Profundezas escrita por Nathalia Schmitt


Capítulo 2
Hallula




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Rire saíra apressada de sua toca, que fazia parte de uma construção inteira de rochas como um condomínio de coral, lembrando vagamente favos de mel, possuindo várias entradas e caminhos internos constituindo uma das várias pedras imensas de sua colônia — e partira, como de costume, em direção ao Centro de Treinamento, onde ficavam os tritões guerreiros enquanto faziam suas atividades diárias.

Ela adentrara o abrigo de Auho que permanecia aninhada em seu aglomerado de algas e ramos de coral: seu ninho. Aproximara-se e nadara em círculos acima da amiga, enquanto a chamava insistentemente.

— Auho, Auho! Acorde! Vamos! Estamos atrasadas! — instigara Rire, agitada, ajeitando seu coque.

Conhecera Auho no grupo de filhotes. Como Auho é mais velha, também era mais independente que os mais jovens; ainda assim precisava frequentar o grupo com cuidadoras. Os filhotes mais velhos ajudavam na educação e cuidados dos mais novos. Cada grupo tinha uma cuidadora responsável. As mães colocavam os ovos apenas; geralmente passavam a ser cuidadoras quando não queriam ficar longe de seus filhos. Uma nereide podia colocar até três ovos pequenos que cresciam fora do corpo, conforme o desenvolvimento do feto.

Auho preguiçosamente rolara, tirara o cabelo curto que insistia em enrolar-se no seu rosto, resmungara algo e espreguiçara-se enquanto Rire ia até a entrada, onde ficara aguardando. Rire era seu despertador. O despertador mais ansioso e inquieto que Auho poderia ter.

A mais velha sentara-se acordando lentamente, enquanto Rire a observava.

Rire era um trabalho árduo quando criança para quem tinha mais de oitenta filhotes necessitados de supervisão e não mudara muito. Num certo momento, Rire, pequena e indefesa, fugira às escondidas do coral luminoso em que o grupo de filhotes fica. Ninguém vira. Exceto Auho, que fora atrás da pequena, trazendo-a de volta à colônia em segurança antes da hora de dormir e sem expô-la, protegendo-a. Desde então, Rire sempre arrumava um motivo para aproximar-se de Auho que passara a admirar.

Mas a infância não mais a pertencia. Mesmo já crescida, era pequena – porém ágil.

— Estou com fome. — reclamara Auho, franzindo o cenho. Em geral, sempre que acordava, a primeira coisa de que tomava consciência era seu nível de apetite, que parecia sempre insaciável.

— Comeremos algo por lá. — respondera a outra, indiferente, soltando seus cabelos de fios largos e desprovidos de melanina, lembrando vagamente finas algas, prendendo-os novamente no coque, dessa vez mais firme.

Observava a amiga com seus grandes olhos totalmente negros, característicos de sua espécie. Fazia somente o necessário, como suas devidas obrigações e participava dos eventos sociais sempre que podia e estava ansiosa para chegar logo ao CT.

Auho espreguiçara-se outra vez e por fim levantara-se, nadando lentamente até Rire que saíra em alta velocidade, impaciente. A outra respirara fundo, esfregara os olhos e seguira a mais jovem.

Passaram pelo grupo de sereias que cuidava dos ovos e das crianças – o pueris. Atravessaram o Arco de Atlanta — um grande arco de pedra envolto em algas, musgo e plantas aquáticas variadas, algumas fosforescentes — seguindo até a Praça Muçuri — onde havia uma grande construção preenchida por detalhes que formavam pontes, umas sobre as outras, de argila clara trabalhada e fundindo-se em pilares, permeando a volta de um espaço circular que continha o símbolo de sua colônia no chão circular: um tridente cruzando uma meia lua, com pequenas plantas aquáticas crescendo como botões de flores brilhantes e o musgo lembrando vagamente grama baixa ao redor da pedra clara com o símbolo gravado — para somente então chegarem até o Centro de Treinamento, ou CT. Com grandes paredes e pilares erguidos, uma plataforma circular central, era intimidador. Duas grandes pedras de argila foram criados a fim de criar núcleos administrativos, salas subterrâneas e celas secretas. Essas pedras eram como prédios, mas não haviam prédios em Hapori, apesar da função das duas imensas pedras ser semelhante.

Auho estava visivelmente incomodada por estar com fome e sono, mas Rire não deixara-se abater por isso; seguiu firme até onde os guerreiros estavam e, como de costume, sentara-se nos aglomerados de pedras à volta – comuns por toda sua colônia, a uma distância segura, de forma que não os atrapalhasse. Sua amiga encostara-se ao seu lado, apoiada com os cotovelos na pedra.

A colônia de Nereides era composta por plantas fosforescentes e muitas pedras gigantes, algumas formando corais imensos e outras, apenas mantendo-se inertes ao tempo, imensas e fortes. Auho, porém, não dava a mínima para a antiga pedra em que estava escorada.

— Quando vamos comer? — ela estava começando a ficar levemente irritada. Comer era um de seus prazeres mais inocentes e o único instinto que ela nunca negava. Se representasse um pecado capital, este seria a gula.

— Fale com Ihoy, ele lhe dará algumas ostras. — respondera a amiga, displicente, fazendo sinal na direção do Guerreiro-Chefe; o único tritão com barbas da colônia.

Auho não precisara perguntar duas vezes e Rire tampouco precisara repetir a sentença; a amiga simplesmente saíra a nado rapidamente dali, indo em direção à pequena sala de Ihoy, na grande pedra à esquerda delas.

— Ihoy? — Auho aproximara-se de Ihoy, um dos responsáveis pelo CT. O tritão grande e largo a fitara. Seus espessos cabelos negros presos em uma trança e sua expressão rígida tornavam-o intimidador, mas a nereide já o conhecia tempo suficiente para não se importar. — Rire disse que você poderia me dar algumas ostras. — dissera Auho, tocando uma das ombreiras feitas com a casca de pequenas conchas opacas, entalhadas em um ouro leve e reluzente. Ihoy piscara.

— Estão preparando o Salão Central. — Ihoy observava enquanto Kahan treinava com os primeiros grupos. Marama, seu irmão, era encarregado dos últimos, outros treinadores também eram responsáveis. Haviam 77 encarregados pelos treinamentos e 23 sedes de treinamento pela colônia, mas ali, com Ihoy, apenas Kahan e Marama ajudavam, já que o Centro de Treinamento da colônia era como um filtro responsável pela transferência dos jovens para a sede mais adequada, conforme suas qualidades, agilidades e estrelas, que funcionavam como pontos; quanto mais pontos, maior seu status dentro do Centro.

— Eu sei. Mas estou com fome.

— Fale com Fore. — dissera Ihoy após soltar um pesado suspiro, provavelmente preocupado com seus deveres, por ser o responsável pela proteção e cuidado da colônia. Auho agradecera e fora até o Salão Central, um local aberto a todo o povo, com várias divisórias, como salas. Em cada uma havia uma grande pedra ovalada usada para servir a comida que era tratada. Algas e plantas eram limpas e cortadas, peixes, ostras e carne de caçadas tinham suas peles e cascas retirados para irem às mesas em seu estado cru e fresco.

Quando Auho voltara, o treinamento estava quase acabando. Levara algumas ostras para a amiga.

Ela e Rire admiravam os guerreiros, a arte de lutar, de provar ser forte e poder proteger tudo e todos.

— Quando Ihoy irá liberar fêmeas para o Xaón? — perguntara Rire, inconformada. Já haviam tido essa conversa antes, mas ela não sabia como expressar de outra forma o que sentia.

— Torça para ser estéril, Ri. — rebatera a outra, enquanto abria uma das ostras que levara. Rire inclinara o corpo apoiado na pedra. Apenas sereias inférteis ou muito competentes conseguiam chamar a atenção desse pequeno grande grupo de tritões e serem escaladas à equipe de treino, o Xaón. Como nereides em geral eram pequenas, perdiam em tamanho e força para outras colônias e não eram boas caçadoras, quem dirá guerreiras. Acabavam entalhando, criando, cultivando e cuidando — e a maioria amava tudo isso. Mas as que não possuíam dom para muita coisa, como Rire, acabavam ficando deslocadas.

— Como posso descobrir uma coisa dessas? — Rire parecia estar levando isso a sério. Auho estava com a ostra em sua boca e encarara a mais nova.

— Acho que só tentando. Nunca pensei nisso. Não sei. — ela engolira a ostra. — Você vai comer ou não?

— Ainda não estou com fome. — os olhos de Auho brilharam e ela sorrira maliciosamente para Rire, que sabia o que aquilo significava, rolando as suas ostras para a mais velha.

Após os treinos, as amigas juntaram-se com os guerreiros como de costume — bem como algumas outras dezenas de sereias — para a única grande refeição do dia. Auho cutucara Rire quando pararam à pedra de uma das salas do Salão Central.

— Tenho algumas porções guardadas para o resto do dia, não se preocupe em procurar comida mais tarde. — Auho murmurara. Era muito boa em coletar insetos e frutos do mar para as pequenas porções diárias e adorava dividir com Rire que, por algum tempo, ficara na junta responsável por limpar e tratar a comida, onde aprendera a fazer isso com destreza.

Auho cutucara Rire novamente após um momento de silêncio.

— Não entendi porque Kahan chamou a atenção daquele outro. — Auho era, em geral, desatenta demais, enquanto Rire tinha uma percepção maior do que acontecia à sua volta, apesar da aparência serena e delicada. Seu rosto gentil podia ludibriar outros sobre sua perspicácia.

— Com a investida, ele inverteu a cauda e Kahan poderia tê-lo ferido se quisesse. Não foi tão ágil quanto deveria e errou o ataque. — explicara Rire. Kahan e Marama tinham suas semelhanças físicas; ambos de pele levemente mais escura que das fêmeas, mas suas táticas eram diferentes. Kahan era muito mais rígido.

— Então em uma luta de verdade ele estaria com problemas. — Auho não se importava tanto com treinamentos quanto Rire que conseguira participar de alguns treinos não-oficiais com Kahan.

A comida fora servida: a caçada do dia havia sido farta. Bons pedaços de carnes eram servidos individualmente junto de plantas aquáticas e alguns frutos em vastos pedaços tratados e desidratados de pele.

Em Hapori, sempre parecia noite, por não haver claridade do sol àquela profundeza. Os animais que por ali viviam eram transparentes, fosforescentes, cegos ou possuíam alguma fonte de luz própria; a maioria das plantas e algas também eram fosforescentes. Isso dava uma aura etérea à colônia.

Auho era sempre uma das últimas a comer e a amiga a esperava todas as vezes. Para Rire, Auho era muito previsível. Depois dali, iria querer dormir um pouco e estaria animada com as preparações do Hallula — o ritual anual de acasalamento. A outra olhara para Rire quando terminara.

— Já sei.

— O quê?

— Pode ir dormir.

— Onde te encontro? — Auho perguntara, quase num gemido, enquanto espreguiçara.

— Na pedra de sempre. Se eu não estiver por lá, me procure na Caverna Coral. — a caverna subterrânea era usada para os preparativos das sereias. Algumas viviam para sempre com o mesmo companheiro; fidelidade, porém, não era uma obrigação moral. O grupo que ia à caverna para ajudar quem buscava um companheiro ou comemoraria com o seu, não participava do evento em si; e Rire nunca participava, apenas arrumava quem estava disposta com algumas conchas, pedras, corais coloridos frescos e detalhes em pele de água-viva desidratada. Nereides responsáveis pela desidratação lidavam com pastas na superfície pela noite e eram machos.

Cada vez mais sereias e tritões iam chegando à praça. As fêmeas acumulavam-se na pequena caverna subterrânea para ajeitarem-se. As mais jovens estavam animadas, passavam o ano todo admirando os guerreiros e trabalhadores da colônia, escolhiam seus candidatos e torciam para que eles as escolhessem ou as cortejassem. Algumas, porém, preferiam escolher os tritões por conta própria — mas isso exigia um pouco menos de timidez e mais maturidade; coisas que as mais novas ainda não possuíam.

Rire ouvia o burburinho do lado de fora que o Hallula causava. Crianças brincavam em seu coral ao longe, emitindo sons agudos, como risadas. A jovem estava ajeitando o longo cabelo de outra nereide que parecia tagarelar sozinha.

— Todos parecem babar na cauda deles, mas conheci um cultivador e ele é tão inteligente! Não fala muito, como a maioria dos machos, mas espero que ele me escolha! Prometi a mim mesma que esse ano não aceitarei ninguém. Prefiro ficar sozinha a aceitar outro. — Rire não estava prestando atenção, de fato. O evento estava começando, a maioria das nereides ali já estava preparada. Quando Rire terminara o cabelo da outra que fora até o grupo já finalizado, encontrara uma Auho paciente enfileirando-as para a entrada. Rire fora até ela que sorrira sutilmente em resposta. Assim que tudo parecia preparado, elas saíram como tiros do buraco estreito.

Seu canto era como a melodia de uma baleia, porém mais suave e levemente mais agudo e delicado, sutil.

O local escolhido fora a praça Muçuri, com o símbolo da colônia, como todos os outros anos. Somente as fêmeas cantavam; e cantavam unicamente nesta época. Giravam em torno de si mesmas docemente, algumas davam piruetas delicadas e charmosas, com seus cabelos brancos soltos dançando com elas — nem todos longos.

As duas amigas foram até algumas pequenas pedras enquanto fitavam as outras de longe. Tritões aproximavam-se para admirar o show. Algumas águas-vivas bioluminescentes foram brincar com as sereias e davam um ar quase mágico ao ritual.

Gradualmente esses tritões tomavam coragem de tirar alguma sereia para a dança. Uns poucos estavam apenas olhando, sem investir, como era o caso de Kahan, seu irmão e pai.

Auho percebera que Rire não só observava a dança, mas também Kahan.

— Vá falar com ele. — incentivara a amiga. Rire a olhara sem entender. — O quê? — perguntara Auho em defesa ao silêncio inquisidor da mais nova.

— Não vou.

— Mas por quê?

— Por que eu deveria?

— Porque é Hallula.

— Não, obrigada.

A jovem sereia rira. Não prolongaria o não de Rire, mas se divertia com a timidez nada assumida dela. O que Auho não sabia é que Rire não tinha grande interesse em Kahan, apenas queria saber se ele, Marama e Ihoy iriam escolher alguém este ano; sua curiosidade infantil era mais forte que qualquer possível afetuosidade que poderia vir a desenvolver. Ihoy, sabia, não participava de Hallulas e Rire tem sérias desconfianças sobre as intenções dos irmãos em relação à sua amiga que, como de costume, nunca percebera nada.

Hallula estendia-se por algumas horas. Mas a maioria conseguia seu objetivo: chamar a atenção dos tritões para si. Trabalhavam nisso o ano todo, conversando, socializando, ficando por perto e quando atingiam o período fértil era como uma oportunidade para sereias e tritões de toda a colônia se enamorarem.

Casais já fixos dançavam em silêncio agora.

Auho fora ajudar a retirar as águas-vivas que insistiam em ficar por perto e a ajeitar as sereias que saíram desacompanhadas, na Cavernal Coral.

Enquanto isso, a outra fora fazer o que faz quase todos os dias: vasculhar os terrenos próximos em busca de conchas, ossos e pedras bonitas. Separara-se da amiga e afastara-se da colônia. Gostava de nadar rente ao chão para já ir procurando no caminho; às vezes dava sorte. Seguira até um coral morto, há alguns quilômetros de Hapori. Uma das qualidades de Rire era sua velocidade, dessa forma, não demorara até chegar às pedras; longas, compridas, criando um tipo de bosque de pedra que logo fora adentrado por ela.

Fora distraindo-se progressivamente com suas coleções em meio ao acumulado de pedras enormes, quando ouvira algo que não conseguira identificar; lembrava um som de uma baleia enorme. Por instinto, escondera-se entre as pedras, próxima ao chão, agarrada às conchinhas e pedrinhas que pegara.

De repente, vindo de não se sabe onde, um verótopes um dos poucos descendentes próximos de dinossauros aquáticos ainda vivo, com membranas interdigitais e nadadeira caudal, possuindo dezoito metros — que passara velozmente por cima de onde a jovem nereide encontrava-se, firme, assustada e escondida, afastando em minutos. Então, Rire percebera.

A criatura estava indo em direção à colônia.

Rire congelara no instante em que sentira todas suas mínimas escamas arrepiarem, faltou-lhe o ar. Seus pensamentos voavam, mais rápido do que ela conseguia acompanhar. As pedras, altas e cheias de algas e musgo, escondiam-na na escuridão. Encolhera-se quando um grande grupo de globies, uma subespécie mais agressiva e distante de mamíferos. Eram muitos, Rire notara, concentrando-se para não fazer barulho, segurando sua respiração inutilmente. Nadavam acima das pedras que se encontrava, gritando, perigosos, agressivos.

Quando o grupo afastara-se, Rire perguntara-se se estariam atrás do verópodes, já que globies eram carnívoros. Conseguira respirar fundo e organizar os pensamentos, acalmando-se, sentindo o desconforto no peito devido seu coração acelerado.

Acima das pedras haviam longas algas escuras em grande quantidade, cobrindo o chão e boa parte das pedras; Rire os vira por entre essas algas. Subira devagar. Com cuidado, afastara algumas dessas folhagens e observara sua volta. Nada. Mirara em direção à colônia e aguçara os sentidos. Sentia a tensão mantendo-se firme pela coluna, alastrando-se pelos ombros e pescoço.

Um clarão surgiu, seguido de um leve tremor. Muitas bolhas esvoaçaram pelo oceano, estourando levemente no rosto de Rire que engolira seco. Saíra de seu esconderijo e nadara até a colônia o mais rápido que pôde. Nunca sentira tanta pressa e angústia. Outro clarão, mais bolhas. Águas-vivas, peixes e lulas passaram por ela, na direção contrária, assustados.

Fora um ataque rápido. Quando Rire chegara, eles já não estavam mais lá. Haviam usado um tipo de bomba e mataram centenas de nereides que estavam reunidos para o Hallula. Mataram crianças e destruíram os ovos com cajados afiados. Rire via apenas corpos para todo o lado. A colônia estava em estado de calamidade com corpos que jaziam sem vida e feridos até onde sua vista alcançava. Alguns guerreiros conseguiram matar uns invasores, Rire notara em seus corpos pálidos sendo removidos por um pequeno grupo de cultivadores, sem qualquer tipo de pelo ou penugem. O sangue concentrara-se como uma grande névoa densa, enuviando a visão de Rire que não conseguia ver muito além do que poderia. Passara por um casal morto. O tritão tinha uma ferida no peito e fora degolado, tendo sua língua arrancada. Abriram o tórax da sereia e a visão daquela cena, Rire sabia, a atormentaria por muito tempo. Pensara em Auho e o desespero tomara conta de seu corpo enquanto afastava-se, assustada, dos defuntos. Percebera em alguns corpos – que não conseguira definir se estavam ou não vivos – destroçados e desmembrados, com parte da pele que deveria cobrir o membro arrancado movimentando-se lenta e delicadamente.

Não poderia ajudar os feridos agora, não sabia o que fazer com eles, tampouco estava em condições para isso. Estava em pânico procurando por Auho ou qualquer conhecido que pudesse vir a encontrar, preocupada.

Uma das sereias responsáveis pelo Hallula estava gritando pelos ovos quando Rire aproximara-se. Não sobrara nada. As pedras foram destruídas com as bombas jogadas, a praça central estava em ruínas e tudo havia sido devastado. Sobreviventes tentavam juntar os mortos e salvar os feridos.


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