Depois de extravasar todo a minha raiva e frustração dentro do carro, acabei voltando pra casa. Definitivamente passaria todo o dia aqui. A briga com meu irmão havia mexido comigo e não estava disposto a fazer outra coisa que não fosse dormir.

Passei boa parte do meu dia descansando, o que não foi difícil conseguir Eu estava fisicamente mais do que cansado. Acordei por volta das sete horas da noite e pensei em pedir alguma comida, assim o fiz. Comida japonesa que, foi entregue em alguns minutos na minha casa.

Enquanto estava sentado na mesa, ouvi barulhos no apartamento de frente para o meu e me dei conta de que Mia, a vizinha nova, havia sumido. Com tanta coisa na cabeça nem me lembrei de pedir para investigarem a história da garota e muito menos de ficar de olho nela.

Para alguém tão fã do meu trabalho foi suspeito seu afastamento, nem sequer via Mia sair de casa ou escutava barulhos com frequência. Mas hoje não era dia de pensar nisso, então só dei de ombros e terminei meu jantar, que por sinal estava delicioso.

Quando o terminei e colocava tudo que havia sobrado junto as embalagens no lixo, escutei o som da campainha. Achei que fosse Mia e já estava pensando em algum jeito de despedi-la. Pra minha surpresa e esperança, não era quem eu imaginava.

— Tyler?

Eu falei surpreso com a mão esquerda segurando a porta e a direta sobre maçaneta, sem reação alguma. Não esperava pela visita de Tyler.

— Posso entrar?

Ele perguntou olhando através dos meus ombros como se procurasse por algo e voltou a me encarar.

— É claro, claro que pode.

Eu falei dando espaço para que ele passasse e assim que entrou eu tranquei a porta, me virando de frente pra ele. Não disse nada, esperei que ele falasse.

— Eu odeio brigar com você. Ainda mais por algo bobo.

— Sei como é.

Eu falei de forma ríspida e ele sorriu.

— Precisamos fazer as pazes. Você sabe... A briga já tinha acontecido a tempos, só que em silêncio.

Ele deu um passo para frente, mas pareceu não querer arriscar uma aproximação maior.

— Eu quero ter o meu irmão de volta na minha vida.

Ele murmurou e eu o encarei, ainda friamente.

— Quero ter a união que tínhamos, Derek.

Depois dessa frase, que me fez lembrar de como éramos juntos eu não consegui me manter tão firme como antes.

— Eu também, irmão. Eu também.

Eu falei me aproximando dele e o abracei, ele fez o mesmo e me apertou mais do que no abraço anterior, que havíamos dado quando cheguei em sua casa.

— Pode me perguntar o que quiser sobre ele, eu não ligo, mas aceite que eu o veja.

Eu hesitei em falar algo e acabei por não falar, apenas pressionei os lábios, me afastei e revirei os olhos.

— Tudo bem. Eu aceito, desde que não me esconda nada.

Ele sorriu, um sorriso cheio de satisfação e eu cheguei a conclusão de que era o melhor. Pelo menos teria Tyler na minha vida e além disso eu poderia controlar o que Adrian tentava fazer com o meu irmão. Eu retribui o sorriso e o abracei de novo. Tyler deu um tapa em minhas costas e mudou o assunto já se afastando.

— Vou dormir aqui hoje. Como nos velhos tempos. Tudo bem pra você, não é?

Eu assenti me sentando no sofá e Tyler foi direto para a cozinha, abriu a geladeira e procurou por algo. Em menos de dois minutos depois eu escutei novamente a campainha, chamando a nossa atenção para a porta. Eu me levantei e quando abri, vi Chloe na minha frente. Ela abriu um sorriso e foi entrando sem o convite. Ela não precisava e sabia disso.

Quando viu Tyler me encarou com um olhar cúmplice e foi abraçar meu irmão que a recepcionou como sempre.

Os dois brincaram discutindo quem ficaria com o pedaço de bolo e eu os encarei. Aquela cena me remetia ao passado. Parecia que tudo estava como antes e eu gostava disso. No fim das contas Chloe decidiu dormir aqui também. Quando Tyler subiu para o quarto e Chloe já havia tomado o seu banho e colocado uma roupa minha assim como Tyler, ela desceu as escadas se sentando ao meu lado no sofá.

— Como o convenceu a vir?

— Não fiz isso. Bom, não quando fui lá. Ele apareceu do nada aqui em casa, fizemos as pazes e ele disse que ficaria.

Ela bateu o ombro no meu, sorrindo e cochichou para que ele não escutasse.

— Vai conseguir trazer ele de volta.

Eu sorri e olhei para a escada, pra garantir que ele não tivesse mesmo ouvido.

— Eu sei, espero conseguir. Mas quero te falar de outra coisa.

Ela me encarou esperando que eu terminasse de falar e se ajeitou no sofá.

— Mia. Uma agente da CIA chamada Mia. Você conhece?

— Mia? Nunca ouvi falar. Ela é da cidade?

— Minha vizinha.

Eu também me ajeitei, sentei de frente pra ela depois de pegar uma uva no pote que estava em cima da mesa de centro e ela me olhou pensativa.

— Sendo sua vizinha deveria ser do nosso departamento.

— Sim, foi o que eu pensei. Mas não faço ideia de quem ela seja, só que ela me garantiu que era uma novata.

— Vou verificar amanhã. Se ela é da CIA tem história dela lá, vai ser fácil saber sobre ela.

— Ela sabe sobre mim, o que eu não gosto. Gosto de saber das pessoas que sabem de mim.

Chloe bocejou depois de espreguiçar e se despediu indo pro quarto que ficaria aquela noite. Quando terminei de ver ela subindo a escada, eu fui até a porta, a abri e encarei o apartamento de Mia. Resolvi ir até lá e bater na porta, apesar do horário. Nada. Nenhum barulho foi ouvido e ninguém me atendeu.

Encarei a porta na minha frente e encostei o ouvido na mesma. Nada mais uma vez. Voltei para o meu apartamento e resolvi ir dormir também. O dia tinha sido cansativo e surpreendente. Amanhã seria um novo dia e eu poderia resolver qualquer outro problema.

Tomei um banho e quando já estava a alguns minutos na cama, recebi uma mensagem.

"Me desculpe não atender você, eu estava ocupada."

Era da Mia.

"Como sabe que era eu?"

"Coloquei câmera do lado de fora. Não notou?"

"Não. Isso é permitido?"

"Rs. Holbrook, preciso dormir. Beijos."

Eu não respondi. Se ela estava burlando regras, certamente não era com a permissão da CIA. O que tornava a situação mais estranha. Essa história da Mia estava muito mal contada e ela sabia coisas demais a meu respeito. Não fazia ideia de quem ela era, ela me conhecia da cabeça aos pés. Com certeza precisava saber sobre ela, se era mesmo alguém do meu lado ou não.

Pensei na possibilidade de fazer como com Tyler, aproximar ela. Depois pensei em ir mais a fundo nas pesquisas e se necessário prendê-la logo. Optei pela primeira opção. Amanhã eu iria atrás de Mia, ia trazer a garota pro meu lado, bem próxima de mim. Seja o que for que ela estivesse escondendo ou o esclarecimento da situação, eu ia conseguir e ia conseguir da boca da própria Mia.