Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 9
4. Você, seus anjos e os seus demônios.


Notas iniciais do capítulo

Boa semana para todos!
Obrigado a Flavia que favoritou a historia (Comenta ela para agradescer como se deve).
Uma boa leitura! =)



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A ordem, com o tempo, acaba sempre por envolver as coisas.

Raymond Radiguet

 

A movimentação noturna de São Paulo inegavelmente tinha os seus encantos, mas naquela noite, depois do jantar, Calú e Peggy ignoraram toda a metrópole e voltaram para o hotel o quanto antes. Peggy notava no semblante de Calú algo que era uma mistura de sensações. Ele se despiu, tomou um banho rápido e se deitou para dormir. Não trocaram muitas palavras.

Peggy continuou acordada. A televisão apontava possíveis lugares onde eles poderiam ter passado a tarde. Pessoas davam depoimentos falsos. Foi divertido. Deitou-se ao lado de Calú e por algumas horas o silêncio reinou no luxuoso quarto de hotel.

Calú despertou as 02h da manhã.

Encarou por alguns minutos o teto do luxuoso. A Reunião não o fez pregar os olhos. Naquele momento o edredom caro e o travesseiro de penas mais atrapalhava do que ajudava. Muita coisa na mente do jovem astro. Ele suspirou e continuou a encarar o teto. Não sabia exatamente o que observava. Mais parecia que analisava o nada. Ou o seu subconsciente. Olhou para o lado e encontrou os lindos olhos de Peggy o encarando.

 

—Não consegue dormir?— A voz de Peggy quebrou o silêncio.  –

 

Ela dormia com uma fina camisola e olhava para o lenço de Andrade que se encontrava na mesa em frente à cama. Ela exibe uma doce expressão, de quem está de certa forma cansada.

 

Tem algo que eu posso fazer pra melhorar o seu humor?

 

Calú a encarou. Os dois possuíam tanta certeza em seus olhares que, se as paredes tivessem olhos, os viriam em algo que parecia uma conversa entre duas mentes. Um sabia traduzir muito bem o outro.

Calú, deslizando alguns centímetros pela cama se aproxima dela e a envolve em um longo beijo. Enquanto tocava os lugares em que apenas ele já conheceu, A Garota muda sua posição ficando por cima do Rapaz. Ele a toca de forma amorosa e pressiona levemente algumas partes do seu corpo branco a fazendo ficar “rosa”.

Ela sorri para ele, porém, ele não consegue evitar. Seu olhar cruza o quarto e para por muito tempo na garrafa de Uísque.

 

—K, desviar os seus pensamentos com sexo é uma tática muito covarde.— Ela diz enquanto se afastava, parecendo um tanto desconfortável. – Eu e você não conseguimos dormir por causa da reunião. Admita.

 

Ele recua o olhar e dirige o olhar aos próprios ombros. Peggy se deita sobre o peito dele.

 

—E aliás, já conversamos sobre o álcool. Lembra que você prometeu que iria parar?

 

Calú tira Peggy de cima dele e se levanta nervoso. Caminha pelo quarto com a garrafa de Uísque e serviu um copo para ele mesmo. Uma escolha nada feliz. Quando voltou a encarar Peggy, notou seu olhar de reprovação.

—Que ótimo – Ela disse de joelhos sobre o colchão. Os braços cruzados - você tem tempo pra comprar a porcaria desse veneno e não teve tempo pro seu pai…

 

Calú virou-se para ela com uma expressão de raiva.

 

Meu pai está vivo! Muito Vivo! Não repita isso de novo!— Ele diz empurrando a cadeira – Beber foi tudo o que eu fiz pra me esquecer de tudo aquilo. Eu não me importo se o Andrade morreu. Ou se ele continua vivo. Se todos eles querem reviver aventuras idiotas... Eu não ligo.

 

Um silêncio perturbador voltou ao quarto. Calú evitou encarar Peggy por uma fração de segundos, porém ele o fez. Como se ela estivesse esperando que ele fizesse aquilo, ela quebrou o silêncio.

 

—Como pode ser… tão ingrato… — Peggy exibia um semblante desafiador e ao mesmo tempo melancólico – Ele amou você como um filho que jamais teve…

—Eu não ligo.

—Eles são os seus melhores amigos, Calú. Você conheceu eles muito antes de me conhecer...

—Eu não ligo.

—Ah, essa vai ser a sua resposta para tudo? E os cigarros? E a droga dessa bebida? Você não liga, também?

Calú e Peggy se encararam em silêncio por um breve momento, até que a garota decidiu ligar para a recepção.

Sentou-se a cama e pegou o telefone.

 

O que tá fazendo?— Calú perguntou, entretanto ela pareceu ignorá-lo –.

—Oi… — Ela começou a conversar com alguém da recepção - Sim, somos nós, Eu peço perdão. Poderia adicionar outro quarto a nossa conta?

—Ha ha…— Calú a observou com uma sensação cômica. “Aquilo não era engraçado” — Tá brincando né?

 

Novamente, ela acabara de ignorá-lo.

 

—… Ok, obrigada. — Peggy foi até o Closet particular –

—… Peggy… - Calú a seguiu pelo quarto. Ela parou em frente a porta e disse de costas para ele -

—Você precisa ficar sozinho com o seu veneno e eu vou investigar sozinha. — Ela disse, sabia que estava sendo demasiado dura –

—Peggy, Nós não devemos ir tão longe…

 

Ela suspirou. E disse, ainda sem encarar ele.

 

—Calú, eu te amo, mas não vou ficar calada enquanto você apedreja quem só te deu amor. Se você não vai agir como um Kara, não vou exigir que houvesse algo dentro de você que se comporte como um homem. Não é só por hoje. É pelos últimos anos que vi você adiando uma luta contra tudo isso.

—Eu não posso fazer nada por isso. Já está fora do meu alcance.

Peggy o encara com pequenas lágrimas escorrendo.

 

—Tá. Diga isso, é uma ótima forma de jogar seus problemas para o alto. Diga isso sobre a bebida também. Diga isso sobre nós.

 

Ela se dirigiu a saída do quarto. Deu meia volta. Sorriu com os olhos tristes e disse em um tom de piada fúnebre.

 

—Estarei no quarto ao final do corredor. Boa noite com o seu Uísque.

Calú socou a parede do quarto.

Já passava das cinco da manhã e Calú permanecia acordado. Estava lendo um livro que seria adaptado para um “blockbuster” no próximo verão. Faria um dos personagens e para se adaptar, lia a obra original para captar coisas que o diretor -muito provavelmente- deixaria passar batido. Fazia parte de sua rotina. Conversava com Peggy frequentemente sobre os papéis que viria a interpretar.

Porém, cada página do livro estava demorando muito tempo para ser compreendida. Seus pensamentos voavam entre filme, Andrade, Peggy e o álcool. A Culpa de não ter feito nada o consumiu por semanas, como todo adulto, varrer para debaixo do tapete é confortável, até o momento em que você tropeça no que está embaixo. Um erro de principiante - porém sempre frequente na vida de todos-.

Deixou o livro de lado e começou a pensar em tudo o que acontecera. A Autópsia do corpo de Andrade desaparecerá. Por um breve momento, tentou mandar esse pensamento para longe, mas ele voltava mais intenso.

Perguntou-se como um documento tão importante poderia desaparecer. Quem conseguiria fazer isso. Sumir e aparecer com registros, Eram algo que lembrava roteiros de filmes. Mas, em Hollywood, todos os vilões eram fictícios. Aquele ator conheceu um pequeno grupo de vilões da vida real. …

Olhou para o relógio e pensou bem no que faria a seguir. Seguiu o raciocínio que vinha como pequenos flashes em sua mente. Estava decidido. Antes do meio dia iria conversar com Miguel. Seria a única participação sua nesse caso.

 

— | -

Miguel tomou café e saiu rapidamente para seguir para a Faculdade. Pode ver algumas chamadas perdidas na madrugada. Uma delas inclusive era de Magri. Isso o fez sorrir. Era muito feliz voltar a ser próximo de todos esses amigos. Seguiu para tirar o lixo antes de ir para sua própria garagem. Quão grande foi a sua surpresa ao ver um velho amigo de Chapéu de Cowboy e óculos escuros o esperando do lado de fora.

 

—Bom dia. –Calú tinha uma voz cansada. De quem não dormiu a noite toda -

—Calú?— Miguel fechou o portão atrás de si – Bom dia…

—Pelo visto você está indo pra faculdade…

—Estou… — Miguel o encarou com curiosidade -

—Bem, eu te dou uma carona. – Calú se desencostou do carro que alugará. Miguel notou o veículo muito caro. Não era um carro de luxo, mas estava longe de ser um dos carros populares em São Paulo. Era digno de um banqueiro - Em troca você escuta o que tenho a dizer.

—… Sinto que você não irá aceitar uma resposta diferente de “sim”, não é?— Miguel entrou no carro logo após Calú –

A Viagem se seguiu em um tom bem mais humorado do que os dois esperavam.  Com algumas piadas sobre o trânsito de São Paulo que nunca mudou e nunca mudará ou sobre conversas nostálgicas dos tempos de escola. Calú então foi direto ao assunto.

 

—Preste atenção, eu pensei noite passada sobre o que o Detetive Nicolas nos disse…

 

Aquilo surpreendeu genuinamente Miguel.

 

—Você?

—Sim… Peggy vai investigar por conta própria. Eu não vou me envolver, mas o que pensei ontem não sai da minha cabeça.

—Como assim, por conta própria?

 

Calú hesitou em responder. Miguel era rápido. Entendeu de antemão.

 

—Entendo… Prossiga.

—A Autópsia do corpo de Andrade desapareceu porém não é primeira vez que vemos algo desse tipo. —Calú dizia com clareza e firmeza em sua voz. Olhava para frente - Nos anos em que o colégio elite ficou a mercê da droga da obediência, os laudos médicos e autópsia das vítimas do controle mental também sumiram e apareciam alterados em frequências absurdas.

 

Miguel assimilava a tudo que o amigo dizia.

 

—Aonde quer chegar?

—O Principal nome por trás da droga da obediência continua vivo e dentro da penitenciária de segurança máxima. Alguém que tem tudo contra Andrade.

 

Foi como se uma lâmpada acendesse um cômodo escuro em sua mente. Miguel completou o raciocínio.

 

—Alguém com influência e poder para conseguir tramar um assassinato mesmo preso dentro de um dos lugares mais vigiados do Brasil.

—Alguém que com toda a certeza, conhece Andrade tanto quanto nós. — Calú concluiu.

—Calú… Chegou a essa conclusão sozinho? – Miguel estava de alguma maneira surpreso e com uma leve vontade de se provar capaz também.

—A Chance disso é muito pouca. Podemos estar jogando nosso tempo fora.

—O que quer fazer então…?

—Nada. — A resposta de Calú caiu sobre Miguel com uma triste surpresa - Deixei isso para vocês. Magri, Peggy, Crânio e Chumbinho irão investigar e nós dois ficaremos de fora.

 

Miguel observou Calú. Não disse nada por trinta segundos exatos. Olhava para o vidro dianteiro procurando algo na rua.

 

—… Entendo. Pode parar o carro perto daquele orelhão, por favor?

Calú refletia sobre diversas coisas enquanto Miguel falava no orelhão. Pensava em contar o que pensara para Peggy, mesmo ela não ter conhecido o Dr. Q.I ela tinha conhecimento de seu nome. Calú já havia lhe contado praticamente todas as suas aventuras.

 

—Pronto, podemos seguir. —Miguel entrou no carro –

—Ligou pra quem?

—Para faculdade. Disse que não irei hoje. — Ele disse fazendo Calú se confundir – E liguei para o Nicolas, ele vai nos ouvir.

Miguel… Seu filho de uma…

—Não vamos nos envolver, vamos apenas passar nossa teoria para ele. – Miguel disse sorrindo — O Que faria hoje?

—Entrevista na rádio.

Bem, acho que você vai precisar adiar.

—… - Calú suspirou e deu um riso leve no fim –.

—Qual o problema?

É bom voltar a falar com você, Kara.— Calú e Miguel fizeram um comprimento com um soco no baço – E apesar de eu não querer me envolver nesse caso, eu odeio entrevistas. Vou fazer um esforço.

Miguel e Calú riram. Por um momento aqueles dois adultos pareciam se esquecer de suas novas faces caretas e lembraram mais os Karas que já foram um dia.

A Conversa se seguiu sobre diversos assuntos enquanto esperava o detetive Nicolas chegar.

Peggy ligaria para Magri e Crânio naquela manhã. Iria se reunir com os três e discutir uma possível aliança para investigar o caso de Andrade.

Os Karas agora se dividiam entre seus interesses e motivações para encontrar a resposta do mesmo problema.





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Notas finais do capítulo

Até o proximo cap. =)



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