Clown Town escrita por P B Souza


Capítulo 3
The Belvedere And The Gallows


Notas iniciais do capítulo

~o título desse capítulo significa "O Mirante e a Forca"... Belvedere não é uma palavra que conheçamos muito facilmente~
Bem, só pelo título já dá pra saber o quem vem por ai, não é mesmo?
Boa, e arrepiante, leitura! :)



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— Becky, querida, aqueles relatórios...

— Já vou levar. — Rebeca Anderson respondeu à sua superior.

Era uma mulher de 36 anos, vivida e com uma filha de 8. Divorciada do esposo que espancava e agora estava preso na cadeia da cidade vizinha, já que Birchville não possui cadeia própria além de algumas precárias celas na delegacia do xerife Anderson, cujo prédio ficava ali ao lado do da prefeitura.

Rebeca gostava da sua nova vida, longe da escola não havia tanto trabalho para ser feito em casa, e podia passar mais tempo com Suzane, sua filha. Em compensação, porém, o trabalho na prefeitura era desgastante e incessante.

Corria escadas acima, porque o elevador se encontra em manutenção, quando seu celular tocou. As duas mãos estavam ocupadas, carregando a pilha de documentos aonde estava também o relatório, então deixou o aparelho tocar até a ligação cair enquanto aumentava a velocidade de seus passos.

Quando chegou no oitavo andar foi entregar o relatório à secretária do prefeito. Sequer havia posto a pilha de folhas na mesa e seu celular voltou a tocar.

— O relatório orçamentário que o prefeito pediu. — Disse para a mulher na mesa, então, com pressa, pegou o celular e era Tanisha, a baba que cuidava de sua filha. — Tanny, desculpa, mãos cheias. Tá tudo bem com... Tanny?

Rebeca engasgou-se ao ouvir uma respiração pesada e masculina vindo da linha e, de fundo, um choro de criança. O choro da sua criança.

— Suba até o mirante da prefeitura agora. — A voz, grossa e longe de ser amigável, soou imperativa.

— Suzane, minha filha...

— No mirante. — A voz repetiu.

A ligação foi encerrada.

Rebeca apressou-se em pedir que ligassem para a polícia, a secretaria do prefeito se voluntariou, enquanto isso ela mesma correu escadas acima até o décimo segundo andar, no mirante da prefeitura, ponto turístico da cidade, mas fechado para visitação há dois meses.

Rebeca poderia ter pensado se devia ou não fazer aquilo, se deveria ou não ir ao mirante, mas era sua filha. Quando se tratava de Suzane, ela apenas fazia. Fosse ficar calada e apanhar do seu marido para poupar a filha, fosse subir ao mirante, desesperada, sem pensar duas vezes.

Quando chegou no mirante, rodeou-o todo apressadamente, mas não encontrou nada nem ninguém além de caixas com ferramentas para a reforma e coisas assim. Então seu celular tornou a tocar.

— Minha filha! A polícia...

— Não machucarei sua filha — Choro continuava no fundo da linha. — Se obedecer! — A voz parecia impor o tipo de poder que não compete com discussões ou negociações.

— O que quer? Dinheiro? Eu não tenho muito...

— No chão ao lado do binóculo 03 tem uma corda e um laço dentro da caixa. Coloque no pescoço e pule pela beirada do prédio.

Rebeca não entendeu. Ou melhor, entendeu, mas não compreendeu porquê faria isso. Por Suzane. Pensou, mas então quem cuidaria de Suzane?

— Olhe pelo mirante. — A voz disse então. — Para o prédio do outro lado da rua, verá sua filha na janela do quinto andar.

Rebeca o fez, o fez com pavor do que veria. E gritou quando encontrou o que procurava. A pequena e adorável Suzane tinha uma faca contra seu pescoço, tremendo, refém de um homem vestido de palhaço com um celular na outra mão.

— Minha menina...

— A baba esta inconsciente, sua filha vai ser dopada e deixada aqui, ilesa. Pule. — O palhaço usava roupas largas e colorida, limpas, com uma maquiagem perfeita e alegre no rosto, mas a expressão não era de felicidade. — Ou jogo ela da janela.

— A polícia...

— Vai chegar a tempo de recolher o seu ou o corpo da sua filha da calçada. Cinco. Quatro. Três...

A essa altura Rebeca já estava em prantos, nervosa, e ainda assim indecisa, mas agora tinha uma necessidade, precisava tomar uma decisão.

— TÁ BOM. Eu faço. Me deixe falar com ela, só dizer adeus...

Arriscou, mas não havia, com o palhaço, negociação. Ele chutou a vidraça do prédio do outro lado da rua, o vidro se estilhaçou no ato, o choro de Suzane aumentou com o susto e Rebeca entendeu. Não haveria adeus, mas sua filha iria viver.

Foi até a caixa e pegou a corda, já tinha laço feito, uma perfeita forca. Colocou-a no pescoço e atravessou a amurada do mirante. Levou o celular uma última vez no ouvido, não havia mais ligação, o palhaço havia desligado.

Rebeca, da beirada do prédio, olhou para o outro lado.

— Su, eu te amo! — Berrou, para que fosse ouvida pelo vão entre prédios.

Enquanto isso, lá em baixo, na rua, as pessoas andavam ignorantes ao que acontecia acima de suas cabeças.

Foi então que o som tremendo veio de cima. E todos puderam ver um corpo estrangulado, balançando numa forca, enquanto isso cartas de baralho coringa caiam do outro lado, do outro prédio. Algumas pessoas gritaram, chocadas, outras correram. Isso foi de dia. De manhã!

E mais tarde, quando o xerife chegou, não havia ninguém ali além de uma baba e uma criança dopada, e uma mãe que cometera suicídio para salvar a vida de sua amada filha, não que soubessem disso. Não ainda.


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