Não era como se eu não esperasse que algo de ruim acontecesse. Eu tinha a impressão de que aquela fraternidade era amaldiçoada. Quando acordo no hospital com um catéter de oxigênio em meu nariz, um tanto desorientada, sei que algo de ruim aconteceu.
Observo meus braços. Eles estão cheios de marcas vermelhas que não sei de onde surgiram. Estou confusa.
Olho para o lado direito e vejo Kyle e Matt do lado de fora do quarto olhando para mim por uma janela quadrada de vidro. Franzo o cenho. O que aconteceu?
Vejo Matt falar algo para Kyle. Obviamente não posso ouvir. Mas Kyle sai de perto dele e some. Logo depois disso, a porta do quarto se abre. Vejo dois pontos suturados na sobrancelha esquerda dele.
–Kyle o que aconteceu? - pergunto. - O que é isso no seu olho?
Kyle olha para mim por um momento longo em silêncio. Meu coração está acelerado como nunca. A próxima coisa que vejo faz eu entrar em desespero. Kyle começa a chorar na minha frente. A soluçar e cobrir o rosto com as mãos.
Olho para a janela onde Matt e ele estavam. Matt olha para mim e abaixa a cabeça. Observo ele sair de vista.
–Kyle, o que foi? - pergunto desesperada. - O que aconteceu?
–Você... perdeu o bebê.
Fico paralisada por um momento.
–O quê? - pergunto gaguejando.
Ele olha para mim. Seus olhos estão vermelhos. Sinto meus olhos encherem de lágrimas.
–Alicia colocou fogo na fraternidade junto de Jacob. Os dois estavam drogados e... você estava no banheiro.
Um clarão em minha mente faz com que eu sinta a dor lacinante na minha cabeça. Eu levo minha mão até minha cabeça e sinto uma faixa nela.
–Ela... - começo a falar.
–Eu sinto muito, Alice. - Kyle me abraça.
Fito o chão em choque. Eu não consigo acreditar naquilo. Parece muito absurdo toda aquela história de incendio e tudo o mais.
– Estou presa num pesadelo? - sussurro enquanto as lágrimas escorrem por meu rosto.
Posso sentir o corpo de Kyle estremecer enquanto ele chora silenciosamente. Ele está chorando muito.
–Por que, Kyle? Por que?
Ele olha para mim. Encaro seu rosto vermelho. Ele balança a cabeça negativamente e respira fundo.
–Eu quero que saiba que o que eu estou prestes a fazer, é a pior coisa que vou fazer na minha vida.
Meu coração bate descompassadamente enquanto encaro seus olhos verdes. Sinto meus olhos arderem.
–Não...- começo a dizer.
–Você não vai ter que passar por mais nada disso. Você vai conhecer pessoas novas, você vai conhecer alguém melhor, alguém que te dê tudo o que você precisa...
–Kyle! - começo a chorar e agarro o colarinho da sua blusa. - Não. - colo meus lábios nos seus.
Ele tira as minhas mãos de sua blusa.
– ...e essa pessoa vai ser boa para você e te fazer feliz.
–Você me faz feliz! - digo desesperada. - Kyle!
Olho fundo em seus olhos verdes.
–Os seus pais e seu irmão têm razão. Eu não sou bom para você e se você não tivesse me conhecido, nada disso teria acontecido com você.
–Não faz isso comigo, por favor. - suplico apertando sua mão. - Você é tudo o que eu quero...
Kyle balança a cabeça negativamente e pegas as minhas lágrimas com o polegar.
–Não posso boneca. Isso é pro seu bem. Pelo menos por enquanto. Você precisa ver que pode ter uma coisa diferente na sua vida do que problemas e drogados incendiando a casa para tentar te matar.
Estou chorando descontroladamente. Estou chorando porque não quero que ele me deixe, porque perdi o bebê, porque tudo o que havia acontecido fora intencional e eu amava Kyle.
–Por favor, Kyle, não.
–Eu te amo. - ele segura meu rosto com as duas mãos e me olha bem nos olhos. - E é por isso.que estou fazendo isso. Pelo menos por um tempo, boneca. Por um tempo...
Balanço a cabeça chorando.
–Eu vou dar um jeito na minha vida e você na sua e nós nos encontraremos se for para acontecer, se você não conhecer alguém no caminho.
Soluço.
–Para! - eu grito. - Eu não quero oivir isso. Não quero conhecer ninguém.
–Shh! - ele diz e cola seus lábios nos meus. - Shh.
Sinto sua testa colada na minha.
–Isso vai ser bom para você. Eu prometo, Alice.
As lágrimas escorrem dos meus olhos. Eu mordo meu lábio inferior que está tremendo.
–Eu prometo que tudo ficará bem. Você vai ficar bem. Eu não vou te incomodar, você vai seguir com a sua vida e tudo ficará bem.
–Isso é mentira. Não faz isso comigo.
–Eu te amo e é por isso que estou fazendo isso.
Kyle solta meu rosto e dá um passo para trás. Ele respira fundo.
–Seus pais estão aqui.
Balanço a cabeça negativamente.
–Eu tenho que resolver algumas coisas.
–Kyle...
–Eu sinto muito, Ally. - ele balança a cabeça negativamente. - Por hoje, por... tudo. Pelo bebê.
Sinto a dor na voz dele.
–Vai ser melhor assim. - ele se aproxima novamente e me dá um beijo febril, pressionando sua língua nos meus lábios. Nossas lágrimas salgando o beijo. Minhas mãos em seu rosto. Sinto vontade de arrancar aquela agulha maldita do meu braço e aquele catéter do nariz.
Ele tira minhas mãos do seu rosto e vai se afastando olhando para mim.
–Eu te amo. - ele diz.
Fico olhando para ele enquanto choro. Aquilo dói tanto!
Kyle abre a porta do quarto e sai deixando-a aberta. Um tempo depois, meu pai, minha mãe e Sean aparecem na porta. Eles olham para mim por um momento. Estou devastada, um caco. Sinto uma dor profunda em tudo. Meu pai entra primeiro e vem até mim. Eu o abraço e enterro meu rosto em seu peito.
–Papai... - fungo e meu choro não para.
Sinto as mãos do meu pai em minhas costas alisando-a para cima e para baixo.
–Eu sei, querida. Eu sei.
Aquele fora o pior dia da minha vida. Aquilo era o inferno com certeza. Eu só não me lembrava do que poderia ter feito para ter sido condenada à ele. Doía e queimava como uma queimadura. A dor emocional havia se tornado física e insuportável. Naquela noite, me sedaram para que eu pudesse dormir. Foi um alívio bem vindo.