O Sol penetrava em meus poros e a brisa chicoteava meus cabelos de um jeito bruto. Eu segurava o panfleto na mão. Estivera parada na entrada por um bom tempo e acho que o segurança já estava começando a ficar preocupada de que eu fosse uma terrorista ou algo do tipo. Olho para ele e sorrio sem mostrar os dentes. Tomo coragem e entro.
Dentro é tão grande e iluminado, claro e limpo. Estou em um.corredor de paredes brancas sem nada. A minha esquerda há paredes de vidro onde dá abertura para que o Sol entre. Mais para frente posso ver um aglomerado de pessoas, muita conversa também. Meu coração bate tão acelerado que posso ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Estou ansiosa.
Quando me aproximo suficientemente do aglomerado de pessoas, observo uma grande parede branca onde um slide está sendo projetado. É a silhueta de uma pessoa. É gigante e interessante. Olho em volta nas paredes. Nunca tinha ido a uma exposição de arte antes. Era lindo! Aquele espaço principalmente. Vou olhando os quadros menores. Todos eles são abstratos de alguma maneira. Todos pintados em tom de preto e branco. São imagens que lhe da uma sensação angustiante.
Estou abraçada comigo mesma. Meu vestido lilás até os joelhos consegue cobrir minhas coxas arrepiadas. Não sei porque estou com frio em pleno verão em Chicago! Talvez seja o nervoso. Vou passando por todas as telas, observando-as. Uma delas me chama a atenção. É um monte de traços embaraçados e confusos. Entendo aquele. Sorrio de lado ao ver a assinatura.
Quando chego ao último quadro daquela sala, sinto meus joelhos quererem ceder. É uma pintura feita com aquarela. O fundo é todo branco e há um rosto pintado nele. É um rosto colorido e desenhado perfeitamente. É o meu rosto. Fico encarando aquela tela e sinto meus olhos arderem. Meu coração está cada vez mais acelerado. Pego uma lágrima com o dedo e respiro fundo. É o único quadro que há cor ali.
— Você gosta?
Sorrio ao ouvir aquela voz. Eu não a ouvira há tanto tempo. É inútil tentar fazer as lágrimas não saírem de meus olhos. Olho para o lado e vejo Kyle parado ao meu lado me olhando com um sorriso enorme nos lábios. Ele parece diferente! Seus cabelos estão castanhos e ele tirou o piercing que tinha nas sobrancelhas.
—Se eu gosto? - eu pergunto e tento respirar fundo. Dou risada em meio as lágrimas e balanço.a cabeça negativamente. - O que você acha? Olhe bem para a minha cara.
Ele sorri. Está vestindo uma camisa branca de botões e um colete cinza social por cima. Usa também uma calça social preta e sapatos lustrosos.
—Por que é o único colorido? - pergunto.
Kyle olha em volta com as mãos no bolso.
—Porque você sempre foi a única parte que era cor nos meus dias.
Balanço a cabeça negativamente.
—Odeio você por fazer isso comigo. - tiro um papel da bolsa que estou usando e enxugo os olhos.
Ele sorri.
—Você parece ótima. - Belos sapatos, aliás.
Encaro o par de scarpin lilás que ele me dera um ano e meio atrás. Sorrio.
—Obrigada.
—Como está a faculdade? Literatura inglesa hein.
Sorrio e concordo com a cabeça.
—É! Acho que passar os dias trancada dentro do quarto lendo Emily Brontë fizeram algum efeito.
Observo ele sorrir de lado e concordar com a cabeça. Ele olha os quadros.
—Eu... me desculpe por não ter ido no enterro. - mordo o lábio. Ele olha para mim. - Chloé me contou. - dou de ombros. - Eu queria ter ido mas não sabia se era uma boa ideia.
Kyle assente.
—Tudo bem. Sei que gostava do meu pai.
Concordo com a cabeça.
—Mas eu fui no outro dia no cemitério e me... despedi. - meus olhos já estão começando a soltar lágrimas indesejadas novamente.
Ele olha para meu rosto e parece até um pouco surpreso.
—Isso significa muito para mim. Não esperava menos de você.
Sorrio murchamente de lado.
—Ele tinha muito orgulho de você e tenho certeza de que está orgulhoso.
Kyle olha em volta e respira fundo. Olha para seus pés e pressiona os dedos em seus olhos. Eu desvio o olhar. Talvez seja hora de parar de falar.
—Desculpe, eu...
—Não, está tudo bem. Só sinto falta dele algumas vezes.
Concordo com a cabeça e sinto mais uma lágrima escorrer por meu rosto.
—Está gostando de morar aqui? - pergunto.
—Sim! A pizza daqui é...
—A melhor! - completo. - Eu sei. É maravilhosa.
Sorrimos um para o outro.
—E você, está gostando de morar no campus da faculdade?
Sorrio.
—Bem, eu tenho um quarto só pra mim então é bom. Nos finais de semana visito Sean.
— Como ele está, falando nisso?
—Terminou com a Tilly faz alguns meses. Já está namorando com outra.
—Que rápido.
Reviro os olhos.
—Foi o que eu disse.
Sorrimos.
—E você? - ele pergunta.
—Eu o quê?
—Saindo com alguém?
O tom da sua pergunta é hesitante. Ele me olha atentamente. Olho para meus pés quando sinto meu rosto começar a ferver. Torno a olhar para ele e balanço a cabeça negativamente.
Ele arqueia um pouco as sobrancelhas e concorda com a cabeça.
—Você tentou sair com outros...
—Sim. Mas... não passava do primeiro jantar sempre.
Kyle coça a cabeça.
—Ah.
Ele parece preocupado, mas mesmo assim vejo a sombra de um sorriso no canto de seus lábios.
— E você? - pergunto ansiosa.
Kyle dessa vez sorri. Mas é um sorriso afetado enquanto encara uma de suas pinturas.
—Não. Não consegui nem mesmo pensar em sair com outra. Estava ocupado demais com... tudo.
Concordo com a cabeça e olho em volta. A exposição parece cada vez mais cheia. Kyle nota isso também ao olhar em volta e diz:
—Olha, a exposição acaba em uma hora. Eu preciso falar com um pessoal e tudo mas, quando terminar tudo talvez a gente possa sair para comer alguma coisa.
—Você ainda come cachorro quente ou ficou legal demais para isso?
Eu e ele nos encaramos e rimos.
—Nunca serei legal demais para comer cachorro quente.
—Então está combinado. - digo. - Eu... preciso fazer algumas coisas no banco mas... eu volto dentro de uma hora.
—Tudo bem. - ele concorda com a cabeça.
Sorrio sem mostrar os dentes, um sorriso de lado e abaixo a cabeça. Começo a me afastar dele mas sinto sua mão segurar meu cotovelo direito. Olho para Kyle. Ele está com o rosto tão próximo do meu. Meu coração rasgará meu peito a qualquer momento. Ele se curva um pouco para frente e me dá um selinho. Pressiona seus lábios nos meus com força. Quase desfaleço naquele momento. Eu sentira tanta falta daquilo.
—Senti sua falta, boneca. - ele sussurra e solta meu braço.
Olho para sua mão e depois para seu rosto. Seus olhos verdes fitam calorosamente os meus e todo o meu rosto.
— Também senti sua falta, Kyle.