Capítulo 7: Sentimentos

Era manhã de sexta-feira e Severo decidira ir para o Salão Principal para o café da manhã. Se ele aprendera alguma coisa sobre Hermione Granger na última semana foi que ela não respondia a correspondência de pronto, então havia somente uma chance mínima de que o humor dele atingiria níveis piores que o socialmente tolerável. Assim ele podia entrar no jogo da Minerva sem correr muito risco de dar-lhe mais munição para os ataques irritantes e inesperados dela.

Ele entrou no salão, olhando feio para quem ousava olhar em sua direção enquanto andava até a Mesa Principal. O fato de ele estar presente na refeição matinal não significava que seu humor era sociável, apenas no limite do sociável. Tomou o assento ao lado da Diretora e esperou pelo inevitável. Não precisou esperar muito tempo.

— Bom dia, Severo. É sempre bom vê-lo no Salão Principal tão cedo. Perdoou os elfos domésticos, então?

Ele se serviu de café e ignorou a torrada que normalmente comia com ele. Também ignorou a Diretora, mas isso não pareceu desencorajá-la.

— Asseguro que a torrada não está seca demais esta manhã — ela continuou.

Corujas invadiram o salão por todos os lados naquele momento. Uma carta caiu em seu prato.

— A não ser que sua correspondência ainda esteja amaldiçoada para secá-las — Minerva acrescentou.

Severo lhe dispensou um olhar de soslaio como aviso antes de pegar a carta. Era uma resposta da Granger. Ele sentiu os olhos de Minerva em si, expectantes. Virou-se para ela, segurando a carta e erguendo uma sobrancelha.

Ela teve a audácia de rir num rufo de ar antes de voltar para seus próprios afazeres, naquele caso, o café da manhã.

Severo se conteve de abrir a carta, só para provar que ainda tinha algum controle sobre a situação, ou assim disse a si mesmo. Mas a ausência do anel no pacote era palpável.

Não muito depois, na relativa privacidade de seu escritório, seu controle faltou, como ficou evidenciado quando rasgou o envelope impacientemente.

Caro Professor Snape,

O senhor insiste em ser rude, então continuarei a ser direta. Até que o senhor exponha seus motivos, eu lhe negarei o anel. Se me diz que ele é maligno, então prove. Caso contrário, não acreditarei no senhor.

Tem minhas condições para cooperação.

Cadela cínica! Como se tivesse direito de exigir alguma coisa. Severo prosseguiu para a besteira qualquer que ela ainda tinha a dizer.

Note que não estou sendo mesquinha sobre o assunto; o senhor é quem está tornando a minha decisão mais difícil. Já considerou que eu possa ser apegada ao anel? Sequer considerou a possibilidade de que eu possa estar preocupada com o destino dele? Acho que não, portanto deveria.

As pessoas têm sentimentos. Não desrespeite os meus só porque não consegue compreender o conceito.

Hermione Granger.

As linhas em sua testa estavam mais profundas do que nunca. Quem era ela para alegar uma ligação sentimental com o seu anel? Severo não estava feliz. Ele estava muito irritado, para falar a verdade. Aquilo era desrespeitoso e intrusivo e... e... rude, até para os seus padrões!

O anel era precioso para ele. Se tivesse que ser precioso para mais alguém, tinha que ser para alguém de sua escolha e não uma... ladra intrometida qualquer!

Ela estava arruinando tudo. Hermione maldita Granger estava corrompendo seu anel.

Severo descartou a carta na mesa e começou a andar. Ele andou de um lado para o outro, tentando fazer a dor em seu peito passar. Era como voltar para o Largo Grimmauld e encontrar a carta da Lílian tudo de novo.

Sentimentos? O que ela sabe sobre sentimentos? Nada!

Severo parou em frente a uma estante e correu um dedo longo pelos contornos do vidro trabalhado de um pote elegante. Ele continha um líquido vermelho vivo que estava visível através das paredes verdes. Contornou e contornou novamente o ornamento, acalmando-se. Fechou os olhos e suspirou.

— Droga.

Ainda estava bravo com a petulância da garota, mas tinha que manter a cabeça o mais longe possível do seu ínfimo coração, ou seria devastador. Severo não tinha o luxo de perder a cabeça agora, por mais que ele teria gostado de se render à dor.

Por que mesmo ele sobrevivera?

Não pense nisso, seu tolo... — repreendeu seus pensamentos.

Era quase hora das aulas da manhã, então ele simplesmente se dirigiu para a porta e saiu para a sala de aula, deixando, porém não esquecendo, a carta em sua mesa.

o0oOo0o

Depois de passar o final de semana tentando racionalizar sua reação à carta da Granger, Severo ainda estava irritado com as palavras dela. Não podia entender como ela podia alegar que seu anel significava algo para ela se era apenas um objeto que ela achara no chão de um quarto imundo.

Severo precisava resolver esse impasse, tomar o anel dela o mais rápido possível.

Ele escreveu uma resposta à pena e enviou-a. Sua paciência estava chegando ao fim, e ele não se importava se isso transparecia na carta; nunca se importou.

No próximo capítulo... Hermione se ofende com o descaso de Snape.