Minha terra tem palmeiras... escrita por Tyke


Capítulo 6
Quase lá.




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Aparentemente "Proibido magia fora da escola" é uma regra universal.

— Você não vai querer ser expulso antes de entrar. — Disse Felipe ao menino mais novo que estava brincando com a varinha.

Regra chata! Apesar de que deve-se admitir que faz sentindo. Uma criança ainda não sabe controlar a magia, portanto é melhor que não faça sem a supervisão de adultos que a ensinem. Mas essa lógica assim que surgiu foi embora na cabeça de Danilo, pois no fundo ele queria mais era ficar revoltado com a regra.

E assim, sem nada para fazer por longos três dias Danilo passou a observar as pessoas e o mundo a sua volta, fazendo notas mentais.

Primeiro: a casa dos avós.

Ela estava situada no meio da parte trouxa do município. Ele perguntou sobre e descobriu que vovó gostava bastante da companhia dos trouxas e de morar mais próximo da praia. Estruturalmente a casa era bem similar as demais da cidade; Reta, olhando do lado de fora parecia um prédio com telhado. Não possuía detalhes angulares ou acabamentos desnecessários. As janelas eram simples e pretas. As paredes acabadas com cimento e tinta. E um muro alto cercava a construção, exatamente como a maioria das outras casas por ali. Do lado de dentro o mais importante a resaltar é; a falta da lareira e a presença dos azulejos geladinhos, Danilo podia jurar que seus avós os enfeitiçavam para ficarem assim, que cobriam o chão da casa inteira e as paredes do banheiro e da cozinha. Eles faziam o ambiente dentro da estrutura ser bastante agradável.

Segundo: seus familiares.

Vovô Zé saia cedo para trabalhar. Ele trabalhava no porto dando manutenção no feitiço etaqua, aquele que Danilo chamou ingenuamente de "afasta-água", e também realizando outras funções como consertar estragos nos cascos dos navios que chegavam, limpar a estatua do homem-bigode e vender passagens. Quando o avó chegava em casa, Danilo reparou que ele ia direto ao sofá ler O Verídico—as imagens moviam então era obviamente um jornal bruxo- carregando uma xícara de café na mão... Provavelmente esse objeto já fazia parte da anatomia dele.

Vovó Maria ficava em casa o dia todo andando para lá e para cá jogando água na cozinha e na sala. "Só água limpa a sujeira de verdade"dizia enquanto fazia a faxina diária. Ela usava sempre vestidos compridos e ajeitava os cabelos grisalhos em uma trança. Nunca ficava parada, parecia ser a pessoa mais atarefada do mundo. Danilo as vezes ficava atrás dela conversando e fazendo perguntas, mas ele se cansava de ficar subindo e descendo as escadas o tempo todo e decidia procurar algo mais sedentário para fazer.

Tio Rangel e a família moravam em uma vila bruxa que ficava escondida e um pouco afastada da cidade trouxa. Danilo tinha a intuição que foi nessa vila onde morou com os país a muito tempo, mas ele acabou esquecendo de perguntar para confirmar. O tio era um homem grande, um pouco gordo, de cabelos castanhos escuros e rosto manchado. Essas manchas pareciam queimaduras, mas não eram. Eram naturais, alguns tons mais claros do que a pele original e se assemelhava a manchas de gato vira-lata. Ele aparecia na casa dos pais todo dia na hora do jantar para fazer piadas sem graças e rir de tudo como bobo. Danilo até gostava dele.

Tia Jaqueline, Jaque, estava sempre no encalço do marido. Uma mulher de silêncio, ficava no próprio canto e só abria a boca para puxar o saco da vovó Maria... Triste defeito, mas ela era gentil com Danilo. Era magra e alta, pele clara e queimada de sol, cabelos compridos e louros artificiais - como já se sabe ela usava transfiguração para mantê-los daquela cor.

Felipe estava dormindo na casa dos avós naqueles dias, assim como Danilo, em parte porque a avó quem levaria os dois ao aeroporto e em outra parte porque ele estava gostando da companhia do priminho. Lipe se assemelhava mais com a mãe, rosto fino, pintas sobre o nariz e alto...  já as orelhas grandes e os cabelos escuro pareciam vir do pai. Ele sumia todo dia por algumas horas. "Deve estar atrás das cocotinhas por ai" dizia a vovó um pouco amarga, mas quando ele chegava ela não ousava dizer na cara dele. No resto do tempo que não estava sumido a atenção de Felipe era toda voltada para Danilo... responder perguntas e mostrar o desconhecido ao menino mais novo.

No último dia ensolarado os primos foram à praia, em uma parte afastada, soltar pipa-dragão. Danilo ficou encantado com a magia que fazia o dragão de papel parecer real e soltar labaredas de fogo enquanto estava preso pela linha firme nas mãos de Felipe.

— Você quer tentar? — O maior gritou contra o vento que levava os sons para longe.

— Sim. — Danilo respondeu animado e recebeu o rolo de linha nas mãos.

Puxado, arrastado... Mantenha os pés firmes no chão!... Foi Felipe ou a consciência quem gritou? Danilo não sabia, mas tentou obedecer enquanto o dragão o arrastava pela areia. Ele se firmou e com o tempo foi conseguindo controlar a falsa criatura, fazendo-a dar cambalhotas como Lipe também havia feito. Foi divertido até que... Danilo fez o dragão girar e acabar botando fogo no próprio corpo.

— Desculpe — Ele murmurou com medo do primo ficar bravo.

Mas Felipe riu alto enquanto a pipa caia na areia e o fogo terminava de consumi-la... Bem, aparentemente não temos um problema aqui. Danilo ficou mais aliviado mesmo que o outro não respondeu o pedido de desculpa.

Com a pipa carbonizada e o céu começando a escurecer, eles decidiram ir embora.

Chegaram, jantaram e um tempo depois estavam no quarto que dividiam. Felipe, sentado na cama, conferia pela ultima vez os matérias que levaria. E Danilo que estava deitado na sua se perdia em pensamentos.

— Como é lá? — O menino perguntou de repente.

— Você vai ver amanhã .

Lipe terminou a conferição, fechou a mala e a colocou no chão. Se enfiando em baixo da coberta ele ia esticar a mão para o interruptor de luz, mas se deteve ao olhar o primo com o corpo na cama e as ideias nas nuvens.

— Ou! É melhor dormir um pouco... uma hora vovó vem nos acordar e se for preciso ela joga até balde d'água.

Danilo sorriu divertido com a ideia, mas ele não queria levar uma baldada de água fria.

— Só estou pensando... Lipe, por sermos de Ciclos diferente eu não vou te ver?

— Não muito, por causa dos horários e dos dormitórios separados... mas vamos sempre nos topar por lá.

— Topar — Danilo repetiu baixinho achando graça na palavra, mas com o contexto geral ele ficou tristes. Estaria novamente por conta própria, logo agora que havia encontrado segurança ao lado de Felipe.

— Vamos dormir, ok? — O primo desceu o dedo pelo interruptor e apagou a luz.

— Ok — Danilo sussurrou na escuridão e sentiu o sono pedir passagem, mas a ansiedade não queria deixar. — Porque temos que sair de madrugada?

— Por... — Felipe bocejou e continuou com a voz arrastada de sono — causa dos trouxas... é melhor no escuro.

— Então a gente tem que sair no escuro para eles não nos verem?

— Mais ou menos.

— Mas não seria...

— Dan! Vai dormir — Ele não foi grosso, mas Danilo entendeu que estava passando dos limites — Amanhã você vai entender.

— Ok — Ele sussurrou para a escuridão outra vez.

Danilo fechou os olhos, sem ter noção de quando perdeu a consciência, o inicio de um sonho começou a surgir e então ele sentiu o corpo ser chacoalhado por duas mãos.

— Acorda senão perderemos os zés — Felipe já estava de pé, trocado e pegando as malas de ambos.

Frustrado! Era assim que Danilo se sentia por ter tido o sono interrompido... Onde já se viu ser acordado de madrugada para ir a escola?!... Espera. Escola! O menino pulou da cama sorrindo animado, o sono foi jogado para longe. Assim que o primo saiu do quarto carregando as bagagens, ele trocou o pijama por vestes bruxas frescas...presente da vovó, que percebeu que o menino jamais conseguiria usar suas antigas roupas naquele calor.

Trocado, pronto e arrumado. Ele desceu as escadas correndo fazendo a capa vinho esvoaçar pelo trajeto. No andar de baixo Felipe e vovó o esperavam... vovô Zé dormia resonante no andar de cima, por isso despediu dos netos antes de deitar.

— Não corra nas escadas, menino! Você quer ir com a perna quebrada pra escola? — Vovó Maria brandiu assim que Danilo parou ao lado dela.

— Não, me desculpe. — Ele nem ao menos escondia a excitação na voz o que fez a avó revirar os olhos e murmurar algo como: "crianças irresponsáveis"

Foi como um déjà vu. Os três familiares cruzando a cidade em direção à Lojinha do Baú como a quatro dias atrás, a diferença seria a escuridão silenciosa da noite. Danilo fechou os olhos quando sentiu uma rajada quente de vento contra o rosto, ele inalou o ar salgado e expirou se sentindo a pessoa mais feliz do mundo. A emoção corria por suas veias e fazia seu coração bater mais rápido a cada passo que dava.

Finalmente chegaram na Lojinha e Danilo, dessa vez sabendo o que aconteceria, caminhou confiante ao lado do primo em direção à salinha dos fundos. Uma mulher de idade acompanhada de uma linda garota, pareciam aguardar ao lado da porta dos fundos.

— Maria! Como vai? — A mulher cumprimentou a vovó dando beijinhos no rosto e um abraço.

— Bem e você minha amiga? — Vovó abria um sorriso simpático.

— Ótima! — Em seguida ela virou o rosto para o menino pequeno ao lado da avó.

— Esse é meu netinho mais novo, Danilo. É o primeiro ano dele. — Vovó Maria puxou o menino para mais perto e ele abriu um sorriso afetado se sentindo envergonhado.

— É o filho da Silvia? — Lógico que era uma pergunta retórica, ela sabia a resposta, portando ninguém se deu o trabalho de responder. Ela se virou para Danilo encurvando um pouco o tronco — Se lembra de mim, menino? Eu te segurei no colo.

Não! De jeito nenhum, nem um pouco, óbvio que não... Mas tudo que Danilo fez foi negar com um gesto tímido de cabeça.

— Essa é uma amiga da vovó, Aparecida. E essa é a Amanda — Apontou a garota bonita ao lado da mulher mais velha. — Em que ano sua neta está mesmo, Cida?

— Quarto. Não é, querida?

A garota afirmou e depois voltou a atenção, nada discreta, para Felipe que arrastava as malas para dentro do cômodo vazio atrás da porta dos fundos. O garoto por outro lado não parecia notar que era observado como uma lua cheia brilhante seria...Na verdade ninguém além de Danilo havia notado... Cida e vovó Maria travavam um empolgante blábláblá enquanto todos presente adentravam o cômodo vazio atrás da porta dos fundos.

 

Aeroporto de Guarulhos

 

Felipe quem escreveu o destino no painel e... Crack, o estalo da porta se fez ouvir e a luz vermelha acendeu sobre ela. Quatro segundo e ela ficou verde. E os cinco saíram da Lojinha Baú que dava acesso à um lugar enorme fechado e com bastante gente carregando malas.

Um aeroporto! Danilo sabia o que era aviões e tudo mais... ele não foi criado como um puro-sangue ignorante. Salve David!... Entretanto ele nunca havia estado em um lugar como aquele e estava encantado por tudo a sua volta.

Ele olhou para retaguarda e observando a "lojinha-transporte" que ficava para trás sendo completamente ignorada pelos trouxas, assim uma duvida surgiu. Então Danilo correu ficando entre Felipe e Amanda... a garota parecia fazer de tudo para caminhar ao lado do aluno do Segundo Ciclo.

— Essas "lojinhas" tem em todo lugar? — O menino perguntou ao primo.

— Quase. É mais em lugares importantes.

Danilo olhou sobre os ombros novamente e avistou uma família saindo da Lojinha do Baú carregando malas e crianças animadas. Ele sentiu o coração bater no ouvido e seguiu os mais velhos até uma porta que parecia bastante deslocada no meio de uma parede branca. Letras em prateado mágico estavam pintadas nela:  Andar - 1

Vovó abriu a porta e fez sinal para passarem. Uma grande escadaria descia bem a frente e Danilo seguiu os outros até se deparar com... o que era aquilo?... 

Os zepelins pareciam gigantescos balões ovais carregando uma espécie de cabine. Havia quatro deles, dois azuis e dois verdes. Na lateral dos verdes estava escrito: Primeiro Ciclo. E nos azuis: Segundo Ciclo... Então é aqui que eles se separam. Danilo olhou sentido para Felipe que lhe deu um sorriso.

— Boa sorte! Nos vemos daqui a pouco — Lipe bagunçou o cabelo do primo, abraçou a avó, despediu das outras duas companhia e foi direto ao "zé" azul mais próximo.

Em seguida Amanda também se despediu dos demais e correu em direção a um pequeno grupo de garotas que embarcavam num dos dirigíveis verdes.

— Vamos? — Vovó Maria estendeu uma mão para Danilo segurar e ele agradeceu por ela perceber que ele precisava disso.

Juntos caminharam até um dos balões de nome engraçado. Um bruxo estava parado ao lado recolhendo as passagens e conferindo os nomes. Agora, de perto, Danilo pode ver o brasão da escola enfeitando a lateral do dirigível... O coração falhou uma batida e as pernas tremeram de leve.

— Tchau! Se cuida, está bem? — Vovó puxou o menino para um abraço apertado — E não se esqueça de escrever ao seu pai e a nós.

— Não vou — Danilo sorriu liberando toda a felicidade que sentia em um curvar de lábios. — Tchau, vovó!

Ele entregou a passagem para o bruxo que vestia um uniforme também com o brasão da Castelobruxo. O homem conferiu em sua prancheta o nome, depois deu um passo para o lado dizendo "Confere", pegou o malão de Danilo, colocou uma etiqueta e o guardou numa cabine de bagagem na lateral do zé.

O menino sentindo uma alegria absurda entrou no transporte escolar. Dentro ele era comprido e três fileiras de bancos em duplas o preenchiam. Alguns bancos já estavam ocupados com alunos conversando. Danilo seguiu para uma dupla de bancos vazios a direita e sentou no que dava acesso à janela... Que não seja um sonho! Ele sorriu olhando pela ampla janela de vidro observando crianças e adolescentes circularem pela pista de embarque.

— Oi. Alguém vai sentar aqui?

Olhos como bolas de mel, cabelos sem cor definida em um tom similar ao da pele, franja despontada, corpo pequeno e semblante sereno... um tanto depressivo talvez... Assim era o garoto que fez a pergunta.

— Claro — Danilo respondeu expelindo alegria — Danilo. Danilo Hooper — Ele estendeu uma mão educada para o garoto.

— Lucas — Sorriu de lado e deu um tapa leve na mão do outro garoto.

Ele me bateu ou foi um tipo de cumprimento?... Danilo mirou o seu companheiro de viagem um pouco inserto... Vrruuuu algo no teto da pista de embarque pareceu deslizar com um barulho alto. Os zepelins começaram a movimentar e Danilo agarrou os braços da poltrona, olhou pela janela e... Subindo! Eles estavam subindo!

— Primeiro ano? — Lucas perguntou. Ele trazia um livro nas mãos encapado com papel branco.

— Sim, você também?

— Não — E abriu o livro começando a ler.

Esquisito! Danilo enrugou a testa para o desconhecido ao seu lado e depois espichou o pescoço tentando ver pela janela... Não dava! Nem as luzes da cidade eram visíveis.

— Desiste, estamos encobertos por uma nuvem. Ela só dissipa quando estivermos chegando. — Lucas falou sem tirar os olhos do livro.

— Ah, entendi. A viagem é muito longa?

— Umas quatro horas.

— Hum, ok.

Danilo bocejou sentindo a noite mal dormida surtir efeito...  Que silêncio! Ele olhou ao redor e percebeu que diversos alunos dormiam nas poltronas... Seria sempre assim as viagens para a Castelobruxo?... Af! Agora não tinha mais Felipe para fazer perguntas e nitidamente Lucas não seria sua nova enciclopédia.

— Você tem um sotaque engraçado, é da onde? — Lucas comentou de repente com os olhos grudados no livro.

— E-eu... tenho sotaque? — Danilo perguntou surpreso.

— Tem — O menino deu de ombros e desviou o olhar do livro encapado para o outro.

— Ah...

Lucas voltou a atenção para o livro e Danilo suspirou. Não vai ter um diálogo interessante aqui! Então ele virou o corpo para o lado, ajeitou a cabeça sobre o macio do banco e fechou olhos. Imitando os outros alunos, Danilo deixou de lado a ansiedade por estar na escola e deixou o sono o levar.


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Notas finais do capítulo

Olá, meu leitores. (leitores fantasminhas)
Eu gostaria que vocês comentassem qualquer coisa, seja o que for. Aceito criticas com muito carinho também. É que eu gostaria de saber o que estão achando da história.
Então falem, não se acanhem. :)

Obrigada a Senhorita Beta e Noah Cute que estão sempre comentando. ♥



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