Violinos escrita por Agatha Wright


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O velho parecia que era capaz de beijar Samantha.

Com um sorriso de orelha a orelha, ele entregou uma corrente de ouro com um pingente de violino.

Quando você estiver no corpo de Christine Daae, se certifique que este pingente esteja sempre com você. Sua alma está guardada dentro dele. Se você tira-lo em qualquer hipótese, a alma de Christine voltara a ter controle sobre seu corpo.

"Ok, entendido. Mas como você vai fazer isso parar no pescoço de Christine?" Perguntou Samantha.

"Deixe esses detalhes comigo. Agora vamos salvar a minha alma! Pronta?" Disse o velho estendendo a mão para Samantha.

"Com certeza não. Mas vamos nessa!" Ela disse segurando a mão dele e sentindo aquela mesma luz de antes invadir seu corpo.

E então ela estava vendo a cena mais assustadora de sua vida.

Do nada ela sentiu seu corpo sendo brutalmente jogado no chão e viu alguém usando uma longa capa negra desaparecer dentro de um quarto.

Ainda meio tonta, ela se levantou e pôs a mão sobre o peito para sentir seu coração disparado por algum motivo estranho, ela nem estava tão aterrorizada.

Foi então que ela notou.

"Esses não são os meus" Disse ela tocando nos seus peitos.

Agora ela ficou aterrorizada.

Ela passou a mão pelo seu cabelo e ao invés de sentir os longos fios lisos que iam até a sua cintura, ela sentiu cachos que caiam bagunçados até um palmo abaixo dos seus ombros.

Com as pernas bambas, ela correu até um quarto, que ela não sabia o motivo, lhe dava a sensação de segurança.

Era o quarto Louis Filipe.

Deus! A descrição do quarto era igual a do livro. Samantha soltou um gritinho de alegria meio Phan girl só para notar que aquela não era sua voz.

A voz de Christine era delicada e musical, enquanto a de Samantha era mais grave e forte, mas ainda muito feminina.

Ela abriu uma porta que havia no quarto e deu de cara com um belíssimo banheiro. Incrível, pelo estilo da decoração Erik ganharia rios de dinheiro como design de interiores no sec. XXI.

Então seus olhos encontraram o espelho.

Mas não era Samantha que estava olhando para ela.

Era uma jovem loira de rosto delicado e ainda meio infantil. Ela tinha um nariz pequeno e um pouco arrebitado. Seus lábios eram cheios e delicados. Seus olhos eram de um azul pálido. E toda essa combinação a fazia ser a menina mais encantadoramente doce que ela já havia visto na face da Terra. Era totalmente o oposto de Samantha, que tinha cabelos negros e longos e um rosto mais fino e um nariz mais comprido.

"Velhote maluco, no que você me transformou?" Disse ela dançando uma dancinha que ela acreditava ser estupida demais para uma menina daquelas e ainda por cima nascida nessa época dançar. Só para ver seu reflexo repetir o movimento no espelho.

"Uau! Isso realmente esta acontecendo." Disse ela olhando para aqueles grandes olhos azuis que agora eram seus.

"Gostando do seu novo visual, Samantha Michaelis, ou devo dizer Christine Daae."

Era o velhote.

Samantha se virou e soltou um grito.

"O que você está fazendo aqui?" Perguntou ela. "Você me assustou!"

Ele deu uma risadinha

"Bem, eu imaginei que você gostaria de algumas orientações antes de começar a sua missão" disse ele puxando um longo pergaminho.

"Você está no corpo de Christine Daae. Você tem 20 anos atualmente. Você ira receber algumas memorias e conhecimentos que vão servir para a sua missão. Você sabe falar sueco e francês fluentemente. E tem uma boa noção de alemão, italiano e inglês, o suficiente para um bom desempenho na opera. Todas as aulas de canto de Erik também estão na sua cabeça. Pode parecer confuso no momento, mas você vai se acostumar com o tempo."

Ele puxou um relógio do seu bolso.

"Bem, eu parei o tempo no momento que você entrou nesse quarto. Christine acabou de desmascarar Erik e teve aquela reação que você deve ter lido no livro. Eu escolhi esse momento pelo fato de ter sido um divisor de águas no relacionamento dos dois. Então agora você deve voltar lá e concertar as coisas. E não se preocupe, eu vou aparecer de vez em quando para lhe passar algumas instruções e checar seu progresso. Se você se sair bem logo estará no seu corpo novamente e muito bem acordada."

Christine/Samantha respirou profundamente e disse.

"Estou pronta!"

O velhinho apertou um botão no relógio e disse:

"É hora do show! Não se preocupe com o que você deve fazer, só siga seu coração."

Ele guardou o relógio no bolso e desapareceu.

Samantha ficou ali parada por um tempo pensando no que deveria fazer. Ela não tinha muita ideia do que diabos ela deveria dizer a Erik para se desculpar por ter tirado a sua mascara e por ter tido aquela reação horrível. Deus! Ela estava morrendo de medo. O que ela deveria fazer?

Ela estava perdida nesses pensamentos quando começou a ouvir os sons do órgão.

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A obra de Erik era a coisa mais bela que seus pobres ouvidos humanos poderiam ouvir. A dor e a mágoa começaram a tocar a sua alma, ela era capaz de facilmente imaginar todo o horror que Erik deve ter passado por causa de seu rosto.

O rosto de Erik.

Ela remexeu nas suas memorias, mas não conseguiu se lembrar do rosto dele. Aquele velhote deve ter tirado essa memoria da cabeça de Christine para Samantha não ser influenciada pela sua avaliação do rosto que ela dizia ser terrivelmente monstruoso.

Respirando profundamente ela saiu do seu quarto e caminhou até onde, segundo as memorias de Christine, era o quarto de Erik. E também de onde vinha aquela musica bela e triste.

Ela respirou fundo novamente e se preparou mentalmente para não se aterrorizar com a visão do rosto de Erik, pois isso com certeza o feriria ainda mais.

A porta fez um pequeno rangido quando se abriu, e imediatamente a musica parou. Erik se levantou em um salto e se pôs de costas para ela sem lhe dizer nenhuma palavra.

Samantha se permitiu dar uma primeira olhada nele.

Erik era realmente magro, ele era tão fino que ela não sabia como ele era capaz de se manter em pé. E também ele era realmente alto, cerca de 1,90 metros. Seu corpo tremia com soluços contidos. A cena era tão digna de dó que Samantha caminhou até ele e por impulso fez a ultima coisa que Erik poderia esperar ver Christine fazendo depois do que aconteceu.

Ela o abraçou.

Ela passou seus braços ao redor da cintura dele e sentiu um arrepio ao tocar seu corpo gélido.

"Por favor, me perdoe." Murmurou ela apertando seus braços ao redor dele.

Erik ficou completamente paralisado pelo choque. Depois de alguns minutos ele disse com a voz tremula:

"Christine..."

Ela o libertou de seu abraço e ele se virou para ela.

Então ela viu seu rosto.

E ela teve vontade de acertar Christine com um bastão.

Houve uma guerra terrível com inúmeros ataques e acidentes nucleares por todo o mundo a cerca de oito anos antes de Samantha sofrer aquele acidente. O mundo ainda estava se recuperando disso. Mas várias pessoas sofreram com problemas causados pela radioatividade. Ela vira tantas pessoas com deformidades horríveis. Ela trabalhara com crianças que haviam nascido com malformações terríveis.

O rosto de Erik não chegava nem perto disso.

Seu rosto era magro e encovado. As maçãs do rosto eram tão proeminentes que a pele parecia que ia se romper a qualquer momento. Seus olhos eram profundos e cercados de sombras escuras ao redor. Sua pele era de um tom pálido e amarelado. Mas realmente o mais estranho era a falta do nariz, mas ainda assim ela não achou o rosto dele tão terrível como fora descrito. Com certeza boa parte de sua aparência era fruto das condições em que ele vivia. Christine era uma idiota por ter tido aquela reação. Erik não era tão horrível.

Ela ficou penalizada por tudo que ele deve ter passado por ter nascido assim nessa época cheia de pessoas ignorantes que o tratavam como um monstro.

"Oh! Erik..." Suspirou ela acariciando levemente o rosto dele. "Eu... Eu não me importo com seu rosto. Você é meu anjo e sempre será. Por favor, me perdoe, eu fui tão tola...".

Ela não terminou a frase, pois Erik caíra de joelhos aos seus pés e começara a chorar.

Com um gemido de agonia, ela também se ajoelhou no chão e tomou Erik nos seus braços.

Ele novamente ficou estático perante o contato desconhecido, mas quando ele entendeu o que estava acontecendo, ele também passou seus braços ao redor da cintura dela. Ela sentia o corpo dele sacudir com soluços violentos.

"Shhh, está tudo bem Erik, eu estou aqui agora. Você não precisa chorar mais."

Ela sentia as lágrimas dele molharem seu vestido enquanto ela acariciava seus cabelos. Ela o ouvia sussurrar palavras de amor para ela. Nunca ela havia visto tanto desespero em alguém.

Ela não sabia exatamente porque, mas ela estava gostando de ficar assim abraçada com Erik. Era como se o contato com ele a fizesse se sentir em paz. O mundo poderia estar em chamas que ela nem iria se importar.

Eles ficaram assim por cerca de 20 minutos, até ela começar a sentir seus joelhos protestarem pelo esforço contínuo. Erik deve ter percebido seu desconforto, pois ele se desvencilhou dos braços dela com uma agilidade vertiginosa e se ergueu puxando-a junto com ele.

Samantha cambaleou um pouco por causa das suas pernas dormentes e pelo movimento repentino.

"Me perdoe, minha querida. Você estava desconfortável."

Samantha estava chocada demais para dizer algo. Erik saltara daquela criatura frágil que ela estava consolando, para aquele homem com emanava uma grande aura de poder. Não havia nenhum vestígio de suas lágrimas. Ninguém poderia dizer que ele era a mesma pessoa que Samantha estava segurando nos seus braços a momentos atrás.

"Uh! Não... Eu estou bem." Gaguejou ela ainda meio chocada.

Erik soltou uma risada delicada e musical. Era um som tão gostoso que Samantha ficou embasbacada por alguns segundos. Ela queria ouvir isso novamente com toda certeza.

"Creio que nós ainda precisamos terminar a lição de hoje." Disse ele em um tom tão formal e sério. Realmente ele mudou de humor tão rápido quanto ele se ergueu do chão.

"Eh... Hum! Claro, vamos!" Disse Samantha se recuperando do choque. Ela estava realmente ansiosa para ouvi-lo cantar. Ela segurou a mão que ele lhe oferecera. "Estou pronta!"

Erik ficou olhando para as mãos dos dois entrelaçadas por alguns segundos. Mas se recuperou rapidamente e disse.

"Ótimo, siga-me." Disse ele voltando à sala onde estava o piano.

Samantha ficou paralisada ao ver o instrumento.

"Christine? Você está bem?"

Samantha olhou para Erik como se não o conhecesse. Mas a voz dele carregada de preocupação fez com que ela se lembrasse de onde estava.

"Oh! Não, estou bem. Não se preocupe. Eu só me distrai um pouco."

Erik a fitou por um tempo decidindo se deveria insistir no assunto ou não. Mas Samantha pelo visto conseguiu disfarçar suas emoções, pois Erik simplesmente se voltou para o piano. Mas antes ele pegou a máscara que Christine arrancou dele. O estopim de todo esse caos.

"O que você está fazendo?" Perguntou ela quando ele fez menção de recolocar a máscara.

Erik a olhou como se de repente tivesse nascido uma galhada de alce na cabeça de Samantha.

Ela puxou a máscara das mãos dele.

"Eu lhe disse que não me importo com seu rosto. Por que você precisa usar essa coisa?"

Ele deu um sorriso triste.

"Oh! Minha doce Christine. Você já foi boa demais para mim, por isso vou livra-la do horror de meu rosto."

Deus! Ela nunca tinha visto uma criatura tão digna de dó. Mas ela simplesmente disse:

"Tudo bem, mas usar ou não essa máscara é uma escolha totalmente sua."

Erik ponderou por um momento, como se realmente estivesse pensando na questão. Mas no fim, para total desapontamento de Samantha, Erik colocou a mascara.

Samantha resolveu não insistir no assunto, mas ela não iria desistir tão facilmente, por ora ela vai esperar ganhar a confiança de Erik o suficiente para que ele tire a máscara por vontade própria.

O resto do dia se passou, conforme Erik prometera, em música. Samantha estava realmente feliz com o fato de que ela conseguia se lembrar de tudo que Erik havia ensinado a Christine.

Mas Erik não parecia pensar o mesmo.

"Não! Tem algo errado "Disse ele depois da quinta pausa". O que aconteceu com a sua respiração?" Ele se levantou e começou a corrigir a postura dela, mas sem realmente toca-la.

Nossa! Ele realmente estava testando toda a paciência dela. Ela estava mastigando a língua para não soltar nenhum comentário sarcástico nas criticas de Erik.

Eles ficaram nesse ritmo durante toda à tarde, até Erik declarar que ela deveria estar cansada e que isso estava prejudicando o seu desempenho. Ele disse isso num tom de tamanho desapontamento que fez com que Samantha sentisse seu rosto corar. Maldição! Ela estava praticamente colocando seus pulmões para fora no esforço de atingir as notas desejadas por ele.

Ele disse que ela deveria descansar um pouco no quarto até a hora do jantar. O que era bom, já que ela estava sentindo seu estomago se contrair de tanta fome. Então sem uma palavra ele se retirou da sala e Samantha foi para seu quarto.

"Seu maníaco perfeccionista!" Disse ela entredentes quando fechou a porta atrás de si.

Então ela sentiu todos os pensamentos de sua cabeça virarem do avesso.


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