How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 23
Chegada ao inferno


Notas iniciais do capítulo

Okay, eu não vou mais pedir desculpas porque ninguém mais aguenta isso x_x enfim, a fic vai entrar na sua reta final agora e prometo me empenhar mais para que as postagens sejam mais frequentes daqui por diante...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/7100/chapter/23

Acuado. Era assim que ele se sentia naquela cela minúscula. Os outros detentos o examinavam de cima a baixo desde o momento em que fora praticamente jogado naquele lugar. Não havia privacidade alguma ali, e David se sentia completamente violado em um lugar estranho. As vozes de deboche e chacota dos policiais ainda ressonavam em sua mente, tornando tudo aquilo ainda pior. Todo o trajeto da avenida até a cadeia não passava de um borrão, onde David lutava para digerir o que estava acontecendo. Várias coisas lhe passaram pela cabeça simultaneamente, até que o tumulto de gente em frente a delegacia o despertara de seu transe. Ao que parecia a imprensa toda fora avisada da prisão de David Desrosiers, e todos estavam muito interessados em julgá-lo, sem que ele tivesse direito a voz de defesa. Vozes impertinentes, alteradas, e flashes cegantes o saldaram na chegada, e ele teve que atravessar o corredor estreito com uma escolta policial. Então uma onda de insultos e xingamentos passaram por ele, acusações horríveis as quais David jamais imaginara serem possíveis. Coisas que ele ansiava por esquecer.

 

Ele sabia que a partir dali sua vida se tornaria um inferno, e não conseguia enxergar um meio de suportar tudo aquilo. Estava cansado. Cansado de tudo, só queria voltar para casa e tomar um bom banho, para tirar aquele fedor e podridão que se aderia em sua pele. Julgava ser impossível que alguém acreditasse em sua inocência agora. Tudo fora muito bem forjado para incriminá-lo. Pierre seria o primeiro a condená-lo, e ele não podia culpá-lo por isso. A decepção que lhe causara fora tão grande que o amigo jamais tornaria a acreditar nele. E quanto a Seb e Jeff... Bem, talvez eles fossem os únicos a permanecerem ao seu lado, mas David estava se sentindo tão imundo que não podia acreditar nisso também. Não podia deixar de pensar que estava pagando pelos erros que cometera. No fundo, sabia que ao menos uma parcela do que sofria era merecida.

 

Tudo aquilo parecia um terrível pesadelo, um grande engano ao qual o arremessaram cruelmente. Alguém queria destruir sua imagem, minar sua auto-estima, e estava conseguindo isso com louvor. Dentre a maré de perguntas e incertezas que lhe invadiam, David só conseguia enxergar um rosto a sua frente. Chuck... Por quê? Porque Chuck faria uma coisa dessas com David? As brigas e desentendimentos que tiveram foram de ordem particular, então qual era o objetivo da coisa toda? Aquilo era totalmente descabido. Ou será que o Simple Plan significava tanto assim para o ex-amigo, ao ponto de lhe tirar a pouca sanidade que lhe restava? Como uma pessoa era capaz de mudar tanto, e em tão pouco tempo? Que tipo de mente seria capaz de pôr em prática um plano tão doentio? Por mais que ele quisesse, não era capaz de responder a nenhuma dessas questões. Se achava isolado do mundo, impedido de estar com os únicos amigos que lhe restavam e em um lugar onde pareciam querer devorá-lo a qualquer instante. Era difícil raciocinar quando ele olhava para os lados e percebia sua dura realidade. Bel nunca lhe parecera tão distante quanto agora...

 

 

 

***

 

 

 

Ele acordou assustado com as violentas pancadas em sua porta. Levantou ainda sonolento, bocejando, apesar de o sol ainda se achar bem alto no céu. As pancadas se intensificaram, e ele amaldiçoou quem quer que fosse por não utilizar a campainha. Olhou pelo olho mágico da porta e arregalou os olhos, não de medo, mas de surpresa. Não esperava que eles fossem ser tão rápidos, muito embora já estivesse preparado para aquilo.

 

-Abra a porta, sabemos que está aí! – Ordenou uma voz ameaçadora.

 

-O que ainda querem comigo? E porque estão esmurrando minha porta? – disse, fazendo-se de indignado ao abri-la.

 

-Não seja hipócrita, Chuck! – gritou o outro.

 

Chuck viu sua casa ser invadida por Seb e Jeff, ambos com expressões mortais em suas faces.

 

-Não estou entendendo, pensei que tivéssemos deixado as hostilidades de lado e cada um fosse para o seu canto.

 

-Está querendo nos dizer que não sabe nada sobre a prisão de David? – Questionou Jeff, ameaçador.

 

-Prisão? David está preso? – Tornou Chuck, muito espantado.

 

Os outros trocaram um olhar de descrença. Por fim Seb soltou uma risada carregada de sarcasmo.

 

-Pare com esse teatro, Chuck! A quem está querendo enganar? A imprensa não fala em outra coisa, e acho que você já nos deu mostras do que é capaz.

 

-Se ainda não perceberam, eu estava dormindo até chegarem. Como acham que ia saber de algo se nem liguei a tevê?

 

-Mas nós sabemos que você foi a última pessoa a falar com ele, e também não é nenhuma novidade que você queria se vingar dele.

 

-Essa é uma acusação muita séria, e além disso ainda nem me disseram porque ele está preso.

 

-Uma blitz policial achou cocaína escondida no carro.

 

-Cocaína? – Repetiu ele, surpreso. – Ora quem diria, David traficando drogas! E depois ainda dizem que eu sou o errado...

 

Seb e Jeff não suportaram o a expressão de superior no rosto de Chuck. Como se tivessem combinado, ambos avançaram sobre o baterista, jogando-o violentamente contra a parede oposta. Ele lutou para escapar, mas os outros eram mais fortes e mantinham seus braços imobilizados enquanto o encaravam com fúria.

 

-Não se atreva a falar assim de David! Até ontem você o mantinha ao seu lado por meio de chantagens, acaso acha que as pessoas são descartáveis? – Impôs Jeff.

 

-A banda acabou, mas ele ainda é nosso amigo e não vamos deixar isso barato. – Emendou Seb.

 

Chuck estava com alguma dificuldade para respirar com os ex-amigos em cima dele, mas ainda conseguiu responder às ameaças.

 

-O que pretendem? Os seguranças do Davidzinho vão me bater?

 

-Confesse que foi você quem escondeu a droga lá, sabemos que está por trás disso! – gritou Jeff.

 

-Pois então provem! Me acusar sem provas é muito fácil, Jeff, mas não era eu quem estava lá na hora da apreensão.

 

-Seu... seu... – Ele lutava para encontrar uma palavra forte o bastante para atirar na cara de Chuck, enquanto Seb o puxava com força pelas vestes, pronto para o ataque.

 

-Se me baterem a imprensa logo ficará sabendo disso e posso abrir um processo contra vocês.

 

-Como ousa nos ameaçar? – berrou Seb.

 

-Não temos medo de você!

 

-Mas creio que irão tentar libertar David, não? O amiguinho de vocês vai ficar com a imagem ainda mais abalada se seus protetores forem acusados de agressão física. Ou será que esperam que Pierre vá ajuda-lo? – disse, com uma risada de deboche.

 

-Como você pode ser tão canalha, Chuck? – questionou Seb, cerrando os punhos.

 

Mas Jeff já tinha entendido o recado. Chuck não estava brincando, iria fazer de suas vidas um inferno se o atacassem. Resolveu então que a melhor forma de consertar as coisas era através de um bom advogado que provasse a inocência de David de forma legal.

 

-Deixe ele, Seb! Não vamos conseguir uma confissão desse modo, Chuck não é humano o suficiente para sentir remorsos sobre algo.

 

Ele então o soltou lentamente, mas ainda o encarava de modo letal ao alcançar a soleira da porta. Chuck os viu saírem com olhos estatelados. O que Jeff dissera era mesmo verdade. A cada dia que se passava, Chuck se tornava menos humano.

 

 

 

***

 

 

 

Aquela seria a segunda visita ao médico. A primeira que Pierre acompanharia, então ela não se surpreendeu por encontra-lo na sala, esperando. Bel já se encarregara de ser muito gentil com ele, e Peggy fechou a cara em uma máscara ácida. As pessoas não podiam interferir assim em sua vida, aquilo não estava direito.

 

-Então, está pronta? – Disse ele, animado, ao vê-la se aproximar.

 

Peggy torceu o nariz.

 

-É o jeito...

 

-Sabe, você podia ficar um pouquinho mais feliz com isso, afinal é o seu primeiro filho. – ponderou Bel.

 

-Você também não estaria muito melhor se fosse obrigada a partilhar sua vida íntima com o cara que te traiu.

 

-Peggy, por favor, não torne as coisas ainda piores. – Pediu ele.

 

-Foi você quem quis assim, Pierre. – alfinetou ela – Mas ainda tem tempo de desistir, já disse que meu filho não precisa de você.

 

-Não, obrigado. Não vou deixar o nosso filho só porque você quer. – Tornou ele, agora muito menos animado que a princípio.

 

Bel apenas balançou a cabeça, inconformada.

 

-Ótimo! Vamos logo então, assim acabamos com isso de uma vez. – disse, caminhando decidida até a porta. Ela manteve seu olhar fixo à frente, determinada a não demonstrar fragilidade.

 

Pierre não pode fazer nada além de segui-la. Mas não ia desistir assim tão fácil, estava disposto a empenhar todas as suas forças para recuperar a confiança de Peggy.

 

-ESPEREM! Vocês tem que ver isso!!! – Gritou uma voz chocada no alto das escadas.

 

Peggy se virou, surpresa, tentando detectar o foco do alvoroço. Era sua mãe, que agora descia correndo pelas escadas, muito espantada.

 

-O que houve, mãe? Está sentindo alguma coisa? – perguntou, muito preocupada.

 

-Não, não é nada comigo! Mas vocês tem que ver o que estão passando na tevê!

 

Ela estava muito alterada. Peggy voltou até o sofá, de cenho franzido, sendo acompanhada de perto por Pierre. Só quando Margareth apertou o botão do power ela percebeu que trazia consigo o controle remoto. As duas se sentaram ao centro do móvel, esperando que a imagem da tela se tornasse nítida, enquanto Bel e Pierre permaneceram estáticos, logo atrás. Era uma noticiário, e eles não demoraram muito a perceber sobre o que se tratava.

 

“...a polícia ainda não descobriu a procedência da droga, mas calcula-se, pela quantidade que foi apreendida, que pretendia traficar em algum ponto da cidade. Ele dirigia tranquilamente quando foi abordado pela blitz policial, encontrando a droga escondida. Maiores esclarecimentos serão prestados assim que seu depoimento for computado. David Desrosiers era uma figura muito conhecida pelos jovens, mas infelizmente acabou optando, para profunda decepção dos fãs, pelo mundo do crime. Isso tem sido uma tendência no dias de hoje, percebemos que cada vez mais famosos se envolvem em brigas, arranjam problemas com a justiça e apresentam comportamentos inadequados. Diante disso, nos cabe perguntar o que leva uma pessoa que supostamente tem tudo a agir assim. Será que eles se julgam acima da justiça e da verdade? Ou eles acham que são tão queridos que serão perdoados pelos seus admiradores? Estamos aqui agora com Elizabeth Moran, psicóloga especialista em mentes perturbadas, para tentar entender porque isso acontece. Elizabeth, você acha que desvios de conduta são comuns quando se tem sua vida excessivamente exposta, ou isso é uma expressão de mau caráter?...”

 

A mulher começou a falar sobre suas teorias, enquanto que um vídeo de David algemado e sendo conduzido para a delegacia era mostrada a um canto da tela. Estavam tentando traçar um perfil para famosos criminosos, e usavam, sem nenhum escrúpulo, a figura conhecida de David para isso.

 

-David foi preso por tráfico de drogas? – exclamou Pierre, chocado.

 

-Não dá pra acreditar... – disse Peggy baixinho.

 

Bel tinha congelado no lugar. Seus olhos ainda estavam grudados na tela, muito arregalados, tentando absorver o que viam.

 

-Pois é, quando se acha que já viu tudo de uma pessoa, David me vem com uma dessas. – Sentenciou Pierre. – Só espero que ele não tenha começado com isso quando ainda estava no Simple Plan.

 

-Mas isso não está certo! – Gritou Bel de repente, muito indignada.

 

-O que não está certo? – Surpreendeu-se Peggy.

 

-Vocês não percebem o que estão fazendo? – Disse, apontando para a mulher na tevê. – Estão usando a imagem de David sem um mínimo de respeito. Julgar uma pessoa quando ela não pode se defender é muito cômodo, não é?

 

-Está dizendo que acredita que David seja inocente? – Questionou Pierre. – Eles o pegaram em flagrante.

 

Bel parou por um instante, mas sua hesitação durou apenas dois segundos.

 

-Olhe, não estou tentando justificar, mas eles não tem o direito de expor uma pessoa da forma como estão fazendo. E depois isso está muito estranho, David pode ter muitos defeitos, mas nunca se mostrou inclinado às drogas.

 

-Bem, ele também nunca tinha se mostrado inclinado a te trair, não é? – Tornou Peggy.

 

-Ah, isso foi diferente... Olhem, eu sei que David não é nenhum criminoso.

 

-As vezes as pessoas nos surpreendem. Mesmo quando pensamos que a conhecemos profundamente, elas nos decepcionam e descobrimos que estivemos errados. – Falou Pierre.

 

-Isso é verdade! – Concordou Peggy, lançando um olhar duro até ele.

 

Pierre dissera aquilo pensando em Chuck e quanto fora burro, mas esqueceu completamente que Peggy se sentia exatamente assim em relação a ele. Constrangido, ele abaixou a cabeça, deixando que seus braços denpendessem ao seu redor. Eles mergulharam em um silêncio torturante por um momento, até que Marga quebrou a tensão.

 

-Você não tinha uma consulta com o médico agora?

 

-O médico! – exclamou Pierre – Vamos Peggy, temos que ir.

 

Peggy amarrou a cara novamente, enquanto se erguia do sofá.

 

-Não diga o que eu tenho que fazer! – Ela o acusou, passando por ele extremamente rígida.

 

Mas pelo menos, pensou ele, Peggy não lhe lançava mais aquele olhar perturbador. Voltara a ser a menina teimosa, decidida a ignorá-lo. Assim estava melhor.

 

-David não é assim, eu sei que não... – disse Bel para si mesma assim que Pierre passou pela porta, fechando-a em seguida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O capítulo ficou meio corrido, então se acharem algum erro é só me falar que eu conserto (:



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "How Could This Happen To Me?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.