Depois de encarar a mensagem no meu celular, eu olhei na direção na ponta esquerda do local e fui passando os olhos, calmamente e analisando, por cada uma das pessoas. Nada. Eu resolvi olhar a cor da minha gravata e me lembrar qual era o tal azul tiffany, afinal, aprender qual era cada azul teria de ser útil em algum momento. Depois do azul bem decorado, eu foquei apenas nas ruivas de azul.

"Você sabe que eu sei o que é um azul tiffany, né?"

"Oh não! Agora você vai me achar.
Ok, brincadeirinha. Temos mais de uma com azul, Derek. Eu sinto em te informar, mas é totalmente proposital. Uma escolha do dono da casa. Por que? Para brincadeiras como a nossa hahaha"

"Que bosta!"

"Vamos, você é inteligente."

"E eu tenho uma proposta. Se você não me achar me deve um jantar, se achar eu te devo um presente. Concorda?"

"Concordo"

"Ótimo, estou te esperando"

Eu desviei o olhar do celular e mordi o lábio pensando em como eu a encontraria. Bom, a vantagem era que eu era um agente da CIA, tinha os meus truques e, mesmo que não seja em anos, eu conheço pelo menos um pouco da Lexie. Hora de analisar os gestos.

Eu comecei a andar calmamente pela sala da enorme casa observando cada movimento das pessoas ao meu redor e então recebi outra mensagem.

"Holbrook! Sem truques da CIA!"

Eu parei de caminhar surpreso e olhei em minha volta automaticamente por alguns segundos e voltei a olhar para o celular.

"Como você sabe?"

"Eu sei que você faz esse olhar ai quando tá tentando descobrir algo pra CIA, então pare."

"Você não me disse que eu não podia usar o que eu sei, e nada de regras novas agora."

"Aff, você é esperto. Mas de todo jeito, você está mais do que frio"

Eu dei alguns passos e subi um degrau da escada a minha frente.

"E agora?" eu enviei a mensagem e olhei para o andar de cima procurando por ela.

"Frio."

Eu bufei e subi mais alguns degraus e imediatamente outra mensagem.

"Acho que você já não vai se congelar tanto assim."

Eu sorri com a mensagem e comecei a subir mais degraus até chegar no topo da escada. Me virei de frente pra enorme sala e outra mensagem.

"Fervendo"

Eu fiquei surpreso com a mensagem e não entendi, então comecei a procurar melhor por todos os cantos próximos a mim.

"Quente, mas não tão perto."

Eu fechei os olhos depois de ler a mensagem e respirei fundo. Estava pensando. Quando abri os meus olhos. eu levantei o meu olhar e olhei bem a minha frente. Lá estava ela. Linda e perfeitamente em sintonia comigo. Lexie sorriu, o que foi possível ver, pois sua máscara na cor prata, não cobria completamente seu rosto.

Eu sorri junto com Lexie e comecei a descer a escada, sem desviar o olhar do dela.

— Me deve um presente, senhorita. Louhuman.

Eu disse já parado em sua frente e ela segurou a saia rodada de seu vestido, enquanto soltava um sorriso abafado.

— Eu queria tanto um jantar. Só que você é bom demais.

Ela sorriu e eu ri em um tom baixo enquanto a encarava, ela também me encarou. Não parece ter pensado em desviar o olhar, nem por um segundo.

— Bom, eu também quero jantar. Não sei, talvez eu precise de uma companhia. Sabe de alguém que poderia ir comigo?

— Ah, eu fiquei sabendo que uma tal de Lexie Louhuman amaria ir. Você a conhece?

— Hmmm... Não. Mas eu to sentindo que vou amar sair com ela.

Eu disse essa frase enquanto me aproximava e me encostava na parede, ficando a poucos centímetros de Lexie e, podem dizer que estou louco, mas fui capaz de ouvir as batidas do coração dela de onde eu estava.

— Termos que ir. Ou vamos ficar aqui a festa inteira?

Lexie brincou e riu desviando o olhar do meu por alguns segundos. Eu sabia que ela estava apenas mudando de assunto por estar com vergonha. Por mais que ela tente esconder, é impossível, suas bochechas coradas sempre a entrega.

— Claro que não. - Eu desencostei da parede e me aproximei mais dela. - Tenho planos pra você.

Eu sorri e Lexie segurou minha mão, entrelaçando na sua e saiu me puxando pela festa, depois de me dizer "Então me mostre o seu plano." Andei com ela até uma mesa de comidas e segurei um doce que eu havia conhecido na Inglaterra, quando viajei em uma missão. Assim que cheguei vi uma garçonete o distribuindo para os convidados e logo o reconheci.

— Está bem. Esse doce é feito de abacaxi, creme e uma dose de alho.

Lexie fez uma careta por odiar alho e, obviamente, por não parecer uma mistura muito boa.

— É gostoso, embora não pareça.

— Tá, e?

— E - Eu dei uma pausa e ri - Você tem que experimentar esse doce. Ninguém pode viver sem comer ele e um dia você me perguntou uma comida que fez parte de algo importante pra mim, certo?

Ela assentiu e encarou o doce na minha mão, incrédula de que ele havia feito parte de algo bom.

— Eu não vou comer isso. Tem alho, e desde quando alho combina com doce?

— Eu sei que parece horrível, mas é gostoso.

— Não vou comer.

Ela disse ainda encarando o doce na minha mão e eu o mordi encarando Lexie.

— Viu? Eu nem fiz cara feia pra comer.

Falei depois de mastigar e engolir o doce, Lexie apenas riu e fez que "não" com a cabeça.

— Você comer não me surpreende. Eu aposto que já comeu coisas piores pela sua profissão. - Ela se sentou em uma poltrona próxima a mesa e gesticulou com a mão, apontando o meu corpo de cima a baixo. - E tem cara de quem aguenta comer qualquer coisa.

A escutei encarando seus olhos e me sentei ao seu lado, colocando meus braços em cima dos braços da minha poltrona e olhei Lexie novamente.

— Eu te dou quinhentos reais.

Ela serrou os olhos me encarando.

— Jogo sujo.

Eu ri vitorioso.

— É pegar ou largar. - Encostei minha cabeça no encosto da poltrona e olhei para o teto. - Um, dois...

Eu brinquei e Lexie se levantou indo até a mesa, pegou um dos doces e arqueou a sobrancelha me encarando, com um ar desafiador. Eu a encarei sorrindo e ela mordeu o doce, mastigou com cuidado sentindo o gosto e logo me olhou entusiasmada.

— E não é que é bom mesmo.

— Eu disse. - Falei batendo os dedos da mão direita no braço da poltrona e em seguida fomos surpreendido por uma voz desconhecida, pelo menos para mim.

— Lexie!

Ela olhou para o lado junto comigo e, diferente de mim, ela sorriu para o garoto que estava parado próximo a mesa.

— Dean! - Ela foi correndo, até demais, para abraçar o tal Dean e depois de alguns segundos o abraçando, ela nos apresentou.

— Derek, esse é o Dean, um amigo meu.

O garoto sorriu pra mim e estendeu a mão para que eu segurasse.

— E ex namorado. - Ele soltou essa e segurou minha mão a apertando, já eu apertei ainda com mais força, o fazendo separar logo nossas mãos.

— Prazer, Dean. Sou amigo da Lexie - O encarei em silêncio por alguns segundos - Só amigo.

Eu brinquei e eles riram sem graça. Ela havia percebido o clima e ele parecia ter recuado. Se virou pra Lexie e a olhou nos olhos.

— Eu to na cidade, Lex. Vai me ver qualquer dia. Eu já vou indo. - Ele olhou pra mim. - Prazer, Derek.

Eu apenas assenti e observei o garoto se afastar. Lex fez o mesmo e voltou a me olhando.

— Por falar em amigos, eu quero te apresentar alguns, pode ser?

Voltei a minha atenção pra Lexie e depois de escutá-la, eu concordei indo em direção a algumas pessoas junto com ela.

Lex me apresentou para cinco pessoas e nós conversamos. Depois das máscaras já largadas em cima do sofá, eu já havia feito algumas amizades. Menos com o garoto loiro, com roupa de time, que parecia estar interessado na ruiva. Dean. Sempre fui capaz de me socializar muito rápido e de convencer até quem não queria me conhecer a mudar de ideia, mas hoje eu estava cansado demais pra enfrentar um garoto apaixonado e ciumento.

Depois de algumas horas conversando e comendo diversas coisas, nós fomos avisados de que o ano novo se aproximava. Todos nós nos levantamos e fomos para a sacada ver o fogos. Ficamos ali esperando por uns vinte minutos e enquanto esperávamos eu acabei rindo com o meu pensamento.

— O que foi?

Lexie me perguntou alguns segundos depois de me encarar pela risada e acabou sorrindo também. 

— Estava pensando.

— Em que?

Ela se sentou no corrimão largo da sacada e voltou a me olhar. Eu tirei meu olhar de um ponto qualquer e olhei nos olhos dela. Depois de apoiar minhas mãos no mesmo corrimão, deixando meus braços esticados e suspirar, eu a  respondi.

— Quando soube que teria que tomar conta de uma garota que parecia levar uma vida fútil, eu não quis. - Sorri - Até tentei fazer a Chloe trocar comigo. 

Lexie colocou uma mecha de seus cabelos atrás da orelha e eu olhei o mar a nossa frente.

— Mas agora que eu te conheci. - Dei uma pausa e mordi o lábio  - Bom, agora que eu te conheci, eu não poderia ter conhecido alguém melhor. É isso.

Eu olhei pra Lexie, mordendo o lábio novamente e sorri, ela sorriu de volta e não parecia ter palavras. Ficou em silêncio por alguns segundos e depois falou quase como um sussurro.

— Eu não o queria na minha vida. - Lexie sorriu sem graça. - Tinha um plano pra afastar você, fazer com que cansasse. 

Ela desceu do corrimão e se aproximou de mim dando alguns passos, mas parou ainda distante. - Mas ai quando a Chloe te substituiu, eu me dei conta de que gostava da sua companhia - Ela se aproximou um pouco mais e agora estava a mais ou menos oito centímetros de distância.

— E então eu te conheci mais e agora eu amo a sua companhia. 

Ela completou a frase me olhando nos olhos e involuntariamente quem se aproximou dessa vez fui eu. Estava prestes a cometer a loucura de beijar a civil da qual eu tomava conta, ignorando completamente a regra número 1: "Jamais se envolva com alguém que não seja agente." E eu teria feito se não tivesse sido surpreendido com os fogos, que a essa altura já estavam todos no céu. Lexie também se assustou, já que estávamos perdidos na nossa conversa e sentimentos. Olhamos juntos pera o céu e Lexie sorriu me abraçando segundos depois.

— Feliz ano novo!

Louhuman sussurrou no meu ouvido toda animada e eu sorri colocando meus braços envolta da sua cintura e apertando Lexie contra o meu corpo.

— Feliz ano novo.

Eu retribui no mesmo tom, fechei os meus olhos e em seguida beijei o seu rosto. Mas tive minha atenção tirada daquele momento com uma voz, que dessa vez já era conhecida.

— Feliz ano novo, Lex.

Dean falou com a voz rouca, me obrigando a olhar automaticamente para ele e Lex fez o mesmo. Ela se soltou devagar dos meus braços e sem se afastar de mim sorriu e desejou o mesmo a Dean, que se aproximou de mim e mais uma vez estendeu a mão. Eu a segurei e ouvi novamente a sua voz.

— Feliz ano novo, Derek.

Ele me encarou bem no fundo dos meus olhos, sem nenhum sorriso e apertou firme minha mão. Naquele momento ele deixou bem claro que lutaria pela Lexie, que lutaria comigo. Eu apenas arqueei a sobrancelha e ri.

— Feliz ano novo, Dean.

Foi tudo que eu disse e, claro, retribuindo o aperto de mão.