Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 4
4




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MURILO

Afinal, se coisas boas se vão é para que coisas melhores possam vir. Esqueça o passado, desapego é o segredo! Fernando Pessoa

— Como assim? — Perguntou Murilo com os olhos saltando e encarando o garoto em sua frente. Ele só pode estar maluco. Não é possível. Pensou o garoto. Ele mordeu o canudo da sua bebida enquanto pensava. Sentiu vontade de rir e agradeceu por estar com a boca ocupada. — É sério, como assim?

Murilo completou arrancando a boca do canudo.

Tomaz não demorou a falar. Parecia animado, esperançoso.

— É uma ótima ideia, você não vê? Você vai ir lá pra casa mesmo, e assim nós dois iremos poupar constrangimentos. Eu apenas apresentarei você como o Rafael, e daqui a um mês quando você chegar a sua casa, você irá dizer que foram as férias da sua vida com o cara que eu não sei o nome, e então depois de um tempo nós contamos para nossas famílias que não deu certo e que nossos relacionamentos acabaram. — Ele deu uma pausa como se estivesse cansado. — E então nós dois não iremos nem precisar nos ver mais se você assim quiser. — Ele concluiu.

— Você não está percebendo que isso é uma maluquice, né? — Perguntou Murilo sentindo um pouco de esperança, podia talvez enxergar uma luz no fim do túnel se colocasse seus óculos.

— Por que é uma maluquice? A minha família não conhece o Rafael. Ele é lá do Rio, e a minha mãe viu umas fotos dele, porém você lembra muito ele, ela não vai nem perceber. — Falou Tomaz puxando o resto de sua bebida pelo canudo estreito e fazendo um barulho.

— Olha encontramos o primeiro erro. Você disse que ele é do Rio de Janeiro! — Falou Murilo dando uma ênfase exagerado no nome da cidade. — E eu sou do interior. — Ele concluiu frisando bem no erre evidenciando seu sotaque.

— E daí? Vai ser como atuar. Nós podemos inventar que o Rafael morou aqui até a adolescência e ainda não perdeu seu sotaque. Minha família não sabe muito sobre ele, nem eu sabia, não vai haver riscos na nossa fraude. — Tomaz disse sorrindo e então mostrou os dentes brancos piscando. — Você precisa aceitar, por favor. Eu iria ajudar você, salvaria sua pele de ter que dormir naquela rodoviária, não custa me ajudar e se ajudar.

Filho da puta! Está me chantageando, pensou Murilo. Mas ele mesmo tem que concordar é uma boa ideia, vai ajudar e beneficiar os dois.

— Então se eu aceitar nós vamos ter que fingir que estamos apaixonados? — Ele perguntou fazendo uma cara meio estranha. Murilo tentou esconder seu desconforto, porém foi óbvio.

— Sim, nós iremos fingir isso. Mas não precisa se preocupar não vai fazer nada de errado, até porque você não namora mais aquele cara e tem mais. Nós não vamos ter que ficar nos beijando na frente dos meus pais para provar que estamos juntos. Talvez vai ser preciso na frente dos meus amigos, mas... Não precisa se preocupar com isso, vai ser como atuar, eu já disse. — Tomaz diz decidido.

Murilo sentiu-se frustrado e com vergonha, sua vontade foi levantar e dizer não. Dizer que não iria mais precisar ficar na casa dele. Como contar para um cara que acabei de conhecer que sou bv e que nunca beijei? Pensou.

— Escuta cara! — Falou Tomaz. — Estou com uma imensa vontade de tomar banho de felicidade, vestir a roupa do desapego, me perfumar com bom humor, me envaidecer com sonhos para ir à festa da vida, tomar uma boa dose de amnésia e dançar com o amor próprio. E você deveria fazer isso também. Não vai adiantar nada ficar lá em casa chorando hoje, amanhã cedo pegar um ônibus pra casa, contar tudo para os seus pais e depois ligar o computador e tentar voltar com o moleque filho da puta.

— Eu sei, não é só isso é... — Murilo tentou dizer.

— Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar em vão, para trazer a linha de volta. É aceitar doer inteiro até florir de novo. Se dê esse tempo, você terá um mês para se divertir. Eu vou te levar para vários lugares aqui em São Paulo, você vai conhecer meus amigos, você fará novos amigos, inclusive eu. E nós iremos superar toda essa bosta juntos, entende? Eu não acreditava em destino, mas agora sim. Ele nos uniu para que pudéssemos salvar a pele um do outro. — Tomaz disse sorrindo e Murilo pode notar o quando o garoto era confiante.

— Mas isso pode não dar certo, cara. Isso pode me meter só em outra furada e se os seus pais não gostarem de mim? E se eles falaram pra eu ir embora? Hem? — Murilo perguntou pensativo.

— Cara, Murilo, pô meu se desapegue dos detalhes, não se importe com essas coisas, com o que os outros vão pensar. Por um mês você será meu namorado e ninguém vai te expulsar da minha cara. Eu não deixaria. Então seja egoísta e confie em você mesmo, confie no seu taco, e o principal não fique com medo antes que aconteça, só irá descobrir tentando. — Tomaz disse sorrindo.

Namorado? Eu serei seu namorado? Pensou Murilo, enquanto seu coração deu uma pequena queda na frequência dos batimentos. Deixa de ser besta, Murilo. Ele está falando do Rafael, não de você. Você não conhece esse cara, e ele é bonito, mas é só isso.

— Então se eu aceitar isso, nós seremos namorado por um mês e faremos tudo que namorados fazem? — Murilo perguntou sem graça.

— Claro que sim, tudo que você quiser. Talvez até a gente foda gostoso para meus pais ouvirem a cama gemendo. — Tomaz falou sério.

Murilo fez uma cara de espanto e pareceu se levantar.

Tomaz riu.

— Eu estou brincando, não vamos precisar fazer nada quando estivermos só nós dois no quarto. — O garoto disse rindo.

Murilo riu também, mas de alivio. Esperava não precisar ter que transar por moradia durante um mês.

Tomaz levantou primeiro.

Murilo o imitou e pegou seu copo da mesa, ainda estava na metade da bebida, o garoto olhou para o novo colega e sorriu sem jeito. Ele sabia que estava chegando a hora em que iria ter que mentir para os pais do outro e teria que ligar pra casa e mentir para o próprio pai. Ele suspirou e acompanhou o outro até o carro.

Já no carro Murilo aproveitou para encarar Tomaz enquanto o garoto estava concentrado no trânsito. Era um rapaz muito bonito. Os cabelos castanhos caindo meio rebelde sobre a testa com umas mechas lisas e repicadas o deixava com ar de descolado. O olho verde acima do nariz bem desenhado o deixava tão bonito como um ator de cinema. Pensou Murilo. Até sorriu. Tomaz tinha lábios meio rosados e grossos na medida certa, sua boca não era tão bonita quanto à do ex-namorado de Murilo, mas isso não o impedia de querer beija-la. Que? Não, que caralho Murilo! No que você está pensando? O garoto se repreendeu e tentou mudar o foco dos seus pensamentos.

— Então quantas pessoas vivem na sua casa? — Ele perguntou tirando a concentração do outro que o olhou.

— Somos apenas três, meu pai, minha mãe e eu. Mas minha irmã e meu cunhado vivem lá em casa com duas filhas. Você vai gostar deles, são divertidos. E vão te receber muito bem. — Disse Tomaz parando num semáforo.

— Que legal! — Murilo disse sorrindo verdadeiramente.

— Ops eu me esqueci da Laila. É a pug da minha mãe. Ela parece gente. — Tomaz disse rindo e olhou para o rapaz. — Mas não precisa se preocupar com isso, não é como se você precisasse conhecê-los.

— Eu sei, estou apenas tentando preparar meu psicólogo para conhecer todas essas pessoas que com certeza vão estar me olhando de cima a baixo. — Ele disse sem graça imaginando que o colega fosse rico.

Tomaz riu e arrancou com o carro quando o farol abriu.

— Minha família é mais simples do que você imagina você vai ver. — Ele disse rindo.

Murilo observou quando o carro entrou por um portão grande de correr. Ele olhou para fora. Ficou supresso com o que viu.  Eles tinham um jardim enorme, nem se comparava com o pequeno jardim da sua avó lá em Araraquara. O garoto ficou abismado com aquilo. Havia também uma grande piscina.

— Onde estamos? Qual lugar de São Paulo? — Ele perguntou para Tomaz.

O garotou soltou sem cinto antes de responder. — Morumbi. — Desceu do carro e bateu a porta. — Vem amor! — Ele disse para Murilo.

Então começamos a farsa. Pensou o garoto descendo do carro. Ele suspirou fundo e sorriu. Ficou assistindo Tomaz pegar sua mochila no porta malas do carro. O garoto era forte. O corpo quase malhado, não muito o garoto observou, porém atlético. Murilo sentiu-se confuso quando Tomaz estendeu a mão em sua direção, mas então lhe entregou a própria mão. O outro entrelaçou os dedos.

Caminhou junto ao outro até a casa.

— Oi gente, chegamos! — Tomaz disse alto para a família.

Então Murilo viu as pessoas saindo de vários lugares, de portas e corredores e vindo até a sala. Ele sorriu sem graça. A primeira mulher a chegar era alta com cabelos castanhos claros num corte recente que Murilo havia visto em alguma revista de moda. Ela sorriu carinhosamente e caminhou até o garoto. Ele não pode deixar de notar que ela estava com uma saia longa até o chão totalmente preta e de chinelos de dedo. Será que são simples mesmo? Ele pensou assim que a mulher agarrou seus ombros e lhe beijou o rosto.

— Seja bem vindo, Rafael, nós ouvimos falar tanto sobre você. Estávamos ansiosos pela sua visita. Eu sou Marta, a mãe desse gatão. — Ela disse rindo e beijou o filho no rosto também.

— Manhê, para com isso pô! — Falou Tomaz rindo e tentando se esquivar, mas Murilo notou que ele gostou do elogio e do carinho da mãe.

— Viu como ele é Rafael? Ele é um ingrato. — A mulher disse rindo e segurando na mão de Murilo. — Venha Rafael, venha. Nossa você é muito mais bonito pessoalmente que nas fotos.

Murilo olhou para Tomaz que fez uma careta. Ele sentiu vontade de rir, mas se deixou ser levado pela mulher.

— E você leve essa bolsa pro seu quarto e lave as mãos para gente almoçar. O seu pai está agoniado. — Ela falou para o filho e então se virou para o genro. — Não ligue para o jeito turrão do meu marido, o Luís é caladão, mas é muito mole e doce, é só você falar sobre séries que ele vai te amar. — Ela sorriu sincera.

— Ouvi meu nome? — Falou um senhor alto que entrou na sala.

Murilo sentiu-se intimidade e se encolheu um pouco. Encarou o homem. Era meio assustador, alto e careca, forte demais para um senhor de meia idade. O homem caminhou até ele e estendeu a mão.

Murilo estendeu a mão meio tremulo e segurou. O homem tinha o aperto forme e firme.

— Prazer em conhecer você, Rafael. Nessa casa todo mundo conhece você de cor e salteado. — O homem disse rindo.

— É um prazer conhecer o senhor também... — Ele pensou como era. — Luís!

— Ora, ora e esse sotaque paulistano? Andou passando tempo demais com meu filho, hein? — Ele disse rindo.

Mas o homem foi interrompido por duas meninas pequenas que entraram correndo. Logo atrás Murilo notou uma ruiva bonita.

— Esse é o namoro do tio pudim? — Perguntou uma das garotas.

— É sim, que bonito ele. — Falou a outra.

— Eu não achei. Muito magro! — Disse a primeira.

— Júlia e Ester, que coisa horrível de se dizer. — Falou à ruiva que vinha logo atrás. Ela não se aproximou de Murilo. — Oi, eu sou Joyce, irmã do Tomaz. — Ela então sorriu.

— Oi! — Murilo disse sem graça.

O garoto podia ouvir todos conversando e isso estava o deixando maluco. Ele não conhecia aquelas pessoas não deveria estar ali.

— Mas é verdade, ele está muito magrinho! — Disse uma garotinha.

— É coisa dos jovens de hoje em dia, Julinha. Eles querem ser magros. — Respondeu o avô rindo.

Murilo ficou aliviado quando viu Tomaz descendo a escada. Era o único ali com quem ele sentia certa segurança.

— Então vamos almoçar, o Rafa e eu estamos morrendo de fome. — Ele falou sorrindo e piscou para Murilo.

Murilo suspirou e sorriu de volta.


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