o que me alivia.

Pensei no seu filho lindo e perfeito com aqueles cabelos dourados e olhos azuis, quer saber mais o que?

Quando passamos pelas portas, elas se fecham atrás de mim e voltam a ser uma parede. Fico assustada, mas o rei permanece com a expressão inalterada, significa que não iriamos ficar presos ali até virarmos esqueletos e uma alma bondosa conseguir nos salvar... pelo menos isso.

Aquele lugar era como uma cúpula fechada e sem janelas. O chão nas bordas das paredes, era grama baixa e havia flores vivas ali que me encantaram. O teto era de vidro e a luz do dia iluminava o gigantesco ambiente. Por isso Thranduil queria vir para cá, não há como alguém nos encontrar, ouvir ou mesmo nos observar. Era extremamente seguro aquele lugar.

Aos poucos que eu ia colocando o pé na grama, ela parecia informar aquele lugar da minha chegada, é meio difícil de explicar, mas é como se eu estivesse sendo aguardada por elas e seus toques na minha pele, parecia sugar alguma energia de dentro de mim e, com isso, vejo linhas brancas e brilhantes andarem abaixo dos meus pés e ir até os desenhos de animais na parede. Havia pássaros desenhados em conjunto, voando como se estivessem dando a volta na cúpula e para meu espanto, a luz branca contorna o desenho e eles tomam vida!

Ouço um rangido e estalos no chão e observo no centro, uma árvore sem folhas e galhos, começar a crescer sem mais, nem menos e suas copas se encherem de folhas verdes e recém-nascidas, tudo numa fração de segundos que apenas meus olhos conseguem acompanhar.

— Você pode fazer muito mais que isso. — Thranduil afirma, me vendo boquiaberta com aquilo tudo.

Os pássaros sobrevoam ao meu redor e assobiam lindas melodias para nós. Thranduil está próximo a árvore e gesticula para eu ir na sua direção. O chão no centro era de pedras e quando coloco meu pé nele, ele desaparece e sinto algo molhado abaixo de mim. Se transformou num lago!

Tudo parece um sonho, mas era real.

Observo o a água que magicamente consigo firmar meus pés, e vejo reflexo de um céu azul e límpido, com várias nuvens brancas, mas que não estavam ali no teto da cúpula. Depois me vejo nela e para minha surpresa, estou diferente de um modo bom.

Uso um belíssimo vestido branco de decote v pequeno, colado até a cintura e a partir daí a saia desce suavemente até o chão.  As mangas são um fino tecido que cai sobre meus braços, estando pregados nos ombros. Minhas costas estão descobertas por um decote redondo e obviamente, bem na marca de nascença. Os cabelos longos até a cintura e escuros como a noite, os olhos sedutores e bastante penetrantes num tom amarronzado e por último, o meu colar de coração brilhava como nunca antes.

— Quem é você? — Balbucio.

— Eu sou você. — O reflexo responde, me fazendo recuar desesperadamente para trás.

Respiro fundo e procuro por Thranduil, mas ele desapareceu de repente e como aquele lugar não tinha saídas, constatei que poderia estar sonhando e quando acordasse, ele iria me dar uma bronca por dormir no treinamento.

— Não estamos sonhando, apenas em outro lugar, a qual o Rei Thranduil ou qualquer outra pessoa, não tem permissão de entrar. — O reflexo esclarece.

Já ia discutir com ela sobre ler meus pensamentos, mas se ela era eu, então saberia o que estou pensando mesmo.

— Não vou discutir com você. — Diz.

— Dá para parar de ler meus pensamentos? — Ralhei comigo mesma.

— Você acabou de constatar o porquê de eu saber o que pensa, já esqueceu isso? — Provoca.

— O gêmea minha, olha aqui, antes de você ficar se achando por ler meus pensamentos, me explica o porquê de eu estar aqui discutindo com você? — Me aborreço, mas ela ignora e de repente toma forma na minha frente, caminhando sobre as águas como eu.

— Eu não sou sua gêmea, sou você.

— Já entendi... agora me explique o que está acontecendo. — Pedi no encalço.

Ela andava com graciosidade e soberania, as palavras eram sábias e suaves, como música. Será que ela era eu mesmo?

— Eu sou você depois de aceitar quem você é. — Afirmou, me deixando confusa.

— Não entendi bolacha com biscoito.

— Eu sou o seu lado sábio e valente, sou seu lado doce e gentil, seu lado rainha. — Ela esclarece e começo a entender mais ou menos. — Sou o seu lado poderoso, aonde os poderes as quais os povos de todas as raças desejam colocar suas mãos, estão aqui dentro e fazem parte de mim como um todo.

Toco meu coração, me lembrando da energia que transmiti agora pouco na grama, que não sabia como, mas que conseguiu tocar na bota e buscar de mim algo que pudesse reviver os pássaros na parede que saíram voando e aquela árvore.

— Está dizendo... que se eu aceitar quem sou, me tornarei você? — Supôs e ela confirmou meneando a cabeça. — Não me acho pronta para tudo isso. — Me nego a aceitar.

— Você está pronta, mas teme em não ser mais a mesma, eu sou você e por isso sei o medo que sente. — Ela estava de costas e se virou para mim. Seu corpo resplandecia luz e saber que eu era ela e vice-versa, era meio desconfortável.

— Não quero ser rainha.

— Não seja rainha, mas sim uma líder.

— E não é a mesma coisa? — Digo num fiapo de voz.

— Rainha é apenas título, líder é liderar um povo de verdade. Quantos reis e rainhas que conhecemos que nunca exerceram a sua função de líder? — Ela tinha razão e fui obrigada a concordar.

Joguei o peso do corpo na outra perna e continuei a encarar o meu Eu.

— Está dizendo que posso escolher ser rainha ou não? — Havia um tom de esperança na minha voz.

— Não. — Que desapareceu nos ares.

— Mas então estou fadada a ser uma rainha? Isso não é escolha e sim prisão! — Me irrito.

— Você tem medo de enfrentar a guerra, mas ela não é só as que ocorrem no campo de batalha, mas existem algumas dentro de nós também.

— Só que é bem diferente das sangrentas cheias de perdas. — Respondo.

— Não pode fugir para sempre disso, você tem que começar a parar de ser egoísta e pensar no povo que sofre nas mãos da Rainha das Sombras e suas irmãs. — Ela me alerta com suplica nos olhos.

— Isso não vai me convencer a mudar de ideia. — Reluto.

— Se continuar a fugir das suas responsabilidades, em breve verá as pessoas que ama morrer diante dos seus olhos. — Ela lamenta.

— Pelo amor de Deus! — Lanço as mãos para o alto, pedindo paciência. — Porque você não se torna rainha ou sei lá, os meus avós? Eu não quero ser rainha porque não foi isso que pedi, não desejei virar governante de um reino, ainda mais um MUNDO! Isso é loucura, só sou uma garota normal de 18 anos que quer fazer faculdade de literatura, casar e ser feliz...

O meu Eu me olha cabisbaixa, mas mantendo o olhar sereno, ela caminha na minha direção e ficamos alguns centímetros afastadas.

— Você nunca será normal e sabe disso.

— Pronto, lá vem EU me falar isso. — Dou as costas para ela, caminhando na direção contrária à sua.

— Olhe para tudo à sua volta e pense antes de escolher, nossa mãe Helena também teve medo quando aceitou ser rainha e ela... — A interrompi.

— Se sacrificou para salvar a todos, infelizmente não sei como, mas sei dessa história. — Gesticulo.

— Ela se sacrificou pelo seu povo e principalmente, por você. — Nesse momento, eu a encaro. — Ela morreu para que você pudesse seguir os passos dela e se tornar a próxima rainha, salvando o povo que ela tanto amava e trazendo seus dias de paz e glória novamente a Nárnia.

Suspiro com um fardo nas costas.

— Você tem seus pais, amigos e família para apoia-la, mas a escolha sempre será sua e infelizmente, dependendo do que escolher... ela pode ser a salvação ou perdição. — O meu Eu fala seriamente, dando ênfase para mostrar o quanto aquilo era importante. — Shara, infelizmente devemos abrir mão de coisas para as novas que virão. Você abrirá mão da sua vida normal, mas receberá em troca coisas grandes. Escolha com o coração. — O meu Eu coloca a mão no meu coração e trocamos olhares serenos.

— Vou pensar. — Desvio o olhar do dela.

— Quando seu coração escolher, volte aqui para que Nárnia ouça a sua escolha. — Avisou e senti um frio na espinha ao ouvir aquilo.

Depois ela voltou a ser um reflexo na água e tudo desapareceu ao meu redor, fechei meus olhos para não me ver caída naquele buraco negro e quando os abro, estou diante da parede tentando desvendar a frase com Thranduil me encarando.

— Espera aí... eu voltei no tempo? — Franzo o cenho e vejo o rei se afastar da parede, caminhando no sentindo contrário a parede, indo embora. — Ei Thranduil! Espera aí seu apressado. — Corro na direção dele e o mesmo para, me esperando.

— Você ainda não se decidiu, não é mesmo?

Como você adivinhou? Está estampado na cara?

— Não. — Desvio o olhar.

Ele ficou em silêncio e aquilo simplesmente me irritou.

Porque eu?


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Notas finais do capítulo

Até a próxima... espero que estejam gostando.



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