Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 8
8




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TOMAZ

“Lugares, lugares, vão para os seus lugares, ponham seus vestidos e façam cara de boneca. Todo mundo pensa que nós somos perfeitos. Por favor, não deixe que olhem através das cortinas.”

 

Os dias ao lado de Murilo estavam sendo engraçados e divertidos para Tomaz. Ele já tinha se adaptado ao jeito do amigo. Gostava tanto dele que até quase se esquecia do motivo pelo qual o amigo estava ali. Ele estava ali para ser o namorado dele, e hoje os jovens tinham uma missão especial. “Você pode até apresentar ele como seu namorado, mas não dê pinta. Pegaria feio pra você.” Disse o pai mais cedo.

Hoje eles teriam uma comemoração em casa. A construtora de seu pai tinha acabado mais uma obra de shopping center em uma cidade próxima, na zona leste. A casa estaria cheia de empresários e pessoas envolvidas no projeto. As pessoas grandes, ricas, a sociedade rica da Cidade de São Paulo, é claro. Tomaz estava realmente estressado com isso, o dia na casa estava sendo um inferno, e ele se sentia culpado por Murilo, que estava na casa há apenas três dias e já tinha que se ver mergulhado nessa loucura toda que era viver no lar dos Archetti.

Eles se olham por um instante e riram um do outro. Estavam os dois no quarto em frente ao grande espelho na porta do guarda roupa marrom.

— Você está ridículo com essa roupa! — Murmura Tomaz para Murilo jogando o corpo para lado e chocando com o corpo menor do amigo.

— Estou mesmo, nunca imaginei que iria ser obrigado a vestir uma peça de roupa como essa. — Murilo diz enrolando a gravata no pescoço. — Como que coloca isso?

Tomaz ri mais alto e olha para o amigo levando as mãos para a gravata do menor e começando a dar o nó corretamente. Ele não tira os olhos dos lábios do amigo mesmo quando amarra o nó na gravata escura, sua mãe que havia escolhido a peça logo depois de Rafael ter dito que não havia trazido nenhuma roupa de festa. Ele tentou mudar seus pensamentos, mas estava começando a se sentir atraído por aquele sorriso, e por aqueles lábios rosados. Então focou seus olhos na gravata terminando o nó perfeito para o amigo.

— Assim está bem melhor, muito melhor! — Murilo diz sorrindo e olha para o espelho. Ele passa a mão por sua roupa.

— Você está ridículo. — Tomaz diz novamente. Ele sabia que estava mentido para si mesmo. O garoto em sua frente estava deslumbrante. Murilo usava um terno cinza escuro, quase beirando o preto bem ajustado em seu corpo e uma gravata também escura. Ele sorri e olha o rosto do amigo, o rosto parece mais limpo se a penugem que ele chama de barba e os cabelos arrumados num topete com gel.

— Eu não entendo porque eu sou obrigado a usar terno e você usa esse smonking tão bonito e com essa gravata borboleta. Estamos indo a lugares diferentes, né? Eu para um velório por exemplo. — Murilo diz meio bravo e faz um bico.

Tomaz ri do amigo. Acha fofo o bico infantilizado que o mesmo faz e então se olha ele mesmo no espelho. A camisa branca justa ao seu corpo malhado e a gravata borboleta preta no pescoço o deixa com cara de garoto de programa de luxo, ou dançarino de boate. Ele sorri disso e passava a mão pela camisa alisando a mesma. A calça preta justa e um sapato de bico bem lustrado.  Outro pensamento lhe vem à mente. Era assim que seu pai gostava de vê-lo, bem vestido e pronto para assumir a sucessão na empresa, mas ainda lhe faltavam anos na faculdade pra isso. Ele continua sorrindo. Precisa aceitar essa ideia.

— Estou mesmo um gato, o seu namorado é um gato, não é mesmo? — Ele diz rindo para tentar esquecer seus pensamentos e pisca pra Murilo.

— Olha, se você fosse realmente meu namorado, eu diria que você está lindo. Mas o Rafael. Ele continua achando que nós dois estamos ridículos. — Murilo diz fazendo que sim com a cabeça. Ele ri.

Tomaz também ri e caminha até a cama para buscar seu casaco preto. Ele veste e olha para Murilo com uma cara marota.

— Antes de descermos eu quero te contar uma coisa. — Ele diz sério. — Essa festa provavelmente vai ser horrível. O meu pai vai ficar falando e me puxando o tempo todo para cumprimentar pessoas que eu não conheço, ou para conversar com seus velhos amigos sobre a minha experiência na faculdade. E eu não quero que você se sinta deslocado, sempre que puder estarei com você, mas...

— Eu entendo tudo bem. Eu prometo que vou ficar quietinho e não farei feio pra você. — Murilo diz baixo e depois sorri sem graça.

— Eu não disse isso, eu só quero que se enturme. Dê oportunidade de conhecer pessoas também, minha irmã vai adorar conhecer o Murilo que você tem me mostrado nos últimos dias. — Fala Tomaz.

— Esse que você conhece sou eu. A pessoa que vai descer pra essa festa é o seu namorado Rafael. — Murilo diz sem graça.

— Está bem, vamos? Eu acho melhor descermos antes que a minha mãe venha nos buscar. — Tomaz diz sorrindo e estende o braço para Murilo.

— Você quer que eu... Está bem! — Murilo diz rindo e passava a mão pelo braço de Tomaz segurando ali. Os dois caminham para a festa que ocorre lá na sala e no jardim.

Os garotos saem até o jardim. Já há muitas pessoas na festa. Então Tomaz sai cumprimentando algumas pessoas por onde passa. Ele sente o aperto no braço afrouxar e olha para Murilo.  Balança a cabeça em negativa indicando para o outro não solta-lo. Ele caminha devagar.

— Oi, seja bem vindo. Como vai a sua filha Kátia?

— Eu vou bem muito obrigado.

— Eu só preciso de férias, não quero ouvir falar na palavra arquitetura. — Ele ri.

— Prazer é todo meu, esse é o Rafael, meu namorado. Está de férias em São Paulo.

Murilo sorri educadamente.

— Oi tia Laurinha. Sim, esse é o Rafael. Eu sei, eu tenho bom gosto ele é mesmo bonito.

A piscina está iluminada pelas luzes roxas da casa. Está tudo muito bonito. Ele observa e sorri. Ele precisava admitir que sua mãe era realmente uma ótima decoradora. Suas ideias nunca se esgotavam para festas e ele já estava ansioso para descobrir o que ela iria preparar para o natal que chegaria logo depois de duas semanas. Tomaz continua sorrindo e apertando algumas mãos.

Murilo estremece ao seu lado e ele olha para o amigo. — Você quer alguma coisa? Beber alguma coisa? — Ele pergunta vendo o garçom se aproximar e pega duas taças de champanhe entregado uma ao amigo.

— Eu nunca bebi. — Confessa Murilo para o deleite de Tomaz.

“Eu adoro essa coisa virginal dele. Parece que tenho que ensinar tudo para ele!” Pensa e ri. Olha para o amigo e não abaixa a taça. — Você só precisa beber, é bom e faz cócegas no nariz, você vai gostar.

Murilo afirma com a cabeça e pega a taça de sua mão. Ele observa o garoto virar a taça na boca e beber um longo gole, então sorri.

— É bom! — Murilo diz sorrindo.

— Sim! — Ele diz baixo. — Essa foi sua primeira vez com bebida, a segunda será ainda melhor.

Os dois se olham cumplices.

Pelo menos duas horas se passaram desde que a festa começou, e Tomaz já não sabe onde deixou Murilo. Passou por tantos lugares, conversou com tanta gente. É sempre a mesma coisa. Era uma festa comum para sua família. As pessoas sorriam, as pessoas brindavam, e diziam “sorriam para as fotos” “abrace a sua irmã” “digam x” “olha o passarinho”. E então amanhã teriam suas fotos nas melhores revistas de São Paulo como uma família modelo da sociedade empresária de São Paulo, mas ele sabia que eram apenas aparências. A família não era feliz daquele jeito. O pai traia a mãe com uma vagabunda diferente a cada noite antes de voltar do escritório. A irmã? Essa talvez fosse a menos louca da família, ou a mais louca casou por interesse do pai e vivia sua vida totalmente de fachada, mãe de duas gêmeas e com um marido perfeito, mas não era isso que ela contava quando estavam somente os dois em seu quarto. A mãe? O que falar dela. Era uma perua mal amada e infeliz, gastava todo o dinheiro do marido com joias, perfumes e uísques caros para esquecer as traições do marido. E ele, que fazia tudo para agradar a família e estava naquela sala falando com convidados chatos e olhando todos os outros encenar, usarem suas caras de plásticos, seus sorrisos comprados, e sua felicidade momentânea.

Ele encontra Murilo no fundo da sala conversando com sua mãe. O garoto ri desconfortável e parece mentir. Ele ri com a cara que o amigo faz sempre que mente.

“Acho que já deu dessa festa. Acho que já deu dessa mentira por hoje.” Ele pensa.

Então caminha em direção a Murilo e sua mãe. É a primeira vez que olha a mãe realmente. Ela está bonita, seu vestido longo e roxo a deixa mais jovem. Ele sorri para a mãe e a beija no rosto.

— Estamos de saída. — Ele diz e sorri.

— Como assim de saída? Mas a festa acabou de começar. — A mãe diz olhando-o nos olhos. Ele sabe o que aquele olhar significa.

— Eu já falei com todos os interesses do papai, já posei para mil fotos e eu só quero ter um tempo livre com meu namorado agora. Ele só vai passar um mês aqui, e nós teremos festas como essas o tempo todo. — Ele diz seco.

— Não é como se o Rafael só fosse vir aqui dessa vez. Em outras férias ele virá novamente. — A mãe diz séria.

— Não, nas próximas eu irei ao Rio. E mãe, não vamos discutir isso agora! Eu... — Ele se cala ao ouvir o fotógrafo.

— Posso tirar uma foto?

— Mas é claro! — Diz sua mãe sorrindo. Ela gruda no braço de Tomaz. — Vem, Rafael.

Tomaz olha para Murilo que caminha devagar e se coloca ao lado dele. Os três sorriem e ele sente o flash forte cega-lo por instantes.

— Por favor, quem é o rapaz? — Pergunta o homem com a câmera.

— Muril... — Murilo começa a dizer.

— Rafael... Rafael Sabugo. — Tomaz é mais rápido e diz o nome do namorado com o sobrenome real do amigo. Sorri sem graça.

— Ótimo obrigado! — Diz o fotógrafo saindo para tirar outras fotos.

Ele se vira para a mãe.

— Estamos indo!

— Como assim? Aonde você vai? — Pergunta a mulher começando a ficar irritada.

— Qualquer lugar que não seja aqui. E mãe, eu acho melhor a senhora ir controlar o quanto o papai bebe! — Ele diz sério e então segura o braço de Murilo. Puxa o garoto consigo a fim de sair da festa.  

— Onde estamos indo? — Murilo pergunta.

— Qualquer lugar. — Ele diz sério e corre puxando o amigo em direção ao seu carro que está na rua dessa vez.

Os dois entram no carro e Tomaz da partida e acelera sem mesmo colocar o cinto. Só quando está longe de casa e saiu do condomínio que ele coloca o cinto e olha para o amigo no banco de carona.

— Aquilo estava me matando. Eu precisava fugir um pouco de lá. Entende? — Ele pergunta.

— Sim... — Murilo responde baixo.

Tomaz arranca o celular do bolso ele disca para alguém e leva o celular ao ouvido.

— Ei, bichão. E aí, me encontra lá no Trianon beleza? Chama a galera e leva bebida. É pô, eu vou colar lá agora... E daí que tá fechado? Não será primeira vez que a gente pula. Falou!

Ele olha para Murilo e sorri engraçado, mas logo volta sua atenção ao trânsito que está mais vazio que o habitual.

— Essa vai ser a primeira vez que você vai beber de verdade. — Ele diz rindo de uma forma bem estranha até pra ele. — Espero que esteja preparado.

— Com você estou preparado pra tudo. Você prometeu que essa aventura de mentir seria inesquecível pra mim, não foi? Então eu quero a aventura completa. — Murilo diz sorrindo.

Tomaz gosta disso. Gosta da forma como o outro confia nele. E sorri.


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