K Y L E

Olho para Ashton. Posso sentir a fúria crescendo dentro de mim novamente. Empurro-o contra a parede e grito:
–O que você fez com ela, porra?
–Ela só fumou uma maconha, seu idiota!
–O que você fez? - fecho minha mão no pescoço de Ashton.
Ele não responde, mas agarra minha mão tentando tirá-la de seu pescoço, tentando afrouxá-la. Estou vendo tudo vermelho.
–Kyle, por favor. -ouço uma voz baixa, suave e suplicante me chamar e me distraio.
Olho para o lado e vejo ela vestida, parece pronta para sair dali.
–O que está fazendo? Por favor, para! - ela suplica.
Observo seu rosto molhado de lágrimas por um momento. Não me lembro de tê-la visto sem chorar nesses últimos dois dias.
Calma Kyle. - penso comigo mesmo. - Só tire ela daqui e a leve para o seu apartamento e nunca mais a deixe sair.
Minhas mãos se afrouxam ao redor do pescoço de Ashton. Ele tosse quando o largo.
Olho para Alice e pego o braço dela por seu cotovelo. O que diabos ela estava fazendo no apartamento de Ashton? Parecia um instinto meu ir parar ali na casa dele. Ele tinha chapado ela? Eu tinha ido até lá para perguntar dela e acabo encontrando-a chapada e bêbada. O que diabos estava acontecendo com ela?
Saio porta afora e desço alguns degraus segurando seu braço, mas ela não tem condições de descer nada. Olho para seu rosto e vejo que ela parece desorientada, perdida. No momento quero gritar com ela, falar algumas verdades que ela precisa ouvir, mas meu amor fala mais alto, fazendo-me permanecer calado e apenas pegar ela no colo e descer a escada o mais rápido possível.
No carro, a coloco no banco do passageiro e prendo o cinto de segurança. Não ligo para a neve caindo em cima de mim enquanto contemplo o prédio e tento respirar fundo. Havia sido dias desgastantes; eu estava vivendo um inferno total e perdendo Alice cada vez mais. Minha Alice nunca faria nada daquilo. Ela havia transado com aquele filho da puta do Matthew e agora estava no apartamento de Ashton. Eu achava melhor com todas as minhas forças que ele não tivesse encostado um só dedo nela.
Tenho que respirar fundo por mais três vezes antes de tomar coragem e entrar no carro. Eu estava magoado. Não era só ela.
Entro e fecho a porta logo em seguida. Está frio, por isso ligo o aquecedor. Coloco o cinto de segurança e piso o pé no acelerador. Não digo nada. Não consigo dizer nada,não consigo olhá-la. Mas, pelo canto do olho, posso vê-la fitando a rua pela janela enquanto as lágrimas caem.
Quero acreditar do fundo do meu coração que aquilo seja um sintoma da "depressão" que o médico a diagnosticara. Mas, parte de mim diz que não é. Não entendo seu comportamento. Não é como se eu tivesse errado sozinho. Ela vinha errando uma vez atrás da outra e eu estava começando a me exaltar com isso. Nunca achei que me sentiria magoado por ela.
Enquanto dirijo, focando parte da minha atenção no trânsito, ouço ela fungar algumas vezes. Até que, depois de muito silêncio, quase terminando de atravessar a ponte do Brooklyn, ouço sua voz fraca e rouca perguntar:
–Você está com raiva de mim, não está?
Respiro fundo e olho pelo retrovisor. Não quero responder aquilo. Sim, estou com raiva! Mas se eu disser aquilo, vou magoá-la mais.
–Você não vai falar comigo? - ela insiste.
Passo a mão direita pelo cabelo enquanto seguro o volante com a mão esquerda.
–Eu não sei o que falar para você. Você está chapada e provavelmente não vai se lembrar de muita coisa quando amanhecer.
Respira fundo, cara. - meu subconsciente manda.
–Eu quero que você fale comigo. Quero que fale o que está sentindo! - ela insiste e toca no meu braço.
Freio o carro numa rua, estamos há um quarteirão do meu prédio. Os pneus cantam no asfalto e eu olho para ela. Finalmente olho para aquele rosto cansado. Ela está um caco.
–Estou decepcionado e magoado. Estou com raiva Alice! É isso que quer ouvir? - grito. - Porra, como acha que estou me sentindo? Acha que é só você que está magoada e tem o direito de ficar chateada? Porra! - bato no volante.
Paro de falar por um instante e respiro fundo algumas vezes. Encaro a rua deserta a frente. Os postes de luz iluminando fracamente alguns cantos do chão coberto com neve.
–Eu errei em transar com aquela vagabunda da Lara. Errei e não nego isso. Poderia colocar a culpa toda nas garrafas de cerveja que eu tomei naquela noite,mas não vou. - balanço a cabeça negativamente e continuo. -Eu errei e te magoei. Mas você também está me magoando. Essa é você? - pergunto e olho para ela. - Como pode ser egoísta ao ponto de transar com Matthew e ir para o apartamento de Ashton e achar que está tudo bem? Que eu não estou magoado? Eu tenho sentimentos! - meu tom de voz é baixo. Olho pela janela. - Tenho sentimentos por você e você sabe muito bem que eu te amo. Eu quero fazer as coisas darem certo, mas você também precisa querer e... não bancar esse papel que está bancando.
Suspiro. Sinto-me mais leve após explodir daquela maneira. Eu estava engasgado. Olho para Alice, que me olha com lágrimas nos olhos. Ela solta o cinto de segurança e vem para o meu colo.
–Me desculpe, me desculpe, Kyle. -  ela me sufoca num abraço apertado e segura meu rosto.
Sinto seus lábios pressionando os meus e sinto meu coração se acelerar com aquilo. Senti tanta falta dos seus lábios. O beijo se mistura com suas lágrimas salgadas. Ela me beija com tanta necessidade e desespero. Eu seguro o rosto dela com as minhas mãos e não paro de beijá-la. Não quero e rezo para que não seja um sonho.
–Eu te amo, eu te amo muito. - ela diz em tom de suplica e enche meu rosto de beijos molhados e quentes. - Me perdoa Kyle, por tudo. Me perdoa. Eu te amo tanto! - ela diz e beija meus lábios novamente.
Estamos no meio de uma rua deserta no meio de uma nevasca há um quarteirão de casa. Precisamos chegar lá, mas tudo o que eu quero é que ela não pare de me beijar.

Seu beijo está com sabor de maconha e hortelã. Tenho que dizer que é viciante e me excita. A ferocidade com que ela está me beijando me excita. Acho que acontece o mesmo com ela porque sinto suas mãos em minha calça jeans.
Olho para seu rosto enquanto ela se concentra em abrir minha calça no escuro.
–Aqui não é uma boa. - digo. - É muito apertado.
Começo a dirigir com ela no meu colo. Dirijo o mais rápido que posso para chegar logo naquela porra de apartamento. Preciso tanto dela.