Um mês se passou e pouca coisa mudou para Kumiko. Ela tentava falar com Reina, mas era friamente ignorada, o que a machucava muito. Sempre que Kumiko lembrava o que havia feito, sentia vontade de vomitar. “Como pude…”

Já Reina, bem lentamente, ia superando o que havia ocorrido. Graças a Sapphire, que estava se tornando sua amiga mais próxima, e à música, que era sua maior paixão, conseguia se distrair e não pensar tanto em Kumiko.

Kumiko, agora, era mais próxima de Hazuki, já que Sapphire passava mais tempo na sala de Reina do que na delas. A eufonista já tinha notado que Sapphire a evitava, mas nem questionou sobre isso, por enquanto não queria saber de nada que pudesse machucá-la mais ainda. Hazuki não sabia praticamente nada sobre o ocorrido, apenas que Kumiko e Reina haviam rompido. De vez em quando, Hazuki  comentava sobre Shuuichi, que era o cara de quem ela gostava. Mas sempre que falava sobre ele, Kumiko se sentia enojada e tentava mudar o assunto rapidamente.

Agora, após os ensaios, Reina e Sapphire sempre voltavam juntas para casa. Durante o intervalo, também almoçavam juntas. Às vezes, uma levava o almoço para a outra. A cada semana, iam se aproximando mais e mais. Não era difícil encontrá-las rindo ou conversando. Portanto, claro que alguns rumores começaram a circular pelo colégio. “Reina sempre estava com Kumiko, agora está sempre com Sapphire. Elas brigaram?”, falavam alguns alunos. Obviamente, aquilo chegou aos ouvidos de Kumiko, que se deprimia ainda mais.

Certo dia, Reina convidou Sapphire para ir em sua casa. A mãe de Reina também já havia pedido algumas vezes para que levasse a garota lá, queria servir mais chá e conversar um pouco. Elas estavam indo de trem, como usualmente iam. Elas estavam tão distraídas conversando que não perceberam que ali também estava Kumiko. A eufonista não ousou ir falar com elas, sabia que seria ignorada, e aquilo lhe apertava o coração. Sentiu uma dor ainda mais forte quando viu ambas descendo na mesma estação. Durante o resto da viagem, não conseguiu conter algumas lágrimas.

Quando chegaram na casa de Reina, encontraram um recadinho da mãe, dizendo que ela não poderia encontrá-las pois teve um compromisso e acabou saindo. Porém tinha deixado os biscoitos caseiros prontos e ainda estavam quentinhos. Reina começou a preparar o chá, enquanto Sapphire esperava ansiosamente para comer os biscoitos.

— Midori pode comer um agora?! – dizia, com um brilho nos olhos.

— Não! – ria da amiga – assim que o chá ficar pronto, poderemos comer.

Reina observava o olhar doce e ansioso de Sapphire e sorria para si. Assim que o chá ficou pronto, foram para o quarto e sentaram-se na mesinha, uma do lado da outra. A trompetista serviu chá para a amiga e sorriu.

— Agora você já pode comer os biscoitos, Sapphire.

— Midori desu! – reclamou um pouquinho, mas logo começou a comer.

— S-a-p-p-h-i-r-e! – riu, já sabendo que a amiga reclamaria.

Sapphire fez um biquinho em protesto, mas logo riu. E assim as duas passaram o fim da tarde, até que a contrabaixista olhou Reina de maneira um pouco mais séria, a fitando nos olhos.

— Reina-chan, você já se sente bem de verdade?

— Sim, claro que sim. De vez em quando dói um pouco… mas você tem me ajudado bastante. Nossos ensaios também. Eu… não pareço bem? – olhou para Sapphire, preocupada.

— Parece! Mas Midori tem medo de que Reina-chan estivesse apenas fingindo estar bem… Mas, se está bem de verdade, Midori fica feliz! – sorria de forma pura.

— Não se preocupe… se eu me sentir mal novamente, irei te contar – segurou na mão de Sapphire, que logo entrelaçou seus dedos aos dela.

— Haaai! – Sapphire corou um pouco ao entrelaçar os dedos aos dela. Logo, pegou um biscoitinho e a deu na boca – Reina-chan tem que comer!

Reina corou levemente, abrindo um pouco a boca. Sapphire deu o biscoito a ela, que sentiu um leve toque do dedo em seus lábios. A trompetista pegou um biscoito e quis fazer o mesmo com ela.

— Você também, já que queria tanto comer os biscoitos! – lentamente aproximou a mão à boca da contrabaixista, que fechou os olhos ao abrir a boca. Elas ficaram fazendo isso até sobrar um único biscoito, que resolveram deixar ali por algum tempo. Então perceberam que ainda estavam de mãos dadas. Elas se entreolharam e coraram.

— Reina-chan não se importa…? – perguntava, olhando para as mãos unidas.

— Não, não me importo… – corou um pouco – eu gosto, sua mão é tão pequena e macia...

Sapphire corou ainda mais, mas sorriu, feliz. Pegou o último biscoito e o levou aos lábios de Reina.

— Aqui, é seu! Abre a boca, aaahhh!

— Tive uma ideia melhor… – pegou o biscoito da mão da garota – vamos dividí-lo, assim, nós duas comemos. Mas… pegue aqui – colocou parte do biscoito na boca, convidando-a a pegar a outra metade em seus lábios.

Sapphire hesitou por um instante, sem saber se Reina estava falando sério ou brincando. Mas estava a fim de descobrir. Então, lentamente, levou a boca próxima do biscoito e mordeu um pedacinho, mas sem recuar. Aos poucos, foi avançando as mordidas, à medida que seus lábios se aproximavam aos de Reina. Quando os lábios das duas estavam prestes a se tocar, a trompetista avançou um pouco, dando um selinho na amiga. Ambas coraram, mas sorriram em seguida. Ficaram se encarando de pertinho, frente a frente, até que a mão livre de Reina tocou sutilmente no rosto de Sapphire. Elas fecharam os olhos e se beijaram novamente, agora um pouco mais demorado.

— Midori… Midori gostou disso…

— Eu também gostei… pena que não temos mais nenhum biscoito, não é? – riu baixinho.

— Reina-chan não precisa de biscoitos para fazer isso… pode fazer quando quiser… – falou a última parte bem baixinho, como se não quisesse ser ouvida, enquanto fazia biquinho.

Reina aproveitou o biquinho de Sapphire e deu mais um selinho, depois outro, depois mais um. Deu um abraço nela, segurando-a de forma amorosa. Sapphire correspondeu ao abraço, aconchegando-se mais nela. Reina iniciou um carinho leve nos cabelos curtos da outra e deu um beijinho ali.

— Sapphire… – inspirou e expirou profundamente – você… é uma garota maravilhosa. Tão gentil, meiga, fofa, divertida… Sempre me faz querer passar meu tempo com você. Algumas vezes eu percebo que, na verdade, estou pensando em você… – Sapphire levantou-se, olhando nos olhos de Reina – você me traz uma calma, uma tranquilidade. Eu gosto muito de você. Muito mesmo. Você… você quer namorar comigo? – Reina segurava agora nas duas mãos de Sapphire, olhando profundamente nos olhos da amiga.

Sapphire parecia não acreditar nas palavras de Reina. Ouvir tudo isso dela, que havia se tornado tão especial para a pequena, a fez escorrer algumas lágrimas de alegria. Ela assentiu com a cabeça.

— Midori quer… Midori quer namorar Reina-chan, sim! – jogou-se nos braços dela, a abraçando com força – A partir de agora, Midori quer que fiquemos juntas sempre!

— É o que eu quero também, minha Sapphire.

Reina deu um beijo na bochecha dela, que se aconchegou nos braços da, agora, namorada. E assim elas ficaram até a hora em que Sapphire precisou voltar para casa.