Os Karas - Cigarros e Moscow Mule. escrita por Alex


Capítulo 20
15. Sentença em duas palavras.


Notas iniciais do capítulo

O cap. Final do segundo arco.
Vamos a ele. Boa leitura! =)



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Crânio acordou às oito da manhã. O braço afetava muito as suas ações. Mesmo depois do tratamento quase militar feito por Morais, ele passará rapidamente no hospital. Quatro semanas longe do laboratório. Repouso e exercício leve para analisar se não haveria rompimentos.

Tomou um banho, fez o seu ritual tipicamente matutino e abriu um velho caderno. Fez uma equação rápida. O gênio dos Karas entendia todas as teorias do mundo. Uma equação contém em geral uma ou várias incógnitas, muitas vezes designadas por x, y, z etc. Diz-se que os valores dessas incógnitas, que garantem a igualdade efetiva dos dois membros da equação, satisfazem a equação ou constituem sua solução.

Assim que saiu de casa, Crânio foi recebido com uma temperatura fria. São Paulo estava fria naquela manhã. Seu braço estava imobilizado. Vestia calças jeans, camisa de botão e um cardigã azul. Nos pés, um velho tênis. Foi, comedido e fazendo o mínimo de esforço possível até o mercado no fim de sua rua. Comprou canetas, queijo, ovos, pão, bisnagas, manteiga, maçã verde, um pacote gigante de papéis higiênicos e uma lata de extrato de tomate. Pagou em dinheiro. Um garoto jovem se aproxima de Crânio e diz que ele o ajudaria a levar as compras, devido sua condição. Crânio nota as roupas do garoto. Ele está em treinamento. Deve estar se esforçando para assegurar a vaga no emprego. O gênio dos Karas aceitou com um sorriso.

Ao voltar para a rua, os eventos do dia anterior retornaram quase como um flashback. Lembrou-se do bandido, do tiro… Do rosto de Magrí. Mas por razões que não sabia dizer, uma parte de seu ser gostaria de evitar pensar naquela garota que fazia aquele homem feito voltar a ser um adolescente.

Foi decidido que os sete amigos iriam se encontrar para um jantar especial antes de abrirem o laudo de Andrade. O jantar seria às 20h de hoje. Peggy escolheu um local fino. Faziam questão. Crânio sempre teve uma vida confortável, mas a riqueza enorme de alguns de seus amigos o fazia às vezes se sentir menor. Bem, teria que evitar pensar em Magri até que se encontrassem novamente naquela noite…

 

—Crânio? - O rapaz foi surpreendido por uma voz familiar. Olhou para trás e pode observar o rosto bonito de Maria. -Meu deus, o que aconteceu?

 

Crânio parecia muito inexpressivo. Olhou para o próprio braço imobilizado e sorriu forçadamente.

 

Um acidente. Um mês longe do laboratório.

 

Maria sorriu.

 

—Desculpe vir sem avisar, mas… Achei estranho. Você faltar dois dias seguidos. Vim ver como estava…

 

Ela observou a expressão depressiva no rosto daquele rapaz.

 

—Não parece muito feliz em me ver…

 

Crânio voltou a si.

 

—Perdão… Eu… Tenho tido vários problemas essa semana… Er… Quer entrar? Tomar um café da manhã?

 

Crânio nunca planejou tornar-se um amigo, amante… Ou qualquer coisa de Maria. Ela era amável, bonita. Um corpo tão lindo quanto o de Magrí (obviamente, não tão atlético quanto o de uma esportista como era a colega de longa data). Não era certo mentir para ela, ou para si mesmo. Crânio entendia muito bem a ciência das coisas, mas desconhecia a ciência dos sentimentos.

 

Minhas anotações têm ajudado, então?

—Você quer mesmo saber? - A caneca de café que Maria segurava tinha os escritos “Para o dono de uma mente (loucamente) brilhante”. Presente de Chumbinho.

 

Crânio meneou a cabeça com um sorriso.

 

—Eu mesma tomei a frente. Fiz tudo o que era possível. Estamos avançando.

—E ninguém reclamou do fato do aluno cabeça do projeto ter sumido?

 

Ela sorriu.

 

—O professor espalhou o boato de uma carta de recomendação para Stanford. É… O senhor tem talento.

 

Crânio sabia que a faculdade internacional era uma realidade. Uma mente brilhante como a dele, principalmente.

Tomaram café juntos. Crânio por fim, se deu conta que Maria estava ciente de detalhes muito íntimos e pessoais de sua vida. Detalhes que Magrí, talvez, nem se preocupar em saber. Sentiu-se triste novamente.

 

Maria, posso lhe perguntar algo? — Ela faz que sim com a cabeça - Porque está aqui, agora?

 

Ela refletiu um instante. Abriu o mais belo sorriso que tinha. Difícil não ser balançado por aquela mulher.

 

—Talvez, você seja a única pessoa que conheço de quem não tenho motivo para esconder o que for.

 

Crânio se sentia extremamente culpado. Logo ele, que tinha mais segredos do que um cofre.

Maria observou o seu semblante. Levantou-se.

 

—Preciso ir…

 

Crânio concordou com a cabeça. Ela parou e o encarou.

 

—Sabe que estou tentando te seduzir, não é?

—Sim, eu sei. — Crânio respondeu -.

 

Crânio se levantou para abrir a porta para ela. Ela o beija, com mais amor do seu lado do que do lado do Kara.

Crânio desligou-se do mundo até mais ou menos às 16h.

 

•|•

 

Os paparazzi passaram a menos de dois metros da sacada de um suntuoso e caro café. Tudo para acompanhar o caminhar de Calú que ziguezagueava entre as mesas a fim de ir até Peggy.

Peggy sorriu vendo que Calú de fato, cortou o cigarro de sua rotina. Mas, o privou de saber a sua opinião.

Calú vestia terno. Um exemplo de cavaleiro. O local era frequentado por gente de posse, mas, a presença de um dos casais mais famosos da atualidade, rendia olhares curiosos até dos figurões que aproveitavam à meia-hora de intervalo de suas empresas.

 

—suas cicatrizes são muito charmosas. - Ela fez uma piada -

No problem. Posso me acostumar.

 

Calú recostou-se na cadeira e cruzou as pernas. Observou os paparazzi andando pela rua.

O status de celebridade. Uma maldição e uma bênção. Ao longo do ano, receberá convites para festas e reuniões para ser garoto propaganda de coisas que nem ao menos se importava.

Claro, quem o convidava, obviamente possuía interesses. Eram amáveis. Trocavam beijinhos de boas vindas e diziam que a presença dele era um privilégio. Isso, até a mídia criar alguma manchete bizarra e mentirosa sobre ele. A principal desvantagem de ser uma estrela. Os bares eram sua ruína. E a mídia gostava sempre de lembrá-lo disso.

Sobre o aspecto amoroso, Calú era desejado por um número generoso de mulheres. O interesse delas aumentava sempre que Calú dava o ar de sua graça. O que mais o surpreendeu foi a descoberta de que boa parte de suas fãs eram mais velhas do que ele. Infelizmente para elas, Calú estava fora do mercado a quatro anos. E por lá ficaria até o fim de sua vida, era o que acreditava.

 

O caso Andrade, porém, o estava fazendo se lembrar de quem era. Acabara de ganhar cicatrizes no corpo por um homem que ele estava evitando pensar sobre a mais de quatro anos. Dera um soco no rosto de um velho por conta do que ele dissera sobre Andrade. O que era tudo aquilo?

Bem, tudo acabaria naquela noite. Andrade havia morrido no dever. Calú se aproximou de Peggy e a beijou na mão. Ela sorri de forma doce.  A foto do ato foi comentada em tabloides de fofoca por mais quatro dias depois.

 

•|•

 

O grupo de amigos já se direcionava aos poucos para o local marcado. Restaurante fino em um dos bairros mais caros de São Paulo. Um bom vinho e comida fina. Em uma reunião fina para tratar de assuntos não tão festivos.

Crânio e Chumbinho chegaram com uma pequena diferença de tempo. O gênio dos Karas deu seus comprimentos aos pais do adolescente quando os viu. Estes, não desceram do carro.

Os dois limitaram-se a conversar sobre o dia anterior.

 

Você atirando uma telha contra o bandido parecia uma cena de filme de ação. -Crânio disse sorrindo –

 

Chumbinho o encarou com um sorriso bobo.

 

—Qual é? Já vivemos coisas que deixam filmes de ação no chinelo. Quer que eu de à lista?

 

Crânio ainda sorria. Fez que não com a cabeça.

Em um intervalo de dez minutos, Miguel chega. Para seu carro na calçada do restaurante e um dos funcionários coloca um número sobre seu carro. O líder dos Karas entrega a chave para o rapaz e segue em direção aos seus amigos.

—Olá.

—Boa noite.

—Miguel. Pensou? - Chumbinho observou o amigo com curiosidade -

—Muito, Chumbinho. Muito.

—Ontem foi intenso. Deu até aquela nostalgia dos velhos tempos.

—Hoje isso acaba. -Disse Miguel - Vamos descobrir o que ocorreu com Andrade. Nicolas já chegou?

—Não. -Crânio disse - Tem mais três pessoas na lista de convidados. Vamos aguardar.

 

•|•

 

Calú e Peggy ainda estavam hospedados em quartos separados. Ele cruzou o corredor. Estava tão sofisticadamente belo, que, uma das camareiras do hotel parou e o contemplou como se estivesse perante a encarnação do deus Apolo.

A camareira era jovem, provavelmente sabia da fama de Calú. O mesmo sorriu para ela e estendeu a mão. Ele a beija na mão como um cavalheiro e diz com um sorriso amável “Você quem merece ser contemplada, minha querida…”. Calú segue pelo corredor indo em direção ao quarto de Peggy. A camareira sonhou com aquele momento por inúmeras noites depois.

Calú não precisou bater. Peggy estava absolutamente linda. Os dois se olharam com uma estranha reserva por alguns segundos e depois se estreitaram um nos braços do outro durante um tempo bem mais longo.

 

—Hoje termina… - Calú disse - Europa?

 

Peggy se afasta dele.

 

—E se não acabar?

 

Calú colocou o polegar direito no lábio inferior de Peggy com cuidado, para não borrar o seu batom.

 

—Eu termino isso o quanto antes. Prometo.

 

Ela sorriu. Calú a fazia se sentir segura.

Calú dirigia. Dezesseis minutos depois, ele chega a casa de Magrí. Mais uma fração de minutos, todos os Karas haviam chegado ao fino restaurante. Quase duas horas de atraso. Pessoas famosas.

 

•|•

 

Todos os Karas já estavam a mesa quando o último membro ilustre daquele time se reuniu a eles.

Desculpem o atraso, mas essas foram às 24h mais longas da minha vida.

 

O grupo mostrou um excelente humor durante todo o jantar.

Demoraram dez minutos decidindo o que iriam pedir. Chumbinho sugeriu omelete com toicinho e salada verde. Calú odiou a ideia, o que gerou um clima divertido na mesa.

 

Optaram por fim, por Carneiro com batatas à la crème (Segundo Peggy e Magrí um prato extremamente pesado) e beberam vinho tinto. Chumbinho optou por um suco.

 

Não estamos mais investigando de forma separada, não é? -Chumbinho disse com um sorriso –

 

Os Karas se entre olharam. Todos foram abrindo sorrisos, desde o mais radiante (que pertencia ao menor dos Karas) até o mais frio (Crânio e Calú eram os detentores destes).

 

Ontem, o bandido gordo, ele estava armado. - Crânio começou - Eu vi uma 9 mm presa dentro de sua calça. Próxima ao cinto.

Não era uma arma. - Disse Nicolas - Era só a coronha. Engana uma pessoa.

 

Crânio suspirou fundo. Miguel, que estava sentado ao seu lado, consolou o amigo.

 

Você foi incrível, Crânio.

 

O Gênio dos Karas olha ao redor e percebe os diversos sorrisos indo a sua direção. Inclusive o de Magrí. Mas… Ele não o retribui. Limita-se a ficar em silêncio.

 

—Antes de tudo… Tenho algumas coisas para contar a vocês… - Nicolas começou - Ontem, depois que entreguei os dois capangas do Dr. Q.I foi de certa forma fácil entender o acontecia…

 

Ele toma um gole de vinho e observa os Karas.

 

—Ontem, às 13h uma pequena rebelião ocorreu na penitenciária de segurança máxima.

O que? - Miguel o observou - Por quê?

—Os motivos não se sabem, mas, Q.I foi morto ontem, enforcado por uma manga de calça cortada, coberta por estilhaços de garrafas de vidro coladas com cola de sapateiro.

—Meu deus… - Magrí levou à mão a boca. Por sorte eles já haviam terminado de comer -

A morte do Q.I criou para o caso Andrade um clima de… Suspeita. Mesmo sendo confirmado que ele foi assassinado, afinal até o nome do preso que o matou nós já temos, fica a pergunta… A morte dele se deu logo depois de termos pego o laudo.

—Acham que ele está envolvido mais ainda? - Chumbinho observou -

—Pouco provável. - Disse Calú –

 

Miguel olhava para baixo. Voltou os olhos para Nicolas.

 

—Ele me disse que até o fim daquela semana morreria. - Miguel parecia entender - É… Ele não mentiu.

—Q.I provavelmente sabia que armaram algo para ele nessa semana e que morreria. Tivemos sorte de Miguel ter ido falar com ele. Um dia depois do encontro ele já teria morrido. - crânio foi sucinto -

—Sim. Miguel o encontrou na terça. Quarta, fomos à periferia e ele morreu no mesmo dia… - Magrí parecia um tanto inquieta -.

A inquietação da primeira dama dos Karas era visível. E os motivos para tal era claro.

Nicolas exibe o laudo médico de Andrade. A Autópsia. Um número incomum de pessoas morreu por essa informação. Nicolas o entrega nas mãos de Miguel. O líder dos Karas sorri em agradecimento. Um gesto nobre por aquele homem, que mesmo conhecendo a menos de um mês, conseguiu conquistar sua confiança.

 

—... Obrigado Nicolas.

—Não agradeça. Não sabemos se acabou.

 

A tensão se instalou naquela mesa. Miguel abriu a pasta e viu diversas informações diferentes.

 

—Tipo sanguíneo… Diabetes tipo tal… Pressão…

 

Peggy segurou a mão protetora de Calú.

 

—... Causa da morte…

 

Todos os ouvidos da mesa esperava aquela resposta. Foi tão curta… mas calou fundo. Duas palavras. O jantar acabou logo após se escutar.

Calú se levantou e caminhou em direção a saída.

Possuía tanta raiva nos seus olhos que todas as pessoas do local se assustaram em um primeiro momento, antes de reconhecer o mais famoso dos Karas. Na mesa, deixou dinheiro o suficiente para pagar a comida de sua mesa e das outras duas ao redor. Peggy o seguiu. Visivelmente abalada.

Crânio ficou em silêncio. Não sabia como reagir. Chumbinho limitou-se a encarar Magri e Miguel.

Nicolas cerrou os punhos.

Magrí tremeu com a descoberta.

Miguel limitou-se a repetir aquelas palavras. Todos naquela mesa, por dias, repetiram o que foi dito por Miguel em suas mentes.

 

—... Morto por intoxicante. Envenenado.


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Notas finais do capítulo

Seguiremos agora para as respostas... Arco III ainda essa semana.
Será o ultimo arco, espero que gostem kk.

Não esqueçam de comentar e me dizer o que estão achando, pode ser?

Até a proxima e obrigado por ler.



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