Clown Town escrita por P B Souza


Capítulo 6
A Brand New Flavor


Notas iniciais do capítulo

Eu to é BEM atrasado hoje, não é mesmo?
Bem, sem problemas! Eu vou recompensar com um capítulo daqui 1 hora :)
Boa leitura :)



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Birchville tem seu próprio ritmo de fazer as coisas. Como toda cidade pequena, é comum que as pessoas criem seus padrões e se acostumem com eles. É comum, e esperado, que certas coisas aconteçam em certos horários, e outras não aconteçam de jeito nenhum porque simplesmente não estão no cronograma da cidade.

É comum que a praça do parquinho fique cheia na hora do almoço, o restaurante do outro lado da rua recebe algumas mães que trazem seus filhos para brincar por ali, também há pais, menos, mas há.

O parquinho possuí balanços, escorregadores, trilha com obstáculos para pular, esquivar e afins.

Danise era nascida e criada em Birchville. Estava com seus quarenta anos já, e isso era uma coisa boa para ela. Sua mãe e pai eram dali. Sua família estava atrelada aos fundadores da própria cidade e isso era motivo de orgulho. Danise se casou com um bom homem que amava e a amava também, e teve um filho, Ziam.

Se Danise vivera e pretendia viver o resto de sua vida em Birchville, como sua mãe fizeram, Ziam parecia o completo oposto. Mesmo com apenas doze anos, o garoto não era calmo. Ele vivia de aventuras e explorações, vivia querendo viajar nas férias, deixar a cidade e descobrir coisas novas. Cavando em busca de tesouros ou enterrando tesouros para que os amigos cavassem atrás deles.

Ziam estava junto das outras crianças, brincando livremente de proteja-o-castelo no escorregador com plataforma superior. Ninguém tomava conta deles, eram todos filhos das pessoas que se conheciam, as brigas eram de crianças, nada sério, então era... fácil deixar as crianças livres.

Por isso quando o carro do sorvete chegou duas coisas aconteceram.

Primeiro foi com as crianças. Era impossível que não notassem e não fossem olhar mais de perto. Birchville tinha um carro de sorvete, mas não passava de segunda-feira, só de terças, sextas e domingos. A segunda coisa que aconteceu foi a atenção dos adultos nos arredores, que olharam, mas por ser o carro de sempre, ignoraram. Talvez o sorveteiro estivesse de bom humor e decidira trabalhar um dia a mais na semana.

— É de graça! — Uma das crianças gritou após chegar perto o bastante.

Se algum adulto ouviu, não deu atenção!

As crianças se amontoaram ao redor do caminhão de sorvete enquanto sua música embalava todos em um tom alegre com sinos a tocar.

Ziam, o garoto de doze anos, estava na fila junto de todos os outros. Ron, seu amigo de escola, estava na sua frente e já havia pegado o seu sorvete do homem fantasiado de palhaço dentro do carro do sorvete.

— É de chiclete. O outro moço nunca deu sorvete de graça — Ron disse, sorridente, passando por Ziam e correndo de volta para o parquinho.

Ziam continuou na fila esperando sua vez, mas a fila foi se esvaziando cada vez mais enquanto as crianças corriam para o parquinho sem pegar sorvete algum. Então o palhaço fechou a portinhola do carro de sorvete justamente quando era a vez de Ziam. Lá dentro dava para ouvir a risada quando o motor do carro voltou a pegar e este saiu andando lentamente abrindo caminho entre as crianças que passavam pela frente do carro.

E então, quando o carro do sorvete passou por Ziam ele viu seu amigo, Ron, de onze anos, caído se debatendo na calçada. Adultos se juntavam ao redor, tomando os sorvetes de seus filhos e jogando-os fora, gritos surgiam. O pai de Ron apareceu depressa para acudir seu filho, tomando-o no colo, a baba espumosa e branca se tornava vermelha, de sangue.

Ziam olhava, em choque, mas parado feito uma estátua, a cena. Ron morria, de alguma forma soube disso. Foi então que o pai de Ron caiu de joelhos e gritou que não.

Colocou seu filho no chão, apertou seu peito fazendo massagem cardíaca, desesperado, chorava. Ziam nunca havia visto um homem adulto chorar.

Então, do outro lado, os outros adultos já tomavam as dores de Ron e seu pai. Corriam contra o carro do sorvete, que lento como era não passava de vinte quilômetros por hora. Jogaram pedra contra o carro e alcançaram-no, os adultos batiam seus punhos furiosos contra a lataria enquanto, lá de dentro, apenas uma risada macabra era ouvida, Ziam sentia medo, mas não parou de olhar em momento algum.

Viu a hora exata em que a porta se abriu e um taco de basebol acertou a cabeça de uma mulher, que girou caindo no chão, e então um homem agarrou o babado da gola do palhaço puxando-o para fora do carro. O palhaço, com o taco, acertou mais duas pessoas, rindo histericamente. Então puxaram Ziam.

— Não olhe, criança. — Era uma velinha.

Ela não deixou que Ziam olhasse o palhaço apanhar, mas sem querer permitiu que Ziam visse o corpo de Ron. Mesmo sem ver, Ziam podia ouvir. Ouviu os sons das pancadas e a risada morrendo lentamente, sucumbindo aos sons de engasgos e gritos de ódio dos adultos em fúria.

E então a velinha largou Ziam para ir virar outra criança de costas. Ele lançou um rápido olhar. Pode ver, por entre as pernas dos adultos, o palhaço caído, sujo do próprio sangue, inconsciente ou morto, não saberia.

Os adultos pareciam furiosos, e a justiça talvez tivesse sido feita, talvez não. Talvez fosse apenas vingança. Mas eles agiram mesmo assim. Ron estava morto, e o palhaço também.

Mas havia uma terceira vítima a se contorcer em espasmos com o veneno do sorvete. Um cachorro que lambera o sorvete que Ron deixou cair primeiro que todos, agora morria, sem que ninguém notasse, pois a atenção já voltava para o corpo da criança na calçada.

Foi olhando para o cão que o palhaço notou como os homens eram patético, em dor de uma criança morta, deixaram o cão morrer. Pois é comum da natureza do homem ignorar a dor alheia. Afinal, Ron tinha nome, o cachorro não. Mas para o palhaço isso não importava, ali, deitado prestes a apagar-se, pergunta se valera a pena. São todos porcos doentes. Mataria todos se pudesse.

Ali, deitado engasgando no próprio sangue, ouvia os adultos falar para chamar a polícia. As palavras iam se embaralhando enquanto perdia lentamente a consciência e adentrava no mundo dos mortos, mas o cachorro morreria primeiro. Ali, deitado, perguntava-se se seus dois companheiros terminariam o que haviam os três juntos começado em Birchville. Eles precisavam de mim. Pensou uma última vez. Eu falhei e ela saberá.

Ron já estava morto, então morreu o cão. E por fim morreu o palhaço, não que alguém se importe com ele mais que com o cão.

Talvez alguns mereçam a morte. Talvez não. Mas quem são os homens para decidir isso?


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