O Dragão e a Rosa escrita por jameelah


Capítulo 4
A Rainha e os Dragões




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Rhaegal e Drogon rodopiavam no ar envolvidos em uma ciranda bonita e perigosa. O dragão maior fugia sem esforço do irmão como se quisesse se gabar daquilo, conseguindo deixar o menor zangado. A perseguição só acabava quando um furioso Rhaegal alcançava o irmão exibido e os dois se atracavam no que parecia uma briga feroz, despencando num emaranhado verde e negro para um mergulho no Rio Vago. Daenerys observava a dupla com atenção, receosa de que a brincadeira fugisse do controle e causasse alguma desgraça.

Ao contrário dos irmãos, Viserion se assemelhava a um gato dócil e preguiçoso, deitado sobre a grama volumosa com as escamas douradas relampejando ao sol. Willas estava em frente ao dragão, sentado sobre uma pedra enquanto o desenhava em um livro em branco. Embora a rainha tenha atendido ao pedido de alguns curiosos que desejaram ver de perto os filhos escamosos, seu noivo era o único que se atrevia a se aproximar das criaturas, acompanhando a rainha sempre que ela ia visitá-los.

No momento, Daenerys gozava de um fim de tarde agradável como há muito não tivera; sentada na extremidade de um cais de madeira com os pés mergulhados nas águas daquele trecho do rio enquanto sentia a brisa quente soprar o seu cabelo prateado. Muito atrás dela, o castelo sede da Casa Tyrell se erguia majestoso, lugar que ela estava no começo da tarde, sob a bajulação dos senhores, das suas esposas e filhos que vieram até ela para dobrar os seus respectivos joelhos. Dany estava acostumada com os rituais políticos reservados a uma rainha desde a sua estadia em Meereen, mas isso não significava que ela gostasse deles. "Uma Rainha não deve fugir de suas obrigações", ponderou.

Os dias faziam o fantasma do guerra ficar mais forte, Dany se sentia sufocada por ele, como se tivesse o pescoço envolvido por uma corda que se tornava mais e mais apertada. A guerra estava se aproximando e parte do seu exército continuava a marchar rumo a Jardim de Cima, outros juntaram-se aos irmãos Greyjoy para tomar as Ilhas de Ferro. Com isso, ficar brincando de lady com os senhores da Campina era algo que estava deixando a rainha ultrajada.

A mãe dos dragões estava tão distraída em seus devaneios que nem percebeu quando o noivo se aproximara dela, surpreendendo-se ao ouvir a voz dele:

— Foi um mergulho incrível aquele. – Willas vestia uma túnica no tom verde de sua casa e um cinto preto com rosas douradas preso na cintura. A mão que não estava apoiada na bengala segurava uma folha dobrada. – Viserion parece não ter a fúria dos outros dois.

Apesar dos poucos dias de convivência, Dany percebera que o novo senhor de Jardim de Cima adora animais e parecia compreendê-los como ninguém. Era na companhia de aves, cavalos e cães que ele gastava boa parte do seu tempo; e sempre que ela desejava encontrá-lo, ia onde os animais estavam. Tal afinidade parece ter se estendido aos dragões, o que deixava a rainha animada.

— Venha, sente-se ao meu lado. – Ela pediu, indicando o lugar com a mão. – Deixe-me ver isso.

— Temo que ainda não esteja pron... – Ele hesitou, mas Dany puxou o papel de sua mão e o abriu.

Na folha havia rabiscos de um dragão deitado sobre a grama e uma mulher esguia de cabelo e vestido esvoaçante em pé ao lado dele, tocando-lhe uma das asas. "Sou eu...", a rainha concluiu de imediato, mesmo confusa por nunca ter posado para ele. "É assim que ele me enxerga? Tão... bela?", sentiu-se satisfeita.

— Desenhas muito bem. – Elogiou Dany com um sorriso singelo no rosto antes de devolver a folha para o seu dono.

Willas guardou o desenho de baixo do braço e se ajeitou para poder sentar. Dany ficou tentada em ajudá-lo, mas não o fez.

— Quem não tem habilidade com espadas precisa desenvolver alguma outra. – explicou ele, agora totalmente sentado ao lado da noiva. – Um dos elos que consegui na cidadela foi no desenho de paisagens, são importantes para se conhecer o mundo.

Dany ficou confusa.

— Já conheceste muitos lugares? – Ela perguntou.

Willas sorriu e balançou a cabeça.

— Nada além da Campina, pelo que me lembro. Tudo que conheço sobre os outros lugares vieram de livros de viajantes.

Daenerys já tinha conhecido muitos lugares em sua caminhada, das Cidades Livres a Meereen, do Vaes Dothrak a Dorne, andou o suficiente para que viagens deixassem de significar algo para ela.

— Após o casamento, garanto-lhe que irá conhecer mais do mundo.

Nesse instante, uma sombra passou pelos dois, Viserion voando ao encontro dos irmãos. Dany notou que o céu já estava alaranjado, com um aspecto fumegante que combinava com a essência dos seus amados filhos; estes se divertiam no rio e, por um momento, assemelharam-se mais com criaturas marinhas que do fogo.

— Temo que esteja ficando tarde. Logo irá anoitecer. – Willas se sentou um pouco mais recuado e continuava calçando as botas, o que fez Dany deduzir que ele queria evitar ter os pés mergulhados na água. Seu noivo já havia lhe contado a história do acidente que o limitara, mas nunca lhe mostrara a perna ruim e nem se queixara sobre qualquer dor.

— Agradeço que tenha nos trazido até aqui, senhor. Fico feliz em ter tido esse tempo livre com eles.

Willas respondeu com um tímido acenar de cabeça. E então os dois ficaram em silêncio, olhando para frente, pros dragões, para os raios de sol refletindo sobre as águas do rio que se estendia por todo horizonte. Dany se sentiu inquieta com aquele silêncio, lembrando-se das questões que passaram a atormentá-la desde que os vassalos da família Tyrell chegaram ao castelo. Por fim, resolvera falar:

— Responda-me, Lorde Willas, por que aceitou se casar comigo? – Perguntou, olhando diretamente para ele. – Eu não sou mais nenhuma donzela, o senhor deve saber disso.

O noivo continuou fitando os dragões por um breve momento até que se virou para ela.

— Gosto de pensar que esse é o caminho que os deuses escolheram para nós desde o início. – Dany não entendeu, mas ele não deixou que ela pensasse por muito tempo. – Se a Rebelião do Usurpador nunca tivesse acontecido ou se nosso lado tivesse vencido, provavelmente eu teria casado com a Sua Graça e Jardim de Cima hoje seria o seu lar.

"Oh!", Dany nunca havia pensado naquilo, mas ele tinha razão. Seu irmão era casado com uma dornesa, então talvez o senhor seu pai pudesse concluir que um casamento com um Tyrell fosse necessário para garantir o apoio da Campina. Por um momento ela se pegou imaginando como seria crescer dançando em bailes de máscara, passeando nas barcaças pelo vago, tendo vários cantores ao seus dispor e filhos com o senhor seu marido. "Filhos"... isso a trouxe de volta a realidade. Um herdeiro era algo que ela não seria mais capaz de dar ao Senhor de Jardim de Cima. "Espero que um dia ele me perdoe por ter lhe escondido isso".

— E não há nenhuma dessas doces senhoras que ocupe o seu coração?

Willas lançou-lhe um olhar cheio de dúvida, fazendo Dany se sentir atrevida em demasiado.

— Sua Graça se refere a alguma senhora em especial?

"Sim!", Dany pensou, mas não falou nada. Pareceu-lhe que o lorde Tyrell sabia como ser tão cínico quanto o amante que a rainha deixara em Meereen.

Fora a roliça senhora Janna Tyrell, que por acaso é tia do senhor seu noivo, que surgiu com essa fofoca. "Eu teria cuidado com essa aí se fosse a Sua Graça", sussurrara ela durante a ceia de ontem, num momento em que Willas e a senhora Fossoway trocavam segredos e risos num canto do salão, "A Lady Melodie era muito próxima do meu amado sobrinho quando eles eram mais novos. A pobrezinha é viúva agora e pode sentir saudades de carinhos de outrora...", lhe confidenciara a senhora Janna. Antes disso, na tarde do mesmo dia, Dany já havia flagrado os dois em situação bem íntima, mas tinha decidido que era um assunto que não lhe dizia respeito.

— Não, senhor. Só temo que possa estar interferindo em...

Ele não deixou que ela continuasse:

— Não se preocupe, Vossa Graça. Não há nada para os cantores escreverem sobre mim. – Willas levou a mão até a perna de Dany e a esqueceu lá. – Nosso casamento é a única coisa que ocupa a minha cabeça.

De perto, os olhos do Lorde Tyrell eram como o mar, num azul profundo e escuro, e os lábios levemente rachados soavam como um convite ao pecado.

— Fico aliviada em ouvir isso, senhor.

E então Rhaegal surgiu sem ser convidado. Com o corpo parcialmente mergulhado no lago, o dragão anunciara sua chegada com um gemido, atraindo a atenção dela e do noivo, que rapidamente tirou a mão do seu joelho. O animal ergueu o longo pescoço e deitou parte da grande cabeça no colo de Dany; as escamas verdes eram como espinhos pontudos espetando as coxas da rainha, mas ela não se importava, era tão raro vê-lo se comportando de forma tão manhosa que ela se limitou a acariciar-lhe a cabeça.

— Rhaegal, está na hora de irmos embora. – Dany anunciou. O dragão verde lançou um olhar preguiçoso para ela. – Vamos, vá chamar os seus irmãos.

Por fim, ele deu um grunhido e então se virou, mergulhando na água e nadando em direção dos outros dois dragões.

— Foi uma tarde adorável, senhor. – Dany falou ao se levantar.

— Gostaria de tê-la trazido antes. – Ele respondeu enquanto se ajeitava para levantar. – É um dos meus lugares favoritos daqui.

Dany estendeu uma das mãos para ajudá-lo e ele acatou, pondo força sobre ela até que se levantasse. Aos tropeços e desequilíbrio, os dois ficaram com os corpos tão perto um do outro que ela quase podia beijá-lo. A rainha evitou encará-lo, desviando o olhar para o lado. Foi quando Drogon passou por eles, pousando logo atrás do cais. Enquanto esperavam, Viserion e Rhaegal voavam no céu alaranjado.

— Vejo-o na ceia, senhor. – E a rainha se despediu, dando as costas ao noivo e indo até o dragão que a levaria de volta pro castelo.


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Notas finais do capítulo

To tendo contratempos envolvendo a universidade, então esse capítulo acabou atrasando. Aproveito para deixar meus sinceros agradecimentos a todos e todas que estão acompanhando essa pequena história. ♥