Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 21
Arco III - 1. Abutres.


Notas iniciais do capítulo

Começamos o arco III com a consequencia dos ultimos eventos.
Espero que gostem. Boa leitura.



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Quando Calú e Peggy assistiram ao noticiário eles não sabiam muito bem como reagir. A edição da madrugada do jornal televisivo tinha durado quarenta e seis minutos (quinze a mais do que normalmente possuíam) e comentava a bombástica revelação do caso Andrade. A informação havia sido passada por um recruta mais empolgado e de dentro da delegacia.

“O cenário era este: O nacionalmente famoso detetive Andrade havia sido morto. Um dos homens que o falecido havia capturado o tão famoso quanto, Dr. Q.I conseguira o seu laudo e o escondeu, antes de morrer em uma rebelião na penitenciária em que estava preso há quase cinco anos. Porém, o seu assistente, um detetive chamado Nicolas Rodrigues, entrará “sozinho” na periferia e localizou o laudo roubado que revelava que o bom detetive havia morrido envenenado”.

Calú comentou com Peggy o quão irônico era isso. Era daquela forma que a mídia via Andrade. O detetive que resolvia tudo “sozinho”. Peggy lembrou-se dos anos em que conheceu Calú.

Alguns apresentadores e lideres das equipes redatoriais dos jornais deram suas visões polêmicas sobre o caso.

“Andrade sempre esteve envolvido em casos enormes e de proporções muitas vezes cinematográficas. O quão irônico é então, se é que possa ser ironizado, o fato de até mesmo o caso de sua morte, está se tornando um caso tão grande quanto aqueles que o tornaram famoso”.

O furo dado pela TV eclipsou as rádios de notícias e jornais impressos. Os jornais do dia seguinte precisaram correr para publicar o mínimo possível. “Caso da morte de famoso detetive é rondada de crimes graves”. A notícia desencadeou uma atividade febril nas redações e estúdios de notícias do país. Quando os jornais do segundo dia após o laudo ser encontrado e vazado chegaram às ruas, uma investigação sem precedentes havia se iniciado na mídia.

Ninguém arredava o pé da delegacia, do estúdio, ou da frente da TV.  A mídia chamava então a responsabilidade para Nicolas Rodrigues. O detetive que “sozinho” descobrirá a tudo até então, e, que por opiniões públicas, era aquele quem deveria assumir as investigações do caso.

A estranha ausência de Nicolas, porém, se veio pelo pedido de um cara conhecido. Um Kara conhecido. Miguel não precisou insistir tanto quanto da vez que se ocorreu os eventos da Droga da Obediência. Nicolas era diferente de Andrade. Mas, até mesmo o detetive dessa vez se afastou. A mídia do país o procurava. Seria uma questão de tempo até o Jovem Detetive ser obrigado a dar carne para os abutres da mídia.

E esse dia chegou. Naquela noite, ao vivo no jornal mais famoso da atualidade, Nicolas falaria, enfim.

Calú comentou com os outros Karas o tanto que a mídia estava desesperada por informações. Convidaram Nicolas para um “Talk Show” ao vivo no jornal das Nove horas.

Todos os Karas se reuniram no quarto de Hotel de Calú. Eles então assistiram a entrevista de Nicolas.

Afirmar que o caso está perto de ser resolvido é ter um positivismo que eu… Eu não disponho. - Nicolas estava visivelmente nervoso -

O apresentador da TV mostrou-se surpreso. A resposta não seguia o esquema proposto pelo diretor e ele seria então, obrigado a improvisar. Calú enquanto assistia sorriu.

“Estamos diante, novamente de um caso de grandes proporções em nosso país, o senhor tem se mostrado extremamente competente. Poderia nos dar alguns nomes na morte do Dr. Q.I?”.

Veja, Não vamos misturar duas coisas. O caso Andrade não tem relação com a morte do Dr. Q.I. Este morreu por desavenças dentro da penitenciária. A grande verdade, é que por sua influência ele conseguiu mover seus pauzinhos e atrapalhou as investigações do caso Andrade.

Crânio previu a aonde essa opinião de Nicolas iria levar e acertou em cheio.

Q.I era inteligente. Há cinco anos criou uma droga que arruinou a vida de dezenas de famílias e que figurões da indústria ainda estudam os seus efeitos.

—Está dizendo então que Q.I não está envolvido no caso?

—Isso mesmo. Não tem a menor importância os seus atos. Ele está morto. Tinha algumas dezenas de anos para cumprir atrás das grades, somariam mais alguns depois da descoberta de seu envolvimento, mas ele está morto. Tudo será esquecido.

Em seguida, o apresentador perguntou:

—Então está dizendo que a polícia não tem nenhuma responsabilidade?

—Muito pelo contrário. Durante os eventos os anos da Droga da Obediência e até o último dia de sua vida, Q.I tinha influência na polícia. Homens que deveriam proteger a lei se omitindo e encobrindo um dos homens mais perigosos que esse país já viu. Estes homens ainda estão dentro das delegacias. Se tivessem trabalhado corretamente, como Andrade trabalhava, não estaríamos sendo obrigados a explicar o porquê de um homem que estava preso conseguir atrapalhar uma investigação.

A aparição de Nicolas significaria mudanças na atitude da polícia. Crânio havia percebido isso e comentou com Miguel.

Depois da entrevista, a morte do Dr. Q.I passou a figurar nas abas de reportagens policiais.

A pressão foi grande. Delegados e a alta cúpula do sistema de polícia brasileiro começou a examinar com lupa tudo o que se sabia sobre o Dr. Q. I e seus dias dentro da penitenciária. Foram estabelecidas ligações com policiais, serventes, e até mesmo, indiretamente, um rapaz que fazia manutenção das celas, que fora um capanga do homem.

A mídia aos poucos começava a tratar Nicolas como um sucessor do “espírito Andrade”. Lendas de que, o assistente do famoso detetive, deixou-se voluntariamente fora da investigação, deduziu que Q.I estivera envolvido, e assim localizar seus capangas na periferia de São Paulo. Tudo “sozinho”. Apesar do caos que a mídia criará, e mesmo perante uma difícil investigação, os Karas divertiam-se a valer com a fama do mais novo detetive preferido da mídia.


•|•

Magrí despertou indiferente de um sono sem sonhos. Sentia uma pequena dor de cabeça. Olhou o teto da casa dos pais.

Desde que se tornará adulta, aquela mulher forte que se tornara, tomava para si a responsabilidade de sustentar um apartamento. Vivia viajando para jogos e representar o Brasil no esporte, mas aquele era o seu lugar. Conquistado com o seu esforço. Porém, optou por dormir na casa dos pais depois da noite do jantar. Magrí já estava dormindo fora de casa pela terceira vez naquela semana.

O relógio na mesa-de-cabeceira indicava seis e cinco da manhã. Observou o quarto com uma leve nostalgia e se levantou.

A governanta de Magrí fora sua babá quando aquela linda mulher era apenas um bebê. A idade já havia chegado para a boa babá, que tentava levantar uma bandeja com o café. Magrí caminhou em direção àquela boa moça e a ajudou de bom grado. Trocaram sorrisos.

—Está muito cedo, ninguém levantou ainda, a senhora pode descansar…

—Minha filha, você está de pé. Vou preparar algo para você. Panquecas da babá?

Magrí sorriu nostálgica.

Fez o seu desjejum enquanto refletia sobre a vida. Tinha mais vinte e três dias antes de voltar para a sua rotina e estilo de vida. Tinha que resolver qual bebida energética iria possuir seu nome para as propagandas. Decidir se contrata um treinador pessoal para a vida esportiva. E claro, tinha que resolver as questões da casa de Andrade.

Magri não queria ter recebido a casa de Andrade. Ela não fazia a menor ideia do que faria com o local, mas a ideia de simplesmente deixar que aquilo tudo fosse destruído era de certa forma muito incômodo. Andrade nunca tivera família. Aquilo tudo se perder era… Triste.

Levantou-se e foi até o telefone. Sem entender os motivos para tal ação, ligou para Miguel. Olhou o relógio. “Não fique bravo comigo, Miguel…” ela pensou. Do outro lado da linha, ela ouviu dizer um breve “Alô” o líder dos Karas.

Sou eu, Miguel.

—Magrí… - Uma pausa seguida de um bocejo - Bom dia.

—Bom dia. Preciso que você busque a caixa da sua parte da herança. Pode fazer isso hoje?

—Claro… Desculpa não ter ido antes. Como tem lidado com a casa?

Com pressa. - Magrí foi verdadeira - Os móveis foram doados. Eu perguntei para a governanta de casa se ela conhecia alguém que os aceitaria. Só os pertences de vocês estão lá agora. Peggy já tem o lenço dela. E Calú deu alguma utilidade para o fusquinha, eu acho...

—Entendo… Mas, por que a pressa?

Ela parou e refletiu.

—... Volto para a minha rotina em três semanas. Sabe como é né?

Magrí conhecia bem o amigo. Ela notou a decepção em seu tom.

—Entendo… Bem, eu passo ainda hoje.

—Vou cuidar disso o dia todo hoje. -Ela dizia - Te vejo mais tarde…

Magrí desligou o telefone.

Não sabia o porquê, mas durante a semana que passou com seus bons amigos, ela analisava com novos olhos os velhos sentimentos que teve. Ela sabia que tinha um carinho e consideração por todos eles enorme. Eram todos irmãos… Mas Miguel…

Ela sempre parava e refletia sobre isso. Sobre o quanto que gostava da companhia do líder dos Karas.

Bem, suspirou fundo. Conciliar a vida amorosa provou-se difícil. Ela tentou e conseguiu enquanto estudava no elite. Amou Crânio de todo o coração, mas interpretou mal seus sentimentos.

Ligou para todos os Karas que ainda precisavam cuidar da parte deles da herança. Saiu de casa e seguiu finalmente para a casa do detetive. Os problemas estavam longe de terem sido resolvidos. Uma investigação sobre o envenenamento e morte do detetive iria balançar o mundo das sete pessoas envolvidas.

 

•|•

 

Nicolas debruçou-se sobre os registros policiais de Andrade. Havia chegado às sete da manhã no departamento de registros e ocorrências policiais. Já passava das dez e o jovem detetive continuava a recolher as suas preciosas fontes. Desde a primeira multa que Andrade dera até o primeiro crápula que ele havia posto atrás das grades. Era o momento de pensar e repensar quem poderia ter envenenado o precioso amigo.

Nicolas então foi interrompido por uma voz conhecida. Sem virar a cabeça, deslocou o olhar para o dono daquela voz. Possuía um respeitoso ar a seu redor. Tinha idade avançada, qualquer um poderia ver. Seus cabelos eram cinza.

—Bom dia, Nicolas.

—Bom dia, Comissário Nelson.

Os olhos de Nicolas voltaram para os arquivos.

—Está uma confusão lá fora. Os abutres dos jornais querem muito falar com você.

—Só volto a falar com alguém da mídia depois de resolver esse caso.

—Andrade demorou um pouco para saber como lidar com a televisão. Viu onde ele chegou?

Nicolas apenas escutava. O procurador de plantão da noite passou rapidamente para cumprimentar o comissário com um sorriso. Não viu Nicolas. Nelson observou o jovem detetive.

—Eu soube que alguns arquivos das últimas semanas saíram desse prédio com você. - ele se encosta-se à lateral da porta - três viagens. Fez tudo sozinho é?

Nicolas o observou.

—Andrade ensinou bem os seus assistentes a arte de ter um espírito menos careta… - Nicolas disse. O comissário Nelson não entendeu completamente –

Nelson sorriu e tirou algumas pastas de outras gavetas.

—Andrade tinha cinquenta e três anos e trabalhou mais da metade da vida em um fusquinha como policial. Vinte e três anos. Conhecemo-nos no curso de formação permanente e integrar a seção de crimes violentos. Não o conhecia direito, só sabia que ele andava com o Sr. Morais. Pararam de se falar a partir daquele ponto e nos tornamos amigos.

Ele entrega ao jovem detetive registros de mais casos do detetive.

—Morais odiava o Andrade?

Nelson não pode evitar a expressão de surpresa.

—Andrade, Morais e eu… Nós fomos os retratos de uma época. Morais... Ele tinha problemas psicológicos pesados. Andrade teve o sucesso inimaginável e eu… Eu me aposento no fim deste mês. É o fim do ciclo. Três histórias diferentes.

Nicolas o observava. Nelson coloca a sua mão protetora no ombro do detetive.

Eu vim aqui hoje para te dizer, que esse caso será um divisor de águas na sua vida.

Nicolas encarou aquele homem com olhos neutros. Sentiu-se estranho.

—O senhor está querendo me dizer alguma coisa?

Só quero que saiba que me preocupo. Você ainda é jovem. Lembra-me muito a mim, ao Andrade… até mesmo o Sr. Morais. Só quero saber quem você vai se parecer mais no fim disso tudo. São casos como esses que tornam os sentimentos das pessoas mais frios…

Ele caminha para fora da sala. Nicolas o observa seguir seu caminho.

Nicolas trancou-se em sua sala. Colou com uma fita adesiva com os dizeres: “Não perturbe” em caixa alta e escrita a próprio punho.

Ainda não teria tempo para analisar a todas as informações. Mas, enquanto ainda pudesse interpretá-las, tentaria de toda forma encontrar alguém que poderia fazer mal a Andrade. O nome de Morais vagava em sua mente. E em uma escala muito menos corriqueira, mas incomoda o nome de Nelson...


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Notas finais do capítulo

Foco foi grande no Nicolas nesse cap. Rs
Até a proxima.



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