Saía da faculdade atribulado e tenso, fora um dos piores dias. Não passei nas provas e flagrei minha namorada se agarrando com outros caras numa sala afastada, logo hoje que eu faria o convite para leva-la em casa e apresenta-lá aos meus pais e minha irmãzinha.

Sequei as lágrimas com as mangas encharcadas da blusa enquanto um motorista qualquer gritava comigo por ter atravessado a rua sem perceber o sinal aberto. Arrastava os pés pela calçada tortuosa avistando minha parada obrigatória de sempre. Não estava com forças para encarar pessoas nesse estado em que me encontrava. Poderia simplesmente não ir. Mas eu fui.

Indiquei os chocolates, peguei o dinheiro e paguei guardando-os na bolsa. Entrei em casa deixando os tênis na escadinha e subindo. Escutei passos apressados e o peso adicional em cima de mim, segurei-a afagando seus belos cabelos.

Me perguntou o que havia acontecido, retruquei um: estou cansado e beijei-na. Fui ao meu quarto depositar a mochila no chão, puxei a toalha e fui tomar banho.

A sós apenas com o barulho da água e o vapor, deixei escorrer toda minha frustração, com olhos vermelhos entrei e com olhos piores saí.

Mas não estava triste, do contrário. Feliz até ansioso, sabia o que me aguardava, passando a porta da sala, notei lá no cantinho escondida, rodeada por papéis de chocolate.

Sorri completamente deleitado e a antes dor do meu peito se esvaiu dando lugar a alegria e aquecimento terno.

Nada me alegraria mais do que seus sorrisos ao abrir novos pacotinhos.

Nada me divertiria mais do que seu rostinho lambuzado.

Nada me faria parar de atravessar todo dia a avenida para ir na loja.

Não há nada que me fizesse parar de ama-lá.

Por que afinal, eu sabia que ela todo dia roubava os chocolates da minha mochila e eu continuava a guarda-los no mesmo lugar.