A luz do sol irritava meus olhos, mesmo estando fechados, a sensação de que mais um dia iria começar apenas deixava meu corpo mais pesado sobre a cama. Apenas queria mais tempo em meu colchão.

O som do meu celular que por um breve período de desespero por não saber onde estava logo desapareceu e a sensação de alivio ao encontrá-lo acordou-me completamente. E então abri a mensagem do numero desconhecido, receoso.

“Não se atrase”

Fora apenas isso, sentei-me em minha cama me espreguiçando, até perceber em meu relógio que estava incrivelmente atrasado. Pareceu que fui impulsionado do meu conforto para procurar uma boa roupa, mas me perguntei o motivo disso tudo, procurar roupas bonitas para me encontrar com um cara? 

Pensei em como essa semana havia passado tão estranhamente, por um momento senti-me próximo a Oh Sehun, mas logo ele estava tão distante, cara estranho. Sabia que a curiosidade ‘matou o gato’, mas estava curioso quanto ao relacionamento dele com o pai.

Apressado, corri para o banheiro escovando os dentes enquanto passava shampoo ao mesmo tempo, talvez a conta da casa ficasse mais barata se fizesse isso todo dia, enxuguei-me enquanto caminhava de volta a meu quarto, então vesti uma camisa branca e uma calça jeans clara rasgada em seus joelhos e quando coloquei minhas meias, percebi que uma delas estava rasgada no dedão, mas não me preocupei quando apenas calcei meus vans brancos já usado por anos, e me certifiquei de pegar o papel de seu endereço. 

Passei pela cozinha quando vi minha mãe arrumando a mesa para o café da manhã, a mesma se virando limpando as mãos no avental.

— Onde está indo no domingo? Nunca te vi tão apressado para sair — Perguntou curiosa.

— Vou estudar na casa de um colega — Olhei para o relógio de ponteiro na parede da cozinha impaciente.

— E não vai tomar seu café da manhã? Pelo menos leve alguma coisa — Era impossível ela me deixar sair sem comer algo antes, então eu peguei rapidamente um de seus sanduíches e antes de ir desferi um beijo em sua bochecha. — Vá com cuidado!

— Sempre! Se precisar de algo me ligue! Não esqueça de tomar seu remédio! — Sai com os pés ligeiros torcendo para que o ônibus passe, e por um acaso eu não queria ver o a feição raivosa do “aluno exemplar”.

Ao longe vi o ônibus prestes a se aproximar do ponto, o que me fez correr mais que minhas pernas e entrar ofegante passando pela catraca e caindo pesadamente em um dos bancos livres. Após recuperar a respiração normal de meus pulmões, certifiquei de lembrar onde o mesmo morava, era um pouco longe, e pessoalmente nunca havia ido aquela parte da cidade, então era novo para mim.

A cada rua que passava fora se tornando avenidas e com isso bairros extravagantes, era como se fosse uma transição de dois mundos diferentes, nos diversificando mais ainda.

O ônibus havia parado antes mesmo de entrarmos naquele lugar. Desci não muito apressado e observei o ônibus partir e apenas eu ficar num local tão silencioso, diferente de onde morava.

Procurei por um tempo o numero da casa, entre muitas residências exageradamente enormes, o que me fazia andar mais para procurá-la. Estava quase desistindo quando parei em frente a duas grandes portas de madeira com uma câmera e uma voz computadorizada por um microfone resolveu mostrar-se.

— O senhor por favor se apresente — Fiquei meio sem jeito e um tanto abismado.

— É... Meu nome é Lu Han, sou amigo de Oh Sehun, vim para estudar a pedido dele.

— Ah, claro, ele me avisou de você, me desculpe, entre — As portas se abriram automaticamente e mostrou-se uma mansão moderna em madeira e paredes pretas com uma piscina em frente, os vidros que preenchiam a maior parte da construção por um momento me deram uma sensação de que não se podia ter privacidade, mas era um lugar incrivelmente bonito.

Caminhei por uma pequena trilha de paralelepípedos que davam em direção a entrada da casa, que por um degrau de madeira em tom caramelo escuro tinha um espaçamento entre a porta. Esperei um bom tempo, e ninguém havia aparecido, então tomei a liberdade de entrar.

— Com licença — Pedi mesmo sem ninguém para ouvir. — Sehun?! — Novamente, silencioso — Você está ai?!... Olá?...

Tirei meus sapatos e minhas meias as escondendo dentro do calçado, e andei pela casa com o sentimento que estava invadindo me julgando. Subi a escadas que estava em frente à porta observendo os quadros da família na parede da subida, uma bela decoração.

Pensei que talvez eu estivesse vindo em um horário errado, e que ele tivesse coisas mais importantes para fazer, e assim que me virei para ir embora daquele lugar, bati com meu rosto em algo úmido e afastei-me botando a mão em meu nariz.

— Você está bem? — Sua voz baixa pegou-me desprevenido, e assim que foquei minha visão, seu corpo parcialmente despido mostrava os músculos e a toalha entrelaçada em sua cintura da qual Sehun segurava. Subi minha visão para seu rosto e engoli seco assentindo.

Assim que ele abriu a porta do seu quarto balancei minha cabeça, não sabia exatamente o que estava acontecendo comigo naquele momento.

— Não vai entrar? — Um pouco envergonhado, o que normalmente não era, adentrei o quarto bem decorado com tons de azul e cinza. — Está com fome? Posso pedir para trazerem algo.

— Eu... eu estou bem — Quando normalmente não estava, meu coração batia rápido por ter apenas eu e ele naquele local um tanto espaçoso. Então o mais alto sem alguma cerimônia retirou sua toalha e rapidamente olhei para qualquer lado que me ajudasse a não focar nele e ouvi seu riso singular.

Assentou-se em uma almofada perto de uma mesinha repleta de livros branca em cima de um tapete macio no chão, após é claro colocar uma bermuda, mas nem se importar em colocar uma camisa.

— Então vamos começar — Sentei-me colocando a almofada entre minhas pernas cruzadas. — Soube que está com problemas em matemática e ciências, suas notas em outras matérias são razoáveis, mas podemos melhorar — Eu estava motivado em tomar o lugar daquele cara, pois eu havia prometido.

Passamos uma tarde estudando, e pela minha falta de interesse no começo sua expressão não ficara nada boa, entretanto, em meio aos exercícios que fui obrigado a fazer, uma folha enumerada me chamara atenção.

“1 – Se o cão nunca teve contato com algum comando ele irá demorar a assimilar, enquanto isso não acontecer, é normal não obedecer.”

“2 – Adestrar seu cão em um local tranqüilo, sem distrações e barulho é bastante eficaz.“

“3 – Se o cachorro está com medo, ele não iria agir da maneira que espera, e se esconde quando você fala com ele de forma mais firme.”

— Você tem um cão? — Perguntei indiferente e Oh Sehun fitou a folha assustado, mas depois dera uma gargalhada da qual nunca havia visto sorrir assim.

— Tenho, mas ele é um pouco feroz, não escuta ninguém e é muito difícil de ser adestrado, além de morder com facilidade — Seus olhos fitavam o meus e seu sorriso era um tanto tentador e sedutor em seu todo, para evitar seu olhar entreguei a folha já concluída e ficara um bom tempo a corrigindo, em meio a esse tempo deitei-me no tapete olhando para o teto branco do seu quarto.

— Deve ser difícil lidar com ele — Fechei meus olhos e respirei fundo, até sentir algo em meu rosto, rapidamente tirei o que seria minha folha com vários sinais de correto.

— Você é inteligente, o único problema é sua preguiça — Deu um peteleco em minha testa, que honestamente, doera um pouco.

— Acho que já posso superar você, Einstein — Levantei alegre e ao virar-me para vê-lo, estava de costas procurando uma camisa para vestir em seu guarda-roupa, examinei suas costas que à medida que seu braço se mexia os músculos se moviam.

— Ainda falta muito caminho pela frente, baderneiro — Vi seu sorriso de lado, quase imperceptível enquanto colocava uma camiseta branca. — Você escreveu seu nome errado — Rapidamente peguei novamente o papel e realmente eu devia ter escrito enquanto estava distraído. — Não pode ficar distraído assim na hora da prova.

— Eu sei — Olhei para a janela e estava escurecendo, pensei no tempo que ficamos praticamente “comendo” os livros a tarde inteira.

— Lu Han, eu... sei da situação da sua família, e eu estava pensando em ajudar — Por um momento meus olhos se arregalaram.

— Eu não preciso de pena — Eu sentia o olhar de pena que provavelmente enchia a auto-satisfação de estar fazendo uma boa ação. — Faço o que posso pelos meus meios, não sou um mendigo, Sehun — Levantei-me um pouco alterado pela situação.

— Não disse nada disso — Sua voz se alterou, estava mais sério que o normal, me dera calafrios.

— É o que todos acham, você não seria diferente — Pela minha pressa de sair, meu pé pisara em falso em um dos livros que estudamos, senti as mãos em minha cintura e após um barulho algo amortecera minha queda.

— Eu não te dei permissão de falar por mim — Senti sua respiração próximo ao meu ouvido.

Senti suas mãos em meus ombros e uma pressão que em alguns segundos nos fizera trocar de posição, quando ele se posicionou acima de minha pessoa, seus olhos sérios encontravam os meus que talvez, mesmo sem querer, demonstravam querer não sair dali.

Ele afrouxou a força em meus braços, pelo momento, da luz que esquecemos de acender, dos livros que esquecemos de fechar, a sensação que sentia era distinta de todos os momentos que eu havia vivido. Seu rosto se aproximava de um modo lento, seu olhar focava em minha boca e os batimentos aceleravam mais que o normal, então, meu celular começara a tocar e percebendo o que estávamos prestes a fazer, ele desviou o rosto se distanciando, retomei com dificuldade a respiração normal.

— Alô? — A voz do outro lado da linha soluçava. — Tia o que aconteceu?

— Lu Han, é sua mãe... ela está no hospital — Pela expressão de Sehun ele havia escutado e imediatamente, meus olhos se recusavam em olhar nitidamente para qualquer coisa, pois as lagrimas me tornavam incapaz de enxergar.