Corri com a criança em meu colo, fui em direção ao carro e tentei abrir a porta, mas infelizmente a porta não se abria. Merda!

Fechei os olhos com certa força e permiti as lágrimas escaparem, Alasca estava com a cabecinha apoiada em meu peito enquanto sugava seu dedão. 

—Shh... —Murmurei ao aninhá-la em meus braços e começar a andar pelo pequeno espaço.

—Ally. —Austin falou ofegante ao chegar perto de mim.—Se afaste. —Falei ao recuar alguns passos.—Ally, por favor. —Murmurou o loiro ao passar a mão por seus fios louros suados.

 —Você disse que estávamos namorando e... —Puxei o ar com uma pequena dificuldade. —Eu acreditei em você, acreditei que desta vez era pra valer. Que você estava crescendo e estava pronto para um relacionamento saudável, mas olhe isso. —Falei, com um sorriso irônico em meus lábios e logo equilibrei a pequena em meus quadris.

 —Eu achei que você sabia. —Austin começou. —Aquilo era só para minha mãe parar com os questionários. —Admitiu o loiro e eu engoli a seco. Estendi Alasca para ele, mas a garotinha se recusou a me soltar. —Preciso buscar minhas coisas na sua casa. —Murmurei, com ambos os olhos fechados.

 Ele assentiu e pegou as chaves do carro que estavam em seu calção, desligou o alarme do carro e abriu a porta para mim. Forcei um pequeno sorriso e adentrei o automóvel com a criança em meus braços. Ela levantou o olhar para mim e se aconchegou, fechando ambos os olhinhos.

**

Desci do carro com cuidado, enquanto arrumava a pequena em meus braços. Desde o incidente na praia ninguém havia pronunciado uma palavra sequer, principalmente na pequena viagem de carro até a casa dos Moon´s.

Austin pegou a chave e a levou até a fechadura, destrancando a porta.

—Mãe? —Austin falou e começou a andar pela casa, a procura de Mimi. O silencio predominou. —Mamãe? —Perguntou novamente, mas não recebeu resposta alguma.—Austin... —Murmurei e apontei para Mimi que estava desmaiada no chão próxima á escada.

 Austin virou o olhar para mim e logo que viu sua mãe desacordada perto da escada simplesmente enlouqueceu, correu em direção a mesma, ignorando todos os obstáculos que encontrara e deitou-se ao seu lado.

 —Liga pra ambulância. —Pediu e eu assenti, pegando rapidamente o celular e discando o número da emergência.

 Troquei algumas palavras com o atendente e em seguida observei Austin.

 —Eles já estão vindo. —Murmurei e Austin assentiu.

 **

Olhei em meus braços e observei Alasca, que agora, dormia serenamente. Soltei um suspiro baixo e levantei com cuidado, subindo as escadas da casa do loiro devagar. Caminhei em direção ao quarto do mesmo e deitei com a pequena em sua enorme e confortável cama. Cantarolei algumas musicas próximo ao seu pequeno ouvidinho.

—Boa noite, Sunshine. —Falei e sorri de canto, pus alguns travesseiros ao redor da criança, liguei o abajur, pois sabia de seu medo do escuro e liguei o aquecedor. Murmurei alguma coisa e a cobri com um edredom azul grosso.

Desci as escadas devagar e encontrei Austin dormindo no sofá todo encolhido. Havia uma caixa de pizza entreaberta na mesa de centro e o televisor estava ligado na Netflix, na segunda temporada de Glee. Deixei com que um pequeno sorriso escapasse e caminhei até o loiro, o cobri com o edredom marrom e grosso que estava no chão e em seguida beijei sua testa.

Suspirei e desliguei o televisor e em seguida levei a caixa de pizza para a cozinha. A pus sobre o balcão de mármore e bocejei, caminhei em direção á escada e a subi com cuidado, enquanto  segurava no corrimão. Adentrei o quarto de hospedes, mas logo vi que ele se tornara o quarto de musica para Austin, mordi levemente o lábio e caminhei em direção ao quarto de Austin. Bocejei e deitei ao lado de Alasca, que ao sentir minha presença abriu os olhinhos um tanto manhosos e rolou na cama, vindo até mim. Fez um pequeno esforço e deitou por cima de mim, ficando com a cabecinha deitada sobre meu peito.

Sorri com sua ação e afaguei seus fiozinhos.

Eu senti sua falta.

Murmurei e senti uma lágrima cair em minha bochecha, Alasca havia parado de se mexer e agora estava quietinha com a mãozinha em minha orelha afagando-a. Sorri com sua ação e fechei os olhos devagar, pegando no sono segundos depois.

**

—Ally? —Austin murmurou em um tom baixo.

—Oi... —Resmunguei e tentei rolar na cama, mas lembrei-me de Alasca, então fiquei imóvel.

—Eu descobri porque mamãe teve parada cardíaca. —Falou o loiro e sentou-se na beirada da cama.

Abri os olhos devagar ao ouvi-lo e sentei-me na cama, o edredom jogado no chão por conta de minha inquietação noturna.

—O avião que Alissa estava caiu. —Ele segurou-se para não chorar. —Ela e John morreram. —Austin abaixou o olhar. —O hospital havia ligado ontem para avisar. —O loiro fungou e eu o observei. —No mesmo momento mamãe estava descendo as escadas e pelo visto a emoção foi muita. —Murmurou. —Ela teve uma pequena rachadura no crânio Ally. —O loiro murmurou e eu me inclinei, o abraçando fortemente.

—Perdi minha irmã, Ally. —Austin fungou e eu apertei o loiro em meus braços, mas o abraço ainda estava um pouco torto devido a nossas posições distintas.

Levantei com cuidado e sentei em seu colo, ele abraçou minha cintura de imediato e em seguida deitou a cabeça em meu ombro, eu comecei a afagar suas costas largas. Segundos depois seus soluços começaram a ficar mais altos, levei as mãos até seus braços musculosos e comecei a afagá-los, Austin levantou o olhar para mim e beijou minha testa, logo descendo sua respiração acelerada para meu pescoço.

—Obrigado. —Murmurou num tom baixo.

—Não tem porque me agradecer. —Falei ao passar as mãos por seus fios loiros.

—Agora venha. —Falei e levantei de seu colo, o puxando. —Temos que fazer algum para você comer.

Ele assentiu e levantou, se apoiando em mim para chegar até a porta.

Descemos as escadas com cuidado e em seguida fomos em direção á cozinha, ele sentou-se sobre a bancada de mármore e ficou balançando as pernas conforme o ritmo da música que cantarolava.

Já eu fui até o armário, peguei a massa para panquecas e em seguida peguei uma frigideira, começando a fazer as panquecas enquanto cantarolava Into you.

**

Pus a pilha de panquecas num prato e em seguida peguei outros dois pratos. Pus duas panquecas em cada e em seguida pus um quadradinho de manteiga e mel sobre as mesmas. 

Estiquei o prato em direção a Austin, que o aceitou rapidamente e começou a comer como um animal selvagem. Dei de ombros e o estendi um copo de suco, que ele bebeu rapidamente.

Soltei um suspiro pesado e comecei a comer minhas panquecas em silêncio. Ficamos assim por poucos segundos até que o silêncio foi quebrado pelo choro estridente de Alasca e o som insuportável do telefone fixo.

—Eu vou vê-la. —Falei e Austin assentiu. Eu suspirei e fui em direção á sala, subi as escadas e caminhei em direção ao quarto de Austin, encontrando uma Alasca com o cabelo todo bagunçado.

Ela sorriu de canto a me ver e abriu os bracinhos animados, para que eu pudesse pegá-la.

Sorri de canto e a peguei em meu colo a aninhado em meus braços.  Ela se aconchegou em meus braços e logo eu desci as escadas com ela. Caminhei até a cozinha e encontrei Austin sentado no chão, todo encolhido. Suas bochechas estavam vermelhas, seus braços fortes estavam a amostra após ele retirar a camisa pelo tamanho calor que estava fazendo.

—O que aconteceu? —Indaguei ao me agachar ao seu lado com Alasca equilibrada em meus quadris.

—Ela morreu Ally. Minha mãe morreu. —Ele repetiu atordoado.

—Eu sinto muito, muito mesmo. —Murmurei e logo em seguida ele me puxou junto com a pequena para um abraço apertado.  Alasca soltou algumas gargalhadas baixinhas após sentir cócegas pela barba mal feita de seu tio.

—Vocês são tudo que eu tenho agora. —Murmurou o loiro num tom baixo.

Eu queria poder dizê-lo que não, ele não me tinha, eu estava ali apenas por Alasca e por não ser uma pessoa tão insensível a ponto de deixá-lo com sozinho com uma criança de apenas um ano.

Alasca deitou a cabecinha em meu ombro e levou a mãozinha aos fios loirinhos de Austin, começando a brincar com os mesmos.

Diante dos olhos dos leigos nós seriamos uma família adorável que estaria apoiando um ao outro após uma terrível perda e por algum momento eu acreditei que éramos aquilo, uma família.

 Alasca se mexeu agoniada e nós nos separamos, ficamos sentados no chão da cozinha nos encarando sem a mínima ideia do que fazer.

 —Vou ligar para a funerária... —Austin anunciou e eu assenti, levantando com Alasca do chão. Peguei sua mamadeira do refrigerador e a pus no micro-ondas num tempo bom o suficiente para que ela pudesse beber logo em seguida, sem que eu precisasse esterilizar. A entreguei a mamadeira e logo ela sugou o leite rapidamente como o tio mais cedo.

—Pelo visto a senhorita estava com muita fome. —Ri baixinho e ela sorriu de canto, mostrando-me os poucos dentinhos que havia.

A peguei em meu colo e pus a mamadeira na pia. Subi novamente as escadas com Alasca em meu colo e adentrei o quarto de Austin.

—Sabe onde estão as malas dela? —Falei á Austin, que pôs a mão no alto-falante do celular ao se virar para mim.

—No quarto da mamãe... —Murmurou com o olhar baixo e eu assenti, caminhando em direção ao quarto de sua mãe e adentrando no mesmo. 

 Soltei um suspiro pesado e caminhei em direção á uma mala branca com algumas corujinhas coloridas.  A pus sobre a cama e a abri, nela havia alguns brinquedos e uns ursinhos de pelúcias, sem contar que havia milhares pares de roupas. Peguei uma frauda e um body branco com bolinhas roxas e rosas e em seguida peguei sua outra bolsa, onde havia algumas chupetas, fraudas e cobertores.

Levantei-me com cuidado e pus a bolsa sobre meu ombro, saindo do quarto em direção ao do loiro.

Obervei a garotinha deitada na cama e sorri de canto, pegando-a em meu colo.

—Venha, vamos tomar um banho. —Murmurei e adentrei no banheiro, deixei a banheira enchendo numa temperatura boa o bastante e tirei o pijama que Alasca usava em seguida me despi e tomei um banho rápido junto a ela. Enxuguei-nos e caminhei para o quarto, forrei uma toalha na cama e a deitei na mesma, que começou a gargalhar. Pus a bolsa ao lado e logo pus nela uma frauda descartável pondo em seguida o body que eu havia separado minutos antes.

A deixei assistindo um desenho qualquer e troquei de roupa. Olhei os lados e observei a criança sonolenta, Austin provavelmente ainda estara no andar de baixo conversando com o seguro de sua mãe. Soltei um suspiro baixo e deitei ao lado da garotinha, fechei os olhos e acabei pegando no sono. 

**

Olhei os lados ainda sonolenta e arregalei os olhos ao não ver Alasca ao meu lado, olhei rapidamente o chão para ter certeza de que ela não havia caído, mas ela não estava lá.

Andei pela casa ainda um pouco grogue, mas logo ouvi a voz do loiro que tirara meu sono. Caminhei em sua direção e o encontrei deitado com Alasca na cama que pertencera a sua mãe. Abri um pequeno sorriso e não me deixei de perguntar: “Será que ele seria assim caso eu não tivesse a dado?”.