Murilo beija garotos escrita por roux


Capítulo 11
11




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MURILO

“Porque na vida real você não é o que eu pensava ser. Não era isso que eu queria, acho que as coisas nem sempre são o que parecem, pois nos meus sonhos, eu acordo com rosas, champanhe, beijos e eu sei que sempre, sempre será assim. Nos meus sonhos, você está bem ao meu lado, dois corações finalmente se encontrando. Porém quando eu acordo eu percebo que essa é a vida real e na vida real, nem sempre dá certo, as pessoas se apaixonam, amam e se desiludem corações podem se partir e nunca fazer barulho algum. (Demi Lovato)”.

 

 

O dia já começou cansativo. Primeiro eles tiveram que pular o portão de volta e Murilo acabou de machucando na grade. Resmungou palavrões e caminhou para o carro preto logo ali. Era uma picape quatro portas grande iria caber todo mundo ali dentro. Ninguém estava em condições de dirigir, porém Tomaz era o mais sóbrio. Ele rezou em silêncio para Tomaz estivesse mesmo bem para dirigir. Ajudou a Mônica a colocar os dois mais bêbados no banco traseiro. Ele sorriu para ele enquanto fazia isso. Ele tinha certeza que a moça era apaixonada pela amiga e não tinha coragem de se declarar. Sentiu-se triste por ela. Porém deixou para pensar nisso com calma depois. Iria conversar com Tomaz e ver se seus pensamentos estavam mesmo corretos. Depois de colocar os três bêbados no banco traseiro ele se despediu da garota.

— Ei, tem mesmo certeza que não quer ir com a gente? Está realmente em condições de dirigir? — Ele perguntou segurando as mãos da garota.

— Eu tenho sim, obrigado Rafael. Mas alguém tem que levar o carro, não posso deixar o carro da Joana aqui. Se ela estivesse em condições de falar uma frase concreta agora iria me ridicularizar com palavras por pensar em deixar o carro por aqui. — Disse a garota sorrindo.

Então era isso. A outra.

Ele sorriu sem graça.

— Vê se toma cuidado, hein? — Falou Tomaz abraçando a amiga, que retribuiu o abraço.

— Eu vou tomar sim. Pode deixar! — Ela disse rindo.

Murilo caminhou pra frente e abraçou também. Por algum motivo sentia que deveria fazer algo para ajudar a garota, e iria fazer.

— Foi um prazer te conhecer. Adorei você! — Ele disse sorrindo.

— Ah, imagina. O prazer foi todo meu. Eu vejo como você faz o pudim feliz. E isso me deixa feliz. Ele te olha de um jeito que eu não o vi olhar pra ninguém. — Ela diz sorrindo. — Espero que a gente possa sair outras vezes antes de você ir embora.

— Eu também espero! — Ele diz pensando na frase da garota. Será que havia algo diferente mesmo na forma em que Tomaz o olhava?

— Então vamos lá que ainda temos que deixar esses três em casa! — Tomaz disse rindo e batendo no teto do carro para acordar os amigos que estavam lá dentro.

— Vai se foder porra. — Gritou um Caco totalmente bêbado.

Eles riram.

Murilo entrou no carro e colocou o cinto. Olhou para Tomaz que havia acabado de sentar também. O jovem ao seu lado ligou o carro e partiu.

Durante boa parte da manhã eles deixaram cada um dos amigos de Tomaz em suas casas. Riram juntos, brincaram juntos enquanto entregavam os amigos. A cena mais engraçada da manhã foi quando Ogrão gritou por socorro e chorou implorado que eles não o deixasse sozinho com seus pais. Eles logo estavam no carro novamente. Dessa vez partindo em direção a casa de Tomaz.

— Eu adorei essa aventura. Acreditei que fossemos ser preso por invadir um parque fechado, porém me diverti muito. Obrigado. — Ele disse rindo.

Tomaz o olhou e riu também.

— Eu achei que fossemos ser presos também. Não deveria ter cantoria nas madrugadas ali. — O jovem disse rindo, então parou subitamente.

— O que foi? — Murilo perguntou.

— É que hoje eu provavelmente irei ouvir um monte de todo mundo lá em casa. Quando eu costumo agir de uma forma que eles não julgam certo é sempre a mesma coisa. Eles começam a jogar na minha cara o quanto tenho sorte por tê-los como pais. Por fazer parte daquela família, que me apoia em tudo, que me ama independente de qualquer coisa e que fazem tudo por mim. — O outro disse olhando para Murilo enquanto o carro estava parado no sinal.

Então era isso. A vida de Tomaz parecia uma vida de príncipe, porém Murilo começou a imaginar que sua vida fosse melhor que a do amigo. Ele não precisava participar de festas de negócios só para agradar o pai. Não precisava agir de um jeito que não queria só para agradar seus pais. Então se lembrou do principal. Ele não teria que pedir para que alguém mentisse para os pais por ele. Murilo tinha decidido ficar na casa do outro porque sabia que iria ser proibido de sair de casa para viagens novamente, se os pais descobrissem do que seu ex-namorado lhe fez, talvez até isso complicasse sua mudança para fazer faculdade em São Paulo, mas não porque seus pais não fosse apoia-lo, ou jogar coisas em sua cara. Não era o tipo deles.

Nesses quatro dias em que estava na casa já tinha percebido que as coisas não eram mesmo tão boas. A mãe de Tomaz, que havia o recebido tão bem, já não estava tão educada. O olhava como se ele fosse inferior ali por não saber usar todos os talheres, ou por não estar preparado para a vida adulta. Como ela tinha dito quando estavam os dois sozinhos. “Ele ainda não tinha maturidade suficiente para entender o que era a vida.” Mas Murilo entendeu que ela queria dizer que ele não tinha maturidade para estar ao seu filho já que ela fez questão de dizer que ele logo se formaria, iria começar a trabalhar numa grande empresa e não teria mais tempo para levar uma vida festeira. Palavras delas.

Murilo se remexeu no banco e lembrou então que o “sogro” que parecia ser bastante divertido e legal era um homem ocupado, e que gritava com a mulher ou com o filho sempre que podia.

— O que foi? — Perguntou Tomaz tocando a coxa de Murilo e fazendo o garoto dar um salto. — Não quis te assustar, mas você está tão quietinho.

— Não é nada. Eu estou apenas pensando em tudo isso. Em tudo que foi hoje e no que isso vai significar pra nós. — Ele mentiu convincentemente. Estava cada dia melhor nisso.

Tomaz riu baixinho.

— Você vai ver que só vai melhorar. — Disse Tomaz, e Murilo sorriu.

Foi realmente como previu Tomaz. Assim que entraram em casa os pais do garoto o chamaram para uma conversa e olharam para Murilo, sérios. Ele entendeu que não era tão bem vindo nesse momento. Olhou para baixo totalmente sem graça e disse baixo.

— Com licença!

Murilo saiu caminhando pela sala e subiu as escadas com pressa, mas não tão rápido quanto queria. Ainda conseguiu ouvir frases horríveis que ele não iria querer escutar. “Que atitude infantil, porra! Você deveria começar a agir feito homem, não como um viadinho que só pensa em baladinha.” “Quando vai começar a entender que a droga da empresa vai ficar pra você? Essas parcerias que tento fazer agora só irão lhe beneficiar, cresce caralho!”.

Ele não queria estar na pele do amigo. Baixou a cabeça e correu pelos últimos degraus. Ele se trancou no quarto e se encostou a porta. Como os pais poderiam falar assim com o filho? Ele tinha crescido numa casa onde nunca o ofenderam. Seus pais sempre o trataram com respeito, mesmo quando lhe davam bronca era numa conversa carinhosa. A política que via em sua casa era diferente da que eles usavam por aqui. Ficou se perguntando quantas outras vezes o amigo tinha ouvido palavras duras como aquela. Tomaz sempre era sorridente e esperançoso. Ele não sabia se ele iria ser assim vivendo ali.

Murilo arrancou sua roupa e caminhou para o banheiro. Resolveu tomar um banho, sentia-se zonzo e cansado, o estômago começou a revirar. O garoto foi para o banho e ficou sentindo a água fria em seu corpo por um bom tempo. Era bom, o fez relaxar e sentir-se melhor do mal estar. Secou-se e vestiu um pijama. Saiu do banheiro esperançoso, mas Tomaz ainda não estava no quarto, ele se sentiu mal, muito mal. Sentou-se na cama e ficou olhando o celular. Minutos se passaram até ele ouvir a porta se abrir e Tomaz entrar no quarto. Ele se virou rápido.

O amigo sorria. Ele se sentiu ainda mais triste.

— O que foi? Por que essa cara? — Tomaz perguntou arrancando os sapatos e a calça. Ficou de cueca.

Murilo desviou o olhar. Apesar das coisas que o outro tinha lhe dito ainda se sentia estranho.

— Eles não disseram nada que já não tenham dito antes. Eu estou bem, de verdade. Eu só quero tomar um banho agora e depois deitar abraçado com você nessa cama e dormir o dia inteiro, à noite vamos para uma pizzaria. A Mônica mandou mensagem agora a pouco, é aniversário de outro amigo nosso e vamos comemorar. — Ele disse rindo. — Você tinha que ver a cara dos meus pais quando eu os interrompi para atender o celular.

Tomaz riu. Murilo se esforçou para rir também.

— Eu já volto. — Falou Tomaz e caminhou para o banheiro. Ligou o chuveiro assim que entrou.

E Murilo teve certeza. Ele precisava de um tempo. Ele estava chorando agora mesmo.

— Você tem certeza de que quer sair? — Ele perguntou enquanto vestia uma calça. Não estava a fim de sair, e queria tentar evitar que o outro se envolvesse em mais confusão com os pais.

— Mas é claro que sim. Estamos de férias. Você está em São Paulo. Não há motivos e nem razões para que fiquemos trancados no quarto só para agradar meus pais. Eu sempre saí, e não vai ser nas férias que ficarei em casa. Você está pronto? — Perguntou o outro.

— Eu só preciso calçar meus tênis. — Ele disse baixo.

— Está bem, eu vou descendo. Espero você! — Falou Tomaz sério e saiu do quarto.

Murilo respirou fundo e olhou para baixo para calçar os tênis. Ouviu a porta abrir.

— Achei que fosse me esperar lá embaixo! — Ele falou sorrindo.

— Sou eu, Rafael. Precisamos conversar! — Falou sua sogra.

Ele olhou rapidamente para cima e viu a mulher. Não parecia muito contente. Ele engoliu em seco.

— Mas é claro dona Marta! — Ele respondeu baixo sentindo medo daquela visita inesperado em seu quarto.

A mulher caminhou até a cama e sentou ao lado dele. Ela tocou sua mão. Tinha a mão fria e cheia de anéis, ele estremeceu.

— Eu acho que você precisa colocar um pouco de juízo na cabeça do Tomaz. Eu sei que ele vai te ouvir. — A mulher falou séria. — Ele gosta muito de você, só falou em você durante todos esses meses que vocês se falaram pela internet e nesse período ele passou a sair menos, se concentrou mais em você e nos estudos. Ele está mesmo apaixonado por você. E eu sei que se você conversar com ele, aconselhar, ele irá te ouvir.

Murilo sente-se confuso, por que ela queria a ajuda dele? Ele iria embora em poucos dias. Então caiu a ficha, era isso. Ela queria que ele começasse a pressionar o namorado a não sair. Ele voltaria por Rio e ela queria que de lá ele comandasse a vida de Tomaz. Que dissesse para onde o outro ir ou não. Será que era isso que o verdadeiro Rafael fazia? Perguntou-se Murilo e ficou enjoado ao pensar nele controlando as vontade de outra pessoa.

— Eu posso tentar dona Marta! — Ele mentiu olhando para a mulher com firmeza.

— Ótimo, porque eu sei que ele vai te ouvir. Ele ama você! E nós também gostamos bastante de você. Eu e o Luís! Colocamos muita fé nesse namoro. — Mentiu a mulher agora.

Ele sentiu-se mais enojado ainda. Agora que ela precisa dele colocava fé no relacionamento, porém há dois dias o achava infantil.

— Ele é louco por você. E como eu sei que você deve se preocupar com essas coisas, eu vou lhe contar. Mesmo quando estiver no Rio de Janeiro não se preocupe, ele não irá te trair, nunca irá se interessar por outro garoto. O Tomaz já foi muito pegador, nessa cama aqui, nossa são tantas histórias. — Ela gargalhou. — Mas ultimamente, desde que conheceu você ele só falou de você, até se livrou de um pote gigante de camisinhas que ele tinha na gaveta das cuecas. Ele só quer você. E mesmo que fique com outro garoto isso não diminuirá o amor que ele sente por você.

Murilo sentiu um choque. Será que ela sabia de alguma coisa? Será que ela desconfiava? Por que estava dizendo esse tipo de coisa? Ele sentiu um peso nos ombros, uma vontade de chorar. “Será que ele só está tentando esquecer o outro? Ou será que está apenas tentando deixar as coisas mais convincentes?” Colocou a mão na boca.

A mulher o olhou sorrindo.

Muri...Mor! — Chamou Tomaz entrando no quarto e notando a mãe sentada em sua cama. Murilo olhou para ele e eles trocaram olhares estranhos. — Você estava demorando e eu voltei pra ver se estava tudo bem. O que a senhora faz aqui mãe?

— Eu já estou de saída. Apenas vim ter uma conversa com o meu genro favorito. — Falou a mulher e levantou saindo. — Boa noite, não bebam muito se vão dirigir.

Murilo a assistiu sair do quarto e Tomaz sentou-se ao seu lado.

— O que ela queria? — Perguntou.

Murilo olhou para ele, estava sem expressão. Não sabia o que dizer, nem queria dizer.

— Então Murilo, o que a minha mãe queria? — O outro fez a pergunta novamente.

— Nada, ela só queria dizer que estava feliz por eu estar aqui e que estava lhe fazendo bem. — Ele mentiu segurando o choro. — E pediu para que eu tentasse controlar que você bebesse muito, já que pela manhã ela sentiu seu cheiro de álcool e ficou preocupada por você está bebendo e dirigindo.

Tomaz olhou sério.

— Então estou pronto, vamos? — Ele perguntou começando a levantar.

Tomaz o segurou e puxou para si. O beijou e Murilo fechou os olhos. Pela primeira vez desde que eles passaram a se beijar não sentiu a explosão de fogos de artifícios no estomago.

— Então vamos! Vai ser divertido! — Falou Tomaz, e Murilo se esforçou para sorrir.

Eles foram para uma pizzaria no centro. Murilo ficou quieto o caminho inteiro, aproveitou para fingir que dormia, apesar de não conseguir fazer isso nem se realmente quisesse. O garoto não conseguia parar de pensar no que a mãe do outro havia lhe dito. Ele notou quando o carro parou e o outro se inclinou para ele.

 — Ei, acorda! — Falou Tomaz dando vários beijos na cabeça de Murilo, então mordeu sua orelha.

— Estou acordado. — Ele respondeu, abrindo os olhos e virando para o amigo.

Tomaz sorriu.

— Você está lindo! — Disse Tomaz tocando o seu rosto, Murilo não pode evitar sorrir envergonhado. Quase nunca recebia elogios, e quando recebia não sabia como reagir a isso. — E eu quero te beijar.

Ele engoliu em seco e ruborizou.

Os dois se beijaram, foi um beijo rápido e calmo. Então se afastaram e Murilo soltou o cinto logo descendo do carro. A noite estava abafada e havia nuvens escuras no céu. Acreditou que iria chover por conta de raios que ele via caindo longe. Sentiu a mão de Tomaz tomando a sua e sorriu.

— Então vamos? — Perguntou o outro.

— Vamos sim! — Respondeu Murilo totalmente disposto a esquecer do que a mãe do amigo tinha dito.

Caminharam para a pizzaria e logo acharam os amigos distribuídos em duas mesas. Os garotos estavam todos animados e não pareciam ter sido deixados em casa bêbados e caindo. Ele riu. Estavam todos acostumados a beber, ele que não e que ainda se sentia mal.

— Fala aí casal do ano! — Disse Caco rindo.

— Oi gente! — Respondeu Murilo.

— Fala aí Rafael. — Caco disse rindo e fazendo sinal de beijo com as duas mãos.

— Então esse é o Rafael? — Perguntou um garoto que Murilo não conhecia. Ele era magro e ruivo com uma barbicha também meio cor de ferrugem. Ele levantou e caminhou até Murilo o abraçando.

Murilo não se sentiu surpreso. Estava começando a acostumar com o jeito daquelas pessoas. Ele sorriu e retribuiu.

— Eu sou o Augusto. — Ele disse sorrindo. Era meio afeminado. Murilo gostou dele, parecia ser a pessoa certa para pedir dicas de estilos. — Estava muito ansioso para conhecer você. O Tomaz só falou de você durante os últimos meses.

Tomaz ficou sem graça. Murilo entendeu porque, então apenas ignorou. Respirou fundo.

— Parabéns. Quantos anos você está fazendo? — Ele perguntou sem graça por não ter levado presente algum já que era aniversário do menino.

— Estou fazendo dezoito. Eu poderei comprar bebidas agora! — Ele falou rindo e se virou para Joana. — Chupa orca!

Joana mostrou o dedo do meio. Ela estava bonita. Murilo sorriu para ela, a garota sorriu e piscou.

— Então o que vocês já pediram? — Perguntou Tomaz indo sentar. Ele sentou em uma cadeira e deixou uma livre para Murilo provavelmente, porém Murilo caminhou pelo outro e sentou ao lado de Joana.

Murilo olhou para Tomaz e notou o desapontamento do rapaz. Murilo sentiu-se mal e pensou em levantar, mas não o fez. Seria constrangedor. Então assistiu Augusto sentar ao lado do amigo e começarem a conversa. Estavam todos concentrados em conversas.

Ele se virou para Joana. Ela sorriu.

— Joana, você namora? — Ele perguntou baixo.

Ela ficou intrigada e olhou o garoto nos olhos.

— Não por quê? Está afim de mim? — Ela perguntou rindo e tocando o garoto no braço.

— Não, mas eu sei alguém que está! — Ele disse sem graça e olhou para Mônica.

A garota percebeu e acompanhou sem olhar. Ela riu e balançou a cabeça em negativa.

— É caso antigo, acho que você está enganado. Ela nunca... Ela... — A garota pareceu ficar abalada.

Murilo sentiu-se mal e abraçou a amiga nova de lado.

— Escuta o que eu vou dizer. Ela ficou enciumada das brincadeiras que o Caco lhe fez pela madrugada. Eu sei que ela gosta de você. Ela te olhou de uma forma que parecia querer te colocar num pontinho e ficar lá sozinha com você. Acho que vocês deveriam conversar. Certo? — Ele perguntou olhando a garota nos olhos.

Ela sorriu sem graça e balançou a cabeça em afirmativa. Ele sorriu de volta e soltou a garota.

A noite foi passado e Murilo ficou assistindo todos os outros conversarem e comerem. Ele mesmo não sentia vontade alguma de comer. Só de olhar para aquelas pizzas já sentiu enjoo. Resolveu ficar com o tempo livre para pensar.

“Será que eu posso mesmo estar apaixonado pelo Tomaz? Nós nos conhecemos há quatro dias. E isso seria loucura.” Ele perguntou a si mesmo enquanto girava um guardanapo nos dedos e lembrou-se do frio na barriga que sentiu quando o outro lhe perguntou lá na rodoviária se ele era o Murilo. Ficou totalmente exatasiado, não era o cara mais bonito do mundo, mas chamou sua atenção. “Você nunca acreditou em amor a primeira vista, nunca acreditou em sorte ou destino. O que está acontecendo agora? Para de ser bobo.” Ele repreendeu a si mesmo.

— Você não vai comer nada, meu amor? — Ele ouviu a voz de Tomaz lhe perguntar com um excesso de carinho.

— Não, vou não Tomaz! — Ele respondeu meio seco. O que está fazendo? Ele pensou totalmente sem graça. Não poderia agir dessa forma na frente dos outros.

— Aconteceu alguma coisa? Você parece meio pálido Rafael! — Falou Joana tocando o amigo.

— É verdade, você está se sentindo bem? — Perguntou Mônica.

— Estou sim gente, eu estou apenas enjoado. — Ele falou sério. — Apenas ressaca.

— O Rafael não tem costume de beber, aquela foi sua primeira bebedeira! — Confessou Tomaz para todos e então olhou para ele. — Você está mesmo se sentindo bem, meu amor?

— Estou sim, amor! Eu só preciso de um ar. — Ele falou levantando.

— Eu também preciso, vou acompanhar você! — Falou Augusto levantando da mesa e olhando para Murilo.

Murilo sorriu e acompanhou o outro para fora da pizzaria. O garoto acendeu um cigarro e ofereceu para Murilo, ele apenas balançou a cabeça em negativa.

— E então que está rolando? Eu notei o clima estranho entre vocês! — Falou Augusto entre uma tragada e outra.

Murilo sentiu-se chocado e chateado. Ele estava sendo então o maior babaca do mundo e demonstrando para todos que havia algo errado entre ele e o namorado, amigo! Ele se corrigiu.

— Não houve...

— Não termine essa frase. Eu notei que tem algo de errado com vocês e você não vai me enganar. Saiu nas cartas que eu iria precisar ajudar um amigo e acho que esse amigo é você! — Falou Augusto totalmente sério.

— Não sei. Eu estou confuso.

— Confuso em que? Você não gosta dele? — Augusto olhou sério, e Murilo sentiu-se sem graça. — Porque se for isso é melhor dizer a verdade.

— Não é isso. Eu gosto! E esse é o problema. Acho que estou começando a gostar pra caralho.

— E que mal tem nisso? Não é errado gostar muito de alguém!

— Eu sei que não, mas a mãe dele me disse umas coisas que me deixaram confuso.

— Você não deveria acreditar em nada que aquela jararaca diz. Aquela mulher é uma cobra, não vale nada.

— Às vezes eu acho que deveria voltar para Araraquara e deixar tudo isso pra lá.

— Araraquara? Que tu vai fazer lá, viado? — Perguntou Augusto sério e jogando a bituca do cigarro em um cinzeiro coletivo.

— Que? Eu disse Arabuaçara!

— É a sua cidade lá no Rio? É interior?

— É sim, interior. — Mentiu Murilo.

— Então, cara. Eu acho que você não deve ter medo de seus sentimentos. Você deve aceitar o que está sentindo. Você gosta dele? Então diga pra ele, demonstre, chegue a casa essa noite ou ainda no carro e transe com ele quantas vezes julgar necessário. Porque se você gosta dele nada impede de fazer o que quiser. Não se sinta babaca por gostar de alguém.  Logo você vai voltar pro Rio e é isso que te assusta né? Como irá ficar tudo depois disso, não é?

Murilo balançou a cabeça.

— Isso não tem como prever, Rafael. Mas não deixe de viver o agora por medo do que vai acontecer amanhã. Se você é apaixonado por ele, se você o quer mesmo. Diga isso pra ele. Ele também me contou estar com medo. Não conte isso nunca ou eu juro que seu avião de volta para o Rio cai. Mas ele me disse ter medo de perder você. Ele falou que não imaginava que iria começar a gostar tanto de estar ao seu lado. Esse medo do futuro também o assusta. Então apenas diga para ele como se sente e deixe-o mostrar também.

Murilo assentiu e olhou para o chão.

— Eu vou voltar lá dentro. Não posso deixar meus convidados esperando. — O garoto riu. — Você vai voltar agora?

— Eu vou tomar um pouco mais de ar. — Murilo diz baixo.

Augusto ri.

— Está bem, pense com carinho no que eu disse. E ah, na semana que vem eu terei uma festa de aniversário real, vai ser lá na Hot Hot. Eu espero te ver lá. — O garoto disse sorrindo.

— Eu irei! — Falou Murilo.

Augusto entrou e Murilo encostou-se a parede. Olhou o céu, ainda estava sujo e escuro, porém os raios haviam parado. Ele olhou a avenida em sua frente os carros passavam com pressa. Ele segurou as próprias mãos.

“Será que ele tem razão? Eu devo mesmo me entregar a isso que estou sentindo? Eu só preciso dizer o que sinto e me entregar pra ele? Entregar-me totalmente? Será que estou mesmo apaixonado?” Ele sentiu vontade de chorar. Sentiu vontade de chorar ao pensar que em menos de um mês estaria de volta a sua casa e que talvez nunca mais visse aquele menino. Era isso que ele queria? “Não!” Ele pensou. “Foda-se se são quatro dias, foda-se tudo, eu o quero, eu o quero agora!”

— Murilo? Está tudo bem? — Perguntou Tomaz.

Murilo se assustou e olhou para o garoto em sua frente. Estava lindo como sempre. Ele sorriu. Tomaz sorriu também.

— Eu estava preocupado. Você estava muito pálido. — Tomaz falou dando um passo a frente então parou. Encarou Murilo.

— Eu preciso te dizer uma coisa! — Falaram os dois ao mesmo tempo e depois riram.

— Você pode dizer primeiro! — Falou Tomaz.

Murilo sorriu.

— Eu...

Murilo foi interrompido pelo celular do amigo tocando alto.

Ele sorriu.

— Pode atender! — Ele disse sorrindo ansioso. Só queria que Tomaz prestasse toda atenção nele.

Tomaz arrancou o celular do bolso. E olhou o visor do mesmo. Murilo viu o sorriso dos lábios do amigo sumir. Ele sentiu-se preocupado.

— O que aconteceu? — Ele perguntou sério e respirou fundo. Algo estava errado.

Tomaz respirou fundo e olhou Murilo nos olhos.

— É o Rafael!


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